Olá! Essa é minha primeira fanfic de Hunger Games, então, por favor sejam legais comigo, ok? n.n'

Desde o começo eu achei que Gale também seria escolhido como tributo do Distrito 12, e nunca engoli muito esse romance entre Katniss e Peeta. Por mais que a história seja impressionante e maravilhosa, sempre fiquei com um gostinho de que poderia ter sido melhor caso Gale tivesse ido para a arena com a Kat. Aqui está minha parca tentativa de reescrever a história, mas de forma alguma eu acho que chegue sequer aos pés dos livros.

Disclaimer: essa saga incrível não me pertence, infelizmente.

O dia em que meu mundo virou de cabeça para baixo

Entornei o balde de água fria na minha cabeça, esfreguei a barra de sabão por todo o corpo, tirei a sujeira debaixo das unhas com uma escova velha de cerdas duras. O mesmo ritual sendo repetido pela sétima e última vez. Pela última vez eu teria que comparecer diante das câmeras, trêmulo e assustado por dentro, impassível por fora, para a Colheita. Para esperar e torcer para que meu nome não fosse puxado. É a última vez, tentei me consolar em pensamentos. São quarenta e dois papéis com meu nome, contra milhares de outros.

Trinquei os dentes ao despejar mais água gelada, levando embora a espuma grossa do sabão caseiro. Peguei o saco de aniagem descosturado que me servia de toalha e me enxuguei, vesti a roupa de baixo e enrolei o pano encardido na cintura antes de ir para o quarto que dividia com Rory.

Meu irmãozinho já estava quase pronto, empertigado numa cadeira alta, vestido no par de calças curtas e a camisa que eu mesmo tinha usado em minha primeira colheita, enquanto minha mãe alisava seus cabelos escuros e rebeldes para trás com um creme de cabelo gorduroso. Ele deu um sorriso pálido ao me ver entrar.

– Gale, diz pra mamãe parar com isso, por favor? Eu estou parecendo um gato lambido.

Eu não consegui evitar o riso. Devia ser algo de família, fazer gracejos para tentar levantar um pouco os ânimos. Até mesmo minha mãe abafou uma risadinha antes de apontar para a minha cama, sobre a qual havia uma muda de roupas.

– Vista-se, querido. Está quase na hora.

Assenti. A calça preta era a mesma dos dois últimos anos, e os sapatos tinham sido presente de uma vizinha cujo filho fora o tributo do ano anterior. Subitamente senti-me tentado a fazer um comentário sobre usar os sapatos do morto, mas isso só faria entristecer minha mãe ainda mais, e ela não precisava de mais problemas e tristeza além de dois filhos na Colheita. A única pessoa que aceitaria uma piada de mau gosto dessas seria Katniss... pensar nela me fez imaginar como estaria lidando com Prim. A pequenina era frágil como uma flor, como seu nome sugeria, e a essas horas deveria estar em prantos. Ou tentando ser forte e nobre para não preocupar Kat e sua mãe ainda mais...

Estava tão longe nos meus devaneios enquanto colocava meus trajes da Colheita que só notei a camisa nova quando já a tinha nas mãos. Era de um azul claro da cor do céu límpido que víamos ao nos distanciar o suficiente da poeira e fumaça do Seam, feita com uma malha de algodão suave que custaria mais do que três refeições da minha família toda. Franzi as sobrancelhas para minha mãe e ela deu um sorriso triste. Liberou Rory de seu "martírio" e veio se sentar ao meu lado enquanto meu irmão saía do quarto.

– Era de seu pai. Ele usou essa camisa quando nos casamos, e eu não tive coragem de me desfazer dela.

Eu não disse nada, apenas terminei de me vestir em silêncio. Ela arrumou me colarinho, espanou algum fiapo invisível do meu ombro e me beijou no rosto.

– Você está lindo.

Dei uma risadinha abafada. Eu realmente não entendia o sentido em nos dar banho, escovar nossos cabelos, nos vestir com nossas melhores roupas e nos mandar para a Capital para sermos mortos das formas mais horrendas possíveis e nossos assassinatos exibidos na TV como se fossem as imagens mais belas e excitantes do mundo... sacudi a cabeça e passei as mãos por meus cabelos úmidos.

– Estou preocupado, mãe.

– Eu sei – ela suspirou dolorosamente, acariciando meu rosto – eu falei que não precisava se inscrever para tantas tesserae.

– Precisava, sim – fechei meus punhos com força – não vou deixar Rory, Vick e Posy passarem pelo que eu passei. Pegar tesserae, se arriscar na floresta, varar noites montando armadilhas... isso não é para eles – virei-me para encará-la, e minha mãe tinha uma expressão triste em seu rosto magro geralmente determinado e sorridente – se alguém tem que ir para os Jogos na nossa família, que seja eu.

Senti que seu autocontrole falharia a qualquer momento e ela se desmancharia em lágrimas, mas engoliu em seco e me abraçou com força. Depois de um segundo de hesitação, eu a abracei de volta.

– São quarenta e duas chances em mais de mil – sua voz agora tinha o mesmo tom feroz e protetor de Katniss ao falar de Prim – você vai passar por mais essa.

Assenti, e me desvencilhei de seus braços. Os olhos de minha mãe brilhavam com lágrimas contidas, mas eu sabia que ela ia se manter forte. Engrenei um sorriso corajoso e calcei os sapatos, desejando que eles me trouxessem mais sorte do que para seu antigo dono. Levantei-me da cama e estalei as juntas dos dedos como sempre fazia antes de começar a dar laços em uma corda para uma armadilha das grandes.

– Vamos. É hora do show...

~0~0~0~0~0~0~0~0~0~0~0~0~0~0~

Enfileirados como gado em um curral para o abate, nós ouvimos o prefeito Undersee discorrer sobre a história de Panem e sobre os Jogos. Ele apresenta Effie Trinket, que nos cumprimenta com seu sotaque afetado da Capital e sua peruca rosa gigantesca, que a faz parecer um daqueles pirulitos que às vezes eu e Katniss víamos nas vitrines da pequena doceria. Desviei o olhar disfarçadamente, e identifiquei, duas fileiras atrás de mim, os olhos cinzentos dela fixos em mim. Ensejei um sorriso, ao qual ela retribuiu discretamente, mas um cutucão em meu braço me fez virar para a frente, para perceber que os olhos de Effie estavam fixos na fileira dos dezoito anos, a mais ruidosa de todas. Depois que terminou seu discurso estúpido e vazio, ela se dirigiu para um dos globos de vidro, firme e esticada em seus sapatos de salto com quase vinte centímetros.

– Primeiro as damas! – ela exclamou, mergulhando no globo a mão pálida, que nunca na vida tivera que esfregar uma bacia de roupas sujas, depenar um peru selvagem ou empurrar um carrinho cheio de carvão – nosso primeiro tributo é... Primrose Everdreen!

Não.

Não pode ser.

Não pode ter sido justo ela!

Eu me virei para trás, buscando o olhar de Katniss. Ela estava em choque. Seus lábios estavam abertos num círculo perfeito, os olhos ziguezagueando desesperadamente pela última fileira de crianças. Prim finalmente saiu do meio delas, seus punhos pequenos cerrados, os olhos cheios de lágrimas, mas o queixo fino erguido enquanto andava, em passos curtos mas firmes, na direção do palco. Senti meu coração despencar enquanto a pequena andava para o palco, e mal percebi um burburinho atrás de mim. Só notei o que estava acontecendo quando Katniss agarrou o braço da irmã e a colocou atrás de si, olhando para o prefeito e para Effie com uma expressão de desafio e ferocidade.

– Eu me voluntario! – ela está arfando por conta da corrida – Eu me voluntario como tributo!

Uma confusão se instaura imediatamente no palco. Haymitch, nosso único vitorioso vivo e bêbado convicto, dá risadinhas frouxas enquanto Effie e o prefeito discutem o protocolo do voluntariado. Um grito agudo de Prim é o que me desperta, e eu saio correndo para buscá-la, enquanto o prefeito, com uma expressão triste, diz para ignorarem o protocolo e deixarem que ela suba ao palco sem mais demora e lágrimas. Chego à beira do palco e desenrosco a mão de Prim da saia de Katniss. Ela parece em transe, e sua irmã se debate em meus braços como se eu a estivesse estrangulando.

– Agora é com você, Catnip – sussurro, e com uma breve olhada para trás ela assente com a cabeça antes de subir os degraus.

Meus braços estão insensíveis quando entrego Prim para sua mãe. Teoricamente nenhum jovem poderia sair do perímetro cercado até que a Colheita tivesse terminado, mas os Pacificadores nos conhecem. Sabem quem é a menina de trança que traz amoras silvestres e esquilos frescos quase todos os dias. Viram seu altruísmo e desespero ao se oferecer para ir no lugar da irmã. E, como disse o prefeito, realmente importa? Importa que a pequena esteja no colo da mãe e não no meio das outras crianças, esperando o término daquela cerimônia doentia?

Tudo isso ainda girava em minha mente quando voltei para o meu lugar. Pela primeira vez não observei, com uma ansiedade que chegava a doer fisicamente, a mão manicurada de Effie descer ao globo. Pela primeira vez não senti o sangue pulsar em meus ouvidos e meus joelhos fraquejarem ao vê-la desdobrar a pequena tira de papel. E quando a ouvi dizer o nome sorteado demorei quase um minuto inteiro para compreender aquilo que ouvi.

– Gale Hawthorne!

Levantei o olhar para o palco, incrédulo. Effie olhava para as primeiras fileiras, seu sorriso plastificado reluzindo enquanto procurava pelo "corajoso jovem" escolhido. Eu engoli em seco quando ouvi ao longe minha mãe soltando um grito angustiado. Não é que não estivesse, de certa forma, preparado para isso. Não é que não soubesse que minhas chances de escapar eram mínimas se comparadas às de outros garotos. Mas ainda assim...

Abri caminho e subi ao palco com movimentos rígidos e insensíveis. Registrei vagamente Effie pedindo uma rodada de aplausos para os tributos do distrito 12. Ela pediu que nos cumprimentássemos e então eu e Katniss nos olhamos nos olhos. Nenhum de nós estava preparado. Foi inevitável, automático, não intencional: em vez de nos apertarmos as mãos friamente como oponentes que seríamos na arena, caímos nos braços um do outro, soluçando.

Nenhum de nós estava preparado para matar seu melhor amigo.