Disclaimer: Tudo aqui é da J.K! Exceto a Srta. Mitchel...

Fazia sol ali, mas o frio era de doer nos ossos. Snape aparatou diante da antiga mansão dos Prince, praguejando sobre o contraste climático entre a sua sala quente e confortável em Hogwarts com o clima gélido que reinava no local, embora já estivesse precavido com um pesado sobretudo negro, cachecol e luvas da mesma cor.

Olhou a fachada da casa, que há vários anos já sofria com a ação do tempo. Mesmo havendo um herdeiro direto, o velho Prince já não tinha mais herança para deixar: Todos os seus bens haviam sido confiscados pelo Ministério, como forma de pagamento às dividas que ficaram.

Desta forma, mesmo contra sua vontade, o velho Prince abdicou totalmente da tradição em preservar as propriedades no âmbito familiar. Prince morrera pouco tempo depois que sua esposa e até o momento de sua morte, jamais tivera notícias de sua filha, Eileen, muito menos do "bastardo" que ela tinha por filho. Severo, por sua vez, tão pouco se preocupara em ter notícias do avô, pois ambos se desprezavam mutuamente.

Agora ele mirava a casa em que entrara somente duas vezes em toda a sua vida e se viu tomado por um intenso sentimento de vazio e impotência: Fazer o que estava prestes a fazer lhe agregaria algo de bom? De que modo tal atitude levaria à correção do passado? O que estava tentando provar para si mesmo guardando, por tantos anos, um rancor tão intenso por alguém que nem vivo estava?

− Pare de bobagem, homem. A sua vida inteira você nunca parou para pensar nisso, não é agora, depois de velho, que você vai se render a ataques de reflexão filosófica... – dizia a sua consciência.

Snape encaminhou-se para o portão da casa, que por hora já estava aberto. Durante o caminho de sebe alta e descuidada, Snape andou rápido, sentindo agulhadas de ansiedade no peito. Se as pessoas que o conhecem o vissem tão ansioso, ficariam surpresas, pois ele sempre foi o tipo de homem que jamais externizara as suas emoções.

Ele caminhou até a grande varanda. Iria deter-se na porta para esperar o corretor do Ministério se não fosse o fato de ela estar aberta, o que lhe deixou de sobressalto e com uma curiosidade imprudente. Entrou. Suas lembranças demoraram a lhe situar no ambiente. Fazia muitos anos que não pisava ali e havia se esquecido de como o lugar era escuro e opressor. Ele não precisava dotar de uma sensibilidade extrema para saber que as tonalidades escuras com que as paredes haviam sido pintadas, bem como o mofo que as consumiam, não aproveitavam muito da luz que entrava pela janela. No térreo havia um grande hall de entrada que abrigava quadros de família, uma sala de visitas, um espaço onde havia sido uma suntuosa sala de jantar e uma porta discreta aos fundos, que dava acesso à cozinha. Tudo era ornamentado com prata e móveis sofisticados, que por hora estavam empoeirados e maltratados pelo tempo.

- Mestiço nojento... Escória da humanidade...

O retrato do velho Prince resmungava e a Sra. Prince, que estava ao seu lado, se limitava somente em fita-lo. Snape se aproximou do retrato.

- Maldito mestiço, sangue ruim, como ousa pisar nesta casa... – continuava o velho ranziza, de feições aristocráticas e soberbas.

Snape iria responder ao insulto, quando teve sua atenção desviada para outro quadro, que estava em um canto mais afastado e escuro: Era uma moça de cabelos lisos e negros, de aparência delgada, doente e longe de possuir um semblante feliz.

- Meu filho... – dizia ela, chorosa.

- Ma-mãe... – ele respondeu, com emoção contida na fala e nos olhos, que marejaram. Definitivamente quem o visse diria que não era Severo Snape.

- Como você está bonito... E diferente! Sinto tanto a sua falta, meu filho...

Ele queria dizer "Eu também", mas não conseguia. Limitou-se a acariciar o quadro, como se de alguma forma sua mãe pudesse sentir a carícia. Ficou alguns minutos olhando para ela, que se escondeu quando o quadro do pai tornou a gritar impropérios.

- É de admirar que você e essa bruxa insignificante que foi a sua mãe tenham ido parar na Sonserina. Na minha época não era qualquer um que tinha a honra de fazer parte de tão ilustre Casa, que acolheu o próprio Lorde das Trevas! Ah, não era, não era...

- E também é de admirar que alguém como você, que costumava se orgulhar tanto do sangue puro e das propriedades que tinha viesse a morrer velho, sozinho e na miséria, tendo de vender as taças e pratos da própria cozinha para ter o que comer. – disse ele devagar, saboreando as palavras, que não poderiam ser ditas com menor desprezo ou escárnio.

Sem dar bola para a silenciosa Sra. Prince, Snape fechou o acortinado verde escuro que enfeitava as laterais do quadro que gritava e o mesmo se calou. Prosseguiu com a exploração da casa. Dois lances de escada em curva levavam ao primeiro andar, que com um corredor largo, dividia os quartos e uma biblioteca conjugada a um escritório com móveis de mogno. Ele percebeu que, contra a sua vontade, estava se apaixonando pela casa, fator com que absolutamente não contava e que conflitava com seu propósito original.

Estava ele em suas divagações quando ouviu um baque surdo na biblioteca, como se alguma coisa ou alguém tivesse se chocado com o chão. Caminhou sorrateiramente com a varinha em punho e ao deparar-se com o vulto humano tentando se levantar, sua reação imediata foi imobilizá-lo. Com efeito, desarmou quem quer que fosse, talvez colocando um pouco mais de "intensidade" no feitiço, já que o tal "alguém" foi parar quase no outro lado do cômodo. Snape recolheu a varinha do intruso e avançou ameaçadoramente para ele. O que viu lhe desarmou. Tentando se levantar novamente, havia uma jovem mulher de cabelo loiro acinzentado e comprido, de pele muito alva e trejeito furioso:

- Puta que pariu! – exclamou a mulher – Essa casa tem alguma proteção anti-mestiço, só pode! Primeiro aquele velho gagá do quadro, agora isso...

Eles ficaram em silêncio por um momento. Ele ficou surpreso com o vocabulário mal educado e de origem trouxa da mulher diante de si, mas procurou não transparecer, muito menos achar-se no direito de ser tratado com cordialidade, tendo em vista o modo como ele mesmo a havia recepcionado.

- Não vai me ajudar, não! – bradou ela, furiosa.

Snape estendeu a mão e ela só deu conta de quem era a figura diante de si quando levantou e conseguiu se recuperar do baque.

- Humpf. E quem mais sairia lançando feitiços feito um psicopata com mania de perseguição senão nosso bravo herói de guerra, Severus Snape! – zombou, irritada, enquanto batia a poeira das vestes.

- Como você sabe meu nome? – perguntou, de cenho franzido.

- Ora essa, eu te reconheceria até no inferno! E além do mais, quem em toda a Inglaterra teria um humor como o seu? Ou melhor, quem, em todo o mundo mágico, além de Alastor Moody – que Merlin o tenha – sai lançando feitiços contra os outros como se todos fossem comensais da morte? Só poderia ser você. Sem mencionar o fato de que você é figurinha carimbada! Está na edição atualizada de Hogwarts, uma História e em História da Magia. Também virou personagem de Gibi e saiu no Semanário Bruxo na lista dos galãs solteiros da década...

- Ora, me poupe, garota! Feche essa sua matraca irritante e conforme-se com o fato de que você está em uma propriedade particular sem autorização alguma e poderia muito bem ser um saqueador ou até mesmo um bruxo mal intencionado... – disse ele azedo, só de pensar em todas as pilhérias que tinham feito com seu nome em menos de 10 anos.

- E você, o que faz aqui? Não imaginava que você era o tipo de pessoa que gosta de recordar lembranças de família.

- Não é da sua conta. – ela estava realmente lhe irritando com tanta insolência. – Primeiro aprenda a usar um feitiço de proteção direito. Depois aprenda a ler revistas de credibilidade. E nem pense em se referir a mim como se de fato me conhecesse, senhorita...?

- Mitchel. Helena Mitchel. E devo dizer que estou aqui pelo mesmo motivo que você, professor.

N/A: É minha primeira fic... Então, paciência comigo! :P

N/A 2: O universo é "semi" alternativo e eu decidi criar um Snape diferente porque aos meus olhos, fanfic é pra extravasar o nosso "eu sou fã" interior saindo um pouco da linha da obra tradicional.

N/A 3: De início ela está meio parada, mas é que preciso situar a trama...