A série Versailles não me pertence, as histórias são apenas diversão. A historia não foi postada como crossover porque não encontrei Os três mosqueteiros na categoria books, há apenas um seriado Musketeers que eu não tive a oportunidade de assistir.
Capítulo 1 - O prisioneiro da Torre de la Bertaudière
Reinava um grande silêncio na Bastille de Saint-Antoine. Vez por outra se ouvia a voz de um guarda ou gritos longínquos de algum prisioneiro. O lugar tinha um eco impressionante. Os gritos espaçados podiam decorrer de algum pesadelo horrendo, mas também podiam ser fruto de alguma prática empregada pelos guardas para extrair informações dos prisioneiros. Era um lugar de desesperança. Quem ali entrava ficava sem qualquer controle do próprio destino, a vida suspensa por um fio invisível.
O reinado de Louis XIV não estava sendo fácil para o povo francês. A inteligência a serviço do monarca não descansavam. Muitas pessoas descontentes, nas diferentes classes sociais. É lógico que os mais humildes eram os mais sacrificados,e também eram aqueles que mais tinham medo. Diariamente pessoas iam presas, e nem sempre eram do povo. Uma vez aprisionadas, não era raro que as famílias perdessem o rastro dos seus. Os desaparecidos eram às vezes transferidos, movidos ao bel prazer de seus captores.
A Bastille era muito antiga, sua construção remontava ao período medieval. Tinha servido a diversos fins, mas agora era uma espécie de inferno em vida. As paredes de pedra maciça, suas oito torres compactas e o fosso malcheiroso que a circundava, davam calafrios aos passantes. Quem entrava ali tinha um destino incerto. Diziam que muitos morriam durante a tortura, outros eram transferidos para outras prisões assombrosas como o Castelo de If ou a Ile de Sainte-Marguerite.
O prisioneiro que atualmente ocupava sozinho uma cela na torre de la Bertaudière era procedente da Ile de Sainte-Marguerite. Chegara às duas da manhã de uma noite muito lúgubre, há dois meses atrás. A chuva caía em gotículas finas sobre a cidade, e um vento gelado anunciava o inverno próximo. O carro que o transportava tinha duas pequenas aberturas gradeadas, um porta maciça reforçada com barras de ferro e fechada por um enorme cadeado cuja enorme chave pendia do cinto do capitão que chefiava o translado. Ele dormia segurando-a entre as mãos. O urinol e os víveres para o prisioneiro eram movimentados pela janela atrás do cocheiro. E rapidamente trancada, logo em seguida.
Havia uma escolta de quatro cavalos à frente e outros quatro cobrindo a retaguarda. Depois da longa viagem, onde só paravam para pernoitar, trocar os cavalos e adquirir provisões, finalmente chegaram à Paris. Entraram na Bastille sem alarde, no início na madrugada, usando o grande portão da rua Saint-Antoine. Estacionaram no pátio interno. Antes de abrirem a carroça-prisão, o capitão passou um pano dobrado pelas grades e murmurou:
-Vista, deixe o capuz levantado e saia olhando para o chão.
O prisioneiro obedeceu, sentindo-se mais morto do que vivo, mas na hora em que a porta da caixa de madeira sobre rodas se abriu, deixou passar um cheiro muito ruim que vinha de dentro e fez a escolta estremecer.
Ao pisar no primeiro degrau, o prisioneiro sentiu o ar fresco e gelado. Uma tontura o invadiu e ele perdeu o controle do próprio corpo. Teria caído desfalecido no piso de lajes se um dos guardas não o tivesse sustentado. O capuz escorregou e todos tiveram um vislumbre de sua cabeça com o rosto coberto por uma máscara de ferro.
Ele perdera a noção do tempo. Quando recuperou os sentidos, sentiu-se surpreso com a nova cela. Ao contrário do grande cômodo frio na masmorra onde ficara preso na Ile de Sainte-Marguerite, estava num aposento circular. Mais tarde perceberia que ficava na parte mais alta de um torreão, com uma única janela gradeada no alto. Havia uma cama de solteiro com roupas de cama novas de um branco imaculado, uma mesa com pão, água, vinho e frutas secas. E velas acesas. O melhor de tudo era uma tina de madeira cheia de água quente, com uma muda de roupa dobrada sobre a cadeira.
Ainda cambaleante e um pouco tonto, pôs-se de pé, apoiando-se na cadeira mais próxima. Havia pelo menos três no interior da cela. Tornou a sentar no leito. Notou que tudo era simples, mas limpo e com um conforto rudimentar, bem diferente da outra prisão.
Fez um novo esforço e usou a cadeira como apoio, até chegar a mesa. Sentou-se e com as mãos trêmulas pegou o caneco. Felizmente alguém o havia enchido de água. Foi sorvendo tudo em pequenos goles. A máscara impedia que bebesse e se alimentasse com rapidez. Inclinou a cabeça e um pouco da água caiu em seu pescoço. Cortou um naco de pão com as mãos e foi comendo-o aos pedacinhos. Assim que se sentiu melhor entrou no banho. A água estava boa, a tina estava perto da lareira, por isso não esfriara.
Teve medo de cochilar, por isso não se demorou no banho. Vestiu um camisolão de algodão e rezou, pedindo um sono profundo, tentando não pensar na desgraça que se abatera sobre ele e cuja razão ele desconhecia.
