EU FINJO, TU FINGES... QUEM FINGE?

Autoria: Kry21 (fanfiction(ponto)net/u/788892/Kry21)

Tradução (autorizada): Inna Puchkin Ievitich

Publicada originalmente em: www(ponto)fanfiction(ponto)net/s/4164348/1/


Eu finjo, tu finges... quem finge?

1

As probabilidades de que nas próximas duas horas aparecesse uma marca roxa na testa, devido a tantos golpes, eram altas. O fato é que eu acabava de me converter na pessoa mais estúpida de toda a cidade. Que cidade, o que! A mais estúpida do mundo! Deixei que minhas frustrações continuassem saindo, enquanto batia a testa contra o parapeito da ponte. Sim, essa enorme, solitária e estúpida ponte que une o colégio ao povo de Hogsmeade.

Fito minha mãe direita, na qual ainda seguro aquele pergaminho escrito com letras negras causadoras de minha desdita, e a vontade de chorar retorna ainda mais forte. Como pude esquecer? Eu, logo eu! A garota mais inteligente, responsável e organizada que já pisou nessa escola nos últimos cem anos.

- Ai, minha mãe! – exclamei ao vento. E agora que penso, ela, minha mãe, é quem tem a culpa. Sim, ela, por ter me lembrado dessa estupidez. Por que, caramba, não me deixou seguir com meu Alzheimer em paz? Que necessidade teria de me recordar isso? Com que direito (e nesse caso sequer vale vir com a história de "Porque sou sua mãe, por isso") se atrevia minha mãe de me lembrar semelhante estupidez? Eu já tinha planos.

Entre a biblioteca e eu, mas de todas as formas eram planos! E planos são planos, não? Estava metida em um belo problema. Olho meu relógio; disponho de quarenta e oito horas para resolver toda essa estupidez.

É que... se tão somente pudesse apagar a memória dela... não peço mais nada, bom, claro que se pudéssemos riscá-la do mapa, eu não me oporia, mas... O estúpido estatuto da magia, junto com a estúpida cláusula do estúpido segredo e também meu estúpido senso de responsabilidade! - Pura estupidez! – Mas aqui a mais estúpida sou eu! Eu e minhas estúpidas respostas às estúpidas perguntas de minha estúpida prima!

Por Merlin! Me ouço tão pouco inteligente repetindo sem cessar a palavra "estúpida"... mas, o que fazer, assim sou eu: A Estúpida Hermione Granger! Porque estou assim? Fácil: eu, a sabe-tudo, o rato de biblioteca, a biblioteca móvel (ou, se preferem uma variação das três), Hermione Granger. Estou assim por uma pura e simples razão: Melina. Oh, sim!

Não sei vocês, mas eu creio que todos temos nosso Voldemort particular, o meu é minha prima. E não, não é que eu queira tirar o título de mártir do Harry (já sabem, os Dursley e tudo isso), simplesmente porque na minha família também há ovelhas negras e brancas e rosas e... o que for, minha estúpida prima e seus estúpidos...

- Por Circe! Se disser a palavra 'estúpida' uma vez mais, ou algum dos seus derivados, eu grito "Bingo!" – Devo reconhecer que essa foi boa e, muito a meu pesar, não posso evitar rir. – Ai! – Talvez se aturdir a mim mesma e despertar em dois mil e vinte e nove, já tenha me esquecido? Ou, quiçá, e se tenho sorte, nessa época já esteja debaixo da terra e vivendo no inferno. – Deixa de sonhar. – me digo e ergo minha mão pronta para arremessar o pergaminho e que o vento o carregue. Sim, que voe livre e experimente os ares da liberdade! Acaba de me ocorrer que posso dizer que não recebi nada e desfrutar de umas ricas, deliciosas e relaxantes férias em companhia da biblioteca; isso me parece bom, e se não funciona... lembro que obtive um dez por meu feitiço aturdidor. Confirmo com a cabeça para me dar ânimos.

Plano B: Auto-aturdimento. Levanto meu punho direito... e Hermione se prepara para arremessar, a casa está cheia e ela precisa de um bom lançamento para levar o seu time… Por Morgana, que patética! A que ponto cheguei de pensar em uma partida de beisebol… Merlin, que mal estou! Será melhor que o solte de uma vez. Ah! Mas primeiro o apagamos... Não queremos que alguém o leia e... – Não se projete - ... Onde deixei minha varinha? Onde, diabos...? Se eu a pus na bolsa... Já dizia eu que...

- Você está bem? – Seria demais dizer que foi um milagre que eu não enfartasse ali mesmo. Bom, não costumo ter tanta sorte. Estava tão metida em meus problemas que não senti que alguém se aproximava. E se você estiver em "Hermionelândia", enquanto alguém põe uma mão no seu ombro e lhe fala, terá um grande susto.

Inspira, expira, inspira... Respirei três vezes para me repor do susto e, pondo minha cara de "que porra você quer?" ou "Acaso não vê?", vocês escolhem, me voltei para encarar ao estúpido que me assustou. E olha que resultou ser um estú... bom... resultou ser o "menino-que-sobreviveu", "a salvação do mundo", o "querido" (desde que começaram as aulas), "o mais sexy do ano", "o capitão do time e líder das massas", codinome Harry Potter. Ah! Mas não estava sozinho, não senhor. Porque desde que começamos o ano eu não via Harry sem sua namorada, ou vice-versa.

Sim!, sua namorada; "a ruiva gostosa", "a Barbie do colégio", "a presidente do clube social", "a que é o sonho de todos", "a sanguessuga", o chiclete", "o carrapato" (estes três últimos sobrenomes dados por Luna e por mim), codinome Ginebra "Ginny" Weasley. Sim, sei que fomos amigas, e daí? Não estou para formalismos nem para ser a melhor amiga. Tenho problemas!

A realidade é que ela não me suporta e não sei por que (talvez porque Harry me procurava para tudo e ignorava sua namorada quando me tinha por perto, e que garota suporta isso? Até eu me odiaria a mim mesma), e, além do mais, vê-los juntos não é muito de meu agrado. Basta dizer que eles conseguiram o que meus pais não puderam em dezessete anos! Deixei de comer doces! - Todos: um porre para mim... e ele diz…. Lá vai uma, lá vão duas, Hermione, Hermione, ra, ra, ra...- Patética e estúpida!, poderia pedir mais?

Mas é que vê-los era tão asquerosamente meloso que eu sentia que se comesse algo doce teria diabetes; e creio que é melhor não arriscar, então cada um para o seu lado. Ultimamente, não havia maníacos loucos tentando nos matar e podíamos levar uma vida normal, com problemas normais e primas irritantes.

Não pude evitar, soltei uma gargalhada mais forte que a anterior. Parecia louca, eu sei, mas ou era pensar besteira (uma gargalhada mais) ou me pôr a chorar pelo desespero...

- Hermione – ouvi Harry me chamar, ergui um pouco o rosto, o qual havia abaixado devido a ter, literalmente, me dobrado de rir; creio que vê-lo com o cenho franzido, e com preocupação em seus olhos me fez aquietar um pouco.

- Você está bem? – Se pudesse teria pousado a mão em sua bochecha e teria lhe dito "Não se preocupe", isso o teria tranqüilizado por completo, mas Ginny me lançaria algum feitiço e, realmente, não estou de humor só para evitá-lo – responderia ao ataque e a mandaria para a enfermaria, isso no remoto caso de meu feitiço falhar; para sermos francos, as possibilidades de que isso acontecesse eram mínimas, para não dizer nulas.

Um momento! Talvez se eu cometesse um crime, me prenderiam e assim eu poderia evitar minha prima... e arruinaria a minha vida. Melina não vale tanto. Adeus meu plano C!, suspirei. Como não podia me aproximar de Harry a menos de três passos – regras tacitamente impostas por Ginebra Weasley – limitei-me a respirar profundamente e lhe respondi.

- Estou perfeitamente bem. – isso dito com o melhor dos sorrisos estúpidos que tenho, com o qual provavelmente fazia a situação em que eu estava ainda mais estúpida, precisamente por… tenho que repeti-lo?... Oh, sim!... por ser estúpida. Vi Harry franzir o cenho e me olhar da maneira estúpida que ultimamente o fazia, e que me dá a sensação de ser examinada com Raios X.

- Tem certeza? – perguntou, novamente franzindo a testa ainda mais, se é possível. O que responder? Dissesse o que dissesse, sei que não acreditaria em mim, talvez porque nesse momento meus músculos faciais estão tensos ou porque os nós de minha mão, essa que segura o pergaminho, se encontram brancos, ou simplesmente porque meus olhos não suportam mais e começam a pôr-se cristalinos.

- Claro. – Tentei fazer com que a voz não saísse quebrada e forcei o sorriso, desejando com todas as minhas forças que ele fosse embora dali junto com sua patética namoradinha, que não deixou de me varrer com o olhar, além do que as lágrimas não tardariam a se fazer presentes e, conhecendo Harry como conheço, se me visse chorar não descansaria até saber o motivo do meu pranto; e se descobrisse, aí, sim, seria humilhante.

- Hermione... – Detectei uma ponta de desespero e insistência em sua voz. Por que ele não ia embora logo?

- Estou...

- Querido – Ora, ora! A "chatinha" lembrou como falar! -, Hermione já disse que está bem. Deixe-a com suas coisas e vamos dar um passeio pelo lago. – Que coisa! Foi um desses raros momentos em que não se sabe por que, mas dá vontade de reverenciar a mordacidade de Ginny.

- Mas... – Deus por que o fizeste tão cabeça-dura?

- Estou bem, vá e se divirta. – Ia contra meus princípios, mas o empurrei para Ginny e insisti que partissem.

- Viu? – lhe disse a ruiva e o puxou para que se apressasse.

- De acordo. – aceitou Harry por fim, não sem antes passar seu olhar de Raios X sobre mim outra vez. Quase podia ouvir o que ele pensava: "Mais tarde, você e eu vamos conversar, e não há desculpas." Limitei-me a forçar outro sorriso e a dispensá-los com as mãos. Estúpida! Quantas vezes dissera 'estúpida' ou seus derivados em... vinte minutos...? E, me sentindo, em que pese a redundância, estúpida, caminhei rumo ao colégio.

Precisava de um plano e precisava já.

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Conheço Hermione desde que ambos tínhamos onze anos. Desde o princípio soube que, aquela que considerava minha melhor amiga e uma pessoa muito, mas muito especial e importante, era diferente. Não era estranho vê-la falando sozinha, posto que normalmente o fazia cada vez que queria aprender algum feitiço ou estudava para um exame.

Mas o que eu acabava de ver na ponte foi a coisa mais estranha de todas, digo, Hermione estava mais diferente que o habitual; eu não conseguia tirar da cabeça que ela estava me ocultando algo porque, sendo francos, Hermione nunca foi boa mentindo, e não é que eu esteja presumindo, mas ao menos a mim – que a conheço desde os onze – ela não engana. Algo a atormenta.

O problema era saber o que ela ocultava. Demônios! Se tão somente eu não tivesse me separado tanto dela. Sei, e estou perfeitamente ciente de que tudo começou no início do ano. A quem quero enganar? Nosso distanciamento começou desde que venho saindo com Ginny, mas, vamos lá!, sou consciente de que a grande maioria da população masculina da escola queria estar no meu lugar: Saio com a garota mais desejável do colégio! – Ponto para o ego masculino! – E é precisamente por isso, pelo ego, que não me atrevo a romper com ela, pois desde um tempo me dei conta de que não suporto su... Merlin, não suporto nada dela! Bom, quando ela quer pode chegar a ser simpática e agradável, mas é sua atitude de "doce de mel" o que arruína tudo. Mas onde eu estava? Ah, sim! O problema de Hermione. Mais que isso, Hermione está ocultando algo, ou o que dá na mesma: um mistério a resolver. Ótimo! Este ano já começava a ser pateticamente normal.

Dirijo um rápido olhar ao doce de namorada que tenho para ver o que, carambolas, ela diz. Vejo que não é algo de grande interesse e me desconecto outra vez, concordando de vez em quando, ou deixando escapar um e outro "Hm-hum", ou um assentimento de cabeça, já sabem, para despistar. O que menos me interessa nesse momento é ter uma discussão com ela sob o pretexto de que nunca lhe dou atenção.

Bom, a primeira coisa que devo fazer é me aproximar de Hermione durante o jantar e lhe perguntar, como tenho feito desde que a conheço. O único problema é meu "adorado" doce de mel. Não sei o que há com ela, mas cada vez que estou a três passos de Hermione ela começa a rugir. E creio que Hermione percebeu, pois desde que voltei com Ginny, ela se afastou de mim. Conversamos, isso não mudou, o que mudou é a freqüência e a intensidade das conversas.

De repente percebo que há demasiado silêncio ao meu redor, olho rapidamente para minha namorada e vejo que está aguardando uma resposta direta de minha parte, então obrigo minha mente a recordar as últimas duas palavras... Quais eram? Pensa... pensa... Ah, sim!: Melão ou melancia. Muito bem, Potter!

- Não acho que os sirvam no jantar. Isso é mais apropriado ao café da manhã, não? – sorrio por dentro, não há dúvida de que é uma brilhante resposta.

- Harry – me diz Ginny, parando na minha frente e colocando os braços na cintura, como os de jarra – Sobre o que, segundo você, estou falando? – Ô-ô... essa, sim, é uma pergunta difícil.

- Dos pratos servidos no jantar? - Ginny franze o cenho... e Potter é desclassificado!

- Estava falando do lápis labial que quero comprar.

- E o melão não era uma fruta? – Acho que a tecnologia avançou a passos largos, pois ao ver a reação da minha namorada creio que ele já seja um instrumento estético.

- Por que você nunca me dá atenção? – grita.

- Ginny, por favor. Não quero brigas.

- Se você me desse atenção por uma vez na sua vida, eu não gritaria. – reclama, para depois dar meia volta e me deixar sozinho.

- Ginny... – a chamo antes que avence mais e vejo que se volta com um sorriso no rosto – Você não sabe se algo ou alguém incomodou Hermione ultimamente?

- Você é impossível, Potter! – volta a girar e desta vez, sim, vai embora. Pois o que ela pensava? Que eu rogaria de joelhos para que não fosse? Que jurasse que prestaria mais atenção quando vive falando de moda e penteados? Seria mais fácil escutá-la se dissesse algo interessante. Merlin! Como sinto falta das conversas com Hermione! Essas, sim, me deixavam algo bom, depois de tudo sempre aprendia algo novo com ela. E não é que não aprenda nada com as conversas de Ginny, só que não encontro utilidade em saber que marca de produto X devo usar. Enfim, melhor entrar no colégio e pensar em como surrupiar Hermione para que me diga o que se passa.

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Bem, é hora de deixar de lado meu orgulho e gritar por socorro. Já tenho em mente, o que preciso é pedir a alguém que me ajude. De cara, Ron está descartado. Primeiro, porque não sabe nada do mundo trouxa, e segundo, antes publico no "Profeta" o que se passa comigo a dizer ao Ron. Quanto a Harry, ele possivelmente seria meu salvador, mas primeiro teria que me desfazer de sua namorada e, bem, já me despedi do plano C, de forma que... Oh, meu Deus!, Encontrei minha salvação cruzando a rua!

- Neville! – gritei ao aludido.

- O que é, Hermione?

- Oh!, você precisa me ajudar. – disse-lhe, o abraçando – Você poderia passar as festas natalinas em minha casa?

- Perdão?

- Sim, preciso da sua ajuda, e para isso preciso que passe as festas em minha casa.

- Eu... Cargas d'água... Me encantaria passar o Natal com você... mas...

- Mas? – Esse "mas" não estava no manual.

- Tenho que viajar aos EUA para ver um especialista, você sabe, para o problema dos meus pais.

- Não pode cancelar? - pergunta estúpida, eu sei. – Prometo fazer seus deveres pelo que resta do ano.

- A oferta é boa mas... são meus pais e...

- Eu sei. – lhe disse com a cabeça baixa. – Eu entendo.

- Ei! Por que não pede ajuda a Harry ou a Ron?

- É que... – lhe sorri um pouco. Ah, que ingênuo! – Não, não creio.

- Mas... eles não são seus melhores amigos?

- Por isso mesmo. Antes morta a pedir-lhes ajuda. De todo modo, obrigado.

- Não há de quê. – Dei meia volta e agora, sim, a vontade de chorar foi impossível de conter. Então, me dirigi ao único lugar onde podia chorar em paz: os banheiros do segundo andar. Entrei e dei graças a Merlin, porque minha querida amiga fantasma não estava. Assim, me sentei no piso, afundei o rosto em meus joelhos e deixei a frustração correr à solta.

- Você está bem? – Se fosse qualquer outra pessoa ter-lhe-ia lançado um feitiço e tirado do banheiro na ponta da varinha, mas desde o início do ano letivo e desde que começou a sair com Ron ela e eu nos fizemos boas amigas, e como apenas se tratava de Luna, ergui meu rosto e neguei com a cabeça.

- Pode me dizer o que está acontecendo? – Como resposta lhe entreguei o pergaminho que ainda estava em minha mão direita. – Bem, sei que estou na casa das pessoas inteligentes mas, de que raios se trata tudo isso? – Suspirei e lhe expliquei:

- Tudo começou no verão passado. Eu estava em meu quarto morrendo de vontade de sair de casa, pois quando cheguei notei que a irmã de minha mãe e sua filha estavam nela. Nunca me dei bem com Melina, ela é...

- Outra Ginny em versão trouxa? – Vocês vêem? Não sou a única que percebeu a mudança da ruiva desde que começou a sair com um cara famoso.

- Por aí, só que pior. Você sabe que não sou muito de ler revistas de modas e que sei apenas o básico acerca de maquiagem. Em outras palavras, não dou importância ao aspecto físico, e agregamos a isso o fato de eu ser "diferente" por ser "bruxa", bem...

- Ela se mete com você.

- Aham. Assim, um dia ela se meteu no meu quarto e começou a me incomodar, dizendo que ninguém se atrairia por mim, que eu precisava de uma cirurgia plástica completa e começou a dizer o quão bonito era seu namorado. Eu não agüentei e...

"- Você deveria ver Rocco. É alto, capitão do time...

- Imagino.

- Não, Hermione, não acho que o imagine.

- Pois saiba que sim. Meus amigos são esportistas também.

- Você, com amigos? De que livro ou conto os tirou?

- Meus amigos são reais.

- Está bem, o que você disser. - Melina fez um gesto com a mão, dando a entender que não acreditava em nada. – Mas um amigo não é o mesmo que um namorado.

- Pois... eu já tenho namorado. – O que acabo de fazer?

- Ha! Você, com namorado?

- Sim, eu tenho namorado.

- Prove. Chame-o pelo telefone e peça que venha.

- Não... não posso.

- Eu sabia.

- Não posso chamá-lo porque está de férias no... Egito.

- Sim, como não! E eu sou Mary Poppins.

- Não me importa que você não acredite que eu tenho namorado e...

- Bem, se tem namorado, por que não o traz para casa no Natal, para que conheça a família? Eu trarei Rocco e você o seu namorado que... como você disse que se chama?

- Não disse.

- Bem, você o trará?

- Quem você trará? – perguntou uma voz, da porta.

- Ah, mamãe! – disse Melina – Hermione nos convidou a passar aqui o feriado de Natal. – Espera... o que? – Ela me disse que eu poderei trazer Rocco, para que assim ela possa trazer seu namorado.

- O namorado dela? – gritou a tia. – Ela não era lésbica?

- Lésbica? – perguntei.

- Eh... sim. Como você nunca traz ninguém e não é vista com ninguém, nem fala de ninguém... Toda a família acha que você é... – a tia fez um gesto com a mão.

- Lésbica? – perguntei de novo, ainda em choque.

- Sim, mas como vamos conhecê-lo no Natal, melhor eu dizer a Jane que organizemos um jantar muito especial. – Terminando de dizer isso, a mãe de Melina saiu do quarto.

- Bom, priminha – lhe falou Melina – Você tem quase seis meses para conseguir um namorado. – E também saiu do quarto."

- Então...

- Então esqueci por completo desse estúpido assunto, até que hoje, pela manhã, recebi esse pergaminho – aponto o papel que Luna ainda tinha em suas mãos -, onde minha mãe me diz que toda – fiz um gesto com as mãos – toda a família espera conhecer meu namorado, na próxima semana.

- Wow! De fato você está com um problema.

- Ainda não posso acreditar que pensam que eu sou...

- Lésbica?

- Luna!

- Ei! Só repito o que você disse que eles falaram.

- Eu sei. – disse, e sem poder evitar voltei a chorar.

- Olha, não chore. Sabe que pode contar comigo, e que vou ajudá-la no que for. – Olhei para Luna fixamente... uma nova idéia se formava em minha cabeça.

- Oh, não! – Luna começou a negar com a cabeça, parecia ter lido meus pensamentos, pelo que continuou dizendo: - Ajudo no que for, menos tomar Poção Polissuco e me fazer passar por seu namorado. – Abaixei a cabeça, derrotada. Adeus meu plano D?

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Não, repito, não gosto nada, nada de nada, desse comentário que fiz. Vinha muito concentrado pensando em que fazer para que Hermione me dissesse o que se passava, porque estava cem por cento seguro de que tinha algo, quando vi que a causa de minha recente briga com Ginny corria para Neville.

Muito lentamente e com essa precaução que desenvolvi ao longo de meus anos de travessuras e escapadas noturnas, me aproximei de onde estavam, sem ser visto, e o que ouvi me deixou em choque. Como que "primeiro morta a pedir ajuda a Ron ou a mim"? Embora, sendo francos, me agradou que ela tenha dito que eu, sim, podia ajudá-la.

Ia para meu quarto a fim de buscar o Mapa do Maroto e poder encontrá-la e obrigá-la a falar comigo, quando meu estômago grunhiu de fome e me pediu, me exigiu melhor dizendo, ir jantar. Quando cheguei ao grande refeitório e tomei assento entre Ron e Ginny, agradeci a Merlin o fato de minha namorada ter se irritado comigo, posto que assim podia desfrutar da minha refeição e desenvolver minha estratégia para fazer minha amiga confessar. Estava por repetir o guisado quando minha melhor amiga entrou, acompanhada de Luna. Talvez não seja muito bom observador, mas me dei conta imediatamente de que Hermione estivera chorando, e me maldisse, a mim e a meu estômago, não ter ido buscá-la como tinha planejado desde o princípio.

- O problema é o dinheiro. – Ouvi Hermione dizer a Luna, enquanto se sentavam diante de nós. – Não sei se cobram por dia, por hora ou por semana.

- Pois reze para que seja por semana, porque se é por hora... – Luna aproximou-se para dar um beijo em Ron e se dispôs a tomar seu jantar. O fato de que comesse na mesa de Gryffindor se fizera um costume desde que começou a sair com Ron, e ninguém mais achava estranho.

- Eu sei, o dinheiro não será suficiente. – respondeu-lhe Hermione com um gesto abatido. – Quanto você acha que custa uma doação de fígado?

- Uns 200 galeões?- respondeu-lhe Luna. – Agora se é em dinheiro trouxa...

- E se é sem anestesia? – contestou-lhe Hermione, que estava apenas brincando com sua comida, e eu não pude evitar me perguntar 'para que Hermione queria doar seu fígado?'

- Olha – lhe disse Luna – já disse que ajudaria. Se o que você precisa é dinheiro eu tenho guardado um pouco, se é necessário mais peço a meu pai e pronto.

- Acha que ele daria?

- Claro.

- Quanto você tem?

- Uns setecentos galeões.

-Bem – disse-lhe minha amiga – eu tenho trezentos, o que nos dá um total de mil galeões. Convertendo-o em dinheiro trouxa é... – viu como Hermione murmurava para si e franzia a testa, sinais que indicavam que estava pensando.

- Não é suficiente. – disse ao fim e, para surpresa de todos, deixou-se cair sobre a mesa até que sua cabeça batesse contra a madeira. Foi uma reação tão anti-Hermione que inclusive Ron, que é o típico "Quando como desligo", se engasgou com a comida; ia abrir a boca e perguntar o que se passava quando de repente ela parou, com um dedo apontando para o teto.

- Mas há um Deus que me fará justiça. – foi o que disse e, assim como parou, sentou-se e começou a comer. Todos nós que estávamos perto continuávamos pasmos, salvo Luna que negou com a cabeça enquanto sorria.

- Pedirei a meu pai uns dois mil galeões? – os poucos de nós que começaram a reagir após o estranho comportamento de Hermione, voltaram a impactar-se ao ouvir de Luna a cifra estrambótica.

- Prometo a você que a pagarei. – foi a resposta de minha amiga. Bem, era isso? Esse era o problema que tinha? Precisava de dinheiro? Porque se era assim, era lógico que não quisesse pedir ajuda a Ron, mas e eu? Eu não lhe teria dito não, além do que tinha esse dinheiro pois contava com a pequena fortuna de meus pais e também a "pequena" fortuna de Sirius. Então, por que ela não me pediu? E, não é que o menospreze mas, por que convidar Neville para sua casa e não a mim? Tão concentrado estava tirando minhas conclusões que, quando me dispus a manifestar minhas dúvidas em voz alta, me dei conta de que minha amiga se fora. Suspirando, fui para a Sala Comunal.

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Juro que nunca pensei que faria algo assim na vida, mas como disse Luna: situações extremas pedem medidas extremas. Desci para a Sala Comunal com o pesado livro que recolhera em meu quarto. Admito que em princípio me perguntei para que, merda, o levara à escola, mas agora agradecia a Deus, Buda, Alá, Rá, etc. em tê-lo em minhas mãos.

Suspirando, me acomodei diante do fogo, disposta a acabar com toda essa estupidez – e dá-lhe a estúpida palavra! – rodei meus olhos, sacudi a cabeça e me dispus a folhear as páginas amarelas.

- O que faz? – Outra vez um quase infarto. Graças a Merlin que não sou gato, porque se fosse estaria grudada no teto por tamanho pulo que dei, e me apressei a esconder a lista telefônica. Potter, Potter, Potter... Quando vai aprender a não assustar as pessoas?

- Você me assustou. – reclamo. – Se me quiser viva, não volte a fazer isso. – o desafio com meu melhor tom mandão.

- Eu sinto. – se desculpa, abaixando a cabeça. Simplesmente rodo meus olhos, há ocasiões em que ele pode chegar a ser tão lindo. Nego rapidamente com a cabeça, tentando afastar semelhantes barbaridades.

- Desculpas aceitas. – contesto, para depois lhe sorrir.

- Bom. – me devolve o gesto. Já lhes disse que ele é lindo? – O que está fazendo?

- Nada. – respondo, com a melhor cara de inocente que consigo.

- Você sempre foi um fiasco mentindo, Hermione. – Odeio que ele me conheça tão bem.

- Apenas leio, isso é tudo.

- Por que será que não acredito?

- Bem, porque isso não é o que estou fazendo – me apresso a continuar falando ao me dar conta de que ele vai falar – E faça o que fizer, não te interessa. Agora, por favor, pode me deixar sozinha.

- Boa tentativa. Na ponte você se safou porque não estávamos sozinhos, mas agora estamos.

- Se equivoca. O que dizer dos fantasmas e espíritos?

- Falava em sentido figurado. – vejo como rodopia os olhos – Deixe de jogos e me diz o que está acontecendo. – cruza os braços e me olha fixamente. – E não me diga que não é nada, sei que algo a preocupa.

- A mim? – me aponto com o dedo, e finjo tom de incredulidade.

- Sim, você. – assinala e me lança seu olhar de "está na cara".

- Não há...

- Chega. – levanta a voz e se aproxima – Você estava tensa e a ponto de chorar quando a vi na ponte, em seguida pediu a Neville que fosse a sua casa para o Natal e lhe disse que antes morta a pedir ajuda a mim ou ao Ron. - Não pude evitar abrir os olhos, com surpresa, e em seguida alterar meu olhar para um de irritação.

- Você estava me espionando? – pergunto, indignada.

- Não, bem, sim... eu passava por ali e ouvi...

- Mas estava me espionando?

- Não, apenas me preocupei. Você tem agido estranhamente.

- Eu, estranha?

- Como definirias a si mesma e ao seu comportamento no refeitório?

Faço-me de desentendida.

- Para que você quer tanto dinheiro? E não me diga que não me interessa, nem nada do gênero, porque os dois sabemos que não é assim. Acaso não somos amigos? Ou não confia mais em mim?

- Não é isso. – respondo – É só que...

- O que?

- É vergonhoso.

- Deixe que eu julgue isso, sim?

- Bom. – O que mais posso fazer? Ele me conhece e eu o conheço, portanto sei que se não conto ele não vai parar até descobrir por si mesmo. Suspiro fortemente e relato o mesmo que disse a Luna, no banheiro.

- Wow! – me disse logo após o término do meu relato. Fito-o e me dou conta de que está se segurando para não rir.

- Vamos lá, não se contenha. – disse-lhe, sentindo de novo vontade de chorar.

- Lésbica? – disse e lhe escapa a gargalhada. – Não acredito que em sua casa... – E as lágrimas saem de meus olhos.

- Você zomba, por isso não queria lhes contar. Meus problemas, de vida ou morte, não são tão interessantes como os seus. – Harry não me leva a sério e continua rindo e repetindo a palavra lésbica. Não sei como pude pensar que era lindo, sinto que a humilhação e a raiva se apoderam de mim e começo a chorar mais forte. – Vá à merda, Potter! – digo, antes de começar a caminhar, doída, para meu quarto. Não tenho por que correr, a humilhação não diminuirá com a distância.

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- Espera – a detenho, segurando-a pela manga. Lentamente faço com que dê meia volta e ao ver que seus olhos estão banhados de lágrimas, meu riso se apaga automaticamente. – Perdoe-me. – digo, ao mesmo tempo em que a abraço. Sinto como oculta seu rosto em meu peito e começa a chorar mais forte. Sinto-me como um imbecil vendo-a assim, ainda mais sabendo que sou o causador de seu estado. Abraço-a mais forte e começo a lhe dizer coisas ao ouvido para tranqüilizá-la. Pouco a pouco sinto que vai se acalmando. – Me perdoe. – repito, enquanto a separo um pouco de mim e com minhas mãos enxugo as lágrimas que ainda estão em sua face. – Não era minha intenção zombar de você ou fazer pouco dos seus problemas, eu só imaginei a reação da sua tia e a sua quando disse que você era...

- Não diga outra vez essa palavra, Potter. - me ameaça, depois de ter me silenciado pondo seus dedos em minha boca.

- Eu sinto. – me desculpo pela terceira vez em dez minutos, não sei por que o faço mas volto a abraçá-la e assim, juntos, nos sentamos no sofá. – Entendo que seu problema é encontrar um namorado para a próxima Festa Natalina. – digo-lhe após um pequeno silêncio. - E Vitor? Ele estaria mais que disposto a fazer o papel.

- Você acredita que ele possa deixar o campeonato, assim, sem mais nem menos, apenas para poder conhecer minha prima? – nego com a cabeça e uma sensação de alívio recorre meu corpo.

- O que pensa fazer? E para que quer tanto dinheiro? – lhe pergunto, ao recordar o montante que Luna mencionou no jantar.

- Eu... – noto nervosismo em sua voz e vejo que morde o lábio inferior.

- Para que precisa do dinheiro? – insisto.

- Bom... – se levanta e começa a caminhar de um lado a outro, na minha frente. – Como não tinha ninguém a quem recorrer para se fazer passar por meu namorado, Luna e eu decidimos que o melhor seria contratar um.

- Isso era o que você fazia quando cheguei?

- Sim, antes de entrar na escola trouxe uma Lista Telefônica.

- O que está pensando fazer, Hermione? – melhor que não seja o que estou imaginando...

- Contratar um gigolô. – solta como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- O que?!

- Isso, contratar alguém que finja ser meu namorado. Por isso precisava de muito dinheiro, não faço a mínima idéia de quanto ou como cobram.

Oh, não! Acaso ficou louca? Claro que eu não permitiria que um imbecil estivesse com ela, menos ainda se fingisse ser seu namorado. Milhares de imagens se amontoaram em minha cabeça de sujeitos beijando, abraçando e tocando Hermione...

- Não.

- O que?

- Você não fará isso. – disse-lhe muito sério, cruzando os braços.

- Que?!

- Não vou permitir que um sujeito X se aproxime de você e a toque. Acaso está louca?

- Olha. – me disse, subindo o tom de sua voz. – Você me pediu que contasse meu problema e isso eu fiz, mas nunca pedi o seu conselho. Vou contratar um gigolô e...

- Bem, você não me ouviu. – fico de pé e elevo também o tom da minha voz – Você não vai contratar ninguém, podemos encontrar...

- Alguém que se faça passar por meu namorado? É exatamente o mesmo, Harry.

- Não, não é, pois não seria um desconhecido.

- Se você, que é meu amigo, tem um ataque de riso, imagine os demais. Por que acha que não pedi ajuda ao Ron? Além disso, preciso de alguém que entenda o mundo trouxa, porque se você não se deu conta minha família é trouxa.

- E quanto a mim? – lhe perguntei furioso, porque não havia pensado em mim – Não sou um desconhecido, conheço o mundo trouxa e não cobraria. – enumerei com os dedos.

- Você? – foi sua vez de rir, o que fez com que eu me irritasse mais. – Por favor, Harry. Acha que Ginny daria permissão? Se até para respirar você precisa da aprovação dela.

- Isso não é verdade. – Contra ataquei.

- Ah, não? Então por que você não se aproxima de mim a menos de três passos quando está com ela?

- Eu...

- Vê? Sua namorada me mataria.

- Você mesma disse, Ginny é minha namorada, não minha dona. Eu faço o que eu quero.

- Aham, e eu gosto de voar. – dito isso pegou a Lista Telefônica e se dispôs a subir para seu quarto. Nem bem deu dois passos quando voltei a pará-la.

- Você é minha amiga, me ajudou quando precisei e agora é minha vez de ajudá-la. Você precisa de um namorado. Então, querida, abra bem seus olhos, pois está vendo o seu.


Nota da Tradutora: E eis que séculos e séculos depois, surjo do limbo fandônico com mais uma tradução 'Harmony'. Desta vez com uma história leve, descontraída, irreverente e divertida, finalizada há mais de três anos, com quase 900 reviews, cortesia da autora, Kry - essas fic writers maravilhosas, que não só permitem a tradução como agradecem e se regozijam! Diante de tanta gentileza e simpatia, o que mais eu poderia fazer se não apresentar aos fic-leitores brasileiros um trabalho de tradução digno deles e das autoras - ou o mais próximo disso -, não? Que é, aliás, o que eu espero ter conseguido.

No mais, tenho na prancheta dois outros projetos de tradução, um deles também 'Harmony', e mais um punhado gordo de pretensões da mesma natureza que, sinceramente, gostaria de tornar realidade ainda este ano - mas que não prometo, vocês sabem.

Sem mais delongas, então, me despeço com o compromisso de retornar (não direi quando, mas espero que em breve) com o 2º capítulo traduzido do 19 existentes.

Abraço fraterno!

Inna Puchkin