Estúpido. Era essa a única palavra que vinha em minha cabeça naquele momento. Por que eu havia me apaixonado por um garoto tão pateticamente estúpido? Entre tantos homens no mundo, fui gostar logo daquele nerd.
- Desculpe Sam, eu não sabia que estava fechado hoje.
- Claro – falei em um tom sarcástico, olhando-o com raiva.
Eu havia começado a sair com o Freddie havia exatamente um mês. E agora, no dia dos namorados, ele resolvera me levar para jantar em um caro restaurante chamado Bewitch Me. O tipo de lugar onde eu nunca comia porque não tinha dinheiro.
E estava fechado.
- Não entendo. O que fez com que o dono fechasse logo hoje?
- Sei lá – respondi despreocupada - agora vamos pra outro lugar antes que eu fique entediada e resolva te bater para passar o tempo.
Freddie concordou com um aceno de cabeça e um sorriso tímido. Estava visivelmente constrangido por ter me levado ali. E ele merecia mesmo se sentir daquele jeito, porque né.
Senti um pingo de água cair em minha cabeça.
Olhei para o céu. Em algum momento, as estrelas haviam sumido detrás de nuvens cinzentas e carregada. Aquela não seria uma chuvinha qualquer. Como eu não havia notado o céu antes?
Freddie prendia muito a minha atenção, e eu ainda não sabia dizer se aquilo era bom.
- Vamos procurar outro lugar.
Ele pegou em minha mão. Senti um calor arrepiar-me o corpo. Por que diabos um simples toque ainda fazia com que eu me sentisse daquele jeito? Desprotegida, nervosa, feliz. Absurdamente feliz.
A chuva começou a engrossar enquanto nós dois andávamos pela calçada. Ouvi um trovão. Freddie apertou o passo para um ritmo digno de corrida. Fui atrás, odiando aquilo tudo. Até que...
Escorreguei. E fui parar no chão antes que tivesse tempo de me apoiar em alguma coisa ou alguém. Aquilo teria sido bem humilhante, se houvesse alguém na rua. Mas a chuva fez todo mundo sumir de uma hora para a outra. Só havia duas ou três pessoas de guarda-chuvas por ali.
- Ah, droga.
Freddie abaixou-se para ver se eu estava bem. A chuva engrossou. Agora os pingos d'água pareciam pedras. Estávamos completamente molhados. Eu podia sentir a minha blusa colando-se ao meu corpo, o que me deixou extremamente envergonhada. Por que eu havia escolhido uma roupa de tecido tão fino?
- Você ta sangrando, Sam.
Freddie estava ao meu lado, segurando o meu braço em frente ao seu rosto preocupado. Havia um grande corte em minha pele. Não estava muito fundo, mas era longo e bastante visível. Eu ralara o braço ao cair no chão.
Oh my god, como ele estava sexy. A roupa molhada deixava sua forma física evidente. E devo dizer que o Freddie havia ganhado muito corpo nos últimos meses. Ele não era mais aquele garotinho por quem eu me apaixonara à primeira vista.
Não sei o que aconteceu depois. Só lembro que, em algum momento, senti Freddie tocar meu rosto. Ele pousou seu dedo ali e o deslizou até os meus lábios, contornando-os. Meu rosto esquentou furiosamente.
Então Freddie moveu o seu dedo até a minha nuca. Arrepiei-me. Ele brincou com a raiz do meu cabelo. E de lá, desceu as duas mãos direto para minha cintura, trazendo-me mais para perto em um abraço.
- Talvez a noite não tenha corrido como esperávamos, mas ainda podemos torná-la especial.
O beijo não demorou a vir. Molhado, urgente, excitante. Nós nunca havíamos nos beijado daquele jeito, tão desesperadamente, tão calorosamente. Parecia até que o mundo acabaria dali a alguns segundos. Eu não podia soltar Freddie. Seria impossível. Seria contra as leis da natureza.
Os trovões silenciaram. O mundo travou. Só existiam duas pessoas na Terra. Duas pessoas que viviam uma para a outra. Duas pessoas que se amavam incondicional, eterna e profundamente.
Por quanto tempo ficamos daquele jeito? Não faço idéia. A magia torna o tempo supérfluo.
