- Os spoilers de Cursed Child presentes nessa história são pequenos e em sua maioria são referentes ao paradeiro dos personagens nos últimos anos. "The Ice is Getting Thinner" se passa um ano após os eventos da peça.
- Essa história é Draco/Hermione, porém, não esperem que o casal se concretize do dia para a noite. Quero criar uma fanfic em que esse relacionamento é construído da forma mais natural e menos OOC possível.
- Escolhi usar a grafia em inglês para os nomes próprios dos personagens.
- Sejam pacientes comigo! Eu não escrevo fanfics de Harry Potter há mais de 11 anos (aquela que entrega a idade sem querer).
- Se gostarem, não esqueçam de deixar sua resenha.


"All of these minutes passing, sick of feeling used / If you wanna break these walls down, you're gonna get bruised / And now my neck is open wide, begging for a fist around it /Already choking on my pride, so there's no use crying about it".

Castle - Halsey

Hermione fitou o relógio na parede da cozinha com crescente impaciência. Ela tentava - inutilmente - ser o mais eficiente possível: com a mão direita, segurava a edição mais recente do Profeta Diário, enquanto a esquerda alternava entre entornar uma grande xícara de café e petiscar o que havia restado de um croissant de queijo.

Ela ainda não estava atrasada. O seu cronograma ainda estava correndo sem maiores problemas: 10 minutos para um banho gelado (concluído com sucesso), 5 minutos para se vestir (concluído com sucesso), 5 minutos para escovar o cabelo (concluído com sucesso), 5 minutos para organizar a correspondência (concluído com sucesso), 10 minutos para preparar o café da manhã (concluído com sucesso) e 15 minutos para saborear o café e ler as notícias do dia (em andamento).

É óbvio que tudo desmoronaria em questão de minutos, como sempre acontecia quando seu marido resolvia levantar-se da cama. Toda manhã, ela ainda nutria a esperança de organizar sua bolsa (5 minutos) e repassar a agenda do dia (10 minutos) antes que Ron aparecesse na cozinha e atrapalhasse a ordem que Hermione tentava instaurar naquela casa.

Tão pontual como um relógio cuco, o bruxo aparatou no cômodo, ainda usando pijamas e com sérios problemas para formar frases coerentes. Hermione deixou um longo suspiro de derrota escapar pelos seus lábios e voltou sua atenção para o ruivo sonolento:

— Bom dia! - ela cumprimentou tentando soar o mais amável (e o menos irritada) possível - Dormiu bem?

— Café? - murmurou a título de cumprimento e aguardou enquanto a esposa enchia uma nova xícara para ele - Obrigado.

Ele sentou-se na cadeira ao seu lado depositando todo o seu peso sem muita cerimônia. Ron era particularmente conhecido por sua falta de entusiasmo pela manhã e Hermione sempre fazia um grande esforço para não se deixar sugar pela nuvem de animosidade matinal do marido.

— Preciso que você assine isso e envie para Hogwarts ainda hoje - informou Hermione enquanto retirava um pedaço de pergaminho do bolso da capa e o entregava a Ron.

O rapaz deixou a xícara de café de lado e com o cenho franzido leu para si o conteúdo do pergaminho.

— Por quê? - foi tudo o que ele se deu ao trabalho de perguntar.

— Narcissa Malfoy - informou a bruxa cuja atenção estava novamente no jornal, mais especificamente em uma matéria intitulada: Os Aurores de Potter: Salvadores do Mundo Mágico ou Piada Nacional?— Ela faleceu ontem. Rose quer acompanhar Scorpius. Preciso que você também dê sua autorização para que ela possa sair e comparecer ao enterro.

Ron grunhiu sons incompreensíveis.

— Eu vou enviar uma coroa de flores em nome da nossa família - Hermione continuou - Seria de bom grado se você enviasse sua própria carta de condolências para Draco...

— Por quê? - ele a interrompeu e dessa vez parecia bem incomodado com essa perspectiva.

— Ele é nosso colega - Hermione revirou os olhos em sinal de fadiga.

— Pooooor quêêêêê? - insistiu fazendo questão de arrastar cada sílaba da palavra pelo maior tempo possível.

— Nossa filha está namorando o filho dele - ela levantou-se da mesa e com um leve balançar de sua varinha, toda a louça suja desapareceu e reapareceu magicamente na pia - Rose realmente gosta de Scorpius e pelo bem desse relacionamento, nós precisamos manter o mínimo de civilidade entre as famílias.

Um longo silêncio instalou-se na cozinha. Hermione apenas observou o marido com resignação (10 minutos atrasada), enquanto o mesmo parecia degustar muito vagarosamente, os últimos goles de seu café. Com o segundo suspiro de derrota do dia, ela resolveu que era melhor não exigir mais do que ele era capaz de oferecer:

— Só não esqueça de assinar a autorização, está bem? Isso é realmente muito importante para a Rose - pediu com a voz reduzida a um sussurro cansado - Eu preciso ir trabalhar.

Com um rápido beijo roubado dos lábios de Ron, Hermione deixou a cozinha pronta para mais um dia em seu cargo como Ministra da Magia (15 minutos atrasada).


Quando Hermione aceitou concorrer à vaga por indicação do ex-ministro Kingsley Shacklebolt, ela tinha a pretensão de poder continuar seu trabalho transformando o mundo bruxo em um lugar mais seguro para todas as criaturas. O que ninguém lhe havia informado é que tais decisões consistiam em apenas 5% das atribuições de seu cargo. Os outros 95% eram intermináveis momentos de politicagem e uma infinita parada de pessoas entrando e saindo de seu escritório, cada um com um pedido mais esdruxulo que o outro.

Sua secretária era virtualmente inútil na tarefa de controlar a multidão que precisava falar urgentemente com a Ministra Granger e por conta disso, a bruxa já havia se acostumado com visitantes inesperados escancarando sua porta e adentrando o seu gabinete sem um convite formal.

— Hermione - uma voz distinguível lhe dirigiu a palavra em tom de emergência - Nós precisamos conversar.

— O que foi, Harry? - ela perguntou sem nem ao menos levantar os olhos do pergaminho no qual escrevia - Qual é o último acontecimento extraordinário que não pode esperar um horário livre em minha agenda?

Com esse comentário, Harry Potter reconsiderou o tom de sua voz por um instante. Ele, mais do que qualquer outro funcionário do Ministério, sabia o quanto a amiga zelava por manter um perfeito cronograma com o menor número de interrupções possíveis.

— Você leu o Profeta Diário hoje? - indagou tentando controlar as ondas de raiva que lutavam pela posse de sua voz.

— Sim - Hermione confirmou, seus olhos castanhos finalmente encontrando os do amigo - Já te disse um milhão de vezes que não deveria se importar com o que Rita Skeeter escreve em sua coluna falida.

— O único problema é que ela não está totalmente errada - observou descontente - Meus aurores são uma piada nacional.

Deixando a pena com a qual escrevia de lado, Hermione não pode deixar de reparar na atmosfera de derrota que parecia envolver o seu melhor amigo. O cabelo que outrora fora tão negro e brilhante, agora estava salpicado por uma impressionante quantidade de fios brancos que lhe davam uma aparência mais velha. Toda a exaustão causada por inúmeras horas extras, estava perfeitamente ilustrada pelas olheiras que se formavam bem abaixo dos seus olhos verdes.

O seu esgotamento físico e mental não somente era perceptível como também era preocupante. Por mais que sua função como chefe fosse exigir resultados satisfatórios do Departamento de Execução das Leis da Magia, ela simplesmente não conseguia mascarar seu incômodo com o fato de Harry estar exigindo muito de si mesmo.

— Harry - ela tentou adotar a entonação mais diplomática que sua voz permitia - De todas as células ativas de aurores no Ministério da Magia, a sua foi a que realizou o maior número de apreensões nos últimos cinco anos. Se ignorarmos essa insistência em negligenciar o preenchimento de toda papelada necessária, eu afirmaria que os seus aurores são os mais competentes de toda a Grã-Bretanha.

Os cantos dos lábios do bruxo contorceram-se no que parecia uma tentativa falha de conter o princípio de um sorriso.

— Se nós somos os aurores mais competentes de toda a Grã-Bretanha, como ainda não prendemos nem ao menos um membro por trás da Sociedade? - retorquiu amargamente - Se não conseguirmos desmantelar essa organização, é bem provável que eles se tornem a maior ameaça que o mundo mágico já viu desde Voldemort.

A bruxa precisou controlar uma súbita vontade de encantar as gárgulas que decoravam a sala, com o único propósito de fazer com que elas atacassem o seu amigo. Aparentemente, desde que entrara na casa dos quarenta, Harry Potter havia descoberto seu talento oculto para dramaticidade. Todos os casos cuja resolução parecia demorar um pouco mais do que o esperado, recebiam o título honorário de a maior ameaça que o mundo mágico já viu desde Voldemort.

— Eu entendo perfeitamente - ela concordou sem se prestar ao trabalho de parecer convincente - Tenho a mais plena certeza de que a sua equipe está preparada.

— Meu melhor auror está passando uma temporada em St. Mungus por conta de um Feitiço Detonador. Minha equipe não está nem ao menos completa, como você pode acreditar que ela está preparada?

Hermione permaneceu em silêncio enquanto tentava avaliar a situação de forma objetiva. Quais eram as chances reais de A Sociedade representar um perigo maior do que aparentava? Os rumores da existência de uma sociedade secreta formada por bruxos eram tão frequentes, que já haviam sido incorporados ao folclore do mundo mágico.

Tudo isso mudou há cerca de seis meses atrás, quando um grupo que se autodenominava como A Sociedade resolveu procurar a imprensa e assumir a responsabilidade por uma série de crimes não solucionados.

O que a princípio parecia ser boataria barata para alavancar as vendas de jornais e revistas, começou a ficar mais sério quando os membros da Sociedade resolveram levar suas confissões para um novo nível: eles passaram a avisar, com uma impressionante riqueza de detalhes, sobre os crimes que ainda pretendiam cometer.

Uma sequência de assassinatos, roubos e sequestros começou a ocorrer tal como descrito semanas antes nas cartas enviadas pelo grupo. Eles pareciam se deleitar com a possibilidade de cometerem todas essas barbáries sem que o Ministério pudesse tomar qualquer atitude para detê-los.

Eles eram invisíveis e com o passar do tempo, estavam se tornando cada vez mais ousados em suas ações.

Ela acabou por concluir que talvez fosse sensato levar as preocupações de Harry mais a sério.

— O que eu posso fazer por você? - perguntou Hermione - Você precisa de novos aurores para o seu time? Nós podemos convocar aurores aposentados também...

— Eu não preciso de novos aurores, Mione - ele a interrompeu - Preciso de mais recursos para investirmos em inteligência, treinamento e consultores. Quero criar uma força tarefa interdepartamental para colocarmos um fim definitivo na Sociedade.

— Harry, o orçamento do seu departamento já excedeu o programado para o semestre e nós ainda estamos no início de outubro - a bruxa protestou desanimada - O Ministério não tem esse dinheiro.

— Eu sei que você pode pensar em algo. Você é a bruxa mais brilhante da nossa geração e está sentada nessa cadeira por um ótimo motivo.

Hermione tentou não se deixar levar pela óbvia bajulação por parte de Harry. Com tantos anos de amizade, ela já havia aprendido qual era o modus operandi do rapaz quando precisava de um favor da parte dela.

— Não te farei nenhuma promessa, entretanto, prometo estudar a possibilidade de realocar o orçamento de outro departamento para a criação da sua força tarefa - concluiu Hermione - Assim está bom para você?

— Sim - concordou Harry que aparentemente estava satisfeito com essa pequena promessa de progresso.

— Não sei como, mas prometo que vou encontrar uma solução, ok? Nem que eu precise passar toda a noite fazendo malabarismos e negociando com duendes.

O chefe dos aurores assentiu com um aceno de cabeça e por um instante, Hermione teve a impressão de que ele parecia prestes a sair do seu gabinete, porém, ele continuou a encarando com uma expressão curiosa no rosto.

— Sim? - ela perguntou intrigada pelo silêncio.

— Eu queria te perguntar como andam as coisas - Harry abriu um sorriso tímido - Quer dizer, como anda sua vida fora do trabalho?

Hermione pensou na pilha de assuntos pendentes que precisavam ser resolvidos ainda naquele dia e suspirou com pesar. Não existia maneira educada de lembrar ao amigo que ambos estavam em horário de trabalho, portanto, ela permitiu-se engajar em cinco minutos de conversa fiada.

— Existe vida fora do trabalho? - ela riu - Eu não me lembro mais o que é sair do Ministério no horário previsto. Também não me lembro muito bem das feições do meu marido quando está acordado.

— Será que nós não estamos ficando velhos demais para isso? - Harry conseguia se identificar perfeitamente com aquela realidade - Será que não está na hora de nos aposentarmos e curtirmos a nossas respectivas famílias?

— Eu encontrei Elphias Dodge no elevador hoje. Ele trouxe um bolo para comemorar seus cem anos como funcionário do Ministério e você está realmente falando em se aposentar aos quarenta anos? - suas sobrancelhas se arquearam involuntariamente em sinal de desaprovação.

Harry a admirou com uma expressão de divertimento estampada em seu rosto. Era óbvio que o último plano na lista de sua amiga era parar de trabalhar. Sua obsessão com os estudos havia evoluído para uma neurose com o trabalho e ai de quem fizesse corpo mole perto dela.

— Tudo bem, eu prometo esperar até os meus 50 anos - concordou revirando os olhos comicamente - Vou deixar que você volte para os seus pergaminhos. Só não se mate de tanto trabalhar, ok?

Ela não pode deixar de abrir um sorriso cheio de culpa enquanto acompanhava o amigo com o olhar. No momento em que ele finalmente a deixou sozinha, Hermione afundou a cabeça entre as mãos e voltou o pensamento para o pergaminho que estava ali à sua frente. Ela deveria estar se matando de trabalhar, entretanto, suas últimas horas foram ocupadas com uma carta de condolências que parecia impossível de se escrever.

Como Ministra da Magia, ela já havia escrito inúmeras notas e cartões oferecendo seus mais sinceros sentimentos pela morte dos membros mais proeminentes da sociedade mágica. O único problema era que aquela carta era não era só mais uma formalidade. Tratava-se de algo extremamente pessoal e que merecia uma dose calculada de sentimento.

Pegando a pena, a bruxa deu início a mais uma tentativa:

Malfoy

Draco,

Foi com muito pesar que recebi a notícia do falecimento de sua mãe. Não consigo expressar em palavras a importância das contribuições de Narcissa Malfoy para a comunidade mágica. Sei que sua falta será sentida não somente por sua família, como também por todos que de uma forma ou de outra, puderam conviver com ela.

Em nome de toda família Granger-Weasley,

Eu espero que você possa encontrar paz de espírito para suportar esse momento tão complicado.

Saiba que estou disponível para qualquer coisa que sua família precisar durante esse período.

Minhas mais sinceras condolências,

Hermione Jean Granger—Weasley

Ministra da Magia

Hermione releu novamente a última versão e deu-se por satisfeita com o resultado. Ela finalizou a tarefa com um encanto para apagar as palavras rasuradas e colocou o pergaminho em um envelope em que se lia:

Draco Malfoy

Mansão Malfoy

Wiltshire - Inglaterra

Segundo quarto, terceiro andar, Ala Oeste.

Com o sentimento de dever cumprido, ela colocou a carta em uma pilha com outros envelopes que deveriam ser enviados pelo Correio-Coruja no horário do almoço. Tentando esvaziar os pensamentos da tragédia que abatia a família Malfoy, Hermione tentou concentrar sua atenção em uma grossa pasta que levava o título de Orçamento dos Departamentos do Ministério da Magia.

Resignada com a extensa missão que a aguardava, ela apontou a varinha para a própria garganta:

— Ava, você pode avisar ao meu marido que não vou poder jantar em casa hoje? - ela transferiu a mensagem magicamente para sua secretária cuja mesa estava localizada na entrada de seu gabinete - Aproveite e diga para que ele não me espere acordado.

E com um remorso crescente por negligenciar a família mais uma vez, Hermione finalmente deu início a mais um dia de trabalho.


O Departamento de Transportes Mágicos precisava de todos os galeões possíveis. Após horas de uma infrutífera negociação com seu cunhado, Percy Weasley, ele finalmente a convenceu que a atualização da Rede de Flú era uma prioridade que não poderia ser postergada. O chefe do Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas também não pretendia abrir mão de seu orçamento, já que eles haviam acabado de contratar novos Obliviadores para lidar com os danos causados pela Sociedade no mundo trouxa.

Já haviam se passado horas e ela não conseguira movimentar um mísero nuque no orçamento. Aparentemente, todos os departamentos estavam lidando com suas próprias emergências e ninguém parecia disposto a abrir mão de dinheiro para que Harry Potter pudesse criar uma força tarefa.

Hermione abriu novamente o arquivo do Departamento para Regulamentação e Controle das Criaturas Mágicas e estava prestes a revisar os gastos do Escritório de Orientação sobre Pragas, quando um barulho de crepitar lhe chamou a atenção.

As chamas da lareira de seu gabinete assumiram um tom esverdeado, o que só podia significar que um visitante se aproximava. Somente os chefes de departamento e amigos próximos possuíam a permissão necessária para utilizar a Rede de Flú naquela lareira, portanto, ela nem ao menos se preocupou com a visita inesperada.

Todavia, nada a poderia ter preparado para a aparição da figura pálida que se materializou em sua sala.

— Granger - ele a cumprimentou com um aceno educado de cabeça, entretanto, seu tom de voz ainda remetia ao insuportável aluno da Sonserina que Hermione tivera o desprazer de conviver.

Repentinamente, ela lembrou-se que o havia autorizado no ano anterior por conta de toda a confusão que Albus e Scorpius haviam causado - e obviamente acabou se esquecendo desse pequeno detalhe.

— Draco - ela respondeu, evocando a última centelha de civilidade que seu corpo cansado permitia - Que surpresa agradável!

Os lábios finos do bruxo esboçaram um sorriso cheio de malícia, como se soubesse que de agradável sua presença não tinha absolutamente nada.

— Eu espero que o horário não seja inapropriado - comentou enquanto pavoneava-se até a cadeira em frente à mesa da Ministra.

— De jeito nenhum - Hermione olhou de esguelha para o seu relógio de pulso e constatou que já se passava das 23h - O que te traz aqui?

— Vim lhe informar que me encarreguei pessoalmente de levar sua filha de volta para Hogwarts - ele crispou os lábios lentamente - Muito obrigado por liberar Rose para o funeral. Ela é uma garota esplêndida e foi um grande apoio emocional para o meu filho hoje.

Hermione não estava preparada para receber nenhum comentário elogioso sobre sua filha. Na verdade, com tantos números e gráficos em sua mente, já havia se esquecido completamente que Rose estaria presente no enterro de Narcissa Malfoy.

— Claro - assentiu - Eu realmente sinto muito pela sua mãe, Draco. Ela era uma bruxa magnífica.

Ela não pode deixar de notar o sorriso triste que o bruxo abriu no momento em que sua mãe foi mencionada. Por mais que eles nunca tenham sido amigos, ainda era muito desolador vê-lo sofrer mais uma perda dessa magnitude. Era como se a cada ano que passasse, uma das famílias mais tradicionais da sociedade mágica, ficasse um pouco mais perto da extinção.

— Obrigado - agradeceu ao mesmo tempo que capturava o olhar de pena que Hermione lhe lançava, o que fez com que ela desviasse os olhos imediatamente - É estranho saber que voltarei para a casa e ela não estará lá.

Droga!, a bruxa se censurou em pensamento, eu não posso realmente estar sentindo dó de Draco Malfoy. Entretanto, a solidão que o acompanhava era desconcertante. Ela tentou colocar-se em sua posição e sentiu um aperto no coração. Era impossível imaginar sua vida sem seus pais, viúva e com os filhos passando a maior parte do tempo em Hogwarts.

— É como conviver em uma casa com os fantasmas das pessoas que você mais ama - distraída, Hermione nem ao menos percebeu que estava pensando em voz alta, até que um longo suspiro de Draco a retirou do transe.

— É muito egoísta da minha parte querer que minha mãe fosse um fantasma? - indagou pensativo - Pelo menos dessa forma, eu ainda teria sua companhia.

Hermione era mais reconhecida por seu comportamento puramente lógico e desprovido de emoções, entretanto, ela estava lutando bravamente para conter o nó incomodo que se formava em sua garganta. Ali estava quem havia sido seu algoz durante uma grande parte da adolescência, completamente desprovido do ar arrogante que ostentava pelos corredores de Hogwarts. Apesar da idade estar estampada nas linhas de expressão em seu rosto pontiagudo, naquele exato instante, Draco Malfoy não passava de um menino.

Um menino solitário que havia perdido metade do seu mundo.

— Draco... - ela disse antes que pudesse refrear a ideia que acabara de lhe surgir - Eu trabalhei o dia inteiro e acho que preciso fazer uma pausa para jantar. Você quer me acompanhar?

Pela expressão de surpresa em seu semblante, era óbvio que o bruxo não estava esperando um convite para o jantar da Ministra da Magia. Entretanto, em uma mera questão de instantes, o seu rosto assumiu uma fisionomia relaxada de quem parecia estar muito grato pela sugestão (e por ter uma desculpa para não voltar tão cedo para casa).

— Seria um prazer... - o sorriso de malícia voltou a brincar em seus lábios - Granger.