Patética
Patética. Patética. Como eu sou patética!Absurdooo! Só pra começar, eu estou escrevendo no meu caderno por falta de um diário. Pior, eu estou fazendo isso enquanto deveria estar estudando e fazendo uma redação inútil que aquele fantasma mais inútil ainda mandou, o ponto é que eu não estou.
Sim, eu sei, desocupados são o câncer da sociedade. Mas falando sério agora, o que está acontecendo comigo? Eu não costumava ser assim.
Pelo o que eu me lembre, eu sou (modéstia à parte) uma garota responsável, daquelas que sempre fazem à tarefa e são inteligentes por natureza, embora a monitora-chefe seja a Michele. Não desmerecendo ela, claro, pois ela também é tudo isso. Eu só falei pra introduzi-la na história (é, ela é importante). Quero dizer, ninguém em sã consciência me nomearia monitora-chefe certo? Depois que o fato deu ser avoada já virou quase um ditado popular (não, não virou). Eu também sou multi desastrada, a minha capacidade de tropeçar/quebrar/esbarrar em coisas/pessoas é incontestável. Uma vez minha prima disse que eu era "dramástica", mas isso não deve ser levado em consideração, já que ela tem oito anos. A propósito, o Remus e Mi combinam perfeitamente na monitoria. Pobres amadores, eles acham que ninguém saca os olhares românticos de um para o outro. Deve ser aquela velha lenda de monitores, embora eu nunca tenha visto em todos os meus anos de Hogwarts isso se concretizar.
Mas voltando ao assunto (Céus! Como eu sou dispersa!), "o que está acontecendo comigo?" deve se dar pelo fato de que hoje eu descobri que eu sou patética. Eu fico realmente com dó da minha mãe, sabe? Segundo a ideologia dela, desgraça pouca é bobagem. E eu concordo, pois além daquele cavalo bastardo da Petúnia, ela ainda tem uma filha patética como eu.
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"O que você está fazendo?" Ta, eu entendia o tom confuso de Michele, eu provavelmente faria a mesma coisa se visse alguém fitando furiosamente a parede. "Sabe, Lily, eu não sou a única olhando."
"Eu sou patética" Pois é, essa frase não saiu da minha cabeça nas últimas horas.
"Não, você é estranha." Oh! Que amiga linda!
Vendo que o negócio era sério, ela se sentou em uma poltrona frente a minha, e tampou a lareira. Mala. Eu a olhei magoada. "Bom, agora que eu já tenho a sua atenção, a gente pode conversar."
"Eu sou patética Mi! Olha só! Eu estou escrevendo no meu pergaminho!"
"Escrevendo o que?"
"Que eu sou patética." Ótimo Lily! Assim você vai longe.
Michele suspirou pesadamente, fechou os olhos, pensou por um instante e concluiu: "Vamos subir, o salão está muito cheio." Ela também não vai tão longe assim.
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"Agora, calmamente, você me dirá o que aconteceu, porque está manhã você estava normal e agora você está..."
"Patética." Eu completei e ela fez uma cara de pouca paciência. "Ah, eu não sei Mi..." naquele momento eu percebi que eu realmente não tinha sentido algum.
"Bom, eu sei!" Odeio quando ela faz isso. "Você precisa de um namorado." Louca! Eu já ia gritar com ela, quando ela continuou, "É sério, você pararia com essas crises se tivesse um namorado." Continuou falando besteira. "Lily, você tem essas esquisitices uma vez por mês! Vai lá, qual foi a do mês passado, a gente tava de férias, eu não tenho como saber."
"Foi burra." Respondi mal-humorada. Ela fez aquela cara de sabedoria. Tá, era verdade que eu tinha umas crises loucas dessas umas vezes, mas não era tão freqüente, e nem era por falta de namorado!
"Viu só? Lily, isso é absolutamente normal (ah, claro Michele!), talvez não tão comum mas todos precisam de uma maneira para extraviar suas frustrações. E eu acho muito bom ter um diário, melhor do que sair atacando pobres meninos indefesos do primeiro ano como você já fez." Só justificando, eu não ataquei com mágica, foi através de palavras. "Agora, você está no sétimo ano, e precisa parar com isso."
"É, talvez..."
"Porque nem as garotas do quarto ano devem fazer mais isso." Ok, agora estava ficando chato, o problema era que eu nem podia contestar, já que ela tinha razão (como sempre). "Então, a senhorita trate de se dar um jeito!"
"E como você sugere que eu faça isso?" Quero dizer, fácil falar, não eram as manias dela!
"Arranjando um namorado!"
"Ah não Michele! De novo não!"
"Como não, você está solteira ("Você também."), no sétimo ano ("Você também.")e com garotos na mão.
"Na mão? Desde quando?"
"Desde quando o Potter não larga do seu pé!"
"Eu não vou discutir isso pela milésima vez, Michele! E se você acha que entende bem disso, talvez deva reparar mais ao seu redor." Potter não é importante, não precisa ser descrito aqui. Michele olhou com uma cara confusa de quem entendeu tudo. Mas não valia a pena continuar naquilo, a gente nunca saia do lugar. "Ei! Você não sentiu a minha falta no jantar?" Sabe que depois de uma crise daquelas não é nada legal se sentir rejeitado pela sociedade. Essa 'sociedade' consistia basicamente na Mi, mas tudo bem.
"Ah, você não jantou?" Obrigada Michele! "É que eu tive que preparar um relatório, mas depois eu comi alguma coisa na cozinha." Melhorou. "Com o Remus."
"Hum..." Fiz aquela cara de segundas intenções que todo mundo faz pra encher a paciência de alguém assim...
"O QUE?"... elevada que nem a Michele.
"O que o que, oras! Se você não sabe não sou eu que vou te falar!
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Desci ao salão com o objetivo de finalmente fazer a redação que eu deveria ter feito se não estivesse naquela crise-do-patético.
Depois de uns dez minutos sentada e escrevendo que nem uma condenada, Remus veio falar comigo.
"Lily!Tudo bem?"
"Tudo ótimo, por quê?" Calma! Eu não mal-educada assim! É que ele perguntou de uma forma tão preocupada!
"É que eu não vi você no jantar." Que fofo! Alguém reparou!
"Ah, Remus! Você reparou!" Ele me olhou estranho, -não é pra menos também,-e disse uma besteira biquadrada.
"Bom, na realidade, foi o James." Não pergunte! Eu não vou explicar. E você não vai querer saber de qualquer jeito.
"Hunf!" Bufei irritada.
"Ahn..." Começou ele sem jeito, porque além de desastrada, desconcentrada e inútil, eu também sou irritada. "O que você faz aqui afinal? Não está com fome?"
Só então eu percebi que eu realmente estava com fome.
"Eu estava fazendo a redação do fantasminha. Mas sim! Eu estou com fome!"
"Então passa lá na cozinha, Filch vai rondar somente as masmorras esta noite." Viu a utilidade de ter amigos monitores-chefes? Você não tem trabalho nenhum, e ainda ganha informação.
"Bom, obrigado. Mas peraí, quem vai patrulhar o resto do castelo?"
"Ninguém, não é necessário." Se ele diz... "A gente precisa conversar mais vezes Lily." Também acho!
"É, mas você nunca está sozinho, tá sempre com os seus amigos." Falei mal-humorada. "Eu não vou falar com você lá!"
Ele deu um riso misterioso (que me incomodou bastante, diga-se de passagem.) e subiu em direção ao seu dormitório.
Quinze minutos depois, eu estava cantarolando no corredor em direção a cozinha. Após fazer cócegas em um cesto de frutas (Entendeu? Não? Nem eu.) e entrar na cozinha, o único pensamento que me veio foi o de matar o Remus. De onde tiraram que sexta-feira é o melhor dia da semana mesmo?
