Mike Newton caiu ao solo e se arrastou para chegar perto do rio, onde estava a jovem de
cabelos loiros.
Bella Swan olhou para trás, como se o tivesse ouvido, e depois amarrou as rédeas de
seu cavalo de grande porte. Avançou diretamente até a beira do rio. A sua esquerda o fiorde
Horten levava águas velozes por seu leito. Mas aqui uma massa de penhascos enfrentava as
correntes, e a água se deslocava suave e serena, como num lago quieto. Mike sabia por experiência
que a água estava também deliciosamente morna, e que era tão tentadora que a jovem não poderia
ignorá-la. Bella tinha chegado a este lugar depois de que ele a viu sair da casa de seu tio Billy e
cavalgara para o fiorde.
Quando ambos eram mais jovens, bem mais jovens, costumavam nadar ali com os irmãos e
os primos da moça. Bella tinha uma família numerosa: três irmãos, um tio e dúzias de primos
longínquos por via paterna. Todos eles acreditavam que essa jovem era o sol e a lua reunidos. Mike
tinha pensado o mesmo, até uns tempos atrás. Tinha reunido coragem e pedido a Bella que se
casasse com ele, como tinham feito muitos outros antes. Ela o tinha recusado, amavelmente, como
ele reconhecia de má vontade, mas de todo modo à decepção foi quase terrível. Ele tinha visto
como Bella crescia, e a menina alta e desajeitada se convertia numa mulher majestosa e
deslumbrante, e nada tinha que ele desejasse mais do que poder afirmar que Bella Swan lhe
pertencia.
Mike conteve a respiração quando ela começou a tirar a túnica de linho. Tinha abrigado à
esperança de que fizesse precisamente isso. Era a razão pela qual a tinha seguido, pensando que
talvez o fizesse, abrigando esperanças, e Odín lhe ajudava! Era o que estava fazendo.
A visão foi mais do que ele podia suportar; as pernas longas e bem formadas...a suavecurva dos quadris...as costas delgadas e retas coberta unicamente por uma grossa trança.
Não tinha passado duas semanas, ele tinha agarrado essa grossa trança, e tinha obrigado os
lábios dessa jovem a unir-se com os seus num beijo que lhe tinha acendido o sangue quase até a
loucura. Ela o tinha esbofeteado energicamente, descarregando-lhe um golpe que na realidade lhe
obrigou a se equilibrar, pois Bella não era uma moça miúda e de músculos débeis; na verdade,
eram sós cinco centímetros mais baixa que ele, e Mike media um metro e oitenta. Mas isso não o
amedrontou. Nesse momento, nessa ocasião, tinha sentido que realmente podia enlouquecer se
não a conseguisse.
Felizmente Jasper tinha se intrometido, o irmão mais velho de Bella mas, por desgraça, fez
precisamente quando Mike a tinha preso de novo e tratava de jogá-la ao solo. Ele e Jasper tinham
ficado feridos depois do encontro, e Mike tinha perdido assim um bom amigo, não porque
lutaram, pois os noruegueses sempre estavam dispostos a lutar pela razão que fosse, mas pelo que
ele tinha tentado fazer a Bella. E Mike não podia negar que a teria tomado, ali mesmo, sobre o
chão do estábulo do pai. Se tivesse conseguido, teria morrido. E não teria tido que lutar contra os
irmãos ou os primos, mas contra o pai, Charlie, que teria destruído Mike com suas próprias mãos.
Bella estava coberta agora pela água, mas o fato de que Mike já não pudesse ver todo seu
corpo não acalmou o fogo que lhe percorria as veias. Não tinha previsto que para ele seria uma
tortura vê-la enquanto nadava. Só tinha pensado que estaria só, longe de sua família, e que talvez
essa fosse a única possibilidade em que voltaria a vê-la só.
Corriam rumores no sentido de que logo se comprometeria com Erik, o filho maior de
Perrin, que era o melhor amigo do pai de Bella. Porém, outras vezes já tinham corrido rumores;
para dizer a verdade, muitíssimas vezes, pois Bella já tinha vivido dezenove invernos, e durante
os últimos quatro anos, quase todos os homens aptos que viviam ao redor do fiorde a tinham
pedido para esposa.
Agora ela boiava de costas, e podia ver as pontas dos dedos de seus pés, a superfície rosada
de suas coxas, os seios erguidos (que Loki a levasse, na verdade estava pedindo que a
possuíssem!). Mike não pôde suportar mais tempo. Na urgência, praticamente arrancou as roupas
do corpo. Bella ouviu o golpe na água e olhou na direção em que, segundo supunha, tinha
sucedido algo; mas não viu nada. Com movimentos rápidos descreveu um círculo completo, mas
o lago de águas mornas estava vazio, salvo ela mesma, e as únicas ondulações na água eram as
que ela provocava. De todo modo, começou a nadar para a beirada onde tinha deixado sua túnica,
bem como a única arma que levava consigo, a adaga de empunhadura cravejada, utilizada mais
como enfeite que como proteção.
Tinha sido uma tonta por vir sozinha, em lugar de esperar que a acompanhasse um de seus
irmãos. Mas eles estavam atarefados preparando a grande nave viking do pai, a mesma na qual
Jasper partiria para o leste na semana seguinte; e o dia era deliciosamente morno depois de uma
primavera fresca e um inverno excepcionalmente frio. Ela não tinha podido resistir à tentação.
Tinha-lhe parecido fascinante fazer o que nunca tinha feito antes, e efetivamente lhe encantava a
aventura. Mas todas suas aventuras anteriores tinham sido compartilhadas por outros. E talvez
não tivesse sido muito sensato de sua parte despir-se por completo, ainda que no momento que o
fez lhe tinha parecido uma atitude deliciosamente perversa e temerária. Bella era audaz. Se
lamentava sua própria audácia era sempre como agora, depois de ter-se arriscado.
No momento em que os pés de Bella tocaram o fundo do lago, Mike se elevou frente a ela,
alto e ameaçador. Bella gemeu intimamente quando viu que era Mike e não outro, pois ele já
tinha tentado uma vez impor-lhe sua vontade. A expressão de sua cara era a mesma que tinha
visto duas semanas atrás. Era um homem bronzeado de vinte e um anos, a mesma idade que Jasper,
o irmão maior de Bella. Na realidade, tinham sido grandes amigos. Ela tinha acreditado que Mike era também seu amigo, até o dia em que a atacou no estábulo. Ele já não era o menino com
quem Bella tinha crescido, cavalgado, caçado, e nadado nesse mesmo lago. Se o via tão belo
como sempre, com seus cabelos dourado escuro e os olhos castanhos. Mas não era o mesmo Mike a
quem ela conhecia, e a jovem temia que o que tinha sucedido no estábulo o outro dia, repetisse-se
no lago.
— Bella, não deveria vir aqui.
A voz de Mike era grave, quase áspera. Os olhos de Mike se viram atraídos pelas gotas de
água que brilhavam como diamantes sobre as pestanas da moça. Outras gotas corriam sobre as
altas maçãs e o nariz pequeno e reto. A língua de Bella emergiu para lamber a umidade dos
lábios cheios, e ele emitiu um gemido. Bella o ouviu e seus olhos se arregalaram, não alarmados,
mas sim coléricos. Esses olhos, tão parecidos com os do pai, um mar de castanho de chocolate derretido, com muita luz do sol, de maneira que cobraram um tom claro, como de água luminosa.
Agora mesmo os via turquesa, turbulentos, como as ondas espumosas de um mar agitado.
— Mike, deixe-me passar.
— Creio que não.
— Pense bem.
Ela não subiu o tom de sua voz; não precisava. Sua fúria era evidente em cada traço de seu
rosto. Mas Mike estava submetido a um monstro que o dominava, o monstro da sensualidade.
Haviam sumido seus pensamentos anteriores a respeito da sorte que tinha tido em não tê-la
possuído antes...
— Ah, Bella — levantou ambas as mãos para segurar-lhe os ombros nus, e a sustentou
com firmeza quando ela tentou afastar-se.
— Sabe o que me provoca? Tem idéia de que um homem pode perder a cabeça quando
deseja uma mulher tão formosa como você?
Nos olhos da moça havia uma luz perigosa.
— Na verdade, perdeste a cabeça se acredita que...
Ele a beijou brutalmente para silenciá-la. As mãos que lhe prendiam os ombros a puxaram
mais, e oprimiram os seios juvenis e redondos contra o peito do homem. Bella se sentiu
sufocada. A boca de Mike a oprimia dolorosamente e ela detestava isso, detestava o contato de seu
corpo tão próximo. O fato de que tivessem estatura tão parecida determinava que sua virilidade
tocasse diretamente o portal que procurava, e isso era o que ela detestava mais, porque não era tão
ignorante das relações entre um homem e uma mulher, e do que sucedia quando faziam amor.
Sua mãe, Rénne, tinha-lhe explicado muito tempo atrás todos os aspectos do amor; mas não
podia dar-se a esse homem para isto, sobretudo quando ela sentia unicamente repugnância.
Amaldiçoou o vigor do moço enquanto se debatia para afastá-lo. Admirava a força e a
coragem num homem, mas não quando os utilizavam contra ela. Para Mike não seria difícil
encontrar a entrada e arrebatar-lhe sua inocência. Se o fizesse, ela o mataria, pois isso era algo que
ele não tinha direito de tomar. A ela lhe correspondia dá-lo, e o faria de boa vontade quando
encontrasse o homem a quem quisesse entregar-se. Mas nunca seria assim, e Mike Newton
nunca seria esse homem. Segurou entre os dentes o lábio inferior de Mike e mordeu com força, e ao
mesmo tempo afundou as unhas no peito do jovem. Acentuou a pressão sobre o lábio até que ele
retirou as mãos; depois, obrigou-lhe a deslocar-se para o lado, até que os dois trocaram lugares.
Ele poderia tê-la golpeado e desse modo ela o teria soltado mas porem, Bella lhe tinha
rasgado completamente o lábio, e era indubitável que ele o soubesse. No entanto, ela decidiu não
correr riscos e manteve apertados os dentes até que num gesto inesperado para ela apoiou os pés
sobre o ventre de Mike. Bella soltou o lábio de Mike no mesmo momento em que utilizou como
ponto de apoio o estômago do jovem, e cobrando impulso se lançou para a orla, e empurrou Mike
para as águas mais profundas. Quando ele caiu, Bella dispôs de tempo suficiente para sair da
água e agarrar fortemente a adaga até que ele chegasse. Mas Mike não tentou nada. Uma olhada
para a arma que ela sustentava o fez deter-se.
— Tem tantas armadilhas como a filha de Loki! — explodiu Mike enquanto limpava a
sangue dos lábios, e os olhos castanhos a olhavam com fúria.
— Mike, não me compare com os seus deuses. Minha mãe me educou como cristã.
— Não me importa em que Deus crê — replicou Mike — Bella, deixa a faca.
Ela mexeu a cabeça. Se parecia serena, era porque tinha uma arma na mão. E por Odín, era
um espetáculo grandioso, de pé ali, completamente nua, seu corpo reluzente da água, os seios
como que desafiando em sua plenitude, o ventre suave e liso sobre a mata de belo dourado entre
as pernas. E o desafiava, desafiava-o em realizar o mais ínfimo movimento para aproximar-se;
sustentava a faca como se soubesse como tinha que manejá-la.
— Creio que a sua mãe a ensinou mais do que amar ao seu Deus. — na voz de Mike tinha
ironia. — o seu pai e os seus irmãos jamais a teriam ensinado a manejar este brinquedo, nem
aceitado que aprendesse, porque isso implicaria menosprezar a proteção que eles lhe dispensam.
A dama Rénne ensinou as suas armadilhas celtas, não é verdade? Depois de todos estes anos
deve ter aprendido que sua habilidade celta não pode comparar-se com as de um viking. Bella,
que mais te ensinou?
— Conheço o modo de usar todas as armas, salvo o machado, pois é um instrumento muito
torpe que não exige habilidade — contestou ela com orgulho.
— Torpe só porque carece da força necessária para manejá-lo — replicou ele com gesto
bruto — e o que diria seu pai se o soubesse? Estou seguro de que você e sua mãe seriam castigadas
com o chicote.
— Será você que o dirá? — desafiou-o Bella.
Ele a olhou hostil. Porem, não diria nada ao pai, se o fizesse teria que explicar como tinha
chegado a sabê-lo. O sorriso nos lábios da moça lhe indicou que ela sabia o que o detinha. E a
recordação de Charlie Swan, que era mais alto quinze centímetros que ele e possuía um corpo
excelente, inclusive num homem de quarenta e seis anos, esfriou parte do ardor de Mike, mas não
todo. Seus olhos azuis exploraram os de Bella.
— Bella, que defeitos vê em mim? Por que não me quer?
A pergunta a surpreendeu, pois tinha sido formulada com acento de confusão, baixinho.
Estava tão nu quanto ela, ereto na totalidade de seu orgulho masculino, e ela passeou vacilante os
olhos sobre o corpo alongado. Não lhe inquietou o que conseguiu ver, pois tinha observado
homens adultos nus o dia em que sua melhor amiga, Jéssica, tinha deslizado na casa de banhos do
tio, e se escondido por trás do barril de água para observar vários de seus primos enquanto se
banhavam. Mas isso tinha sido há mais de dez anos atrás, e tinha outra diferença entre aquela ocasião e esta: nunca tinha visto o instrumento de prazer de um homem tão orgulhoso e ereto
como o estava agora o de Mike.
Bella contestou a verdade, pelo menos até onde ela tinha consciência do assunto.
— Mike, não se trata dos seus defeitos. Tem um corpo excelente e é agradável olhá-lo. Seu
pai é dono de terras férteis e você é o herdeiro. Para uma mulher seria grato ter-lo por esposo.
Não mencionou que Jéssica estava disposta a fazer um pacto com os deuses para ter Mike, e
que por essa razão Bella não estava disposta a tê-lo em conta. Jéssica estava apaixonada por esse
homem nos últimos cinco anos, mas ele não sabia. E Bella tinha jurado que nunca diria a
ninguém o segredo de sua amiga, e sobretudo que não o revelaria a Mike.
— Mike Newton, simplesmente não é para mim. — concluiu com acento firme.
— Por quê ?
— Você não consegue fazer com que meu coração se acelere.
Ele a olhou incrédulo e perguntou:
— O que tem isso a ver com o casamento?
— Tudo, — disse-se ela. E a Mike: — sinto muito, Mike. Não o quero para marido. Já lhe
disse.
— É verdade que se casará com Eric? — Bella podia mentir e utilizar essa desculpa
para sair do aperto, mas não lhe agradava enganar só para facilitar as coisas.
— Eric é como um irmão para mim. Tive-o em conta, porque meus pais querem que o
despose, mas também o recusarei — e ele se sentirá super feliz, pensou a jovem, pois me vê
também como uma irmã, e se sente tão incomodado como eu ante a idéia da união.
— Bella, terás que escolher alguém. Todos os homens que vivem ao redor do fiorde
pediram sua mão em diferentes ocasiões. Deveria ter casado há muito tempo.
Não era um tema agradável para Bella, pois conhecia sua situação melhor do que
ninguém, e não desejava contrair matrimonio com nenhum dos homens que viviam nas orlas do
rio. Ansiava por um amor como o de seus pais, mas sabia que cedo ou tarde teria que se arrumar com menos do que isso. Tinha postergado o assunto por vários anos, e recusado todos seus
pretendentes.
Seus pais tinham permitido isso porque a amavam. Mas não podia continuar
indefinidamente na mesma situação. Encolerizou-se com Mike, porque lhe recordava sua difícil
situação, a que tinha mantido sempre presente em seu espírito durante o último ano.
— Mike, quem eu escolho não é assunto que lhe interesse, porque não será você. Ocupe-se
de encontrar uma outra, e por favor, não volte a molestar-me.
— Bella, poderia tomá-la e obrigá-la a aceitar o casamento — lhe advertiu baixinho —.
Como recusou tantos oferecimentos, seu pai bem que poderia aceitar-me depois que eu arruíne
suas possibilidades com outro. Assim se fez em situações anteriores.
Era uma possibilidade. Porém, antes de mais nada, seu pai o castigaria quase até matá-lo.
Mas se depois Mike ainda vivesse, era provável que ela tivesse que o aceitar. Teria que considerar
o fato de que ela já não seria donzela.
Bella o olhou com o cenho franzido.
— Se meu pai não o matasse, o faria eu. Não seja tonto, Mike. Jamais perdoaria uma
armadilha tão suja.
— Mas seria minha.
— Estou dizendo que o mataria!
— Creio que não — disse ele com tanta confiança que ela se inquietou — creio que o risco
valeria a pena.
Os olhos de Mike se fixaram nos seios da moça ao dizer isso. Bella endureceu o corpo.
Nunca tivesse falado com ele. Teria sido melhor que montasse em Torden e se afastasse a galope
com o corcel, em lugar de agarrar a adaga para enfrentá-lo.
— Então, tente agora, malditos sejam os seus olhos, e eu o matarei no ato! — explodiu.
Mike olhou de novo para a arma e viu que ela a movia de tal modo que sem dúvida lhe
encontraria o corpo antes que ele pudesse afastar-se. Se pelo menos ela não fosse tão alta como ele,
e não tivesse a força conforme a sua estatura... Sua própria cólera se avivou, mas desta vez se
concentrava na mãe da moça, que tinha cometido à loucura de ensinar a sua filha as artes de
guerreiro. Ele rosnou:
— Bella, não terá sempre esse brinquedo na mão — ela elevou ainda mais o queixo.
— É um tolo em advertir-me. Agora me ocuparei de que nunca me surpreenda sozinha. Ele se limitou a replicar:
— Em tal caso, fecha bem a sua porta quando for dormir, porque muito cedo arrumarei um
modo de possuir-la.
Bella não se dignou responder tal ameaça e se inclinou para recolher as roupas que tinha
aos seus pés e jogá-las aos ombros. Sem afastar seus olhos de Mike, estendeu a mão para atrás
procurando as rédeas de torden e retrocedeu com o cavalo. Quando estava a vários metros de
distância, agarrou as crinas de torden, e montou; sem perder um instante, fincou os calcanhares
nos flancos do animal. Ouviu as irritadas maldições de Mike, mas não prestou atenção; só lhe
interessava vestir suas roupas sem diminuir a velocidade de marcha de seu cavalo, antes de
chegar ao povoado de Haardrad, onde alguém poderia vê-la. Nunca poderia explicar a situação, e
se dissesse a verdade imporiam restrições severas a sua liberdade, e Mike Newton se veria em
graves dificuldades.
Se não fosse por essas restrições teria confessado o sucedido, mas apreciava demasiado sua
liberdade. Tal como estavam as coisas, o pai já se preocupava bastante por ela. Não sucedia o
mesmo com a mãe, pois Rénne a tinha ensinado a proteger-se bem durante os verões em que o
pai navegava para vender mercadorias, e levava com ele os irmãos da jovem.
Rénne tinha ensinado em segredo a Bella tudo o que ela tinha aprendido de seu próprio
pai: a habilidade e a astúcia necessária para manejar uma arma contra um inimigo mais poderoso;
a astúcia porque como Bella era quinze centímetros mais alta que sua mãe, e sua força era maior
que a da maioria das mulheres, de qualquer modo carecia do valor de um homem. Bella estava
orgulhosa de sua capacidade para proteger-se mas esta era a primeira vez que tinha precisado pôr
em prova sua habilidade, pois não podia usar armas às claras contra um homem, caso contrário seu pai se irritaria se soubesse o que sua mãe tinha ensinado. De todo modo não desejava usar
armas, pois se sentia orgulhosa de sua feminilidade.
A família amava, cuidava e protegia Bella. Além do irmão Jasper, dois anos mais velho
que ela, havia Quil, que já tinha completado dezesseis, e Seth de quatorze, ambos eram quase
tão altos como o formidável pai de todos. Também tinha um primo chamado Embry, alguns meses
mais velho do que Jasper, e muitos primos em segundos e terceiro grau por via paterna. Todos
eram homens que lutariam até a morte se lhe infringia o mais mínimo insulto. Não, estava bem
protegida e não precisava demonstrar sua coragem, a diferença do que tinha sucedido a sua mãe
quando tinha a idade de Bella.
Se pudesse navegar com Selig e seus amigos na semana seguinte aos centros comerciais do
leste, não precisaria preocupar-se novamente com Mike, pelo menos até o regresso, para fins do
verão. E a essa altura das coisas era muito provável que ele tivesse encontrado outra mulher, e não
desejasse molestá-la outra vez. Por azar, já tinha pedido para participar nessa viagem comercial, e
tinham negado. Já era uma mulher feita e direita e não podia viajar com tantos jovens, ainda que
fosse numa das embarcações de seu pai, num barco que estava ao comando de Jasper. Se Charlie
não ia, também ela não viajaria; e, assim estavam as coisas.
Nem sequer o tinha comovido com a observação formulada em brincadeira de que ela
podia conhecer um outro príncipe mercador como ele em Birka ou Hedeby, e voltar para casa com
um marido. Se ele não podia estar ali para cuidá-la, como tinha feito às três vezes que permitiu
que Bella e sua mãe o acompanhassem, por Odín que ficaria em casa!
Charlie não tinha navegado nos últimos oito anos, e preferia passar os calorosos meses de
verão com Rénne; já tinha bastante idade, e seu amigo Perrín, ou Jasper se encarregavam de
comandar o barco. Os pais de Bella iriam sozinhos para o norte e não regressariam até o final do
verão.
Caçavam e exploravam juntos, e faziam amor, e Bella sonhava em chegar a ter uma
relação parecida com a deles. Mas, onde estava um homem como Charlie, que podia mostrar-se
gentil com as pessoas a quem amava, mas ao mesmo tempo ser tão perigoso e ameaçador com
seus inimigos, o homem que pudesse acelerar as batidas de seu coração, como lhe sucedia a Rénne só de olhá-lo?
Bella suspirou e caminhou em direção a seu lar. Na região não havia muitos homens
valiosos. Tinham uns poucos indivíduos gentis, mas não muitos, ainda que era bastante
considerável o número dos que podiam ser, e eram perigosos. As regiões setentrionais geravam
um conjunto de homens rudes, exemplares excelentes, mas ninguém que comovesse ainda seu
jovem coração. Se pelo menos ela pudesse navegar para o leste com Jasper... Aqui ou lá
seguramente encontraria o homem que lhe estava destinado, talvez um mercador ou um
marinheiro como seu pai, talvez um dinamarquês, ou um sueco, ou inclusive um norueguês do
sul. Todos comerciavam nos grandes centros mercantis do leste. Somente precisava encontrá-lo.
