Fanfiction escrita para o I Challenge Mulheres da FCHP.
"Tempo, eu lhe imploro: pare. Não me faça cair em prantos por tudo que eu perdi, sob o fel da desilusão. Não! Não traga à tona tudo aquilo que eu não pude ser, não leve embora meus sorrisos. Apenas pare, maldito tempo cruel!"
Mal o sol se bordara a mãos caprichosas em um céu estonteante, e Fleur já estava desperta. Contudo, não se levantara. De olhos fechados na cama, ela via o mundo à sua volta. Ele cochichava surrealidades desconexas sobre o dia que se desenrolaria a seguir. Mas a jovem não queria se levantar. Não via motivos para comemorar o tempo que se passara, trazendo-lhe não outra coisa senão rugas e cabelos brancos. Ela podia sentir todos aqueles anos em suas costas, e o fardo estava ficando pesado demais.
Não suportaria as pessoas distribuindo seus sorrisos e seus parabéns. Oh céus, eles deviam vestirr prreto e dizerr que sentem muito.
Virando na cama, ela olhou para Gui, que ainda dormia ao seu lado. As cicatrizes cobriam cada centímetro de sua face cândida, resultados da brava Batalha de Hogwarts, que só faziam torná-lo mais terno e digno de seu respeito. Mesmo com o emaranhado de sentimentos sob as costas, um sincero sorriso brotou em seus lábios frios. Inspirando a coragem que o Chalé das Conchas lhe proporcionava no ar, ela se levantou.
No banheiro, antes de qualquer outra coisa, se olhou no espelho. E não gostou nem um pouco do que viu. Mas seu espelho não lhe mostrava o mesmo que quaisquer olhos veriam. Ele mostrava seus cabelos outrora absolutamente louros, agora brancos e opacos. Mas não mostrava o brilho de seus olhos que continuava intacto. Mostrava também as poucas rugas que se despendiam debaixo de seus olhos, mas não mostrava seu sorriso hipnotizante ao se desdobrar sendo, ao mesmo tempo, mãe, esposa, filha, conselheira, profissional, e, além de tudo, sendo mulher. Sem dúvidas seu espelho estava quebrado.
Voltando ao quarto, separou seu melhor vestido de seda branca. Quando o vestiu, concluiu que ele disfarçaria com maestria todos os anos transcorridos, e talvez as pessoas nem notassem que ela estava velha. Ah... como estava enganada. Ela conseguiria tudo isso apenas com um sorriso.
As horas se transformaram em segundos, e logo a casa estava cheia de pessoas alegres, que lhe parabenizavam pelo aniversário a todo momento. Entrementes, ela não se animara, e ficou boa parte da festa sentada na cadeira de balanço da sala. Isto até que um grupo de pessoas se aproximou, sem nem ao menos notar a sua presença, lançando comentários ao ar.
— ... e você viu como ela está velha? Seria ótimo se o vestido estivesse tão branco quanto seus cabelos. — zombou a inconfundível voz da tia-avó Muriel.
Aquilo foi demais para ela. Sem hesitar, se levantou e partiu dali. Correu pelo jardim, até se distanciar o suficiente do Chalé. Dobrou-se em lamúrias, levando a mão à cabeça e arrancando dali os malditos fios de cabelo branco, aos tufos.
O desespero agora era uma fera dentro da cabeça de Fleur. E ela rugia, incessantemente. E a única coisa que a fez parar foi a simples presença de Gui. Ele nada disse. Houve apenas um olhar, e uma mão carente buscando a outra. Ela chorou em seu ombro, por intermináveis minutos.
— Você me ama? Mesmo velhe... mesmo feia... mesmo assim... você me ama?
— Por Merlim! Você é a mulher mais bonita de todo o universo... como pode se achar feia?
— Você me ama? — repetiu.
— E você? Me ama mesmo com todas essas cicatrizes horrorosas em minha face?
— Eles non são horrorroses. — balbuciou, com seu inanbandonável sotaque francês.
— Não são para você. Quando se ama, Fleur, só se consegue enxergar com estes olhos aqui. — disse, tocando o lado esquerdo de seu peito. — E eu te amo.
Não foi preciso mais nenhuma palavra, tampouco quaisquer atos. Fleur soube que ali, nos braços de Gui, já não importava mais o tempo que passava.
