A cidade de Nova York é famosa no mundo todo, mas como em todo lugar, existem também os subúrbios e áreas destinadas ao público mais "popular".
Num dessas regiões, vivia em um minúsculo apartamento a jovem de apenas quinze anos, Haruno Sakura. Com essa idade, ela tinha o sonho de se tornar uma bailarina conhecida e entrar para o Royal Ballet.
A garota frequentava as aulas de balé desde os cinco anos. Não havia quem não se encantava quando Sakura dava suas piruetas já que mais parecia um anjo com aquelas roupas e fios de cabelo rosados e orbes verdes que se iluminavam só de vestir um tutu.
Entretanto, nem tudo eram flores na vida dela. Seu pai morreu quando tinha oito anos num acidente de trabalho e ela trabalhava como garçonete no Shakes's Cafe para pagar suas aulas.
Sua mãe, Haruno Mei também vivia no apartamento. Infelizmente ou não, mãe e filha não eram muito parecidas tanto em aparência quanto em personalidade, o único traço em comum eram os olhos verdes. Mei possuía longos cabelos castanhos acobreados e uma ambição que fazia com que quisesse tirar vantagem sobre tudo. Ela não trabalhava, sobrevivia com a pensão do marido e do que ás vezes ganhava em apostas e cassinos da cidade, porém não adiantavam muito, já que a mulher gastava mais do que podia em roupas e bens supérfluos.
Sakura também nunca recebeu muito afeto da mãe e assumira desde cedo muitas responsabilidades. Era ela quem cozinhava, lavava e passava, além de se esforçar para tirar notas boas. Assim que a pensão de seu pai ficava disponível, ela se apressava para tirar parte dela para as despesas e a outra parte tirava do próprio salário, que era pequeno, ainda assim, a situação financeira delas não estava muito boa, graças ao consumismo excessivo de Mei.
Mas a Haruno mais nova, nunca contestava ou repreendia a mãe por seu comportamento muitas vezes duvidoso, e ainda assim não recebia nenhum reconhecimento em troca.
Acordou com o som do despertador e como sempre, sua vontade era de jogá-lo na parede para que se espatifasse em mil pedaços, porém sabia que não adiantaria descontar sua raiva no relógio, já que teria que levantar-se de qualquer forma.
Tomou um banho rápido, para não correr o risco de chegar atrasada e vestiu o uniforme composto por uma camisa social branca, gravata vermelha, saia de preguinhas azul marinha, meias brancas compridas e sapatos ao estilo boneca. Preparou alguma coisa para comer e deixou tudo pronto para sua mãe, que provavelmente despertaria bem mais tarde, pelo horário que havia chegado à noite, ou melhor, na madrugada anterior.
Sakura pegava um ônibus para chegar ao High School. Colégio particular e conservador da cidade, onde ela conseguira uma bolsa no ano passado.
Ao entrar no pátio, encontrou seus dois melhores amigos discutindo como sempre:
– Você não pode falar nada seu tubarão ambulante! –a garota gritava.
– Se eu sou um tubarão ambulante, o que faz aqui piranha horrorosa? –rebatia ao mesmo tom.
– Vejo que continuam demonstrando seu amor, isso ainda vai dar casamento e eu espero ser convidada como madrinha. –Sakura se juntou á eles sentando-se no meio.
Uzumaki Karin era uma nerd ruiva. Prima de um dos atletas da escola Uzumaki Naruto, ambos faziam questão de esconder esse parentesco, embora fora da escola se dessem bem. Sakura vivia tentando convencer a ruiva a trocar aqueles óculos por lentes de contato da mesma cor de seus olhos vermelhos e a cortar aquele cabelo estilo emo, mas a amiga nunca a ouvia quando se tratava de sua própria vaidade.
Hozuki Suigetsu era um garoto descontraído, que surpreendia Sakura por dois motivos: o primeiro era que mesmo dormindo a aula toda, conseguia atingir a média e segundo, por tomar litros de água por dia como se fosse a coisa mais normal do mundo alguém ingerir aquela quantidade em tão pouco tempo.
Ah, sem falar que Karin e Suigetsu eram como gato e rato e se não fosse por Sakura estar ali entre eles, naquele instante estariam rolando no chão, mas a rosada sabia que se preocupavam um com o outro, apesar de tudo.
– Nem brinca com uma coisa dessas Sakura! Imagina eu, casado com esse tomate estragado.
– Deus me livre desse peixinho fora d'água.
Sakura parou de prestar atenção na discussão dos dois, quando ele cruzou o portão de entrada. Sim, lá estava ele: Uchiha Sasuke, terceiro ano, filho de um dos homens mais poderosos do país. Lindo, dono de uma pele impecável, cabelos negros arrepiados e olhos ônix escuros como a noite. Lá vinha ele no seu melhor estilo play boy com sua jaqueta de couro e postura imponente. Vinha acompanhado de sua turminha, os "populares". Naruto, o primo de Karin, Neji e Hinata Hyuga, além da miss do colégio Yanamaka Ino de mãos dadas com o garoto mais disputado de todos, o Uchiha.
Além de todos esses atributos, havia um outro: Sasuke era a paixão secreta de Sakura, embora ela não conseguisse disfarçar isso muito bem:
– Sakura precisa de um babador? –perguntou Karin.
– Do que está falando? Eu não preciso de babador nenhum! –negou firmemente.
– Ah tá sei... –a ruiva fingiu acreditar.
– É bom mesmo que não esteja a fim daquele cara, você sabe... Ele é um baka. –Suigetsu acrescentou.
– Falou o esperto né Suigetsu! Pelo menos o Sasuke é lindo, rico, perfeito... –Karin partiu em defesa.
– Não se esqueça de dizer metido, esnobe e insuportável! –o rapaz rebateu nervoso.
– Tudo isso é inveja? Pelo que me lembre, vocês dois foram grandes amigos na infância. –a ruiva acrescentou para provocar ainda mais o outro.
– E fomos mesmo, até que ele teve a coragem de ficar com a garota que amei minha vida toda.
– A Ino? Puxa Sui, achei que tinha mais bom gosto. –dessa vez foi Sakura quem se pronunciou.
– Hoje vejo que ela não vale muito que nem o Sasuke. E é por isso mesmo que não quero que se meta com ele Saky, aquele lá pode ser idolatrado por aqui, mas não presta.
– Não se preocupe Sui. Eu já disse que não sinto nada por ele. –Sakura afirmou dando uma última olhada em Sasuke ao longe e por mais que seu coração soubesse da verdade, ainda tinha esperanças.
"Será que ele é tão ruim assim?" ou ainda "talvez um grande amor pudesse mudá-lo" e por mais que tentasse se convencer de que qualquer contato entre eles era impossível, seu coração romântico não permitia que se esquecesse dele.
Sakura sempre foi assim, romântica do tipo que sonhava viver um grande amor, suspirava assistindo á filmes e até hoje, por mais que já tivesse recebido cantadas de outros rapazes, fez questão de guardar seu primeiro beijo para alguém especial.
Foi aí que o sinal para a primeira aula bateu tirando a rosada de seus devaneios amorosos.
Depois da aula, Sakura ia direto para a lanchonete onde cumpria seu expediente até as 19h00min. Até lá ela tinha de aguentar muitos clientes mal educados e quase nenhuma gorjeta, ao menos a clientela ali era jovem e animada.
Ás oito começava suas aulas na academia da professora Shizune que não deixava de elogiar seu desempenho á cada final de aula:
– Parabéns Sakura, seu arabesque e sissone estão perfeitos.
– Muito obrigada Shizune. –agradeceu sem graça.
– Continue assim e então estará pronta, não para uma apresentação qualquer e sim algo ao seu nível.
A Haruno sonhava mesmo com aquilo, o dia em que todos reconheceriam seu talento e estaria dando mais um passo até o seu sonho.
Depois das aulas de balé chegava em casa dez e meia da noite e ainda tinha que preparar o jantar se não quisesse ir pra cama faminta. Tomava mais um banho e enfim, repousava seu corpo na cama. Porém volta e meia, sua mãe aparecia para resmungar:
– Chama aquilo que preparou mais cedo de ovo mexido? Aquilo estava mais para cimento.
Outra pessoa talvez tivesse dito: "então porque não faz você mesma?", mas Sakura não era assim, de forma que pronunciou apenas:
– Eu faço melhor da próxima vez, está bem?
– É bom mesmo. Hoje fui pegar a pensão de seu pai no banco e vi que metade estava faltando, então o gerente disse que você passou por lá mais cedo e sacou parte do dinheiro.
– O meu salário não paga as contas sozinho.
– E por que será? Por causa dessas suas aulas de balé. Maldito dia em que seu pai a matriculou naquela academia. Será que não percebe que isso não te levará á lugar nenhum? Já está bem grandinha para perceber que esses seus sonhos de criança não irão se realizar!
– E acha o que? Que devo desistir e arcar com seu materialismo descabido? Me desculpe mãe... Mas não posso lidar com tudo sozinha. –estava chorando quando deu por si e se trancando no silêncio de seu quarto.
