Disclaimer: Saint Seiya não pertence, mas sim à Masami Kurumada, Toei e Cia.
Essa fic é um presente de aniversário para o Ikarus-sama! Em retribuição ao presente que ele me escreveu... ficou triste... mas espero que goste...
A propósito, o Galford é um personagem criado pelo próprio Ikarus-sama... eu peguei emprestado o nome ;D
Parabéns Ikarus! Vamos a sua fic...
The Unforgiven
How could he know this new dawn's light
Would change his life forever?
Set sail to sea, but pulled off course
By the light of golden treasure.
A guerra havia terminado e eu agora me lavava num riacho qualquer, a fim de tirar o sangue das mãos, do rosto e da espada. Deixei a armadura como estava. Era mais fácil deixar que algum servo depois a limpasse. Por ora, era melhor retirar só o sangue da lâmina, que após mergulhar nas águas límpidas do riacho, sequei no pedaço mais limpo que consegui encontrar na capa. Embainhei-a e fui ao encontro do rei, em sua tenda. Ao entrar, me ajoelhei sobre a perna direita.
- O que o traz aqui, Galford? Não vai descansar e festejar com os outros?
- Senhor... se me permite, gostaria de voltar para casa, se possível ainda hoje. – Era uma tarde cinzenta. Havia chovido a noite toda, e todos nós estávamos enlameados, encharcados e ensangüentados. Quando a chuva deu uma trégua, atacamos nosso inimigo, que havia invadido nossas terras. A batalha havia durado o dia inteiro e embora eu estivesse cansado, não via a hora de retornar para casa. Nós estávamos no norte. Eu morava no sul.
- Ou seja... você quer ser liberado de seu juramento.
Hesitei, mas respondi.
- Sim, senhor. Minha esposa está grávida, e gostaria muito de poder voltar logo, senhor.
O rei, a quem eu havia prestado juramento, me olhou por alguns segundos. Eu me senti um pouco incomodado com aquele olhar sobre mim. E esperava que ele não fosse me liberar. Ao invés disso, ele se virou, com um gesto descuidado, como se não desse muita importância, fazendo sua capa esvoaçar atrás.
- Eu o dispenso de seu juramento, Galford. – ele se sentou em um trono, um pouco mais ao fundo do primeiro cômodo da tenda, e com um suspiro cansado me olhou novamente. – Eu entendo como é essa agitação que você está sentindo... As mulheres parem, e nós ficamos naquela espera torturante...
- Obrigada, senhor. – abaixei a cabeça solenemente.
- Vá... vá... – ele fez um gesto me mandando embora. E eu fui. Levantei-me, com a mão sobre o punho da espada, fiz um breve aceno de cabeça como uma reverência, e saí feliz da vida.
Alcancei meus homens, e mandei-lhes que selassem seus cavalos, pois eu partiria logo, dali duas horas, no máximo, tempo para eu recolher minhas coisas, me lavar, selar meu cavalo, comer alguma coisa e descansar um bocado. Ou que se eles quisessem permanecer, para festejar e beber, que montassem em seus cavalos no próximo crepúsculo e voltassem para casa. Eu não poderia dispensá-los de seus juramentos ainda. Infelizmente. A maioria de meus homens se levantou e começou a recolher suas coisas.
Guerreiros são assim. Nós fazemos juramentos, mantemos nossas palavras e seguimos nosso senhor como um cachorrinho que segue seu dono. Não gosto muito dessa comparação, mas é assim que somos. Eu não poderia dispensar meus homens de seus juramentos enquanto nós não retornássemos para casa. E até lá, eles deveriam manter sua palavra, pois um homem que não mantém sua palavra, é um homem sem honra, traidor e merece ser morto.
Eu era um guerreiro. Não era rico. Não era nobre. Era apenas um guerreiro. Eu tinha cabelos negros, ondulados e os mantinha curtos, embora a maioria dos homens os usassem longos. Tinha a pele morena, era alto e robusto, tinha o peito largo. Um guerreiro nato.
Morava no sul em uma propriedade relativamente pequena, longe da capital e de cidades importantes, próximo a uma floresta e a um rio. Eu era feliz, tinha uma esposa e logo teria um filho.
Minha esposa se chamava Marin. Tinha os cabelos ruivos e ondulados, olhos azuis, a pele clara e tinha estatura mediana. Ela era linda. A primeira vez que a vi, senti como se o ar me fosse roubado dos pulmões. E ainda que quando ela se casou comigo, fosse apaixonada por um rapaz de outra cidade, guerreiro como eu, ela aprendera a me amar. Nosso casamento fora meio arranjado por seu pai e agora, nós nos amávamos.
E ela esperava um filho meu. Quando eu soube da notícia, não me contive de felicidade. Mas infelizmente, alguns meses depois, fui chamado a guerra, já que nossos inimigos haviam invadido o norte do país. E agora, finalmente, a guerra terminara, nós saíamos vitoriosos e eu retornaria para casa.
Assim que falei com meus homens, me encaminhei para minha tenda, onde retirei a armadura e mandei que um servo a limpasse. Retirei as roupas sujas de suor, terra e sangue, e me lavei. As pessoas não costumavam ter muito asseio, mas eu fazia questão de me manter sempre o mais limpo possível. Marin conhecia algumas ervas que evitavam o mau cheiro do suor, das quais havia preparado uma pasta que eu carregava em uma bolsinha comigo. A espalhei sob o braço e me troquei. Havia lavado o cabelo com uma mistura que Marin preparava para me limpar, que produzia uma espuma suave e apesar de não ter um cheiro tão agradável, pelo menos tirava a sujeira. Com um pente de osso, que eu mesmo havia feito, penteei meus cabelos e os ajeitei. Olhei-me no espelho e me senti renovado.
Eu gostava da guerra, gostava da batalha, daquela loucura da batalha, que nos impele para a frente em uma parede de escudos, nos fazendo gritar e girar a espada ao redor do corpo, quando conseguimos atravessar a parede de escudos do inimigo. Mas me sentir limpo me fazia me sentir renovado. Resolvi comer alguma coisa e descansar antes de partir. Meus homens fizeram o mesmo e juntos, nós dividimos uma refeição de carne salgada, queijo, pão úmido e cerveja aguada.
Marin não gostava de mim bêbado e nem eu gostava de viajar embriagado, portanto, a cerveja aguada não me incomodou nem um pouco. Sentado ali, observei meus homens comerem comigo. Homens que nunca me falharam e sempre lutaram ao meu lado. Amigos e irmãos de armas. Acho que o maior laço de amizade entre dois homens se forma com o gume de uma espada e escudos batendo um no outro. Homens que lutam lado a lado, que protegem a vida um do outro, se tornam amigos inseparáveis, mesmo que cada um viva em um lado do país.
Me levantei e bati as migalhas de pão da camisa e da barba. Dei algumas ordens e voltei para minha tenda, onde vesti um gibão de couro, a cota de malha e uma capa sobre os ombros. Calcei luvas e mandei um servo carregar as coisas nos cavalos. Por fim, reuni meus homens e montei meu cavalo.
Assim que todos estavam reunidos, partimos, deixando para trás o exército que festejava a vitória. Eu estava mais preocupado com a minha vitória pessoal. O nascimento de meu primeiro filho. Porque eu tinha certeza de seria um menino. O tropel dos cavalos rugiu acima, em meio ao pequeno vale entre colinas. Subimos os montes em direção ao sul.
Nossa viagem deveria levar pelo menos metade da noite até chegarmos a Austrarcteos, onde deveríamos passar a outra metade da noite, para descansarmos, comermos mais alguma coisa e nos aquecermos naqueles tempos chuvosos. Depois, deveríamos partir logo após o amanhecer e prosseguirmos para Ingrahm, onde eu morava.
No entanto, a estrada estava inteiramente enlameada, e mais próximo ao crepúsculo, novamente as chuvas começaram a cair, transformando a estrada em uma correnteza de lama, pedregulhos e água. Os cascos dos cavalos escorregavam e diversas vezes quase caímos. Avançamos pouco e demoramos muito, o que me fez desistir de prosseguir viagem até que a chuva parasse ou nos desse uma trégua. Portanto, desviei da estrada, com meus homens e procuramos um local onde pudéssemos nos abrigar, ainda que precariamente, da chuva.
Encontramos uma baixada próxima a uma grande rocha na encosta de um morro, onde conseguimos entrar e nos abrigar, pois a rocha formava uma laje que se projetava em direção a parte mais alta daquela pequena colina. Sob aquela laje, nos aglomeramos, homens e cavalos, e fizemos uma parca fogueira para nos aquecer e secar um pouco nossas roupas. Ao longe víamos os raios cortando o céu no horizonte, por uma fresta. A chuva demorava a passar e nos vimos obrigados a passar a noite ali. Eu me remoia por dentro por não poder seguir viagem, e ter de permanecer ali, depois de já ter conseguido obter vitória naquela guerra e ser liberado de meu juramento para poder retornar para casa. Fiquei acordado, sentado olhando a chuva durante um bom tempo. Por fim, meu corpo se rendeu ao cansaço e eu escorreguei para os doces braços de Wirith, a Deusa dos Sonhos. Dormimos sobre o chão frio e úmido, o mais próximos que pudemos do fogo.
Ao amanhecer, a água gotejava ainda da borda da pedra. Porém um dia de céu mais límpido parecia se espreguiçar sobre a terra. Os pássaros piavam novamente e eu acordei sonolento. O dia anterior havia sido um dia de lutas e cavalgada, meu corpo doía um pouco, mas meu desejo de voltar para Marin era maior. Muito maior, e por isso, me levantei, reuni um pouco de água da chuva que gotejava nas mãos e lavei o rosto. Chamei meus homens, dando cutucadas com os pés em suas costelas. Eu estava com um humor razoável e se mais alguma coisa atrapalhasse minha ida para casa naquele momento, o pouco humor que eu tinha iria por água abaixo, talvez literalmente.
Ordenei aos meus homens que comessem algo rápido, se preparassem depressa pois queria partir o quanto antes. E com meu humor pouco amigável, eles obedeceram. Comemos um pão úmido com cerveja aguada e partimos praticamente logo em seguida. A estrada estava um pouco melhor do que no dia anterior, embora ainda estivesse bastante enlameada. Meu cavalo, Rordich, avançava com certa dificuldade nas subidas.
Por fim, conseguimos atravessar aquele mar de colinas entre Borrougham e Garrontum, e a partir de então, teríamos terreno mais plano para cavalgar.
Ao horário do almoço, encontramos uma vilazinha, onde os homens preparavam boa cerveja e as mulheres assavam um bom pão e uma boa carne. Paramos e deixamos que os cavalos descansassem no pasto ao lado de um templo, cujo sacerdote veio para fora quando chegamos e a ele eu pedi que cuidassem de nossos cavalos, enquanto almoçávamos em uma taverna e descansávamos nosso corpo sob a sombra de alguma árvore. O sacerdote ia me interpelar quando eu lhe interrompi.
- Não se preocupe, senhor. Eu lhe pagarei umas boas moedas de prata e ao templo, eu darei um punhado de moedas de ouro.
Dito isso, o velho sacerdote fechou sua boca e pareceu refletir por um instante. Depois assentiu com a cabeça e ordenou que três de seus servos cuidassem de nossos cavalos enquanto íamos a uma taverna almoçar.
A taverna Descanso do Guerreiro oferecia tal qual o nome, um verdadeiro lugar para um guerreiro descansar. Tinha boa cerveja, um bom pão, que ao contrário da maioria das tavernas, sempre era servido fresco, já que a esposa do dono da taverna assava pães todos os dias, para o desjejum, o almoço e o jantar; tinha um maravilhoso pernil de javali assado, um delicioso cozido e belíssimas mulheres. Toda taverna que se prezasse deveria ter pelo menos esses itens para oferecer uma boa estadia a seus clientes. Na parte de cima das tavernas, haviam quartos, com camas para os homens passarem a noite, descansando, dormindo ou com as mulheres. O que, claro, a esposa do taverneiro não se incomodava, pois ela própria já havia sido uma dessas garotas, que trabalham em uma taverna e oferecem seu corpo para a diversão dos homens que passam por ali.
Sem prestar atenção às mulheres que se aproximavam de nossa mesa e ficavam se insinuando e se oferecendo para mim e meus homens, eu almocei um grande pedaço de uma coxa de um javali, um prato de cozido, pão e um pote de cerveja que pedi ao taverneiro que me trouxesse diluída. Antes mesmo do homem zombar de mim, eu o adverti que deveria diluir a cerveja com boa água pura, pois eu era um guerreiro e deveria prosseguir viagem em alerta, de modo que o rei não perdesse nenhum de seus bons homens. E com isso, o homem se calou e me trouxe um pote de cerveja aguada, a qual, mesmo diluída tinha um sabor excelentíssimo.
Depois de almoçar, eu me senti sonolento e empanturrado. Dei ordem aos homens que me encontrassem dali à uma hora, no templo, para partirmos, e que os que desejavam subir para as camas da taverna acompanhado de alguma bela mulher, que o fizessem depressa e se satisfizessem logo para seguirmos viagem.
O resultado disso foi um bando de homens subindo correndo as escadas, carregando as mulheres em seus braços, já quase tirando as calças, para se divertirem com as garotas, e um taverneiro surpreso e quase irritado, pois meus homens haviam levado todas as suas garotas e ocupado todos os seus quartos e camas. Em compensação, dei ao taverneiro um pequeno saco pesado de boas moedas de prata. E ao sair, ainda pude ouvir alguns gemidos, gritos e camas arranhando o chão.
Agora, era eu que precisava de uma companhia feminina, mas eu me contentaria em esperar para estar com minha amada Marin. Como era bom poder desfrutar da companhia de uma bela mulher, poder dormir em seus braços, aconchegado ao corpo macio e delicado. Sentir o perfume de seus cabelos e de sua pele. Poder amar e ser amado.
Eu caminhei com um sorriso no rosto, lembrando de minha doce esposa de cabelos ruivos e olhos azuis como o céu, em direção ao templo, onde pedi licença ao sacerdote para poder descansar sob uma das árvores do pátio ao lado do templo, e lhe paguei o que havia prometido.
Cochilei por uma hora, e acordei com o riso de meus homens, satisfeitos por terem aproveitado da companhia de mulheres, o que havia um longo tempo que não podiam fazer. Alguns já eram casados, mas mesmo assim, dormiam com outras mulheres, para se divertirem. Me levantei e esfreguei o rosto com as mãos, para despertar. Ordenei que se preparassem para partir e fui rapidamente ao templo, onde me ajoelhei à frente da estátua em mármore de nosso deus, Hyrg, e a ele pedi para cuidar de Marin e meu filho, que os mantivesse bem e vivos, pois eu estava voltando para casa. Depois de rezar, voltei aos meus homens no pátio e montei em Rordich, partindo.
Por mais aquela tarde, cavalgamos sem parar, até que a chuva nos chicoteasse novamente. No entanto, quando a chuva começou, estávamos bem perto de outra vila, onde pudemos jantar muito bem, nos aquecer devidamente, e dormir em camas quentes, no caso de meus homens, aquecidas pela companhia de novas mulheres.
Eu dormi solitário em minha cama, pensando em Marin. Ao amanhecer, me levantei revigorado, depois de uma boa noite de sono, me lavei na mesma tina em que havia me lavado na noite anterior, porém com água quente trazida por uma criada do taverneiro, e chamei meus homens novamente, aos berros, ordenando que se levantassem e se trocassem o quanto antes. Desci as escadas, vestido com uma camisa de linho, um gibão de couro escuro aberto, calças e botas, e tomei meu desjejum acompanhado do taverneiro, que havia gostado de mim e com quem havia conversado bastante depois do jantar.
O homem me explicou que havia um caminho mais rápido do que o caminho que seguíamos para Austracteos.
- Uma estrada pouco usada por tropas, por ser estreita, mas bastante usada pelo povo da vila e que permite uma viagem rápida, para o senhor, que deseja ver sua mulher em breve. Ah, mulheres... – o taverneiro suspirou. Havia enviuvado já há alguns anos e nunca mais teve outra mulher. – Sabe, quando eu era jovem e casei com minha Weldith, eu era como o senhor... era tão apaixonado por essa mulher, quanto o senhor é apaixonado por sua esposa...
Eu segui o conselho do homem e segui pela estrada estreita. Tínhamos de seguir em fila indiana, mas apesar disso, conseguimos avançar bastante rápido. A estrada havia sido pavimentada com pedras, o que fazia a viagem prosseguir mais fácil. A estrada seguia plana em alguns momentos, e em outros, subia uma escarpa, ladeada por uma floresta. Por fim, conseguimos chegar a Austracteos, ao fim do dia. Passamos a noite ali, em uma taverna pequena, onde tivemos de dormir meio amontoados em dois quartos, enquanto o taverneiro e a esposa dormiam no outro. Naquela noite, não tivemos mulheres e meus homens foram dormir mal humorados.
Ao amanhecer, partimos novamente e eu esperava logo chegar a minha casa.
XxxxxX
Olá pessoas...
Bom, era pra ser uma fic oneshot, mas acho que vou torná-la um pouco mais longa, porque, se não, vai ficar meio repetitivo, como acho que vocês já puderam ver que ficou. Mas eu queria colocar como o Galford teve essa dificuldade de poder prosseguir viagem, porque isso vai ser importante para a fic. E também para mostrar como é o personagem, quem são as pessoas que o rodeiam (como são essas pessoas), e mostrar um pouco como eu pretendo que seja o estilo e a linha da escrita da fic.
Enfim... como puderam ver, eu mudei um bocado minha forma de escrever nessa fic... me baseei muito em Bernard Cornwell e suas Crônicas Saxônicas, série que eu adoro e que vai servir de base também para uma outra fic que pretendo logo começar.
Espero que todos tenham gostado, e em especial, o aniversariante da vez, Metal Ikarus. Aliás, Ikarus-sama, parabéns mais uma vez. Tomei emprestado o Galford, pois eu precisava de uma personagem como ele, mas eu mudei um tanto como vc pode ver.
A estrofe do começo da fic é da música The Unforgiven III do Metallica (do CD Death Magnetic), já que algumas coisas na letra da música me interessaram para o que a fic vai tratar eu decidi colocar essa, mas não deixo isso muito fechado, porque eu pretendia fazer tipo uma songfic, mas achei que não ia funcionar. E claro, tinha de ser algo meio "temático", devido ao fato do presenteado gostar de Metal (oh yeaaah! Meetaaal! \o/)... só não coloquei a letra toda, pq achei muito extensa e tinha trechos que não iriam combinar muito...
Gente, acho que é isso... um beijo especial pro Ikarus-sama! E outro pra vcs...
Beijos.
