Toda a comunidade bruxa estava em festa. Voldemort havia sido morto pelo Eleito. Não havia mais horror os perseguindo. Poderiam enfim dormir em paz. Sem mais mortes, desaparecimentos, tormentos, destruição. Era o primeiro natal em anos que a felicidade reinava firme nos espíritos bruxos. Não mais como um lampejo fraco de luz, mas como uma fogueira majestosa.

Harry e seus amigos festejavam em Hogsmeade. Era o fim das muitas lutas pela vida. A doce vingança de Potter fora cumprida, e finalmente poderia descansar em paz sem sentir sua cicatriz arder de dor novamente.

Na mansão Malfoy, o clima era gélido como a noite do dia 24. Narcisa chorava lágrimas copiosas e mudas num canto da sala. Lucius andava de um lado para o outro, ansioso e desconcertado. Quase deixando transparecer seu desespero. Draco sentava à janela e observava a neve cair.

Muitos eram os pensamentos em sua cabeça no momento. A desorientação, a total falta de segurança, de saber pra onde ir depois... O que sua família faria? O que ele faria? O que iria acontecer agora? Maldito Potter.

Maldito? Ele sentia que havia algo de errado em usar essa palavra. Fora destrinchando todas as questões em sua mente e ela o levou para um caminho que o assustava. Tinha medo de assumir que aquilo percorria sua cabeça com tamanha força.

A verdade era que, com o fim de tudo e a morte de seu Lorde... Draco não via mais sentido em continuar desse lado. Não via mais motivo para ser um Comensal. Não via mais motivo em se aliar a seu pai. Não depois de tanto sofrer nas mãos dele por tantos anos.

Esse último pensamento o fez prender a respiração e olhar para Lucius. O temor a seu pai era tanto que só de imaginar que ele poderia ler tais questionamentos o assombrava. Tudo bem, ele não estava sequer notando que o filho estava ali. Pôde normalizar sua respiração e voltar a olhar para a neve que caía.

Algo o chamava para fora. Uma voz estranha sussurrava dentro de sua cabeça. Uma súbita vontade de ver pessoas, luzes, e sair daquela casa onde ele sentia que nunca realmente pertencera, apesar de sempre defender com tanta lealdade. Estava cansado de manter essa máscara por tanto tempo. Apenas resolveu escutar a voz e fora até outro cômodo. A rede de pó de floo estava ativada. Disse em voz baixa porém firme:

–Hogsmeade.

Aparecera na lareira do Três Vassouras. Teria enlouquecido? Sair de casa assim, sem dar satisfação, para ver a alegria dos mestiços, nascidos trouxas e traidores do sangue? Só de imaginar a reação de seu pai, entrava em pânico. Não sabia nem porque estava lá. Mas sabia que era lá que deveria estar, apesar de tudo.

Toda a cidadezinha e os estabelecimentos estavam brilhando com luzes coloridas e muita gente alcoolizada, cantando, comemorando. Tudo isso o confortou mais do que sua própria casa. Fora andando pelo lugar, com passos cautelosos, enfrentando o olhar de indignação, susto e até nojo dos que o viam. Ele apenas reprimiu um grunhido e continuou com sua expressão altiva e impassível de sempre. Até que então avistara o que ele soube na mesma hora ser o motivo de sua presença ali.

Harry Potter.

Paralisado, sua respiração tornou-se ofegante. Uma onda de calor percorreu seu corpo. Quando os olhares se encontraram, um desespero devastador o fez virar as costas, comprar uma garrafa inteira de vinho-de-fogo e sair. Todas as mesas estavam cheias, não poderia sentar sozinho. Andou o mais rápido que pôde para que aquela onda de calor e vergonha sumisse. Mal havia reparado que a Granger sangue-ruim e o traidor do sangue Weasley estavam lá também.

Sentou-se na neve com um feitiço de aquecimento e apoiou a testa em uma mão. Bufava muito enquanto pensava na revolução que havia se instaurado dentro de si quando o viu. Não poderia ser o que estava pensando. Ele não poderia, bem... Amá-lo, certo? Sua relação para com Potter sempre fora de ódio e rivalidade. Mas por mais que tentasse se convencer do contrário, ele dera um meio-sorriso ao pensar em como Harry estava bonito naquela noite. Em como as luzes de natal realçavam os traços de seu rosto e... Merda. Dera três goles no vinho para repelir tudo aquilo.

Dentro do Três Vassouras, o clima entre o trio de ouro era de festa e estranhamento por terem visto Malfoy. Rony rira para Harry:

–Você viu a cara que aquela doninha fez quando te viu? Empalideceu de medo ainda mais!

Hermione logo pontuou:

–A presença dele aqui é estranha, não acha, Harry? Por que um filho de comensal estaria aqui? Quero dizer, derrotamos seu líder.

Harry apenas concordou com a cabeça e lançou um olhar desconfiado para o nada. Havia mais alguma coisa que ele torcia para que Hermione não tivesse percebido-nem se preocupava com Ron, pois era claro que não havia notado -. O olhar de Draco fizera Harry questionar sua sanidade. Perdeu-se por míseros segundos a admirá-lo, e isso lhe causava muito estranhamento. Os mesmos questionamentos que passavam pela cabeça da doninha pálida estavam presentes em sua cabeça.

Manteve-se ali entre seus amigos, resistindo à tentação de ir atrás do garoto. Seus pensamentos vagavam para onde ele poderia estar. Não sabia o motivo de todos esses sentimentos se manifestarem dentro de si. Sabia que as coisas entre eles não eram mais as mesmas quando lançou o Sectumsempra nele no banheiro. A expressão de dor e as lágrimas e gemidos do sonserino perturbaram muito seu coração e nunca mais conseguiu olhá-lo da mesma forma.

Não dava mais. Seu peito doía e sentia a ansiedade na boca de seu estômago. Precisava sair para vê-lo. Ou então apenas sair. Não queria pensar muito, apenas foi, dando a desculpa de que precisava ficar um pouco sozinho pra pensar em tudo. Sabia que ela não seria muito bem aceita e deixou a taverna antes mesmo de ouvir os protestos de Ron e Hermione.

Não precisou locomover-se muito. Lá estava o precioso Malfoy, há alguns metros da porta da taverna, na neve. Segurava a garrafa numa das mãos e tinha o olhar tão perdido quanto o dele. Harry aproximou-se devagar:

–Malfoy?

O loiro fez um olhar de desprezo antes de levantar a cabeça.

–O que quer aqui, Potter?

–Ora, não finja que isto é algo que sua família faria numa época como essa. Admita que sua presença aqui seja no mínimo incomum.

–Não tenho que justificar nada, Potter. Diga logo o que quer ou então vá embora.

Harry arrependeu-se de ter questionado Malfoy. Queria aproximar-se dele e só o afastara mais ainda.

–Deixe isso pra lá. Isso é vinho-de-fogo?

–Sim. Bebida que só sonserinos aguentam. Respondeu Draco, em tom desafiador e arrogante.

–Isso é o que veremos. Me dá um pouco.

No terceiro gole, o Eleito já estava mais alto do que gostaria. Sentia suas inibições sumirem e seu controle corporal decair. Enquanto isso, Draco mal mostrava sinais de que havia bebido.

–Merda, Potter. Eu disse que você não aguentaria. Reclamou ao perceber o estado de embriaguez do rapaz.

–Se importa em falar por que está aqui agora? O príncipe dos Malfoy aqui, sozinho, em meio a mestiços e sangues ruins, que estão comemorando a derrota de seu líder? Disse numa ironia zombeteira.

Draco suspirou, deu um grande gole no vinho. Sentindo um leve torpor atingir seu organismo, estava mais confortável para falar.

–Eu não sei. Eu não sei mais, sabe? Se aquele lado vale a pena. Me pergunto se algum dia valeu. Antes eu tinha medo de questionar e de dizer o que realmente pensava, porque ele era uma ameaça. Ele podia me matar. Podia destroçar a minha família. Agora que estou livre...

–Então você nunca esteve desse lado de verdade? Potter tinha um tom surpreso e o rosto lívido como a neve.

–Na verdade eu nunca parei pra pensar. Eu só seguia o que me diziam. Falta de lealdade é o pior pecado para a minha família. Punição maior do que qualquer uma que se possa imaginar.

Harry então se encheu de culpa por todo o ódio que nutriu por ele durante todos esses anos. Não podia imaginar que no fundo, Malfoy era como ele. Um garoto desprotegido, com medo, com histórico de maus tratos familiares. Fora impulsionado a abraça-lo, mas o simples toque da mão no ombro do menino fez todo seu corpo entrar em chamas. Draco lançou-o um olhar sensual e incisivo e o tesão multiplicou-se.

Draco chegou mais perto, e com a boca a poucos centímetros do ouvido de Harry, sussurrou apontando para um velho coreto a poucos metros dali, escondido pelas sombras. Era o único local que não brilhava em Hogsmeade inteira.

–Por que não vamos até lá? Podemos nos aquecer.

–Mas nós já estamos usando um feitiço de aquecimento.

Malfoy dera um tapa na própria testa e puxara Potter pelas vestes.

–Mas você é mesmo um imbecil, não é, Potter? Típico grifinório.

Chegaram ao coreto em passos rápidos e atrapalhados, quase escorregando na neve. O lugar era realmente muito escuro. Harry empunhou a varinha e murmurou:

–Lumus.

Uma leve luz amarela acendera e então ele finalmente pudera perceber a beleza de Draco em detalhes. O quanto aquele rosto gélido e pálido havia tomado cor. O quanto aqueles olhos cinza antes opacos brilhavam. O quanto aqueles lábios de cera se curvavam num meio sorriso caloroso. Como ele era lindo. Precisava sentir aqueles lábios contra os seus, o roçar dos corpos, o cheiro da pele. Fora se aproximando devagar.

Um visco tímido se formava sobre a cabeça dos dois. Pequenos flocos de luzes flutuavam à volta deles. O Eleito roçava os lábios nos do Príncipe Sangue Puro, que tocava levemente sua nuca com os dedos e provocava, afastando a boca. Ouvia sussurros como resposta:

–Nunca pensei que estaria fazendo isso. Mas sinto como se te quisesse a vida inteira.

–Eu também, Potter. E o puxou para um beijo que aqueceu todas as suas entranhas. Nunca havia provado algo tão bom quanto a língua de Malfoy. Sentia a mão excessivamente branca agarrar os cabelos de sua nuca e observou todo seu corpo dar resposta a isso. Tocou os lábios nas carnes do pescoço do garoto e isso fez ambos incendiarem. E então pausara ao ouvir Draco dizer com a voz embargada:

–Por favor... Me leve embora. Para qualquer lugar. Eu não tenho mais casa. Não pertenço mais àquele lugar. Você é a única pessoa que me restou... Me leve, Potter.

Harry não saberia dizer se era o ar natalino ou se era ele mesmo, mas nunca mais queria abandonar Draco. Queria enlaçar-se nele e passar o resto da vida assim. Puxou-o novamente para um beijo e o envolveu num apertado abraço.

O visco agora crescia vistoso e muito rápido. Os flocos de luzes borbulhavam e aquele coreto era o ponto mais luminoso de toda Hogsmeade. Fora da taverna, observando, estavam Ron e Hermione. Ao ver o amigo muito confuso com o que seria aquilo, ela disse com o coração aquecido:

–Dizem as lendas de Natal que essas luzes se acendem quando se deparam com uma união verdadeira. Uma união eterna, que não se acabará em qualquer circunstância, mesmo com a morte. É uma luz que nunca se apaga.

Lou: Olá pessoas, essa é uma fanfic que eu estava postando no Nyah e decidi postar aqui também. É minha primeira fanfic e espero que gostem do andar da história. Deixem uma review caso gostem para me dar aquela injeção de ânimo haha. Dependendo da repercussão eu posso demorar mais ou então até parar se não houver retorno. Pode dizer o que sentir vontade, tanto críticas quanto elogios, e tentarei responder todo mundo. Beijos e até!