— Sirius, eu já disse que não. Você não vai levar o Harry até Kings Cross com a gente. Entenda e pare de agir como uma criança.
— Lupin, pare você de me tratar como criança. Afinal, eu sou tão adulto quanto você e posso decidir sozinho o que vou fazer.
— Ok, Black. Então saia dessa casa, volte pra Azkaban e morra sugado por um dementador. —Terminou Remus batendo a porta do quarto de Sirius deixando-o sozinho. Isso magoou muito, Sirius pensou. Remus queria o seu bem, claro que queria, mas precisava ter sido tão duro assim? Não, não precisava. E Sirius decidiu que seu orgulho fora ferido.
Ele se jogou em sua cama pensativo: tinha que acompanhar Harry, ele era seu padrinho e já havia perdido tempo demais estando trancafiado injustamente em Azkaban. Doze anos de escuridão, doze anos de tristeza, doze anos de sofrimento. Mas ele fora forte, manteve-se vivo pensando em duas coisas: em Harry, seu afilhado que precisava dele e em Remus, seu amigo.
Todas as noites ele lembrava de olhar seu ombro esquerdo: a tatuagem mágica que havia feito assim que tinha terminado o sétimo ano ainda estava lá apesar de tudo. Ao passar dos dias a lua tatuada em tinta negra mudava de fase e um homem se transformava em lobo e o outro, em cachorro. Ele havia prometido a Remus que nunca o abandonaria, mas ele não podia contar com o peso da traição de Wormtail sobre seus ombros.
Eles haviam ficado doze anos separados e era normal que Remus estivesse preocupado com o amigo, afinal, o ministério ainda não o inocentara. Se fosse pego com certeza receberia o beijo fatal de uma daquelas criaturas das trevas que atormentara o animago por tantos anos e ele seria condenado a uma existência miserável.
Ao se olhar no espelho Sirius notou que a tatuagem anunciava que a lua cheia estava chegando. Claro! Era por isso que Remus andava tão tenso: mais uma semana de transformações dolorosas estavam por vir. Dessa vez, entretanto, o cachorro preto estaria com o lobisomem para tornar a noite um pouco mais suportável e na manha seguinte Sirius iria cuidar do amigo assim como era nos tempos de Hogwarts.
-x-
— Pode entrar.—Sirius falou ao ouvir duas batidas na porta e já sabia quem era: toda a Ordem estava fora, apenas Remus havia ficado na mansão black naquele dia.
— Me desculpe, Sirius, por ter sido grosso e tudo mais. Só queria que você entendesse o perigo que corre andando por aí como se o ministério todo não estivesse atrás de você. —Remus desengasgou tudo de uma vez só, ele havia se sentido culpado pelo modo com o qual tratara Sirius. Ele sabia que o amigo sempre foi impulsivo e entendia que depois de tantos anos preso a única coisa que Sirius queria era liberdade. O problema é que as coisas não eram tão fáceis quanto ele queria que fossem, elas nunca foram e ele desconfiava que, de certa forma, jamais seriam.
— Tudo bem, mas você podia ter maneirado no jeito como falou comigo, sabe.
— Por isso que eu estou aqui pedindo desculpas —Remus sabia que Sirius não estava mais chateado, estava apenas sendo o Sirius que sempre foi: dramático e exagerado.
— Sim, sim. Mas desculpas são só palavras.
— Só palavras, Padfoot? — o olhar de Remus foi atraído pelo incomodo brilho da lua na janela e permitiu se distrair observando o céu estrelado de Londres — Sabe, Sirius, eu sei que seus pais lhe deram o nome da estrela mais brilhante da constelação de Órion, mas não é por isso que você precisa ficar querendo chamar tanta atenção o tempo todo.
— Chamar a atenção o tempo todo, Monny? — Sirius falou com um falso tom de indignação que foi notado pelo licantropo — Você fica me magoando sucessivamente e depois ainda fala que chamo a atenção? Aliás, não tenho culpa nenhuma se eu sou destinado a ser o mais brilhante do universo.
— Da constelação de Órion, Sirius. Não exagera! O universo é muita coisa.
— Agora sim. Estou profundamente magoado, Lupin.
— Sirius Black, dentre todas as estrelas da constelação de Órion, não, dentre todas as estrelas do universo, está melhor assim? Eu encontrei você brilhando no céu e eu escolhi você pra ser meu melhor amigo, porque você me aceitou do jeito que eu sou e porque você precisa de alguém responsável ao seu lado. Eu consigo suportar mais de um milhão de luas cheias, Padfoot, mas seria bem mais fácil se você ficasse ao meu lado, por isso eu preciso que você fique aqui em segurança, entendeu?
— Monny, isso foi golpe baixo. Depois de você ter dito tudo isso eu não tenho mais o direto de continuar com a minha peça digna daquele escritor trouxa que você vivia falando, como é mesmo? Shapsperry?
— Shakespeare, Sirius. E sua peça acabou, ok? Agora vamos descer para jantar, está bem?
— Ok, Remus. Ah, me desculpe por —a frase de Sirius foi interrompida por Remus.
— Não precisa se desculpar, Padfoot.
— Preciso sim, Monny. Porque eu sei que eu sou meio impulsivo e que, às vezes, eu deixo de pensar nas consequências. Além do mais eu sei que a lua cheia está chegando e que esses dias são complicados pra você.
— Tudo bem, Padfoot. Eu te desculpo.
— E, Monny, olha, tá vendo aqui? —disse Sirius apontando para a tatuagem de seu ombro esquerdo— Vai ser assim agora: eu vou acompanhar você sempre.
— Obrigado, Sirius. Vou acompanhar você sempre também. —Remus falou e pensou que, por mais que as coisas pudessem não ser fáceis, talvez tudo pudesse melhorar.
FIM
N/A: Essa fic foi originalmente escrita pro projeto DROP A LINE do fórum ledo engano ano passado (Junho,2013). Eu tava lendo ela ontem de madrugada e achei que valia a pena arrumar/mudar algumas coisas e então aqui está.
