Capitulo um: A carta

Seu cenho está franzido e seus olhos se fecham. Quantas vezes te vi fazer isso naquela semana?

Suas mãos tremem, juntamente com sua boca. Quando foi a última vez em que tivera essas mãos se firmando nas teclas brancas e pretas do piano? E seu sorriso, calmo e confiante? Quando eu o vira pela última vez?

Sua mão sai do piano e vai para seus próprios cabelos, puxando-os. Algum dia, num passado distante, lembrava-me de ter visto aqueles cabelos negros arrumados.

Há uma bagunça infernal a sua volta. Sinto uma aguda saudade de quando você não suportava isso.

Mas tudo mudou. Você mudou. Depois de anos, eu achei que você não mudaria.

Isso nunca aconteceu!

Até agora.

Uma lágrima escorre de seus olhos fechados. Eu corro para limpá-la. Lágrima que insiste em percorrer a pele alva de seu rosto.

Ao meu toque, seus olhos se abrem, mostrando o violáceo mais estranho e único na minha vida. A cor de sua íris é única, como você. Porém, a falso sentimento que se apresenta em forma de brilho em seus olhos, estraga a bela cor de sua íris e esmaga meu coração.

Gilbert? − Sua voz tem a louca esperança, da qual eu odeio com todas as minhas forças.

Nego com a cabeça. Te envolvo com meus braços finos, mas você me empurra, fazendo com que eu caía.

Volta a própria melancolia, me deixa ali, minha mente a mil, tentando achar uma cura para você.

Eu sinto... − Tento, mas você explode.

Levanta-se num pulo, chuta algumas coisas que estavam no caminho, começa a berrar a plenos pulmões contra mim, coisa que não é de seu habitual. Mas, se eu pensar direito, há quanto tempo você não é o mesmo?

Você não sente nada, Elizaveta! Se sentisse, nunca teria deixado ele ir!

Como eu poderia saber? − Respondi, tão alto quanto o homem há minha frente. Já não é você, acabo de descobrir isso, porque você nunca levantaria a voz para mim, Roderich Edelstein.

Deveria ter pensado! Possibilidades, Elizaveta, possibilidades! Eu disse, quando começou esse namoro, que Gilbert é imprevisível. Era imprevisível. − O seu tom é de visível sarcasmo. Talvez arrisco rancor, juntamente.

Após essa frase, tudo fica num silêncio frio e desconfortável, a tensão quase palpável no ar.

Sabe, tudo isso não teria acontecido se você não tivesse o traído. − Fala, calmo demais, voltando a se sentar de costas para mim.

Isso é uma enorme injustiça comigo, Roderich, eu nunca o traí! − Berro de volta.

Vira-se de súbito, os olhos brilhando por causa das lágrimas. Eu também estou as lágrimas.

ENTÃO POR QUE ELE SE MATOU?!

Minha respiração está pesada, meu coração bate tão forte que eu poderia ter um ataque cardíaco. Mas não respondo.

Afinal, o que posso responder?

Viro-me, deixando-te a sós.

Porque a única coisa que merece, é a solidão.

Eu já aguentei o suficiente. Não vou ficar mais escutando desaforos seus.

Ninguém te aguenta assim, Roderich.

Ou acha que Gilbert te deixou por qual motivo?

Espero que aprenda algo.

Elizaveta.

Essa foi a última coisa que li antes de deixar o meu quarto.

Essa foi a última coisa que li antes de ir à cozinha.

Essa foi a última coisa que li antes de pegar a faca.

Essa foi a última coisa que li antes de passa-la sobre minha garganta.

Espero que me perdoem Elizaveta e Gilbert.

Juro que esse foi meu último erro.

Ou seria meu único acerto?

N.A.: Minha primeira fic! Espero que tenha ficado legal! Até o próximo capítulo.

Bjs.