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Autora: Illy-chan HimuraWakai
Gênero:. Yaoi, Angústia, Romance, M-Preg.
Beta: Ilia Verseau
Censura: NC17
Casais: 3X2, 1X5, 3X4 – passado; 4X6 – atual.
Advertências: Lemon; M-PREG – no passado; POV's alterados, Universo Alternativo.
Retratações: Os personagens principais são propriedades das empresas japonesas Soutsuu Agency e Sunrise Television. Eu não ganho nenhum dinheiro com eles.
Aviso Extra: Esta fic se passa nove anos após o fim da série e desconsidera completamente a série de OVAs "Endless Waltz".
Aviso Extra 02: Não faço mais parte do site XYZYaoi – saí dele em Setembro de 2008 e daqui em diante, minhas fics (YuYu & Gundam Wing) e minhas traduções (apenas Gundam Wing) só serão encontradas aqui no f.f. net, com o Illy-chan e Grupo GW de Traduções no meu próprio site, que logo deverei inaugurar.
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Dedicatória:
Esta fic é um maravilhoso presente para mim mesma, que venho fazendo há alguns meses, mas que dedico – de todo coração,
para Ilía Verseau...
Por ser a mais APAIXONADA fã de Fics M-Pregs que eu conheço, e...
Darling? Muito obrigada por durante todos estes meses, você ter escutado todos os meus projetos para esta fic, por todo o apoio que me deu...
E por ser este Amor de Pessoa, que você é!
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Nove anos depois do fim da Guerra das Colônias contra a Aliança da Esfera Terrestre e a pérfida OZ, Trowa – agora um agente dos Preventers, assim como Heero e Wufei – é levado, por força de uma série de acontecimentos, a re-encontrar-se com uma pessoa... e com um passado que irá despertar e trazer à tona lembranças as quais ele jamais poderia imaginar ter perdido de sua memória.
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Ciclo de Memórias
Illy-chan HimuraWakai
Cap 01
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Onde é que ele fora se meter?
Trowa Barton desligou seu carro e suspirou.
A casa que ele procurava ficava naquela região, tinha certeza. Aquele era um setor estritamente residencial daquela cidade e, apesar de ter recebido instruções claras de como chegar até ela, havia passado duas vezes pela rua sem acertar o local desejado. – O que era até compreensível: a caixa postal estava encoberta por um arbusto florido.
Uma grande quantidade de galhos se espalhava pela frente da dita casa – provenientes de duas árvores dispostas cada uma a cada lado da varanda – e ali estava ele, se deparando com tudo aquilo.
Balançando a cabeça, Trowa retirou os óculos escuros e ficou olhando para a casa, cujas formas lembravam mais um bangalô. A casa era antiga – assim como todo o bairro – pelo menos o suficiente para conservar detalhes da arquitetura usada antigamente na Terra, hoje em dia já prontamente substituída por imóveis de linhas caríssimas, e arquitetura moderna: esta tinha varanda com degraus, e um balanço em um canto, preso ao teto.
Pelo terreno ao redor da casa, conseguia ver vários tipos de flores e de plantas. Estava claro que o dono da propriedade não fazia muita discriminação na escolha... E não se preocupava em aparar a grama há semanas, a se julgar pela altura da mesma.
E assim como o excêntrico jardim, a varanda – aberta, sustentada por dois pilares – também se encontrava repleta de vasos, ao que parecia, sem ordem alguma.
Certo. Trowa não era nenhum perito em flores – mas sabia reconhecer a expressão "um campo florido", quando dava de cara com um.
O pensamento provocou uma súbita vontade de rir, porém, o bom humor durou pouco. Sim, era verdade: o quadro inteiro – casa, árvores, jardim, plantas – formava um estilo marcante. Tão marcante quanto o dono da própria. Ao menos pelo o que ele, Trowa, conseguia lembrar.
Com cara de poucos amigos, saiu do carro de forma desajeitada – ainda não conseguia movimentar-se direito. Cortesia de sua última missão.
Fazia duas semanas que se machucara. Não se incomodava com o pulso torcido ou com o corte na perna, mas as duas costelas trincadas estavam lhe causando grande sofrimento e um transtorno ainda pior. Afinal, toda vez que respirava, lembrava-se do erro cometido e que quase lhe custara a vida.
Trowa não suportava cometer erros. E não sabia como conviver com eles, também.
Nas duas últimas semanas perdera três quilos, e as noites eram povoadas de pesadelos: uma arma subitamente apontada para ele, e um tiro atingindo-o em cheio. O contrário do que ocorrera na realidade, claro. Não que este tipo de acontecimento tivesse sido realmente pior do que os muitos com os quais já tivera que conviver durante a guerra, mas... o fato de ter sido incapaz de salvar a vida de um garoto – um rapazola tão parecido com ele próprio o fora, anos atrás – e de ele ter acabado morto, em meio a uma poça de sangue no chão, apenas por um erro seu… Era algo que vinha comendo-o vivo, devorando sua sanidade e paz, ao fazê-lo rever, rever e rever, exaustivamente, todos os seus movimentos e escolhas, na última missão.
Lady Une, que poderia – e talvez devesse – ter cassado sua licença, dera-lhe apenas uma olhada, quando ainda na cama do hospital dos Preventers e dissera: "Muito bem, Barton. Não quero ver sua cara pelas próximas seis semanas. Faça as malas, arranje uma mulher – ou um cara, tanto faz – e suma. Se você não tem consciência da pressão sob a qual você anda vivendo, Agente Shadow...(1) EU tenho."
Obviamente, tê-la dizendo isto ladeada por Heero e Wufei, só fez piorar ainda mais as coisas. Já imaginava que a reação da superiora haveria de ser algo do tipo – mas estivera secretamente contando com os ex-companheiros de guerra, e agora parceiros de trabalho nos Preventers – para conseguir uma substancial diminuição do tempo de licença. Esperança essa que, obviamente, já não existia mais.
E fora assim que seu período de castigo começara.
Ambos – Heero e Wufei – porém, não o deixaram abandonado à culpa. À sua maneira discreta, determinada e silenciosa, os dois orientais apareciam freqüentemente em seu apartamento quase todas as noites, ora trazendo-lhe mantimentos, ora apenas para fazer-lhe companhia: Wufei e ele jogando cartas, enquanto Heero passava horas e horas a digitar relatórios e mais relatórios em seu laptop.
Seu estado de espírito, claro, não enganara seus amigos.
Essa situação – armistício, melhor dizendo – durou ainda praticamente uma semana, até certa noite Heero dizer, quebrando sua concentração exagerada no jogo com Wufei:
"Por quanto tempo mais você ainda vai deixar isto te corroer por dentro, Trowa?" – sem esperar resposta, continuou: – "Fique sabendo que, se você não reagir contra isso logo, eu mesmo encontrarei algo para você fazer."
Dito e feito.
Quatro dias depois, Heero Yuy viera-lhe com "algo" para fazer: procurar informações a respeito do paradeiro de uma pessoa 'tecnicamente', desaparecida.
Requisitante: Duo Maxwell.
A vontade que Trowa sentira de estrangular o japonês fora tentadora. Afinal, ele precisava tanto dos problemas de outras pessoas, quanto de outra costela trincada.
Infelizmente, ele, Heero, Wufei, Duo e Quatre, conheciam-se há anos – desde a época em que arriscavam suas vidas lutando contra a OZ pela libertação das Colônias. Era inevitável que uma amizade criada debaixo de lutas, explosões e tiros de Móbile Suits – e tão antiga – não deixasse algumas dívidas morais. Assim, apesar de não gostar da idéia, Trowa concordara em procurar o ex-piloto Gundam.
O próprio Wufei, por sua vez, dissera-lhe haver mais alguns outros detalhes que o antigo parceiro gostaria de explicar, pessoalmente.
Afinal de contas, insistira o chinês, quanto tempo levaria para que ele ouvisse as últimas informações de Maxwell? Quinze? Vinte minutos?
E então... Lá estava ele – Trowa Barton, ex-piloto Gundam, ex-terrorista, agora Agente Shadow dos Preventers, prestes a se encontrar de novo com um ex-colega que não via há anos – e para fazer-lhe um favor.
Endireitando o corpo, Trowa subiu os degraus da varanda. Não era uma tarefa fácil, haja vista tantos jarros e plantas, mas... Bateu à porta.
Enquanto esperava que alguém atendesse, ficou olhando sua imagem refletida no vidro.
A camisa ensacada, de botões, e a calça jeans azul-escura cobriam a maioria dos ferimentos – mas seu rosto era o de alguém que acabara de sofrer um acidente: apesar de já terem se passado duas semanas, ainda se encontrava inchado e mesmo sua franja castanha, caindo por cima dos olhos, não conseguia esconder a contento um hematoma em sua têmpora direita e a pele do rosto ainda estava levemente azulada em alguns pontos.
Suspirou. Odiava estar precisando ser 'social'. Ainda mais com o fulano em questão... Na melhor das hipóteses, ficava todo sem graça quando acontecia de esbarrar com Duo – tanto durante o final da guerra; quanto após a mesma. Além de que, esse estava longe de ser um dos seus melhores dias: a cabeça, o nariz, o pulso esquerdo, as costelas... tudo doía.
Estava prestes a bater novamente, quando a porta enfim foi aberta.
Abriu a boca para dizer um cumprimento qualquer, mas de repente ficou mudo.
Viu um sorriso "Marca Registrada Maxwell" ser dirigido a ele de uma forma tão aberta, que ele sentiu o fôlego sumir.
Algo estava errado.
Sim, o tempo passara.
Um mais alto, corpo mais forte, alguns anos mais velho, os cabelos castanhos ainda imensos e presos em sua longa trança, e olhos violetas sem igual, Duo Maxwell em carne e osso estava à sua frente – exatamente depois de... quantos anos, mesmo?
O suficiente...
... para que ele sentisse o mundo – inexplicável e absurdamente, sumir.
Duo vestia uma enorme camiseta amarela que se enganchava nos quadris, enroscando-se no cós da calça jeans azul-clara que usava, e estava descalço.
"TROWA!" – avançou um passo à frente, para melhor receber o outro rapaz: -"Há quanto tempo, homem !"
Como é que um homem – costelas trincadas ou não – conseguia respirar direito, depois de ser engolido pelo abraço de um furacão humano de um metro e setenta e cinco?
Um segundo de calor. Quente, vibrante... que transmitia paz. E uma sensação estranha... esquisita... O abraço de Duo.
Uma angústia invadiu Trowa de repente, deixando-o zonzo.
"Agora não!", pensou. Lapsos. Odiava absolutamente quando isso acontecia.
O calor se foi, tão rápido quanto chegou, e o furacão humano começou a tagarelar, como de seu feitio. Ou como as lembranças lhe diziam. O que podia confiar delas, claro.
"Minha nossa, cara!" – Duo começou. Ele olhou mais atentamente para o moreno, prestando-lhe atenção em seu corpo inteiro e disse, após solta-lo: – "Bem que o Heero me avisou que você ia estar parecendo alguém que tinha sido atropelado por um caminhão! Ou pelo menos, foi o que eu imaginei, pelo o que ele mencionou a respeito do estrago."
Calmamente, Trowa começou: "Eu estou be..."
"Você chegou na hora, hein?" – Duo brincou, com outro sorriso desconcertante: – "Já eu, acho que não devo ter sido pontual nem mesmo para nascer, se quer saber."
"Na verdade, eu me atrasei um pou..."
"Eu tento, juro! Mas só consegui chegar em casa faz 15 minutos – por causa da aplicação de uma prova de última hora, e... Eu sou professor de 'História da Terra e das Colônias', agora – os rapazes te contaram isso?" – em meio ao ataque verbal, Duo piscou e virando-se, fez um gesto largo convidando-o a entrar, seu jeito descontraído afastando a rígida postura militar do outro.
Duo não parecia muito impressionado – de fato, parecia não ter notado Trowa por completo ainda, já que seus olhos violetas focalizavam apenas os ferimentos, como se tentando descobrir os que existiam por baixo dos disfarces da roupa e postura, analisando-os, catalogando-os. Velhos hábitos custavam, mesmo, a morrer.
Foi quando ele notou o verdadeiro motivo da esquiva de Duo em olhá-lo de frente: apesar de bem ocultada e escondida, a expressão de pena nos olhos violetas era tanta, que ofendeu Trowa.
Certo – ele estava mais velho também, e um pouco acabado por causa daquele maldito acidente na missão... mas ele ainda não era nenhum inválido, droga.
Aceitou o cumprimento de Duo, apertando a mão estendida, com a intenção de se mostrar firme e seguro de si. A mão do outro não tremeu – ao contrário, transmitia boas-vindas e força, ao mesmo tempo em que o puxava para mais dentro da casa.
"OK, OK, vamos entrando, vamos entrando! Tá com calor? A única bebida mais forte que eu tenho em casa é refrigerante, mas também tenho alguma limonada na geladeira... e olhe que elas são feitas nas vezes que o Fei ou o Heero acabam tendo pena do meu estômago, quando vêem para cá. Topa um refri?"
"Gosto, mas..."
"Céus, cara, não se incomode em ser educado ou formal, comigo. Sou o Duo, certo? Se não gosta, é só dizer, OK?"
Trowa tenta novamente:
"Eu gosto de refrigerante, mas..."
Os olhos de ambos se encontraram.
Violetas e verde-jade.
Trowa sentiu-se estranho – como se... acuado por alguma coisa.
Adiantando-se, a voz de Duo volta a ecoar no recinto:
"Ótimo, um problema resolvido, então!" – virando-se para a cozinha, Duo pára, e voltando o rosto por cima do ombro, diz: – "Hã... Será que você pode fazer de contas que não está vendo toda essa bagunça?"
Os olhos verdes de Trowa percorrem por toda a sala, e dando levemente de ombros, ele diz:
"Parece tudo Ok, para mim."
Duo ergue uma sobrancelha, murmurando: "Sei." – como se não acreditasse no que o outro acabara de dizer. E como mudando de idéia, Duo volta-se para o amigo, dizendo que "iria deixá-lo à vontade.", antes de se afastar para ir pegar os refrigerantes.
Antes que Trowa percebesse, já estava sentado na sala – numa poltrona daquelas fundas – e com os pés em cima do centro da mesa.
E Duo? Ele estava de volta à cozinha... falando.
Durante o curto espaço de tempo em que este esteve na cozinha, Trowa passou a mão no rosto. E espantou-se: estava sorrindo!
Realmente, o jeito descontraído de Duo continuava o mesmo de antigamente; ao que parecia, ele não mudara muito com o passar dos anos. Ou mesmo que a passagem do tempo o tivesse marcado, não havia sido de forma suficiente para lhe sufocar o espírito.
Duo voltou da cozinha trazendo duas latas de refrigerante geladas e ainda falando. Deus sabia sobre o que ele falava agora, mas sem sombra de dúvidas, deveria ser algo a respeito dos outros pilotos. Apesar de toda aquela conversa inconseqüente, ele vira rapidez, percepção, e sensibilidade naqueles... sempre estranhos, olhos violetas. Olhos que faziam alguém pensar em...
Banindo tais pensamentos inoportunos da mente, Trowa baixou o olhar para o chão.
Na mesma hora, Duo colocou a latinha ao seu lado – a tal que ele vinha tentando dizer não queria – e... ficou repentinamente ali parado no meio da sala, como que indeciso sobre alguma coisa. Respondendo à indagação muda no olhar de Trowa, que voltara a erguer os olhos ao vê-lo agir de forma tão atípica, ele falou:
"Bem... é que eu não tenho nada para oferecer junto com o refrigerante, mas..."
"Duo."
Fazendo-o parar no meio da explicação, e finalmente olhar direto para si.
"O que é?"
"Não precisa."
Indeciso, ele ainda tentou:
"Posso sair para comprar algo, se quiser. A loja de conveniências é aqui pert..."
Um leve menear de cabeça o faz jogar ainda uma última cartada:
"Tem certeza? É que eu..."
"Tenho." A voz rouca e levemente divertida de Trowa garantiu-lhe.
Duo passou uma mão pela franja, desarrumando os fios. Mais tranqüilo, endireitou os ombros e respirou fundo.
"OK, cara. Então vamos começar." – diz, sentando-se no sofá à frente de Trowa, descansando os cotovelos em cima dos joelhos. Fixando os olhos nos do moreno, começa: "Eu estou muito agradecido por você ter vindo, Trowa. Muito mesmo. Sinceramente, eu tive medo que..." – em algum lugar da casa, o telefone tocou. Duo fechou os olhos e soltou um palavrão.
"Tudo bem. Vá atender."
Duo balançou a cabeça, negando-se:
"Aposto que este telefone é endemoniado: ele sabe o momento EXATO que eu entro em casa, ou quando estou tomando banho para tocar!" – e continuou, irritado: "Vai parar num minuto, é só ignorar. Eu pensei em tirá-lo do gancho antes de você chegar, mas eu estava tão apressado, que esqueci. Sinto muito."
"Vá atender, Duo." – insistiu Trowa.
"Não. O nosso assunto é mais urgente."
"E nós vamos conversar sobre ele; mas seu telefonema pode ser importante, também. Eu não vou a lugar algum. Garanto." – Fazendo um gesto com a cabeça, Trowa apontou para o lado de que vinha o barulho do telefone. – "Vá atender, está tudo bem."
Duo ainda hesitou, mas o toque cretinamente insistente do aparelho acabou por convencê-lo. O telefone ficava na cozinha, porém o fio era longo o bastante para permitir a Duo passar de um aposento para o outro. Pelo teor da conversa, Trowa deduziu que fosse um dos seus alunos, pois falavam sobre textos e notas. Menos de cinco minutos depois de iniciada a conversa, Duo já estava com o fio enrolado várias vezes ao redor de si.
Novamente Trowa se flagrou sorrindo sem sentir...
... e desta vez, irritou-se bastante.
À procura de algo para distraí-lo, seus olhos voltaram a passear pelo ambiente da sala, desta vez num julgamento crítico deliberado.
O estilo de vida de uma pessoa reflete, por vezes, seu caráter. E a se basear pela sensação que Duo haveria de lhe pedir algo que ele provavelmente não gostaria de fazer, Trowa franziu o cenho. Sempre que a ética profissional estava envolvida, ele nunca baixava a guarda, assim como Wufei, ou Heero. E apesar de já conhecer Duo há a tantos anos, existiam... muitas coisas sobre o americano, que ele não lembrava mais.
A bem da verdade, para ser sincero consigo mesmo, de todas as pessoas que ele conhecia, Duo fora o de quem menos conseguira reter recordações, lembranças... quando de sua quase morte e subseqüente amnésia – advindas do ataque de um ensandecido Quatre dominado pelo sistema Zero contra ele e Heero, quando ambos testavam os Móbile Suit Vayete e Mercúrio da OZ, próximo ao fim da guerra.
Haviam ficado apenas... impressões, resquícios vagos... Sensações que – a se julgar pelo fato de sua memória nunca ter retornado completamente, mesmo após todos aqueles anos – o faziam sentir-se inseguro e deslocado, quando estava ao lado de Duo. Talvez fosse exatamente esse o motivo de se sentir sempre tão... desconfortável estando perto do outro, afinal.
Decidido a não gastar tempo em pensamentos que não levariam a nada, Trowa concentrou-se teimosamente em apreender mais do ambiente, para tentar preencher as lacunas que existiam sobre Duo em sua memória.
Não precisou procurar muito para encontrar "falhas" e possíveis "defeitos" dos quais falar.
A sala era multicolorida – nada como um arco-íris, graças; mas os móveis eram de tons escuros, cinzentos, até mesmo um puff em tom azul-escuro se encontrava ali, etc... Dúzias de cds espalhados, vários livros, fazendo pilhas, próximos ao sofá; alguns abertos, como se a leitura tivesse sido interrompida pela metade. Duas prateleiras da estante estavam estocadas com material sobre a Guerra entre a Terra e as Colônias.
Aos olhos de alguma outra pessoa, poderia parecer que nem método nem organização, eram importantes para Duo. O que, é claro, não enganava Trowa nem mesmo por um instante: sabia que o estilo de Duo podia não seguir o padrão tradicional, mas ele poderia até mesmo jurar que aquela pequena amostra de caos tinhas suas razões e motivos de ser.
Mas verdade fosse dita: aquele era um aposento capaz de fazer um homem com Trowa subir pelas paredes – ele ODIAVA bagunça. Precisava de ordem em sua própria vida, e de maneira essencial.
Para um homem que fora um menino sem pais, lar ou segurança alguma, criado em meio a um grupo mercenário e que tivera uma vida nômade – e depois, um adolescente transformado em meio à guerra, em um terrorista cuja meta era sempre sobreviver para executar a próxima missão, fora exclusivamente a capacidade de manter controle sobre tudo à sua volta, o que muitas vezes lhe permitira, enfim, sobreviver.
Mas o que mais o estava intrigando era o fato de Duo já ter vinte e quatro anos... e não possuir nada de mais "ostensivo", por assim dizer.
O assento do tal sofá estava afundado, até mesmo os livros pareciam ser de segunda mão, ou emprestados de Bibliotecas. Se ele próprio tivesse podido escolher, estaria sentado em uma cadeira mais dura, em vez disso, fora jogado naquela poltrona reclinável sem nenhum apoio, a qual lhe parecia mais uma tortura.
Podia imaginar que o salário de professor fosse do tipo que não permitia luxos abusivos, mas a não ser que Duo – que fora uma criança órfã, criada nas ruas da colônia L2 – tivesse se tornado um adulto com vícios ou gastos extravagantes, ele já deveria ter sido capaz de ter um outro tipo de móveis dentro de casa.
Foi, então, atraído por objetos que brilhavam sobre uma parte da estante: porta-retratos.
Dúzias deles.
Levado por uma curiosidade natural, se levantava para examiná-los, quando o movimento fez suas costelas doerem. Trincando os dentes, Trowa tomou impulso... e levantou-se, de uma vez, da maldita cadeira. Após alguns dolorosos segundos nos quais sentiu seus órgãos internos reajustarem-se novamente dentro do seu tórax, o moreno deixou sua respiração firmemente contida escapar num hausto e moveu-se em direção à estante.
Acertara: eram mesmo fotos. Mas deles – pilotos – e Duo. "E de quem mais?", ele poderia se perguntar. Conseguidas após o fim da Guerra, claro, e também pela Internet.
Sem obedecerem a uma ordem cronológica aparente, as fotografias sucediam-se umas às outras. Tomando alguns dos porta-retratos nas mãos, Trowa viu-se ser engolfado por uma época da vida de Duo... Fotos de uma vida à qual tanto ele quanto os demais pilotos haviam feito parte.
Fotos do momento em que – após Heero, em seu mergulho suicida com o Wing Zero ter acabado de salvar a Terra – a Peacemillion tinha enfim atracado no espaço-porto do planeta azul, e os cinco pilotos gundam haviam sido finalmente apresentados ao mundo, chocando a população inteira do mesmo ao mostrarem-se ainda adolescentes.
Fotos dos cinco, tiradas no decorrer da Grande Parada da Libertação, ocorrida uma semana após e organizada por ninguém menos que Relena Darlian, claro – ou melhor, a Ministra Relena Darlian. Se nas fotos anteriores os cinco se mostravam tensos e nervosos com toda aquela agitação súbita, quando de sua chegada à terra, a coisa fora "um pouco menos ruim, daquela vez", pensou Trowa. Lá estavam: ele, Wufei, Duo, Heero e Quatre. Todos metidos em uniformes de gala, e exibidos como um troféu pela garota que fora o símbolo do Pacifismo.
"Grande tola.", Trowa não pôde deixar de pensar. Seu contato com Relena naquele período fora praticamente inexistente, assim como durante a guerra – mas ainda assim, mesmo após tantos anos, não conseguia absorver o seu 'pacifismo extremo'. E Heero que não o ouvisse, ou haveriam de ter mais uma discussão a respeito do assunto.
Nestas fotos tiradas durante a Parada, via-se claramente a tensão militar nas posturas de Heero e Wufei, um brilho todo cerimonioso em Quatre – muitas vezes clicado ao lado de alguns ricos representantes das Colônias –; ele próprio, em algumas poses muito sérias, e Duo. Este, bem... podia-se dizer que, ao contrário do que se podia esperar, estava muito quieto e diferente do seu normal, quase... abatido. Coisa mesmo, muito rara de se ver.
Mas viu então que tal impressão dava-se apenas em fotos que o mostravam sozinho – em algumas outras, nas quais o americano aparecia junto a ele e aos outros, estava sempre com aquele sorriso imenso no rosto e até mesmo com aquela invejável energia, fazendo gestos ou tirando sarros com a cara de Wufei e Heero, ou dando abraços no Quatre.
Virando-se novamente para a estante, Trowa esticou outra vez a mão.
Mais fotos.
Engraçado. Tinha alguma coisa naquelas fotos, que... lhe escapava à atenção.
Na primeira desta nova leva, ele agora se via junto a Quatre, próximo a Heero, enquanto Wufei e Duo estavam um ao lado do outro, em uma... se não estava enganado, comemoração feita por Quatre em L4, uns dois meses após a Grande Parada. Os semblantes de cada um agora, mostravam-se muito mais tranqüilos, e relaxados: Quatre conseguira tirar uma foto na qual aquele maluco do Duo estava com um braço passado pelo pescoço de Heero e pasme, mesmo Heero – o Ex-Soldado Perfeito – deixara uma simples máquina registrar um sorriso seu – quase mínimo, verdade, mas o loiro conseguira.
Um grande porta-retratos lhe abrandou ainda mais as linhas do rosto: trazia várias imagens da mesma reunião, como que numa colagem, e mostrava Wufei e a si mesmo, em frente de uma das mesinhas espalhadas na área verde – o chinês de pé, segurando um facão, e ele, Trowa, meio curvado, penando para descascar algumas... batatas? (2)
"Sim, isso mesmo: batatas." Riu consigo mesmo. Oras, até ele mesmo aparecia sorrindo abertamente em uma das fotos, e em outra, gargalhando... abraçado como estava com Quatre. Sim, aquela comemoração fora idéia do árabe para que ambos pudessem enfim contar aos demais pilotos que estavam juntos.
Uma leve sombra voltou a toldar-lhe os olhos verdes.
"Não deu certo, não foi, loiro?" perguntou-se mentalmente. Decidindo não se abater por coisas que não podia mais mudar, Trowa devolveu aqueles porta-retratos e pegou mais.
De acordo com que ia passando, o mergulho no passado de Duo – e de certa forma, também no seu, foi-se intensificando, até ele finalmente notar que, de forma repentina, parara de aparecer nas fotos... sem mais nem menos.
Detalhe intrigante, aquele. Realmente, estava ali uma coisa para a qual não atentara antes.
Ele 'sumira' da convivência dos outros pilotos? Claro que não – sua vida sempre ficara muito entrelaçada à de Heero, Wufei... e Quatre. Sempre. Então, por que não aparecia mais nas fotos?
A resposta veio rápida: porque ele sumira, sim... mas apenas da vida de Duo.
Era o que constatava, ali. Através de outras montagens de fotos, Trowa foi vendo mais momentos da vida de Duo – ainda que perpassada à dos outros pilotos – os quais ele simplesmente ignorava.
Ou talvez nem tanto.
Em meio àqueles pequenos pedaços do passado, Trowa viu-se dando de cara com as imagens do casamento de Duo.
Claro que sempre soubera que Duo se casara. Para falar bem a verdade, o casamento dele com Hilde fora alardeado em seus ouvidos durante semanas por Quatre, na época – lembrava bem, pois fazia poucos meses que ambos estavam vivendo juntos. E afinal, o loiro ficara de cara feia para seu lado durante mais tempo ainda, magoado, exatamente por ele não ter comparecido ao mesmo.
Fora a partir daí que seu auto-distanciamento do piloto 02 começara?
Era o que as outras fotos atestavam. Via agora os demais na recepção do casamento, Duo e Hilde juntos, sorridentes e felizes. Logo, as fotos iam mostrando outros eventos, fatos, das vidas não só dos dois recém-casados, mas também de Quatre, Wufei... e Heero, ao lado de Duo, através dos anos.
Mas ele não estava mais lá, não ele: Trowa Barton.
Trowa deixou, enfim, os porta-retratos no lugar, pois sentia-se, de alguma forma estranha, incomodado. Sinceramente, não tinha se dado conta plena disso: ele realmente, havia saído da vida de Duo Maxwell... e nunca mais retornara.
Eis porque sentira-se tão... relutante em vir encontrar-se com ele, após tantos... Quantos anos, mesmo? Já se havia feito esta mesma pergunta ao chegar, ao dar de cara com Duo, – e incrivelmente, sabia a resposta na ponta da língua: oito anos.
Oito anos durante os quais nunca mais tinha se encontrado com o outro adolescente – agora um jovem homem adulto, tal como ele – outra vez.
É certo que, depois que conseguira recuperar parcialmente sua memória, suas reações para com o piloto do Deathscyte haviam se tornado estranhas... Trowa nunca fora tímido, apenas quieto e silencioso, mas ao lado do rapaz de olhos violetas, ele sentia-se travar, ficava inquieto e fora do prumo.
Ao comentar isto com Quatre, certa vez, o jovem herdeiro dos Winner deixara escapar que talvez ele se sentisse daquela maneira, exatamente por ter sido Duo, dos quatro, que o havia encontrado quando ainda estava sofrendo de amnésia, aos cuidados de Catherine, no circo. Trowa rebatera o argumento, dizendo que se assim fosse, ele deveria era sentir gratidão, não aquela sensação angustiante e aflitiva que sentia quando perto dele. Ao que Quatre concluíra que, talvez, lhe fosse apenas muito doloroso ser relembrado do período que tinha passado tão vulnerável, tão... dependente de outros.
"Dê tempo ao tempo." O namorado dissera.
Sim. E Trowa se dera o tal 'tempo' – se bem que não da maneira que o namorado estivera imaginando.
Já sabendo que o piloto de olhos violetas o afetava, e por não conseguir descobrir ou mesmo entender quais os motivos de se sentir desta maneira, Trowa fora, metódica e sistematicamente, se afastando do convívio com o outro com o passar dos anos. Se estar perto de Duo significava tumulto e perturbações, ele optara então, silenciosa e intuitivamente, pela distância e afastamento – não de maneira abrupta ou brusca, mas aos poucos. De maneira muito sutil, sempre que um dos amigos o convidava a comparecer aos encontros e eventos aos quais ele sabia que fatalmente Duo estaria presente, ele arranjava compromissos e missões – nos Preventers ou com o Circo – depois apresentava mil desculpas e acabava não indo.
Criara o hábito. Simples assim.
Mas ter consciência completa do que acabara resultando naquela separação durante tantos anos, de maneira tão súbita abalou-o, sem dúvida alguma. Que suas atitudes tinham sido tomadas baseando-se apenas em se proteger e ter paz de espírito, Trowa tinha certeza. Se esta, porém, fora a atitude mais acertada a se tomar, hoje, sinceramente, ele não saberia dizer.
Apenas... o fizera e, se de forma inconsciente – ou não – tinha feito um excelente trabalho.
Sem ter atentado para o silêncio reinante no ambiente já há alguns minutos, Trowa se assusta ao soar da voz de Duo:
"Vendo as fotos?" – pergunta, cauteloso.
Voltando o olhar para o outro rapaz que estava parado a alguns metros de distância no arco que levava da cozinha para a sala, o antigo piloto do HeavyArms vê que o ex-amigo de batalhas ostenta uma postura um tanto quanto dúbia: orgulhoso quanto às fotos e, ao mesmo tempo temeroso, como se temesse ser repreendido por algo, e já estivesse se munindo de quantas 'armas' ele tivesse. Reconhecendo a tática muito usada pelo outro quando mais jovens, Trowa dá um meio-sorriso e concorda, dizendo gentilmente:
"São seus troféus, não são?"
Surpreende-se, porém, com a resposta que é dada em tom firme e seguro:
"Não. São a minha família."
Ainda incomodado pelo o que acabara de constatar a apenas alguns minutos atrás, o moreno tenta argumentar:
"Mas eu..."
Aproximando-se, Duo acaba por ficar lado a lado com ele, os olhos violetas fixos na miríade de imagens à frente de ambos:
"Vocês sempre foram minha família, Trowa." – após a afirmação, Duo ergue os olhos para o teto, respira fundo, e completa: -"Alguns... mais dos que os outros. Mas vocês sempre o foram. Todos."
Novamente os olhos verdes viram-se para encontrar os violetas, mas antes que consiga verbalizar o que está pensando, é distraído por Duo:
"OK, Franja. Terminada a 'Aula da Saudade', podemos voltar ao nosso assunto, que tal?" – ele pergunta, inclinando a cabeça para o lado, piscando.
"Duo?"
"Sim?" – ele pára, a meio caminho do sofá aonde ia se sentar.
"Outro apelido cretino destes... e eu desapareço por aquela porta – OK?"
"Trowa?" – a réplica vem rápida e esperta – "Não vou lhe ajudar a se sentar, por causa disso. OK?"
Ótimo. Por que sentia que ficara com a pior parte, afinal, pensa, sacudindo levemente a cabeça.
Alguns minutos depois, Trowa, já devidamente sentado – e sim, Duo acabara por lhe dar uma mão – observa, pacientemente, o jovem professor, enquanto espera que ele comece a lhe dizer o motivo do que o levara ali: seus olhos argutos notando o quanto Duo mostrava-se tenso, corpo rígido, apesar de estar encostado no sofá e com os pés cruzados na mesinha.
"Heero e Wufei são maravilhosos, Trowa." – ele enfim começa – "Mas foram extremamente honestos comigo. Disseram que, a não ser que um crime contra a paz esteja envolvido, o meu problema simplesmente não tem nada a ver com os Preventers. Ou seja: nada que eu não já soubesse, hã?" – Sem conseguir impedir um tom de ironia na voz, ele passa as mãos na franja, jogando alguns fios para trás e se afasta mais do encosto do sofá. Com a súbita aparência de quem carrega o mundo nas costas, Maxwell fixa o olhar no ex-companheiro e continua: -"Por isso, estou mais do que... agradecido, por você ter vindo mesmo, Tro. Francamente, eu já tinha perdido as esperanças de que alguém pudesse me ajudar..."
"Não sei se posso, ainda." – Trowa forçou-se a dizer, cauteloso.
Fazendo um meneio estranho com a cabeça, Duo concorda:
"OK. Eu entendo. Afinal, nós dois sabemos que você também É um Preventer. Um Preventer de licença, mas ainda sim, um Preventer, certo?" – Duo baixa o tom de voz: – "E talvez... meu problema seja algo em que você não possa... ou não queira, se envolver."
Trowa ficou sem ação: Duo estava... roubando suas palavras – destruindo as poucas linhas de raciocínio que conseguira encontrar para esquivar-se da tal requisição que ele fizera. Tirando de suas costas o peso de ter sua própria chance de se negar a fazer o que ele pedia...
Ele se sentiu horrível por entender que Duo preferia se ferir agindo daquela maneira, acreditando em uma já pronta negação vinda de sua parte e que, por isso mesmo, já tinha praticamente preparado um discurso o qual isentaria Trowa de ter que negar, por si mesmo, o tal pedido. Seu estômago deu voltas.
"Oh, Duo... Foi isso o que minha distância lhe ensinou sobre mim?"
E porque não? – Sua consciência aguilhou-o.
Ele quisera realmente escapar do peso que seria ter o outro rapaz envolvido em sua vida outra vez. Sequer parara para pensar um minuto que fosse, no que isso poderia estar representando para ele... O que Duo sentira, de fato, ao imaginar-se pedindo um favor a uma pessoa que, à parte todos os elos de amizade criados durante uma guerra, simplesmente o afastara de sua vida? Engolindo em seco, o agente Shadow, dos Preventers, não gostou do que seu coração lhe disse.
O som da voz do outro o alertou de que ele continuara falando:
"... e eu... também tenho de confessar que não posso pagar muito..."
"Não é uma questão de dinheiro." – seus olhos verdes agora pareceram jogar faíscas, sentindo-se indignado consigo mesmo ao ver o quão baixas suas atitudes pareciam aos olhos de Duo.
"Não." – ele estudou seu rosto e repetiu em tom baixo: -"Não. Não é, em se tratando de você, mas... quero esclarecer logo este ponto: como estava dizendo, tenho algum dinheiro guardado para isso, e..."
"Duo. Esqueça esse maldito lance de dinheiro, já disse." – ele praticamente rosnou, enquanto afundava-se na cadeira, sentindo-se exausto, em tão poucos minutos. Sabia que estava soando impaciente, mas notara a leve mudança no olhar do outro: se continuassem a discutir sobre aquilo, iriam bater de frente com o orgulho do americano. O qual, infelizmente, ele já imaginava alquebrado demais apenas por sua presença ali.
Duo assentiu. Não era de seu feitio desistir de expor suas idéias ou acatar ordens faladas – muito menos 'rosnadas', como esta última havia sido –, mas... havia algo muito mais importante a ser discutido ali.
Observando dolorosamente o outro rapaz mais alto sentado tão desconfortavelmente à sua frente e absorvendo todo e qualquer detalhe de sua aparência sofregamente após anos e anos, limitando-se apenas a vê-lo à distância, ou a ouvir os demais a falarem sobre ele, Duo engoliu em seco. Doera, quase enlouquecera. Mas conseguira aceitar ter perdido um dos seres mais importantes de sua vida uma vez. Até quando continuaria aceitando perder outra, também?
Apenas uma onda de sofrimento tão grande como a que estava sentindo naquele momento poderia ser a culpada por fazê-lo, enfim, conseguir dizer de uma única vez:
"Preciso de ajuda para encontrar minha filha, Tro." – sua voz soou baixa e carregada de um desespero tão latente, que em outro momento ele se sentiria humilhado. Mas na verdade, agora... agora ele só sentia desesperadamente sozinho, e quase que absolutamente sem esperanças e sem forças para continuar lutando.
Foi o tiro de misericórdia que estava faltando para Trowa.
"Filha?" – a palavra queimou em seu cérebro.
"Ela é tudo o que eu tenho, e ainda assim, eu a... perdi. Faz anos que não a vejo, eu..." – Arrancando controle de onde sequer sabia existir mais, Duo se cala, de repente, interrompendo o doloroso fluxo de palavras, e deixa-se cair por completo no encosto do sofá, olhando para o teto, enquanto respira fundo.
O mais absoluto olhar de choque transparece nos olhos verdes ao ouvir as palavras proferidas por Duo.
Deus, isso mesmo! Fora isto o que achara estranho e lhe chamara a atenção ao olhar as dezenas de porta-retratos, minutos antes, e que não conseguira identificar: a ausência de fotos – qualquer uma, que fosse – da filha que Duo tivera com Hilde!
Como pudera esquecer?
"Você sabe que Hilde e eu nos separamos, anos atrás, não sabe?" – A voz dele soa mais firme agora. –"Pois bem. Eu não vejo... Elisa, há mais de seis anos."
Não havia mais emoção aparente naquela voz agora, mas Trowa podia senti-la... e havia sofrimento e dor nos olhos violetas.
"Como eu já disse, não vejo Elisa há mais de seis anos. Um período de tempo tão longo desses torna... complicado, encontrá-la. Tenho tentado sozinho, mas isso simplesmente não funciona. Não tive escolha, a não ser recorrer a Heero e ao Wufei. E deles, a você. Mas se você não puder me ajudar, eu espero que pelo menos..."
"Eu não disse que não o ajudaria. O que eu disse foi que não sei se posso. Existe uma diferença grande aí, Duo." – conseguiu dizer, em defesa própria.
"Existe?" – ele ergueu uma sobrancelha de maneira irônica – "Não me leve a mal, Tro... Mas eu podia jurar que quando você chegou aqui, você não tinha a mínima intenção de me ajudar no que quer que fosse." Não havia desafio nos olhos do outro, apenas uma aceitação conformada.
Trowa estivera certo, então: Duo havia percebido mesmo tudo, ele era... intuitivo demais. O ex-piloto do Deathscythe vira através dele, de seus gestos. Sabia que ele não havia ido até lá para ajudá-lo: fora ali apenas, e unicamente, para ouvi-lo – pois havia sido isso o que havia prometido a Wufei e Heero. E depois, voltaria para casa.
Heero vira na situação uma espécie de 'ajuda mútua': Trowa agora não apenas tinha tempo sobrando, como estava entrando em uma depressão que não conseguia reverter. Duo queria desesperadamente, encontrar sua filha – o que não representava nenhum esforço tão anormal para ele, Trowa. Afinal, encontrar pessoas desaparecidas podia parecer uma missão impossível para alguns, mas somente porque os desaparecidos em questão, obviamente, cercavam-se de garantias para não serem encontrados.
Mas pelo pouco que conseguira apreender, nem a ex-esposa, nem a filha de Duo estavam se escondendo, não era isso? Ele apenas... perdera a pista delas após tantos anos. Querendo ou não, Trowa tinha a seu alcance, enquanto de licença, todos os recursos e aparatos de uma Organização como os Preventers – o caso todo poderia ser uma grande brincadeira facilmente resolvida se vista por este lado.
Se fora desta maneira que ambos os orientais haviam visto a questão, o latino não concordava com eles. Seu acesso a estes recursos, enquanto de licença e não sob serviço – o que inevitavelmente faria com que qualquer uso seu do sistema tivesse que ser alcançado através de senhas e códigos de segurança, o que acabaria delatando o que quer que estivesse para fazer – embora fácil, fazia uma clara afronta à sua ética profissional. E sua discrição profissional era algo sagrado... não apenas para ele, mas para aqueles outros dois, também, então...
... Então a situação deixava Trowa com várias outras linhas de raciocínio a seguir, nenhuma delas muito agradável.
Duo admitira que não via a filha há mais de seis anos. Era tempo demais; além disso, obviamente, Hilde fora quem ficara com a guarda da criança. A bem da verdade, se ela possuía a custódia legal, podia desaparecer para onde bem entendesse, fosse na Terra ou para alguma das Colônias. Ética e profissionalmente, Trowa não tinha o direito de interferir nisso.
"Trowa?"
O silêncio aumentava e já era hora dele dizer alguma coisa, mas sua cabeça estava começando a latejar. E a aquela maldita sensação de estar sendo acuado. Por algum outro motivo, alguma outra razão... seus batimentos cardíacos estavam acelerados. Sentindo-se péssimo, Trowa daria tudo para estar em seu apartamento, deitado no quarto, com suas cortinas abaixadas. Sozinho.
Suspirando, perguntou:
"Se eu me... lembro bem, você e Hilde moravam em L2, não era?"
"Sim." – Duo deu-lhe um longo olhar, mas não hesitou em responder –"Hilde e eu fomos casados por pouco mais de três anos, e todo este tempo moramos lá. Elisa tinha dois anos e meio quando nos divorciamos, e foi a última vez que eu a vi. Hilde conseguiu a custódia legal..."
"Foi o que eu imaginei. Ela era a mãe, afinal de contas."
Não lhe passou despercebida a estranha reação de Duo às suas palavras: o ex-parceiro levantou repentinamente a cabeça, que estava caída para frente, e deu-lhe um olhar esquisito; mas depois, estremecendo, desviou o olhar, repetindo em voz baixa: "Isso, ela era a mãe."
Ainda observando-o, Trowa ouviu-o continuar a falar, dando-lhe mais informações a respeito daquele imenso quebra-cabeça:
"Eu não sei lhe dizer para onde, ou quando, Hilde e Elisa se mudaram depois disso. Só sei que não estão mais no antigo endereço, em L2. Cerca de um ano atrás, passei noites com Heero e Wufei, utilizando o sistema dos Preventers, examinando listas telefônicas de outros bairros e cidades próximas ao que nós morávamos, mas ela não estava listada em nenhuma." – o tom de voz de Duo lembrava agora o de Heero: metódico, sem entonação... apenas transmitindo informações. O único sinal de nervosismo sendo suas mãos retorcendo-se uma à outra.
O latino revirou os olhos. Então seus dois parceiros já estavam se colocando em posições de risco por causa de... Virou seu olhar inquisidor para Duo: – "Apenas um ano atrás?" – para ele, aquilo significava muito tempo para o outro esperar antes de pensar em encontrar a filha. Mas se o antigo piloto conhecido como Shinigami entendeu a censura velada em sua voz, sua única resposta foi olhá-lo diretamente nos olhos quando respondeu:
"Sim. Foi logo depois que eu consegui me formar e arranjar um emprego." Disse, justificando-se.
"OK." – Trowa passou a mão no rosto, erguendo um pouco os fios da franja, incomodado por ter deixado transparecer o que sentira. Ajeitando-se penosamente na cadeira, voltou à carga: – "A não ser que eu tenha perdido algum detalhe, você recorreu a todos os caminhos indiretos, quando exatamente os diretos teriam sido uma escolha melhor. E quanto às outras pessoas que poderiam tê-lo ajudado, Duo? Os pais de Hilde, por exemplo? Ela deve ter alguém, uma família em algum lugar, não?"
"Hilde não possui família grande: apenas seus pais... e desde o nosso divórcio, ambos se aposentaram e se mudaram de L2, também – Pelo menos, eu deduzi que se mudaram." – hesitou um pouco. – "Tenho que ser honesto com você, Tro. Não perdi muito do meu tempo tentando localizá-los porque não me ajudariam em nada. Eles nem sequer falariam comigo, pois não querem que eu veja Elisa novamente."
Trowa registrou a informação: "Não querem? Mas que tipo de avós..."
Um suspiro profundo interrompeu seus pensamentos e Duo começou outra vez:
"Também quero ser honesto com você sobre outra coisa. Algo que eu já disse aos outros, mas..." – Duo apertava os dedos das mãos uns nos outros de tal maneira que os nós estavam brancos. – "Eu quero, desesperadamente, encontrar minha filha. Mas não quero fazer nenhum contato com ela."
Os olhos verdes de Trowa piscaram.
"Não entendi." – foi sua resposta.
Duo respirou fundo e, de repente, se levanta do sofá, começando a caminhar de um lado para o outro da sala:
"O que eu quero é que Elisa tenha algo de mim: dinheiro. Eu tenho uma boa soma guardada exatamente para isso. Pode até não parecer grande coisa para você, mas eu levei cada dia do último ano economizando. Hilde não é rica, por isso, me preocupo com a possibilidade de Elisa vir a precisar de alguma coisa... Ela tem apenas oito anos, agora, mas logo vai estar passando para uma fase mais difícil. Eu quero que ela saiba que tem alguma independência, algumas escolhas. O problema é que Hilde nunca aceitaria nada que tivesse meu nome envolvido e..." – respirou fundo mais uma vez e sentou-se pesadamente no sofá: – "Mas eu acho que importaria, para Elisa."
Nesse momento, o latino se vê alvo de um olhar tão cheio de dor, tristeza e solidão, que se sentiu o fôlego sumir: – "Ela teve um início de vida tão... tempestuoso, Trowa... Você não... faz idéia, eu..." inesperadamente, porém, mais rápido que ele conseguisse analisar o que mais trazia aquele olhar, os olhos violetas desviaram-se dos dele e Duo calou-se.
O peito de Trowa doeu. Ele foi forçado a fechar seus olhos subitamente pela repentina onda de vertigem que se apossou dele – sua cabeça latejando furiosamente. "Por Deus, um lapso aqui, não!"
Reagindo automaticamente à dor dentro de si com raiva, ele abriu os olhos, e disparou:
"Espere um momento: um mísero momento, maldição. Você está indo rápido demais. Faça de contas que eu ainda estou na porta, lá fora." – após dizer isto e de ter certeza de ter a atenção de Duo voltada para si, continua: – "Você quer que eu encontre sua filha, que lhe consiga entregar este valor que você possui..."
"Isso mesmo."
"... Mas você não quer vê-la?"
"Exatamente. Não quero vê-la de jeito nenhum." – o ex-piloto confirmou.
Trowa realmente nunca vira Duo tentar aquilo: olhá-lo diretamente nos olhos... e mentir.
E ele mentia tão mal que a situação poderia até ser cômica, mas a dor estampada nos olhos violetas do ex-parceiro era-lhe suficiente para apertar-lhe o coração. A pesada sombra de angústia nos olhos dele nada tinha a ver com a pose 'não estou nem aí': Duo Maxwell morreria... ou mesmo iria até o inferno, para ter a chance de ver sua filha outra vez. Como ele podia não saber disso, então? A verdade deveria aparecer em sua testa toda vez que ele se olhasse no espelho! Como ele tinha coragem de abrir a boca e falar aquele monte de mentiras?
"Você não vai me ajudar, não é?" – a afirmação, mais do que propriamente uma pergunta, soou toldada por uma estranha mistura de resignação e fatalidade em meio ao ambiente silencioso.
"Engraçado como às vezes uma dor pode criar uma outra dor.", Trowa pensou. A vulnerabilidade presente na voz do antigo companheiro tocou uma parte muito escondida e oculta de seu coração. Rasgou-o de cima a baixo.
"Não." – foi o que o jovem professor ouviu o outro responder.
O mundo de Duo quebrou-se. Engolindo em seco, ele ergueu-se do sofá, com seu corpo forte e esguio tremendo levemente. Humilhado, tentou falar algo espirituoso que trouxesse o ambiente na sala de volta à normalidade, mas sua garganta encontrava-se fechada. Sua mente não conseguia raciocinar.
Foi quando algo na postura de Trowa o alertou de que aquilo que ouvira podia não ser o que ele estava entendendo.
Perguntou, a voz ligeiramente trêmula: "Trowa?"
O moreno finalmente voltou os olhos para ele, seu rosto uma máscara de pura determinação.
"...Eu vou ajudá-lo, Duo." – Trowa então respondeu, decidida e firmemente.
Os olhos de Duo enchem-se de esperança.
E o rapaz vindo de L3 não conseguiu deixar de dar-lhe um sorriso. Um sorriso pequeno, hesitante – pois não sentia-se ainda totalmente à vontade – mas calmo, caloroso, daqueles tipos de sorrisos de mexer as estruturas de uma pessoa... capaz de fazer qualquer ser humano entender o motivo de alguém vir a apaixonar-se por Trowa Barton.
Sem nem mesmo sentir, Duo viu-se novamente sentado no sofá – a voz agora outra vez livre... mas é justamente por ver a expressão determinada de Trowa e ter uma espécie de pressentimento quanto ao motivo que poderia tê-lo feito mudar de idéia, que ele sente-se na obrigação de continuar, de explicar ainda uma última coisa para o moreno:
"Trowa... me escute – você não faz idéia do quanto me sinto aliviado em poder contar com sua ajuda, cara, mas olhe... você ainda não sabe a história toda e..."
"Sim, eu sei."
Trowa nunca agia por impulsos ou fazia julgamentos baseados na emoção, pois tinha medo de cometer erros – já agira assim no passado e até hoje carregava o peso de tais atitudes. Mas com Duo... ele acreditava já ter errado tanto, que agora só seria possível acertar.
Deu uma outra olhada na sala: Duo não tinha nada, porque estivera guardando cada centavo para sua filha. Trowa não sabia – ainda – os detalhes, mas não havia dúvidas em sua mente de que os dois fatos se encaixavam:
O primeiro: que Duo Maxwell amava a filha mais do que a própria vida...
O segundo? ... Simples. Que Hilde Schbeiker – ex-Senhora Maxwell – era uma grandíssima de uma cadela.
Tendo chegado a estas conclusões, outras peças do quebra-cabeças se encaixaram, também: Trowa confiava no sistema, mas também conhecia suas falhas. A ex-esposa de Duo não era rica, mas em grande parte dos divórcios, a guarda era dada à mãe, exceto quando, ou se, comprovado algo que desabonasse sua conduta.
O porquê de Duo ter esperado tanto tempo para procurar pela filha ele não sabia, mas tinha um bom palpite. É certo que ele próprio nunca havia tocado no assunto com Quatre, quando estavam juntos, mas devia ter sido Hilde, quem pedira o divórcio. No mínimo, a garota descobrira – talvez tarde demais, que não amava o rapaz tão cheio de energia e personalidade complexa... Talvez sua fascinação por um dos 'pilotos Gundans' tivesse acabado, ao ter que encarar a realidade de que conviver com um cara com tantos 'estigmas' de guerra talvez não fosse tão bom assim.
E aquilo deveria ter sido um grande baque na vida de Duo... cujo passado de abandono e solidão Trowa e os demais haviam conhecido durante a guerra.
"Nós vamos encontrar sua filha." – prometeu, sem desviar o olhar dos violetas. – "Mas por hora, eu só vou..." – e parou no meio da frase.
"O que foi?"
"Nada, eu só..." – a testa de Trowa ficou banhada de suor.
Duo estreitou os olhos ao notar o que acontecia.
"Ora, vamos, você não está b..."
"Duo?" – o moreno cortou-lhe a fala. Merda, ele havia notado que algo estava errado!
"Que é?"
Hora do plano 'B'- nunca admitiria que precisava de ajuda, então...
"Tem um palhaço sentado em sua poltrona."
Duo piscou.
"Bem... isso eu posso ver, sabe?" – foi a resposta metida a piadinha que recebeu. Trowa fechou a cara.
"O lance é que este palhaço aqui não gosta de fazer nada pela metade. Quando ele está fazendo seu show, por exemplo, gosta que todos se divirtam ao máximo." – pronto, ele sentiu que, embora lutasse para não rir, o riso – marca tão indelével de Maxwell – estava lá: o que era muito melhor do que agüentar aquele olhar de angústia e solidão. "Sou um sujeito forte, certo? Então... Seria pedir demais para você virar essa sua cara feia para o outro lado, enquanto eu tento levantar desta maldita tortura em forma de cadeira?"
A gargalhada de Duo irrompeu pela sala.
"Achando engraçado, Maxwell? Espere só até eu conseguir me levantar daqui, você..."
Ainda rindo, Duo passa uma mão pelos olhos balançando a cabeça – a trança movendo-se de um lado a outro em suas costas, enquanto se levanta do sofá.
"OK, cara, OK. Acho que você me convenceu." – aproximando-se, diz. – "Vamos lá, 'sujeito forte'. – e debruçou-se sobre ele, para que o outro pudesse se apoiar em seu ombro. –"Certo: apóie seu braço machucado nas costelas. Eu agüento você."
"Inferno, não! Eu vou derrubar você!"
"Vai mesmo?" – o sorrisinho de deboche de Duo produz um efeito engraçado em Trowa: Ele começou a se sentir... quente.
Indiferente ao que acontecia com o outro, Duo inclina-se mais. Neste movimento, sua cruz escorrega e escapa da gola da camisa, pendurando-se então livre, frente ao tórax de Duo. Piscando, Trowa apenas volta à realidade quando Duo encosta-se mais dele –sente os braços do outro passarem em volta de seu torso, fazendo o apoio firme de que ele iria precisar para sair dali.
O olhar de Duo inesperadamente tão próximo ao seu, de modo que tudo o que conseguia ter em seu campo de visão eram aquelas íris violetas... A imagem mergulhou por inteiro em seus olhos verdes, enquanto Trowa ouvia-o dizer: – "Eu sou muito mais forte do que você possa imaginar, moreno. Isso posso lhe garantir."
E o mundo realmente pareceu desaparecer para Trowa no segundo seguinte. Infelizmente, não pelo motivo que ele gostaria: Duo ergueu-o da cadeira em um único movimento fluído, firme – com toda a certeza – muito mais benéfico do que um levantar hesitante e vagaroso... Mas que nem por isso doeu menos.
"CARAL...!" – Trowa engoliu o que palavrão que lhe escapara dos lábios. Não por decoro ou algo do tipo, mas sim, porque o fôlego lhe faltara mesmo.
Firmando o peso de ambos com as pernas, usando seu tórax de apoio e os braços fortes para sustentar o outro, Duo deu um sorriso, olhando diretamente para o rosto bonito de Trowa, levemente corado pelo esforço feito. Contando vantagem, e achando graça pelo fato do outro ter perdido um pouco da compostura, disse:
"Viu? Eu lhe disse que sou forte." E piscou matreiramente um dos olhos.
Algo estalou na mente de Trowa. Aquele jeito de Duo lhe falar, de piscar, de... aquela proximidade... o contato corporal com o corpo do outro – fosse leve ou ocasional –, era uma coisa a qual não experimentava há anos, desde o fim da guerra, uma vez que sempre que se viam, evitava-lhe todas as aproximações...
"O que é isso?", perguntou-se, ao sentir inesperadamente o véu que cobria ainda suas lembranças ameaçar erguer-se. Infelizmente, porém, tão efêmera quanto veio, a sensação se foi. "Algo! Tem algo, eu ia... me lembrar de alguma coisa – tenho certeza!" seus pensamentos giravam em rotação de mil quilômetros por hora, enquanto sentia aquelas pontadas horríveis retornarem, queimando seu cérebro.
Foi quando se deu conta que estava com quase todo seu corpo amparado no de Duo... A consciência de que suas coxas se encontravam por entre as dele o tomou, fazendo-o apertar, sem sentir, o braço do outro no qual sua mão estava apoiada. Sentiu um arrepio. Seu corpo reagiu aos estímulos.
Sem jeito, Trowa focaliza novamente no rosto do ex-parceiro e tenta responder à piadinha. Mas não consegue. Ao notar, de repente, que o olhar de Duo para ele mudara.
O sorrisinho de mofa havia morrido lentamente nos lábios dele. Os olhos dele, estavam fixos nos seus. Imediatamente, ao contrário do que imediato pudesse imaginar, Trowa sentiu um certo... alívio, uma sensação inesperada... de que estava tudo bem.
Mas, por Deus, não estava, maldição!
Duo significava problemas. Sempre soubera, instintivamente – não fora por isso que o evitara, durante anos? – mas nunca fizera idéia de que entre tantos 'perigos' à sua paz de espírito, o ex-piloto 02 também seria um perigo no tocante ao lado sexual. Seus olhos verdes baixaram para aquela boca e teve um flash... sentiu que poderia beijá-lo, tomar aqueles lábios nos seus, e... matar uma sede antiga. Não haveria resistência – Duo mal respirava. Ele próprio mal respirava, também.
Um homem não se sentia assim aos vinte e cinco anos de idade. Aquilo era admissível para um adolescente de quinze anos – gay, claro – que acabasse de encontrar o primeiro rapazinho que o interessasse, e o fizesse sentir o pulso acelerado e o coração bater mais forte, apenas por estar ao lado dele. Sim, Trowa desde cedo sabia que quais eram suas preferências sexuais... e tais sensações haviam sido exatamente as que ele sentira ao conhecer Quatre, ambos verdadeiramente, adolescentes. Mas o adolescente cresce; fica mais esperto, mais duro, mais velho, mais experiente. A vida ensina algumas lições necessárias à sobrevivência.
Trowa aprendera algumas dessas lições, mas por uma fração de segundos, ele estava de volta... de volta a um passado em que a magia de se sentir amado era tão frágil quanto a certeza de que continuaria vivo, tão excitante quanto a textura da pele do braço do outro rapaz que ele sentia e o calor emanado dele, sentido pelo toque de seus dedos.
Foi Duo quem se moveu primeiro. Agindo sabiamente, afastou-se e, gentilmente, retirou os braços dele de volta de seu torso.
"Tudo OK?" , perguntou em voz estranhamente baixa.
"Sim." Ele conseguiu responder. Mas quando ele se afastou, Trowa não estava bem. Ao contrário do que tinha acabado de dizer, não estava acostumado a agir como um tolo. Mas o que ele tinha acabado de sentir fora real... Algo que nunca mais esperara sentir – não na sua idade, não na sua vida. Ele já tivera sua vez. Sua chance de amar alguém, viera e passara – com Quatre – era o que se conformara a acreditar.
Sentiu o estômago embrulhar. Estaria ficando louco?
Estando já de pé, Trowa decidiu-se que já bastava de tudo aquilo – uma sensação de urgência o incitava a ir embora dali o mais rápido possível. Já bastava tudo o que passara desde que chegara ali. Virou-se então para ir embora.
Duo, vendo-o se dirigir à porta para ir embora, estendeu-lhe uma mão, como se querendo lhe chamar a atenção para si. Não chegou a tocá-lo, mas o gesto foi o suficiente para Trowa olhar para ele, de forma inquisitiva.
"O que foi?", perguntou, parando. "Inferno! Por que tive que estragar tudo!"a irritação começava a comê-lo por dentro. Não lhe bastava apenas a dor no corpo todo, as pontadas no cérebro estavam aumentando de intensidade.
"Tenho de lhe contar mais uma coisa, Tro..."
"Não, não tem." – interrompe-o bruscamente. Apercebeu-se, porém, que Duo trazia agora um semblante um tanto carregado, como se preocupado com algo. Arrependeu-se do tom e da atitude. – "Eu preciso saber mais alguns detalhes, é verdade. Mas não precisa ser agora e nada que possa invadir sua privacidade. Só mais alguns detalhes a respeito de sua filha e..."
"Não, eu sei, mas..." – erguendo o rosto, ele firmou a voz e começou: -"Uma dessas coisas que você precisa saber é que, eu tenho quase certeza absoluta, minha ex-esposa se mudou justamente para evitar que eu encontrasse Elisa."
O moreno exala um suspiro alto, e torna a ficar de frente para o rapaz de trança.
"Eu já imaginava isto, Duo." – mais atento, pegou novamente mais um olhar estranho do outro. – "Olhe... Sério. Você não precisava me dizer: não foi preciso muito, para deduzir que a Hilde não presta, no final das contas."
O alarme fez os olhos violetas arregalarem-se: "Como é que? O que diabos..."
"Isso mesmo o que você ouviu!" – pela primeira vez desde que chegara àquela casa, Trowa deixava seu temperamento vir à tona: -"Se vai querer que eu acredite que ela não foi uma cabeça-oca que, depois de idealizar o seu próprio Salvador da Terra e andar desfilando com ele por aí, decidiu que o preço a pagar era muito alto, acabou por te trair com outro, te forçando a pedir divórcio, só para depois fugir irresponsavelmente com sua filha por esse meio de mundo aí fora, fique sabendo que eu não..."
"Pois então, eu lamento lhe dizer, Trowa, você deduziu errado." – disse Duo, um brilho selvagem de determinação toldando-lhe os olhos, sua mão prendendo como uma tenaz o braço direito do Preventer, puxando-o para si, deixando-os quase cara-a-cara:
"Escute com bastante atenção, meu amigo, para evitar fazer pré-julgamentos no futuro: Hilde é, e sempre foi, uma jovem decente, uma garota que teve coragem de trair tudo o que ela acreditava para ajudar um suposto terrorista; uma menina que com apenas dezesseis anos de idade era uma esposa dedicada, além de uma mãe maravilhosa. E eu não vou admitir que nem você, ou qualquer outro, falem mal dela na minha frente."
Ao término do seu rompante, ele parou um pouco e lentamente, libertou o braço que prendera, no calor da raiva – provavelmente apenas então se dando conta do que fazia.
Aumentando ainda mais o estupor de Trowa com os disparates que o ouvia dizer, Duo continuou falando, quase que sílaba por sílaba, de modo a não deixar dúvidas:
"... e eu não posso pedir que você se envolva nessa bendita confusão, sem ser honesto sobre exatamente onde você está se metendo: EU sou o problema, Tro. Não a Hilde."
Um sorriso de escárnio toma conta dos lábios bem-desenhados de Trowa.
"Ah, sim. Claro. Mas claro que é, Duo. Imagine se não fosse." – mas antes que ele consiga falar mais alguma coisa, é interrompido:
"Eu..." – ele começou firmemente: "... sou um alcoólatra, Trowa."
.
Continua...
3x2 + 1x5 3x2 + 1x5 3x2 + 1x5 3 x2 + 1x5 3x2 + 1x5 3x2 + 1x5 3x2 + 1x5 3x2 + 1x5 3x2 + 1x5 3x2
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Notas da Autora:
(1) Agente Shadow – Homenagem à maravilhosa autora Shenlong! o/
Quem conhece as fics divinas da Shenlong-Sama, sabe que em sua fic 'Chimaera' – uma das mais belas M-Pregs que eu já li, e que estava sendo traduzida pela Tradutora Dee-chan, onde Heero e Wufei trabalham nos Preventers e seus nomes códigos são Agente Day e Agente Fire, respectivamente. Assim, foi daí que me inspirei para fazer o nome código do meu Trowa. EEEEEEEEEEE
(2) AWWWW! Esta imagem existe, mesmo! E é uma coisa muito fofa, ver o Wufei ensinando o Trowa a cozinhar... descascando batatas! E a carinha dele, então? ( Illy-chan tendo ataques foféticos só de lembrar)
.
Comentários da Autora:
AWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWWW!
MEU DEUS, NAUM ACREDITO!
FINALMENTE CONSEGUI TEMPO PARA FAZER O CAP 01!
Graças a São Yaoi, ne? Bem, esta fic é um dos meus mais fofos sonhos...! Uma fic com o casal principal sendo...
.
3x2
Trowa&Duo... e com M-Preg!
Ai, meu coração! Que coisa mais linda! Eu SIMPLESMENTE A.D.O.R.O. o casal 3x2 - e querem saber quem foi a maior 'culpada' por esta paixão? Simples, oras: foi a Trixie - uma autora americana que fez uma das fics mais FENOMENAIS, daquelas de ARRASAR UM QUARTEIRÃO, que eu já li: "Rattlesnakes".
O quê? Não leram ainda? Como?!? Eu já traduzi esta fic até o cap 07, hohohohoh
Mas não temam: conforme o avisado no início do capítulo, passarei a postar as fics traduzidas aqui no f.f. net, enquanto meu site não fica pronto ^~
1x5
... E com os meus dois adorados asiáticos juntos! Sim, isto mesmo: Wufei&Heero, como casal - eu AMO fics com os dois como namorados, amantes... VIVA!
4x6
Quatre&Zechs... Bem, me desculpem as fãs de 3x4 (eu também adoro os dois juntos) mas desta vez, como eu queria uma fic com Trowa com o Duo e o Wufei e o Heero juntos, sobrou para o loirinho ficar com... outro loiro? Pois é! Mas não se preocupem - para fazer o Quatre ficar com o Zechs, eu me inspirei na fic M-Preg da K-Money, que tem no XYZYaoi, ehehehheeheheh. Realmente, não é um casal muito comum, mas ela colocou os dois tão fofos, na fic, que... meu coração não resistiu a dar uma outra chance para eles! o/
Mais explicações a respeito da fic? hohohohohoh Mistérios... Mistérios!
Beijos!
Illy-chan
