Nota da Autora:
Finalmente, terminei o primeiro capítulo, essa história é diferente de outras que já escrevi, em primeiro lugar porque tem a intenção de ser longa. Este primeiro capítulo tem 17 páginas, em geral , as minhas histórias não ultrapassam dez páginas no total.
Em segundo lugar, a história acontece oito anos após a Guerra do Anel. E todos os personagens estão envolvidos.: hobbits, elfos, anões, homens de Rohan e de Gondor. E claro, flashbacks daqueles que amamos, e já partiram.
Prepare-se porque seguindo os exemplos das minhas queridas Sadie e Nimrodel, eles irão passar por poucas e boas.
Não é culpa minha! Eles se escrevem sozinhos. O que posso fazer?
Meus agradecimentos para a Giby, Sadie, Nim.
Annie - estou acompanhando sua história.
Deixe com vocês o mundo da Terra-Média.
Se você partir ...
Capítulo 1 – Aqueles que partiram...
O dia não havia rompido a escuridão da noite; o perfume das flores invadia a casa branca e vazia e o silêncio apaziguador reinava naquele local afastado.
Era o segundo mês do oitavo ano da Quarta Era, o rei voltara a Gondor, e sua mão forte e generosa guiava os homens, a Sombra caíra, mas os homens, hobitts, anões e elfos haviam aprendido sua lição.
A Sociedade do Anel os ensinara: o mal estava sempre a espreita, contudo o elo entre eles diminuiria seu poder. Honra e amizade moravam em Gondor.
E espalhando-se pela Terra-Média, o rei Elessar e a rainha Arwen guiavam a nova Era, para novos destinos.
O laço entre os súditos e o casal real ia além do respeito, atingindo o coração dos citadinos. As portas do palácio branco estavam sempre abertas.
E todos sabiam que o Rei Elessar era o primeiro a acordar e o último a se retirar. Contudo ele nunca estava cansado e a sabedoria podia ser encontrada em cada uma de suas palavras. Do guardião, o rei Elessar guardara o hábito de nunca fazer promessas, palavras vãs não saiam de seus lábios. E seus amigos eram recebidos como reis.
Oito anos de paz após a terrível Guerra do Anel, um mundo sendo reconstruído, pois a maldade de Sauron havia ferido a terra. E os sobreviventes de todos os povos salvaram e reconstruíram o que podiam.
Entretanto, todos tinham cicatrizes dos anos de horror.
Todos.
Ele girou o corpo com destreza, o véu da noite cobria seus olhos, mas o homem conhecia sua terra. Saltou e mirou, veloz e antes mesmo de sua escrava trazer o alvo, ele sabia ter acertado.
Meu senhor – disse a mulher, cujo os cabelos eram escuros como a noite, e pele alva como a luz da lua escondida atrás das nuvens, trazendo o escudo de madeira com a flecha certeira no alvo.
Sim, sim, Briane, eu acertei! – E jogou o alforje de flechas para a mulher carregar; seus passos rápidos, era acompanhados pela escrava, sem queixas. – Logo, Briane, meu plano será colocado em ação. Depois de tanto tempo, finalmente, poderei retomar o que me pertence.
A escrava apenas concordou com a cabeça. Há dias seu senhor estava animado com seus planos. Depois do ódio dos primeiros anos, quando encontrou um mundo diferente do que esperava, ele havia concebido um plano. E dia após dia, desde então cuidava de cada detalhe. Ele estava feliz, Briane sabia, mas seu sorriso nunca chegava aos seus olhos frios. E seu rosto bonito, o rosto pelo qual ela se apaixonara, desconhecia a compaixão e o amor. O rosto de seu senhor demonstrava apenas ódio e desejo. E em breve, ela esperava, paz, quem sabe, consolova-se Briane, quando sua vingança estivesse concluída; seu senhor encontraria a paz, e finalmente aceitaria seu amor por ele. Até então, ela estaria ao seu lado.
Briane, está noite você irá me servir – disse ele, com a voz carregada de desejo e autoridade.
Sim, senhor – respondeu ela, acompanhando o passo veloz dele; e tentando ajeitar seu cabelo, seu senhor nunca olhava para trás. Ela tinha de correr para alcança-lo.
Você é parte importante no meu plano, Briane, não erre! Não me faça castigá-la! – exclamou ele, temperando suas ordens.
Seu senhor estava mesmo animado, Briane diria estranhamente feliz. Quando finalmente venceram a distância e entraram na casa bela e vazia, os temores da escrava aumentaram, a sala estava cheia de convidados. Alguns de seu próprio povo, os haradrim, outros antigos servidores do Inominável. O olhar deles a atingiu: um olhar cheio de malícia, mas apenas por um momento, logo voltaram a discutir. E o assunto, Briane ouviu sem surpresa, era o Rei Elessar e seu amigo o Rei Éomer. Seu senhor, passou a largo dos homens, ele gostava de ouvi-los, e colher notícias, sua casa era distante, da cidade branca. E seu senhor sabia de tudo.
Não adianta – rosnou um orc, - as fortalezas estão protegidas. Aquele Pele branca intulado rei, percorre as terras com frequência, sua arrogância nos fere, ele ostenta sua amizade com o rei Elessar.
O homem, ao lado do orc, levantou e gritou:
Cale-se, como ousa pronunciar o nome do filho dos elfos, ele tem poderes que nenhum homem deve ter, casado com a feiticeira élfica.
Enquanto guardava o alforje, Briane viu um sorriso brincar no rosto de seu senhor. Ele desdenhava da ignorância e do temor que os orcs e haradrim sentiam a respeito do rei. Seus olhares se cruzaram, e ele fez um sinal para que Briane se aproxima-se.
O que ela fez sem hesitar.
Sim, meu senhor. – disse, sempre com a voz baixa.
Vire-se, Briane. Ela obedeceu. Como sempre.
Ele a enlaçou por trás, e com uma das mãos ergueu seu rosto,fazendo-a olhar para a sala enquanto murmurava em seu ouvido.
Veja, Briane – disse, apertando-a contra seu corpo, - todos eles me ajudarão a realizar meu plano. Em fato, eles já começaram seu trabalho. Tolos! todos eles nasceram, para me servir – e mordiscou o pescoço dela, - como você, Briane.
A escrava suspirou. Ela o amava tanto.
Suba, Briane e me espere, vá e pare de prestar atenção naquilo que não lhe diz respeito. – Ele girou o corpo dela para frente, segurando o rosto da escrava com rispidez. – Só as minhas ordens interessam, Briane. Agora suba, tenho um presente para meus ...hum, amigos.
A escrava subiu as escadas da casa branca e vazia de móveis e quaisquer recordações. Teria irritado seu senhor?
Essa era a sua única preocupação. Há muitos anos vivia com ele. Desde que seu senhor a comprara. Ela tinha apenas quatorze anos,e seu senhor estava cheio de ódio pela forma que fora tratado em sua cidade natal. Sozinho, ele tomou Briane como escrava, e desde então ela cuidava dele. Briane não tinha memórias de sua família.
Seus pais, morreram em uma luta com os orcs, e às vezes, surgiam fragmentos em sua mente de sua mãe. Como ela, sua mãe tinha cabelos negros, mas seus olhos eram ternos, e Briane podia jurar, ao menos em seus sonhos que sua mãe falava palavras em élfico. Mas era apenas um sonho. Aos dezoito anos, após muito trabalho como escrava, seu senhor pareceu notar seus encantos. Briane, jovem apaixonada, não se queixou quando estiveram juntos pela primeira vez. A decepção chegou pela manhã, quando ele continuou a tratá-la do mesmo jeito, como uma escrava. Essa magóa perdurou em seu coração durante vários meses, quando ele a quis novamente, Briane se negou. Fato do qual ela se lamentava até hoje. Seu senhor a castigou severamente. Assim, Briane entendeu, entre as palavras e a dor que seu senhor lhe infligia, ele era superior a ela. A escrava concordava quando ele dizia ter salvado a sua vida. Pois seu senhor a salvara. A vida entre os haradrim era ainda mais severa. Com ele, ela viajou pela Terra-Média, conheceu vários povos diferentes. E apenas poucas vezes, ele voltou a bater nela. Nos últimos anos, seu senhor passou a falar com ela, com mais carinho, e sempre pedia para estar com ela. Dividia seus planos. Contudo, nunca perguntava sua opinião.
Briane aprendeu seu lugar, e satisfazia-se com aquilo que lhe era ofertado. Seu senhor a desejava. E isso era o suficiente.
Alguns de seu povo vieram lhe falar de liberdade, de fuga. Ela os enxotara. O que alguém poderia saber sobre seus sentimentos, seu amor pelo seu senhor?
A lua afastou-se das nuvens, permitindo a claridade invadir o quarto. A escrava estudou o rosto de seu senhor: um rosto bonito, seus cabelos loiros caía-lhe nos olhos. Havia realeza em seu senhor, ele era um homem que os outros seguiriam, mas seu coração era negro. Ela sabia de seus pensamentos ditos tantas vezes em voz alta: "Eu odeio os fracos. O meu inimigo é fraco. E eu vencerei. Seu inimigo, o fraco, traíra sua nação em cada atitude. Sua compaixão, em sua amizade com o Mithrandir, em seu casamento, com a mulher inferior". Contudo o crime que seu senhor não perdoava era a entrega da sua cidade ao rei Elessar.
"---Faramir, Faramir, seu traidor! Covarde!" – as palavras eram cuspidas, cheias de ódio e despeito, em seu coração de mulher, Briane suspeitava de um outro motivo ainda oculto para ela. Ao perguntar, seu senhor a esbofeteara, e replicara que a covardia do Príncipe de Ithilien era suficiente para o ódio de toda a Gondor. Em seu sono, o seu senhor a tocou com gentileza, mais uma vez, Briane suspirou, ele era possessivo em seu toque e suas palavras eram sempre dissimuladas. Eles estavam ligados, e a escrava sabia disso. Ao sentir o luar pálido em seu corpo nu, Briane questionou o estranho destino que ligasse a felicidade de seu senhor, e conseqüentemente a dela, a vingança e a morte de um homem.
Havia a promessa de um amanhã melhor, quando a vingança do seu senhor estivesse concluída. Quando o príncipe de Ithilien estivesse morto.
Emyn Arnen estava em festa, a cidade estava radiante, cheia de alegria, os citadinos felizes preparavam os últimos detalhes, e muitos convidados chegaram mais cedo para ajudar Lady Éowyn com a recepção. Desde a morte do rei Théoden, não havia convidados tão ilustres; além de Minas Tirith. Os jardins de Ithilien exalavam um perfume adocicado, até mesmo as flores estavam felizes. A casa branca do príncipe de Ithilien mesclava a realeza da Torre Branca e o conforto singelo do Palácio Dourado – Meduseld.
Éowyn era vista agitada, coordenando soldados e recepcionando convidados. Ela havia trocado o seu habitual vestido branco pela cor pérola; e seus cabelos dourados soltos estavam presos em uma longa trança. E sua beleza tornara-se luminosa desde seu casamento com o Regente de Gondor. Seus olhos brilhavam felizes, e buscava todo momento por Faramir, seu esposo, que decidira finalizar seu presente na última hora.
Seu sorriso alargou ao ver Merry e Pippin à mesa, servindo-se sem qualquer cerimônia, ao lado de um reservado Samwise, as famílias de seus mais queridos amigos encontravam-se nos Jardins de Ithilien, impossíveis de ficarem quietas, com as crianças hobbits correndo e rindo ao lado do filho do rei, Eldarion.
Quando sentinela aproximou-se de Éowyn, ela não pode apagar o sorriso. A mancha amarela no uniforme do sentinela revelou: novamente ele fazia parte da brincadeira.
Bergil, onde está meu filho? – perguntou, tentando parecer séria.
O filho de Beregond, em seus dezoito anos, era um rapaz tão bonito quanto sério, os anos de peraltices voltavam apenas quando estava com o filho da Senhora Branca, leal e responsável como pai, pareceu embaraçado, e levemente corado ao responder.
Lady Éowyn, eu peço desculpas pelo meu aspecto. Mas seu filho decidiu brincar de caçador. E bem – Bergil, totalmente sem jeito – fui escolhido como caça.
Éowyn ampliou o sorriso, e tirou de seu bolso um lenço, limpando a mancha amarela do uniforme do sentinela.
Não peça desculpas por amar meu filho, Bergil. – o rapaz correspondeu com um sorriso. – O presente dele está devidamente escondido, Bergil? O filho do rei é extremamente curioso, junto com as crianças hobbits e meu filho – seus olhos buscaram os Jardins, preocupada - , enfim, será o fim da minha surpresa.
Não se preocupe,milady, a filha mais velha de mestre Samwise, está nos ajudando, Elanor tem muita influência sobre as outras crianças.
Éowyn suspirou satisfeita. ---Uma criança abençoada, com certeza.
Concordo, milady. Vou voltar para junto das crianças.
Quando Bergil começou a se afastar, Éowyn o deteve.
E meu marido, Bergil ? – perguntou a senhora de Emyn Arnen com uma nota de preocupação.
Na oficina, milady. Não se preocupe, meu pai está com ele. Com sua licença, milady. – e com o aceno de Éowyn, ele se afastou.
Éowyn viu o jovem Bergil se distanciar, mas seus pensamentos se voltaram para o esposo. Havia semanas que Faramir trabalhava com total afinco no presente do filho. Sete anos. Seu querido filho completava naquele dia. Desde as casas de cura sua vida mudara, para ela, Éowyn de Rohan que tantas vezes implorara a mudança, quando finalmente ela chegou em sua vida, havia transformado tudo veloz e sem pedir licença, certa do convite que aceitara. O que ela pensava de si mesma, em suas dores, e desilusões, e quando pensou na paz que encontraria ao lado de Faramir, a sua vida mudou ainda mais. Até amar Faramir, ela tolamente acreditara que o amor significava paz infinita. Ela não podia estar mais enganada.
A felicidade que encontrara ao lado do esposo tinha sido diferente das idéias vãs da moça de Rohan, o amor dele aquecia sua vida e liberava uma paixão que ela desconhecia existir nela. As noites acordadas, as discussões pela diferentes criações, pois apesar de sua natureza gentil, Faramir tinha pontos de vista dos quais não abria mão, e ela brigava, e como ela adorava brigar com ele, depois de anos zelando em sua casa em Meduseld pela paz contra Saruman e tentar manter-se imune ao veneno de Gríma, naquele momento ela podia brincar e brigar, sem temer por Éomer, seu tio Théoden, e por Theódred, não, nunca poderia se esquecer do primo!
Contudo, ela sempre contradizia Faramir, pelo simples prazer da batalha, e ela adorova a reação dele, ele brincava com ela, era seu parceiro nesse lugar descontraído sem tantas dores e tristezas, mas às vezes, ela errava o alvo. E o feria. Nesses momentos, Éowyn odiava pela sua impulsividade, sentia o ar rarefeito quando ele se afastava. E uma tristeza profunda. E sua alma se iluminava em uma alegria radiante ao vê-lo voltar.
E havia os dias inesquecíveis, parte da história construída por ambos da escuridão inescapável onde se deu o primeiro encontro deles até a visita a Henneth Annûn... Sim, o lugar sagrado para Faramir e para ela.
Após uma visita ao rei Elessar, Faramir chegou em Emyn Arnen, misterioso alegando uma surpresa para ela.-Um leve rubor surgiu na face de Éowyn, ao lembrar-se deste dia.
Ela seguiu o marido, orgulhosa; esperando encontrar honrarias, presentes, mas nada a preparou para o presente de Faramir. Ele dispensou seus cavaleiros, apesar de Éowyn saber da presença discreta de Beregond em uma distância segura.
E Faramir a levara até Henneth Annûn, para o ídilio: a beleza deslumbrante, o perfume das águas. E as palavras de seu esposo. A entregar completa de ambos.
Quando meninos, Boromir e eu, costumavámos fugir até os nossos pés encontrar esse local. --- disse Faramir, com saudade na voz e enquanto seus olhos estavam presos pela força da água.
E seu pai não se zangava? – perguntou admirada, pois naqueles primeiros meses de casamento, Faramir pouco falava do passado, embora Éowyn pudesse muitas vezes ler em seu olhar uma janela entre os tempos.
É proibido caminhar por essas terras, Éowyn, até mesmo em nossos dias, mas Boromir estava comigo, e meu pai nunca se zangava com ele. – Faramir confessou, tranquilo contudo Éowyn podia jurar que ouvira uma nota de dor.
Sente falta deles, não é? – Éowyn conhecia a resposta daquela pergunta. Ela mesma sentia saudade de seu tio e de tantos outros perdidos na temível Guerra.
Sim. – mas ele se voltou para ela, e nos seus olhos não havia tristeza, apenas gentileza e paixão, mesclados, em uma combinação forte que roubava seu fôlego. – Eu não trouxe aqui para falar do passado, Éowyn. Nem de tristezas. Nós, Boromir e eu, amavámos Henneth Annûn, pela liberdade e ao mesmo tempo, o esconderijo, desta paisagem. Liberdade e esconderijo. – Faramir a fitou com seu olhar límpido e acinzentado; - Você é como este local. Tão bela e livre entretanto com tantos segredos escondidos em sua alma. Nunca conte todos para mim.
Éowyn sorriu para aquele Faramir, que expulsava a saudade trocando-a pelo desafio e pelo amor.
Você irá desvendá-los, eu suponho. – Éowyn aproximou-se, enlaçando o esposo.
Um a cada dia. Durante todos os nossos dias. – murmurou ele.
Não ficará aborrecido? – ela entrou no jogo dele.
Nunca, Éowyn.
Quando ele a beijou, o passado estava esquecido; apenas o calor e toque das mãos dele importavam.
Eles haviam escapado da escuridão, juntos. Ela queria dizer a ele, como ele também fazia parte da liberdade. Contudo, não era o momento de palavras.
Semanas depois, Éowyn descobriu-se grávida, e a felicidade de Faramir, estava além de qualquer palavra conhecida, Henneth Annûn tornou-se ainda mais amada que as Casas de Cura; em Annûn, eles haviam deixado o passado para trás, pois Éowyn e Faramir, nunca houve dúvidas que naquele dia Ecthelion havia sido concebido.
Éowyn percebeu que a janela do tempo, mesmo aquele momento precioso, estava roubando algo ainda mais importante: o presente; com passos decididos seguiu até a oficina, era momento de Faramir entregar seu presente, e voltar-se aos convidados, e para ela, sempre para ela.
Ela o viu deixar a oficina, com satisfeito consigo mesmo, e aquilo só aumentou suas suspeitas, sobre o presente do esposo.
Faramir?
Acompanhando de Beregond, ele sorriu, desafiador. E Éowyn soube que ele iria iniciar o jogo.
Éowyn, está linda. – e ela se sentiu mais bela, apenas ele conseguia fazê-la se sentir daquela forma.
Tentando despistar, homem de Gondor! – as brincadeiras começavam assim, entre ele era homen de Gondor e ela a senhora de Rohan;- Qual o seu presente de Ecthelion?
Beregond riu baixinho, eles pareciam duas crianças travessas.
Faramir olhou para Beregond, conspirador:
A senhora de Rohan está com ciúmes do meu presente, Beregond.
O leal sentinela; Beregond, não ousou rir, a brincadeira pertencia ao casal, e apesar de ter o respeito daquele a quem amava. A fúria da princesa de Ithilien não tinha precedente. Não seria sábio tomar partido.
Convencido. E seu reinado terminara quando Ecthelion ver o meu presente! – Beregond sabia de qual "reinado" , a princesa falava, o pequeno menino venerava o pai. Independente do local onde Faramir estivesse; Ecthelion o seguia. O amor do menino pelo pai corria da admiração para o respeito, do respeito para lealdade. O infante demonstrava sinais de que seria honrado e leal ao pai. E Beregond ficava feliz com os caminhos do destino, pois Faramir já tivera sua parte de desamor em sua vida. E olhando para a Lady Éowyn, mais uma vez a amou: sua senhora era impetuosa e muitas vezes agia como criança - aos seus olhos de soldado - mas cada atitude dela orientada pelo amor ao marido e ao filho. E aqueles anos eram de alegria.
Com o próximo não terá tanta sorte, Faramir. – exclamou ela.
Próximo? Senhora de Rohan, ficaria feliz em atender seu convite, mas temos convidados. – ele exclamou com voz controlada, mas em seus olhos lia-se a divertimento e felicidade.
Éowyn ergueu os olhos, revelando exasperação, presa na armadilha da brincadeira que criara. Daquela vez ela tinha perdido, mas o dia era longo. E Faramir teria sua resposta.
Convencido. – exclamou, girando os calcanhares.
Faramir olhou para Berengond, satisfeito.
Ela é linda, altiva. Eu a amo tanto, Beregond.
Eu sei, senhor.
Pode levar o presente para mim? – perguntou respeitosamente, há muito eles eram amigos.
Claro, senhor, se correr ainda a alcança! – opinou Beregond.
Obrigado, amigo.
Em passos largos e rápidos, Faramir a alcançou. E ele conseguia ouvir as vozes dos hobbits animados, e os risos das crianças, Eldarion, incansável, mais uma vez narrava histórias, e os gritinhos impressionados de Elanor eram abafados pela voz admirada de seu filho, Ecthelion.
Suas mãos encontraram as da esposa. Aquele momento seria o único apenas para eles, durante a festa.
Eu a feri com as minhas brincadeiras, Éowyn? – a pergunta tinha o tom do passado, pois ambos tinham sido preteridos, e aquela marca, eles carregariam, ela acreditava para sempre.
Você irá me ferir, apenas se você partir, Faramir. – ela acrescentou.
Então nunca mais será ferida, Éowyn.- Ele levou as mãos da esposa até os lábios. Em uma promessa. Uma promessa que ele não poderia cumprir.
O momento esperado estava distante, e as crianças brincavam com sua energia inesgotável, as aias revezavam-se e por vezes, levavam as crianças para trocar de roupas, o que elas faziam com velocidade impressionante. Ansiosas para retornar a brincadeira, o pequeno Frodo, assim como o primeiro; portador de uma natureza inteligente e dócil, em seus cinco anos, possuía uma alegria contagiante, e estava ao lado da irmã Elanor, a bela. Merry, apesar de seus três anos, tinha o fôlego de um menino de sete, e admiração ao filho do rei. Rosa tentava acompanhar as outras crianças, e suas quedas eram atenuadas pelas mãos fortes e seguras de Bergil, o sentinela estava sempre presente, a filha de Samwise brindava o jovem com seus sorrisos infantis. Contudo a dupla terrível em suas artes e capazes de transpor qualquer barreira: Eldarion e Ecthelion. O belo filho da rainha Arwen detinha a energia do amanhecer cobiçando a sabedoria da tarde. Todas as frases terminavam com um ponto de interrogação. E em toda Gondor, o jovem príncipe perguntava e conquistava, Eldarion era comparado ao frescor da manhã. Curioso; astuto; uma criança ativa; arteira, contudo nunca em suas atitudes havia desrespeito, ou grosseria. Impossível dizer não a ele. Os olhos azuis do menino brilhavam de curiosidade e capacidade de amar.
A luz da Estrela Vespertina e a nobreza do rei Elessar, o menino era a promessa do amanhã e o amanhã seria magnífico.
Ecthelion herdara os cabelos loiros da mãe, e os olhos cinzentos do pai, e nas palavras de seu tio Éomer, era um verdadeiro homem de Rohan, amava os cavalos e conversava com eles. Brincava com espadas, e dizia que elas seriam suas aliadas para defender sua família e seu rei. O seu rei em suas palavras era o pequeno Eldarion.
O pequeno guerreiro amava acima de tudo seu pai. Tinha o dom de encontrar Faramir, nos locais mais secretos, e assim como seu amigo Eldarion, as palavras de repreensão do pai detinham mais orgulho e afeto do que zanga.
Quando Faramir o levou a Gondor, muitos de seus conhecidos lhe disseram aquilo que seu coração já sabia. O pequeno era exatamente como Boromir na infância.
O amor às armas e ao pai. O destino havia encontrado uma forma de devolver um pouco de Boromir em seu amado filho. O filho de Faramir que amava o rei e serviria o filho dele.
Ao passar entre as crianças, desajeito, Bergil terminou por derramar o líquido do copo próximo à dama alta e bela. Vestida de dourado, os longos cabelos estavam presos pela presilha da mesma cor de seu vestido, os olhos profundamente azuis, e os gestos dela delicados, e cheios de graça, Bergil sentiu mais uma vez o embaraço, ele estava diante da mais bela mulher que vira. E a beleza dela ofuscava até mesmo a sua razão. Ela era poesia em movimento. E Bergil, fascinado, neste primeiro e impossível amor.
Ela piscou, acalmando o rapaz, acreditava ser apenas a admiração pelo reino de Gondor o que lia nos olhos dele, um rapaz qualificado e gentil, ele tentava dar conta de várias infantes, quando apenas o seu era o suficiente para roubar sua energia. Seus olhos voltaram para as crianças, em suas brincadeiras, Merry, o filho mais jovem de Samwise, mas não último, devido a evidente gestação de Rosinha, e a voz poderosa e gentil de Elanor se elevou.
Arwen sorriu, os adultos não tinham o menor efeito sobre as crianças, mas bastava uma palavra de Elanor que todos obedeciam. A filha de Samwise tinha combinado a sabedoria do pai com a força da mãe. Contudo, havia algo nela, que partia o coração de Arwen. Os cabelos dourados e voz poderosa.
A rainha expulsou esses pensamentos, apenas para encontrá-los novamente em seu filho. Aliado ao filho de Faramir, eles brincavam e provocavam a pequena Rosa, e essa visão foi tão familiar que ela teve de encostar-se na cadeira branca.
Elladan e Elhorir, seus queridos irmãos.
Uma cena do passado, quando ela buscava atenção de seus queridos irmãos e eles fingiam não dar notá-la; mesmo naquela época ela sabia o quanto eles a amavam.
Ela fixou seu olhar em Elanor, os cabelos dourados, ela lembrava uma donzela élfica, como sua mãe e sua avó. Sentada, e admirada com o passado que voltava, Arwen bebeu do cálice amargo das lembranças. Ela sentia saudade deles, consciente da sua escolha, Arwen sabia que não faria nenhuma outra, contudo o sabor daquele estranho vinho amargo tentando corroer sua alma forte, seus irmãos e seu pai, as memórias, doces momentos, agora capazes de abrir feridas e uma lágrima furtiva, lágrima de uma mulher forte, a única lágrima com uma história amarga para contar.
A agonia dilacerante foi passageira, pois uma nova imagem ganhou espaço: o príncipe e a princesa de Ithilien conversavam com Elessar, e olhos da princesa buscavam os olhos de Faramir, um olhar repleto de amor e integração. O olhar dos amantes.
E desta vez, Arwen bebeu do cálice doce do amor, pois Estel, o seu Estel tinha sido o caminho daquele casal se encontrar, perdidos eles estavam e agora juntos, pela eternidade. Sentindo o seu olhar e a talvez sua confusão, o Rei Elessar olhou para ela, diretamente para ela, e desta vez, ela recebeu o olhar do amante. "Estel! Estel!" – clamou sua alma apaixonada- , "eu faria tudo de novo, mesmo sabendo dos cálices doce e amargo, os cálices que regiam sua vida".
Legolas observava a Rainha Arwen, ele podia entender as emoções dominantes no coração dela.
Confortava-o vê-la, amada e a Grande Rainha que ela era. Ao lado de Estel, ela dispunha seu tempo, seu cuidado e talento para fazer a Terra-Média voltar a viver, e respirar, depois de tanto ódio.
Eles haviam conseguido tanto. Juntos, Luz e Esperança guiavam para uma nova Era, eles tinham um longo caminho pela frente, mas a força curadoura passava demonstrar seus frutos. A Terra-Média renascia.
Rainha Arwen, eu também sinto falta deles, - disse em voz alta, os pensamentos da sua Rainha.
Arwen voltou a sua atenção para Legolas.
Arwen, ainda somos parentes, lembra? – a Estrela Vespertina o corrigiu, com seu belo sorriso satisfeita por vê-lo.
Legolas curvou levemente a cabeça, e Arwen não disse mais nada, sabia como o príncipe de Mirkwood respeitava as linhagens.
Olhe para sua esquerda, minha rainha, veja as crianças brincando – Arwen o atendeu, a alegria contagiante das crianças, seu filho, as crianças hobbits. – Eles são presentes, rainha, a sua escolha e a escolha de Estel tornou o destino deles possíveis, e teremos um futuro. Devemos muito a vocês.
Arwen ruborizou, ele nunca emitira nenhuma opinião sobre sua escolha, amigo tanto de seus irmãos quanto de Estel, a rainha de Gondor sabia do amor e respeito filial que Legolas sentia pelo seu pai, Lorde Elrond. Ele mantivera-se discreto no impasse de sua escolha, e suas palavras nunca foram venenosas ou julgadoras, contudo ele pode sentir a dor dos seus, Arwen soubera disso, e lamentava tanto quanto ele, e agora ele se pronunciava, grato e reflexivo, a surpresa roubou suas palavras.
– Legolas!
Se você partisse, talvez tívessemos um rei, contudo seria um rei de coração partido, Estel seria justo, nobre, mas nunca grandioso, como ele é ao seu lado. Ele foi criado pelo seu pai, Arwen, com Elladan e Elhorir. Talvez ele também morresse de coração partido. Como um elfo, como nós.
A Estrela Vespertina recompos-se, as palavras de Legolas detinha uma perspectiva ao qual ela nunca tinha imaginado.
Ele ficaria bem! – consolou-o Arwen.
Você ficaria? – Legolas não se deu por vencido, sabia que ambos dividiam a mesma alma, em um pequeno capricho dos Valar!
Arwen fechou os olhos, fazia parte de sua natureza élfica, viver bem e feliz, mas teria vivido feliz em Valinor, se houvesse desistido de Estel? Em seu coração, só havia uma resposta.
Legolas, como posso agradecê-lo? – As palavras do guerreiro da Sociedade tiveram o poder de mostrar uma outra realidade. Um mundo sem ela. Como seria deixar de existir na memória de outras pessoas. Tinha apenas uma certeza, Estel nunca a esqueceria. E talvez Legolas estivesse certo. Talvez o amor de ambos estivesse destinado desde o príncipio pelos Valar, não pensando apenas neles, mas naquela terra graciosa.
Você está aqui, minha rainha. – Legolas sorriu, um sorriso diferente, agora, um sorriso aproveitando o momento sem pensamentos sobre o passado ou o futuro. Apenas o presente.
Recuperada em seu humor e vestida pela fé generosa de Legolas, Arwen buscou as crianças em seu olhar.
O momento se aproximava. A Hora dos Presentes. Ela e Estel havia separado o presente do pequeno Echtelion, contudo, seu filho misteriosamente dizia, já ter o presente do amigo definido.
Arwen confessava-se curiosa. O que Eldarion ofertaria ao seu amigo? O último presente elaborado pelo filho havia sido um pássaro, no ano anterior, Ecthelion tivera a chance de acariciar as penas do novo amigo apenas uma vez, e este vôo longe, e nunca mais fora visto.
Se o filho de Faramir, ficou decepcionado, não demonstrou, contemporizou alegando que encontraria o pássaro quando estivesse a serviço do Rei. O impasse foi resolvido com risadas e alegria.
E sua curiosidade aumentava, seu filho estava misterioso, quase tão misterioso quanto os pais do menino e Gimli.
E Gimli, Legolas?
Honestamente, eu não sei, passou os últimos meses trabalhando, sem parar, enfatizando ter uma encomenda de sonhos. O que um anão pode chamar de sonho. Eu não sei.
Arwen riu do falso tom magoado de Legolas, como todos era conhecedora daquela amizade tão rara, quanto inesperada, e havia se tornado amiga de Gimli. Ao vê-la, ele dizia ver a Tarde da mais bela Manhã. Seus modos a cativaram e ambos eram recebidos em Gondor com tanta supresa quanto alegria, afinal , cavaleiros leais estavam sempre ao lado de Estel.
A música suave, chamava-os para a Hora dos Presentes. Arwen viu os convidados se aproximarem e a agitação das crianças.
Sam Gamgi ficou parado no mesmo lugar. Estava feliz, contudo seus pensamentos voaram para Valinor. Seu mestre estaria feliz, recebendo as honras que seu próprio povo não soubera demonstrar?
"Por que Frodo tivera de partir, assim como tantos, para haver a paz novamente, porque os seres: hobbits, homens, anões e elfos, tiveram de ver alguém amado perder-se para sempre para só então compreender que a paz era como aquele momento quando todos estavam juntos?"
Ele nunca entenderia, era um hobbit simples, contudo sábio, e ele aproveitaria aquele momento. O presente. Seus olhos pousaram na estrela ainda encoberta belo dia de sol, pensou em Frodo, e entre a lágrima e o sorriso, Sam Gamgi deixou o passado guardado no seu coração, aquele que partiram, partiram em glória, e deveria ser o suficiente, tinha de ser o suficiente.
Lady Éowyn
