Desejos & Intrigas pertence a Anne Marie Wiston
CAPÍTULO UM
A cafeteria estava surpreendentemente cheia para uma tarde de quarta-feira.
Lily Evans parou logo depois de entrar no B&P's, uma famosa cafeteria, localizado em um penhasco acima da margem do rio, no histórico distrito de Savannah, Geórgia. Estava ótimo o ar-condicionado, visto que o calor ainda era forte no início de setembro. Ela respirou fundo, sentindo o peso em seu estômago aumentar. Pura tolice. Ela não deveria estar ali.
Tinha dito a si mesma que precisava fazer compras, mas quando se viu parada diante das portas de madeira e bronze do B&P's, com as suas janelas embaçadas, admitiu que, finalmente, depois de dois meses, não conseguia evitar a necessidade de descobrir mais sobre James Potter.
Então, aquele era o negócio dele. Ao menos parcialmente dele, pensou, lembrando que ele tinha dito que seu primo e seu irmão mais velho eram seus sócios. Respirando a rica mistura de aromas de café, ela olhou em volta, curiosa.
Era tão elegante quanto esperava, mas a atmosfera era quente e convidativa. Ricos painéis de madeira eram presos por bronze brilhante, com cortinas emoldurando as amplas janelas, que exibiam a marca estilizada da Potter & Co., o "B" e "P" entrelaçados por um "&". Ao longo de uma parede havia uma enorme lareira, que ela imaginava com que frequência devia ser usada, com um clima tão ameno quanto o de Savannah.
Estranhamente, a visão da lareira acalmou seus nervos. Ela se lembrava de sua juventude, crescendo em internatos na Europa, onde fogos crepitando eram uma necessidade, mais do que um luxo, durante os frios invernos do norte europeu. E, mesmo que internatos geralmente, não tivessem reputação de acolhedores, para Lily a escola tinha significado conforto e segurança.
"Mas você não está mais na Europa, Lily", ela se lembrou. Não, estava em casa — se realmente podia chamar Savannah de casa, ou lar. Ela achava tão familiar quanto qualquer outro lugar no estado, e, pelo menos, tinha alguma conexão com a cidade, ainda que bem pequena. Tinha nascido ali, no calor de uma noite de verão. E o túmulo de sua mãe também estava ali, sob os carvalhos de um antigo cemitério, onde as principais famílias da região costumavam ser enterradas.
Sua mãe. Suspirou, desejando ter conhecido a mulher que lhe dera a vida.
Mas Elisabeth Horne Evans falecera horas depois do nascimento de sua única filha, respirando tempo suficiente apenas para dar o nome de Lily à sua rebenta e se despedir do marido, que a amara tão profundamente. Quão diferente poderia ser a sua vida se a mãe estivesse viva?
Afastando os pensamentos que, sabia por experiência, seriam dolorosos, caminhou até o balcão, pedindo uma mistura brasileira especial B&P para viagem. Olhou em volta do salão, para os garçons e pessoas trabalhando nas sofisticadas máquinas, mas não viu James.
Sentiu uma onda de desapontamento e disse a si mesma para não ser ridícula. O coproprietário do negócio, especialmente um empresário tão rico e bem-sucedido quanto diziam que James Potter era, dificilmente estaria trabalhando atrás do balcão.
Além do mais, a última coisa que qualquer um deles precisava era um encontro público que pudesse ser testemunhado. Não daria um belo assunto para as colunas de fofoca?
Hora de partir. Ela meio que lamentava o impulso que a levara até ali. Desde julho não vinha dizendo que não podia se envolver com James?
Sem falar que seria terrivelmente arrogante de sua parte achar que ele ainda estaria interessado nela. Afinal, mal tinha ouvido uma palavra dele desde que recebera um lindo buquê de rosas e lírios na manhã seguinte ao jantar dançante em que tinham se conhecido.
Quando ela se virou com sua bebida na mão, quase trombou em uma loira, usando um conjunto azul-marinho. Dando um passo para o lado, ela murmurou:
— Desculpe.
A outra mulher mal a percebeu.
— Querida — ela dizia para sua companheira, uma morena que também parecia ser um membro da comunidade comercial do centro —, ele é o pedaço de mau caminho mais lindo que já vi. Pense em Josh Hartnett misturado a uma dose saudável de Tom Cruise. Exceto que James tem um metro e oitenta. — Ela suspirou. — Eu gostaria de um pouco de ação.
James? A atenção de Lily aumentou, mesmo sentindo que cada pessoa no lugar subitamente parecia perceber que ela estava escutando a conversa.
— Talvez... até ele abrir a boca — a amiga dela dizia. — Concordo com a definição de pedaço, mas o homem é enfadonho. Eu saí com ele uma vez, anos atrás, e posso dizer que, meus olhos começaram a fechar depois dos primeiros vinte minutos.
A primeira mulher deu de ombros.
— Não preciso que eles sejam brilhantes — ela disse, com uma risada.
— Esse pode ser o problema. — A morena que tinha saído com o homem em questão tirou a carteira da bolsa. — Ele é esperto demais. Quando começa a falar sobre lendas e fantasmas, você pode até pedir outro drinque e tapar os ouvidos. Cada vez que você acha que ele está terminando, ele se vira em outra direção.
Lily mal podia conter o seu divertimento. As duas tinham que estar falando do seu James.
Não! Não "seu" James!
James Potter. Ela imaginava que, para muitas mulheres, a fascinação dele pela história e lendas locais podia ser terrivelmente enfadonha, mas para alguém que, na verdade, tinha aproveitado seus anos de universidade estudando línguas mortas e literatura antiga, ele não podia ser mais interessante.
Ela abriu caminho, passando pelos clientes, em direção à porta. Era bom não o ter visto. Tinha sido um ato tolo e ela teria lamentado se eles tivessem se encontrado novamente.
Claro que teria.
Teve que esperar um grande grupo entrar até chegar à porta, e enquanto o fazia sua atenção foi atraída para o quadro de avisos na parede. Uma mensagem dizia: "Moça de Savannah procura rapaz também de Savannah para compartilhar cappuccino e ópera. Precisa adorar filhotes de cachorro."
Havia um número de telefone embaixo. Outra mensagem estava escrita dentro do desenho de um coração: "Elena, quer se casar comigo?" Ela sorriu e continuou lendo, ainda que a entrada já estivesse vazia. Aparentemente aquele quadro havia se transformado em um tipo de serviço de encontros!
Ela leu mais uns dois recados, inclusive um que parecia uma troca de mensagens, aparentemente acrescentadas diariamente. E finalmente bateu os olhos em um outro:
"Para L., meu fantasma do jardim florido: estou murchando sem você. Ligue para mim. J."
Ela prendeu a respiração, o coração tremeu. Meu fantasma do jardim florido? Quem mais poderia ter escrito aquilo? E para quem mais poderia ser?
James. James tinha escrito para ela. Para ela, Lily. Só podia ser ele. Só podia ser para ela.
Suas mãos tremiam enquanto ela tirava uma caneta e um bloco da bolsa. Sem pensar se era inteligente o que fazia, tirou o pequeno pedaço de papel e pôs no bolso. Depois, escreveu no bloco.
"Para J., de seu fantasma do jardim florido: As lindas flores que você mandou também murcharam. Não meus pensamentos sobre você. Podemos nos encontrar? L."
Rapidamente espetou a sua resposta e voou para fora do café, antes que o bom senso prevalecesse. Ela estava na metade da quadra quando percebeu que o celular estava tocando. Pegando-o, ela atendeu.
— Alô?
— Lily! — A voz era forte, rouca e com um forte sotaque francês. — Como vai você, ma petite, minha pequena? Estou muito brava com você por não ter me perguntado sobre todos os planos de casamento.
— Dorcas! — Foi tomada de alegria. A sua colega de quarto e melhor amiga do mundo era a filha de uma família nobre da França. Recentemente, Doe tinha ficado noiva de um primo distante da rainha da Inglaterra. — Como vai você?
— Brilhando, querida garota. Quero saber de você.
Lily percebeu que estava rindo.
— Não tenho nada para contar. A vida nos Estados Unidos é calma e boba. A campanha do meu pai está indo em frente, mas estou fora dela. Não desejo aparecer na imprensa americana.
— O quê? Nenhum belo homem? Os americanos deveriam se envergonhar.
Lily hesitou enquanto as feições claras de James surgiam em sua cabeça.
— Lily... Há um homem, não é? Você não pode me enganar! Sou a coisa mais perto que você tem de uma irmã e posso lê-la como um livro aberto, querida. Agora, despeje.
— Sou um livro aberto mesmo, Doe. Pare de sorrir. — Diante dela havia um banco vazio no pequeno parque no final da rua. Indo para lá, ela continuou. — Não é exatamente um relacionamento.
— Comece desde o princípio — a amiga exigiu. — Quero saber tudo.
Ela pensou por um instante.
— O começo? Bem, na verdade aconteceu em julho, uns cinco dias depois que cheguei a Savannah. Lembra que vim para casa a pedido do meu pai...?
— Tente parecer mais calorosa, Lily. Se você for à festa para angariar fundos assim, as pessoas perceberão, garanto.
A voz de John Evans estava cheia de censura.
— Eu não quero ir, pai! Uma coisa seria ir a um evento para apoiar a sua campanha ao Senado, mas isso é só uma questão de espionar Fleamount Potter. Eu sou horrível em coisas assim! Alguém vai descobrir. — Lily estava concentrada em balançar as dobras de seu vestido de noite de seda branca, evitando os olhos dele. Talvez ele concordasse.
Mas ele afastou as preocupações dela. Como a mantivera afastada toda a sua vida.
— Ninguém vai descobrir se você não chamar atenção. E como alguém a reconheceria? Você esteve fora do país por anos. Nem mesmo eu sei quando sua última foto pública foi tirada.
Ela sabia. Tinha nove anos e estava nos Estados Unidos para visitar o pai.
Assustada, sentindo falta do ambiente familiar da exclusiva escola suíça, onde vivia totalmente ignorada por ele, ela chorava quando a foto fora tirada. A voz do pai cortou as suas lembranças.
— E isso não é espionar. Só quero que você fique de ouvidos atentos a qualquer coisa. Quero saber sobre a campanha de Potter. Ele não pode ser tão limpo quanto quer parecer.
— Ele não é — ela falou. — Mas é honesto quanto aos seus erros...
— Certo. — Seu pai retrucou. — Todos sabem que ele foi forçado a receber aquela filha ilegítima vietnamita na família, mas ele conseguiu transformar o caso em ouro político. E antes de você voltar para cá, houve um tremendo falatório quando o corpo da babá de seus filhos foi encontrado na propriedade dele. Aquilo quase o afundou, mas as autoridades juraram que ele nada teve com aquilo. — Ele praguejou. — Eu gostaria de ter os marqueteiros dele.
Lily suspirou. Os argumentos dela caíam em ouvidos surdos e logo ela estava em um carro, indo à recepção política de Potter para angariar fundos.
"Ótimo", ela pensou com rebeldia. "Você pode me fazer ir, mas não vou espionar para você."
O jantar dançante aconteceu no Twin Oaks Hotel, no centro de Savannah.
Lily entrou bem atrás de um grupo de convidados e rapidamente observou o salão. Adoráveis portas francesas se abriam para grandes jardins no fundo do hotel, enquanto os dançarinos executavam graciosos passos na pista de dança de madeira polida. Outros convidados se misturavam em volta de mesas pelo salão.
Calmamente, ela andou para as portas de trás. Devia estar quente lá fora, o que seria perfeito. Ninguém seria louco o bastante para sair no ar úmido da noite; ela ficaria por dez minutos e depois iria embora.
"Então, pai, fui à recepção, mas sinto muito, não ouvi nada de interessante."
Enquanto ela se dirigia para o fundo do salão, passou pelo toalete feminino e resolveu se refrescar. Quando entrou, encontrou uma adolescente chorando.
Lily e outra jovem tentaram confortá-la. A garota parecia estar com problemas com os pais e a sua tristeza partiu o coração de Lily. No entanto, sabia que não podia se dar ao luxo de se envolver com os problemas da estranha. Afinal, nem mesmo estava na lista de convidados e duvidava que alguém ficasse excitado por encontrar uma Evans na festa de Potter. Depois de alguns minutos, saiu do banheiro e foi para o jardim.
Mal se sentara num banco de pedra, fora da vista das portas do salão de baile, quando uma profunda voz masculina falou.
— Você não é um fantasma, é?
Ela se virou com uma risada.
— Você parece desapontado.
Um homem se materializou na escuridão. Elegante, usava um smoking preto e camisa sem colarinho, igualmente escura, e o luar brilhava em seus cabelos negros. À primeira vista, ela pensou que ele se vestia incrivelmente bem para um americano. Imediatamente, se censurou. Só porque tinha se acostumado com europeus, muitos dos quais eram mais exigentes do que as mulheres quanto aos seus guarda-roupas e suas cirurgias plásticas, não significava que ela também deveria ser esnobe. Ainda assim, aquele homem tinha nascido para usar smoking.
Ele disse:
— Estou desapontado. Eu a vi flutuando pelo jardim, minutos atrás, em seu vestido branco, e estava certo de que você era o fantasma de Twin Oaks.
— Lamento — ela respondeu, sorrindo. — Sou de matéria comum.
— Nem em sonho eu a chamaria de comum — ele discordou.
O tom de voz dele era quente e admirado, e ela agradeceu pela escuridão, pois ficou corada. Nunca fora boa em flertar ou em ficar de conversinha, como homens e mulheres faziam. Suas instrutoras ficavam desesperadas com ela. A sua única graça salvadora é que dançava como um anjo.
— Você estava inventando essa história de fantasma? — Estava querendo mexer com ele, mas na verdade estava interessada.
— Absolutamente não. Posso me sentar?
Quando ela concordou com a cabeça, ele se acomodou no banco, ficando de frente para ela.
— Há mais de cem anos, uma jovem foi levada da suíte de sua família e seviciada por um guarda no terceiro andar do hotel. Ela se atirou pela janela e morreu. A lenda é que, nas noites claras, é possível vê-la andando pelos jardins, chorando pela sua virtude perdida.
Lily estava fascinada.
— Existe algum fundo de verdade para substanciar a lenda?
Ele assentiu.
— Os registros do hotel têm o nome dela e a data de sua morte, que foi confirmada pelo censo da época. Ela está enterrada no cemitério local.
— Você conhece alguém que já a tenha visto? — Ela lançou um olhar em volta, não por medo, e sim por curiosidade.
— Meu bisavô paterno parece que viu. Ele estava em um baile aqui nos anos quarenta e saiu para o jardim, para esperar uma garota. Ele ouviu uma voz de mulher atrás dele, mas quando se virou viu claramente o que descreveu como "a sombra de uma jovem".
— Sombra é uma antiga palavra para fantasma — Lily falou.
— Exatamente. — O contador de histórias concordou, a sua voz profunda animada. — Ele escreveu toda a história com ricos de detalhes, e nossa família ainda a guarda. É apenas uma dentre cerca de uma dúzia de alegadas visões da jovem.
— Não admira que você tenha ficado desapontado.
Dentes brancos perfeitos brilharam quando ele sorriu.
— Eu poderia retirar tais palavras? Geralmente não sou tão grosseiro.
Ela estava encantada.
— Considere-as apagadas.
Parecendo aliviado, ele inclinou a cabeça para um lado, estudando-a.
— Você não parece nem um pouco nervosa com a história.
— Você disse que ela era triste, não perigosa. Fiquei sensibilizada. Agora, se você me levasse para a Bavária, há um determinado castelo onde nem pagando eu entraria. O espírito que assombra o lugar foi morto defendendo sua família de guerreiros de um reino vizinho, e ele tem assombrado uma quantidade de visitantes pelos corredores. Uma mulher caiu das escadarias e quebrou um tornozelo, e ela jura que foi empurrada.
— Fantasmas vingativos são muito comuns. O seu sotaque não é alemão — ele comentou pensativo. Mas aposto que você passou muito tempo na Europa.
Ela sorriu.
— Acertou. Morei na Suíça a maior parte da minha juventude, antes de cursar a universidade no Reino Unido.
— Então você é inglesa.
— Não, sou americana. Ainda que só esteja em casa há cinco dias.
O sorriso dele foi largo e direto, os olhos escuros demais para saber sua cor ao luar, mas cheios de interesse, que ela conseguia discernir.
— Ainda vai ficar por algum tempo?
— Vou — ela devolveu o sorriso. Se já tinha conhecido um homem com tanto carisma antes, não conseguia lembrar.
Houve um rápido momento de silêncio, enquanto ele mantinha os olhos nos dela. Ela estava ciente dos insetos voando em volta deles e dos sons suaves da orquestra filtrados do salão de baile.
— Meu fantasma do jardim florido — ele falou, sussurrando. Levantou e estendeu a mão. — Gostaria de dançar?
Em resposta, Lily pousou a mão na dele, sentindo a força de seus dedos enquanto ele a erguia, os fortes músculos de seus braços passando em volta dela, a promessa quente de seu corpo grande tão próximo do dela. Nuvens de borboletas voaram em seu estômago, fazendo sua mão tremer na dele.
— Está com frio? — A voz dele era baixa, a respiração agitando os pequenos fios sedosos dos cabelos dela, perto da têmpora. Ela percebeu que só precisava virar a cabeça, erguendo o queixo, e os lábios dele estariam nos seus.
Precisou usar toda a sua força de vontade para evitar fazer exatamente aquilo.
— Foi o céu — ela contou para Dorcas. — Dançamos por quase uma hora. Conversamos. Ele adora folclore, fantasmas e lendas locais, coisas assim. Ele é simplesmente fascinante. E lindo, e tão doce...
— Então, quem é ele? O que aconteceu desde aquele dia? — Dorcas quis saber. — Você disse foi há dois meses.
Subitamente, o prazer desapareceu.
— É. Desde então, nada aconteceu.
— O quê? Por quê? — A sua amiga começou a vociferar em francês e, se não estivesse tão aborrecida, Lily teria rido.
— Doe — ela falou —, você não quer saber o nome dele?
— Oui. — A voz de sua amiga ficou sombria.
— James Potter.
— Quem é James Potter?
— O pai dele está concorrendo ao Senado contra o meu. Meu pai ficaria furioso se eu me envolvesse com o filho de seu rival.
— Por quê? — Dorcas parecia não entender.
— Porque... — ela não estava preparava para a pergunta. — Porque meu pai é muito competitivo. Para ele, a carreira política significa muito. Está sempre procurando por escândalos que possa descobrir sobre a família Potter. Ele não é... nem sempre é muito simpático. — Aquilo era difícil para ela admitir.
O silêncio de Dorcas falava mais alto. Afinal, ela perguntou:
— Esse James sabe quem você é?
— Sabe. No dia seguinte, ele me mandou flores. — A lembrança a fez sorrir.
— Um lindo arranjo, com um bilhete agradecendo pela noite.
— E você...?
— Mandei um bilhete de agradecimento, claro. Mas você deve entender por que não devo vê-lo novamente.
— Não sei por quê — sua amiga respondeu, calorosamente. — Lily, não há qualquer razão para seu pai se importar que você saia com esse homem. Estamos no século XXI, não na Idade Média!
— Eles não têm exatamente uma rivalidade amistosa — ela disse, na defensiva, enquanto se lembrava das táticas mais ofensivas que seu pai tinha usado recentemente. — Apenas não seria fácil, Doe.
— Nada de bom na vida vem fácil. Olhe para mim. Tive que ser aceita pela rainha.
Lily riu.
— Então, conte-me sobre isso. Estou morrendo para saber dos detalhes. Você se curvou corretamente? Como é a coroa dela? Você teve que beijar a luva?
Lea iria matá-lo se ele chegasse novamente tarde para o almoço. A lembrança dos olhos brilhantes da sua pequena meia-irmã o fez sorrir enquanto James Potter entrava apressado no B&P's com os envelopes do pagamento semanal dos empregados. Ele passou-os para o gerente do café, verificou a correspondência e seus recados e saiu apressado.
Olhou para o relógio. Estava bem na hora. Tinha se acostumado a encontrar sua recentemente descoberta irmã uma vez por semana, ou algo assim, enquanto ela se adaptava para fazer parte do numeroso e barulhento clã Potter...
Tinha sumido! Ele parou perto da porta, vistoriando o quadro de avisos. Por semanas, desde que tinha afixado o bilhete, várias vezes por dia ele verificava o quadro. Mas, à medida que os dias passavam e não tinha notícias de Lily Evans, a expectativa e a esperança haviam sido enterradas.
Tinha desistido de encontrar uma mulher que gostasse dele por quem ele era: um cara estranho que gostava de falar sobre história e casos de fantasmas. Por anos as mulheres correram atrás dele, mas nenhuma realmente o queria. Queriam o prestígio de sua família, seu dinheiro e algumas, até, queriam o seu corpo (ao que, honestamente, não podia dizer que se opunha), mas nenhuma delas o atraíra intelectualmente.
Então encontrou Lily.
Tinha se divertido com o seu engano naquela noite da festa e, de início, achou que ela o julgaria pitoresco e cansativo, exatamente como qualquer outra mulher. Contara aquela lenda de fantasma mais para se livrar dela do que por pensar que ela poderia realmente estar interessada. Era uma técnica que ele vinha aperfeiçoando com os anos, desde que ouvira Emmeline Vance rindo dele. Na verdade, sonhara em se casar com Emmeline, até perceber que não era mais do que um pote de dinheiro para ela. E um enfadonho.
Provavelmente um dia seria grato a ela, calculava amargamente. Ela mostrara o que as mulheres pensavam dele. Atualmente, tinha um prazer perverso vendo os olhares das mulheres se perderem entediados além dele, depois que pensavam ter feito sua grande conquista. Ele parecia estar cultivando um senso de humor doentio.
Mas com Lily fora diferente. Nunca a vira no claro, então não tinha certeza, mas imaginava que os olhos dela fossem azuis, profundos. Era bonita, de uma maneira antiga, com uma presença gentil e um surpreendente e delicioso senso de humor. Seu nariz era pequeno e reto, os seus lábios cheios e curvados, como os de uma boneca, e tinha uma covinha bem no meio do queixo, irresistível. Seu rosto em forma de coração era realçado pelos cabelos, cujos cachos dançavam em volta de seu rosto e testa. Aqueles grandes olhos o atraíram e, em pouco tempo, ele tinha se esquecido que era o James enfadonho, o Potter chato.
Eles conversaram e depois ele a convidara para dançar, precisando tê-la em seus braços, ou sentia que morreria. Ela se ajustava neles como se feita para isso, com a cabeça em seu ombro e o rosto virado para o seu pescoço, e ele sentia a sua respiração acelerada aquecê-lo. Queria desesperadamente beijá-la, mas não queria assustá-la. A última coisa que pretendia era afastá-la.
Depois, tinha perguntado o seu nome.
— Evans? Parente de John? — Ele não conseguia ocultar o seu choque.
Aquela linda jovem era parente daquele... pedaço de lixo?
O pequeno queixo dela se ergueu, desafiador, fazendo brilhar ao luar os brincos e o colar que usava.
— Filha dele.
Sem conseguir evitar, ele riu. De todas as ridículas coincidências...!
O queixo dela se ergueu mais ainda.
— Importa-se de compartilhar a piada?
Ele parou de rir.
— Eu sou James Potter.
Ela recuou.
— Potter. — Falou tão fraco que ele mal ouviu. — Oh, Deus.
Ela parecia mais chocada do que ele um minuto atrás, o que o deixou irritado.
— Veja, não há motivo para que nossos sobrenomes importem, não é?
Não houve resposta.
— Quero vê-la de novo, Lily. — Ele saboreou o nome. Combinava com ela.
— Não — sua voz tremia. — Não seria adequado.
— Não pode ser tão complicado assim — ele estava em pânico e, Deus, acabara de conhecer a mulher.
— Estamos agindo como se fôssemos Hatfield e McCoy.
— Mais como os Montecchio e os Capuleto — ela disse e ele percebeu que não estava brincando.
— Lily...
— Eu preciso ir. — Ela deu um passo para trás e ergueu a mão. Ele sentiu os dedos frios e pequenos tocando o seu queixo e pousando em sua bochecha.
— Obrigada pela noite adorável, James. Lamento não poder vê-lo novamente.
Foi só mais tarde que imaginou o que ela fazia na festa para angariar fundos de seu pai e era tarde demais para perguntar.
James afastou as lembranças, percebendo que ainda estava pregado diante do quadro de avisos. Tinha tentado ligar para ela duas vezes, no dia seguinte à festa, mas ela não estava e não quis deixar uma mensagem, para não criar problemas entre ela e o pai. No mesmo dia enviara flores e deixara um bilhete no café alguns dias depois de ter recebido um pequeno bilhete de agradecimento pelo buquê. O cartão dela fora tão seco, tão distante, que finalmente ele percebera que não pretendia encontrá-lo novamente.
Se ela não queria vê-lo, ele respeitaria seu desejo. Mas talvez um dia ela lesse a mensagem no quadro de avisos e mudasse de ideia. Poderia descobrir como eram perfeitos um para o outro.
Cautelosamente se aproximou e procurou por algo no lugar de seu bilhete.
"As lindas flores que você mandou também murcharam. Não meus pensamentos sobre você. Podemos nos encontrar?"
Podemos nos encontrar? Ele tinha morrido e ido para o céu? Estava assinado "L". Seria mesmo dela?
O seu coração martelava de excitação. Lentamente pegou o bilhete, um milhão de pensamentos bombardeando sua cabeça. Deveria ligar para ela?
Pegou o celular, mas percebeu que não poderia ligar para a casa dos Evans e se identificar. Não depois de como aquele asno John tratara o seu pai, fazendo o máximo para arruinar o bom nome de Fleamount Potter. E aquilo o fez lembrar quão difícil devia ter sido para ela responder ao bilhete.
Depois de um longo momento, decidiu não apressá-la. Tinha demorado dois meses para entrar em contato; a última coisa que queria era assustá-la novamente.
Pegou um de seus cartões de visita no bolso e, virando para o lado em branco, pegou uma caneta no bolso do paletó.
E daí se atrasasse alguns minutos para o almoço? A garota dos seus sonhos tinha acabado de fazer um sinal e sua resposta precisava ser a certa.
Mais uma nova história pra vocês. Espero que gostem!
