Capitulo 1

Estava no Central Park, cantando e tocando meu violão, esta tem sido minha rotina desde que eu tinha 9 anos, hoje eu tenho 13 e este foi o único modo que encontrei para ganhar um pouco de dinheiro para poder comer, eu tentei arrumar um emprego, mas ninguém está disposto a empregar uma garota que além de ter 13 é morada de rua, isso não ficaria bem para imagem.

Eu moro nas ruas de Nova York desde que eu tinha 8 anos, foi um ano depois de perder minha mãe, ela vinha lutando contra um câncer fazia muito tempo, eu não me lembro direito porque eu era muito pequena. Nós éramos uma família feliz, não tínhamos luxo nem nada, mas eu me lembro de como éramos felizes. Tudo começou a desmoronar quando minha mãe morreu, meu pai amava muito mamãe, então ele não conseguiu suportar a perda. Ele perdeu o emprego, começou beber muito, não pagava as contas, até que um dia nós fomos despejados da nossa casa e passamos a morar na rua. Meu pai ficou comigo durante um ano, em uma noite ele me disse que iria procurar comida para nós e nunca mais apareceu, não sei o que aconteceu com ele, não sei se ele ainda está vivo. Eu fiquei tão assusta de estar sozinha, mas para minha sorte John um outro morador de rua que tinha a faixa de idade do meu pai, meio que me adotou, ele tocava violão, foi ele quem me ensinou. John morreu ano passado, porque um filhinho de papai resolveu que era legal andar em alta velocidade, John foi atingido na calçada, nunca encontraram o desgraçado que fez isso ou não fizeram questão de procurar porque era irrelevante, ele era só um morador de rua para eles, para mim ele era como um pai. Depois de sua morte eu herdei o violão dele e passei a tocar eu não sabia que isso me daria alguns trocados, desde então eu venho fazendo isso para conseguir me manter, as vezes, eu consigo dinheiro suficiente para almoçar, outras vezes, ou eu preciso pedir ou esperar até o dia seguinte e ver se tenho sorte de conseguir uma grana.

Meu maior sonho hoje é ir para escola, eu me considero uma garota inteligente, apesar de não ter estudo, eu me esforço bastante, eu leio livros que as pessoas não querem mais, eu consigo resolver uma conta apenas de ver exemplos, pelo menos eu tinha um dom, eu quero fazer grandes coisas ainda eu só precisava de oportunidades.

- Sua voz é maravilhosa querida – uma Senhora falou enquanto colocava 10 dólares no case do violão.

- Obrigada – falei com um sorriso.

- Às vezes eu gosto de vir aqui para te ver tocar, mas nunca tive oportunidade de falar o quão doce é sua voz e quanta calma ela pode trazer para mim.

- Uau, obrigada isso significa muito pra mim.

- Qual seu nome criança?

- Michelle.

- Onde estão seus pais?

- Eu não tenho – falei em um tom triste.

- Não? – balancei a cabeça – E você mora com quem?

- Hum! – estava um pouco desconfortável com todo o questionamento

- Você tem uma casa, certo?

- Eu moro aqui – respondi abrindo os braços para abranger o parque.

- Você não tem ninguém para cuidar de você?

- Não, minha mãe morreu quando eu era nova e meu pai desapareceu, eles eram filhos únicos, então acho que estou sozinha mesmo – um sorriso triste apareceu em meus lábios.

- Todo o dinheiro que você ganha é através disso? – ela falou apontando para meu violão.

- Sim, eu tentei um emprego, mas ninguém parece se importar o suficiente, eu preciso ficar um pouco mais velha para ver se consigo trabalhar pelo menos em uma lanchonete ou varrer a rua, tanto faz.

- Quantos anos você tem?

- 13 anos – ela parou pensativa

- Ok. Vou te fazer uma proposta – falou olhando para mim – Eu quero que você trabalhe para mim, eu tenho uma casa grande e seu trabalho seria limpar a piscina manter o quintal e o jardim limpo e quando alguém da casa precisar, você teria que ajudar também. O que você me diz?

- É claro que eu aceito, muito obrigada – falei muito animada fazendo ela rir – Mas porque a Senhora está fazendo isso por mim, você nem me conhece.

- Porque eu sinto que você é uma boa pessoa Michelle, e eu quero ajudar – meus olhos começaram ficar molhados e ela percebeu – Não chore criança.

- Obrigada – falei com a voz embargada.

- Tem mais uma coisa – olhei para ela curiosa – Você não vai morar na rua mais, tem uma casa dentro das minhas dependências afastada da casa principal e ninguém usa, ela é pequena mas acho que vai servir para você, todos falam que eu preciso demolir mas ela tem um valor sentimental pra mim e finalmente ela terá utilidade novamente – quando ela terminou de falar eu não agüentei mais e deixei as lágrimas transbordarem pelo meu rosto.

- Eu vou te compensar por isso, eu prometo, a Senhora não vai se arrepender – tentei enxugar as lágrimas, mas quanto mais eu tentava, mais elas caiam.

- Estou feliz em ajudar – ela sorriu – Vamos, meu motorista está esperando na entrada do parque, eu espero você pegar suas coisas.

- Tudo o que eu tenho está aqui – falei um pouco constrangida.

- Ok, então vamos lá – peguei minhas coisas, coloquei meu violão no estojo e a segui – Tem mais uma coisa, agora que você vai morar no meu quintal, seu trabalho vai envolver você cantar e tocar para mim com freqüência - ela disse sorrindo para mim.

- Eu faço isso de graça com todo o prazer – falei sorrindo – Desculpe, eu fui muito rude, mas qual o nome da Senhora?

- Marta – falou sorrindo.

- Ok. Desculpe Sra. Marta, é que eu fiquei tão empolgada e emocionada que eu me esqueci de perguntar antes.

- Não tem problema criança.

Ela me levou até o carro, e deixem me dizer QUE CARRO, eu estava com vergonha de me sentar naquele banco, porque eu sabia que estava suja, mas Sra. Marta me disse que não tinha problema. Trevor o motorista nos levou até sua casa. Eu não conseguia ficar com a boca fechada, era uma mansão, eu já tinha visto casas assim na televisão quando era criança eu nunca imaginaria que eu um dia entraria em uma.

- Tudo bem? – Sra. Marta perguntou depois que viu minha expressão.

- Sim – ela sorriu.

- Estamos aqui, venha vou pedir para alguém te mostrar a residência.

- Vovó, onde a Senhora esteve? eu estava preocupada – veio uma garota loira, alta e magra e muito bonita também.

- Eu estava apenas dando uma volta Gigi.

- A Senhora não levou o celular de novo – neste momento ela percebeu minha presença – Quem é essa garota Vovó?

- Esta é Michelle, ela vai trabalhar conosco a partir de hoje e ela estará ocupando a casa do jardim também.

- A Senhora está falando sério, onde a Senhora a encontrou em algum lixão ou algo do tipo.

- Não seja rude Gertrudes.

- Por favor, já pedi para não me chamar desse nome – a garota arrogante falou trancando os dentes.

- Já falei para você não ser rude com as pessoas e mesmo assim você não escuta. Espero que você trate Michelle com educação porque você vai vê-la muito a partir de hoje – Sra. Marta foi se afastando – Michelle espera aqui um pouco que alguém virá para te apresentar tudo. Certo? – assenti e ela se afastou me deixando com a loira.

- Eu não te conheço e já não gosto de você, então não espere que eu seja educada com você – falou olhando com desprezo pra mim – Só minha Vó mesmo para trazer lixo para dentro de casa – ela me deu mais uma olhada e depois se afastou.

Eu tentei não me abalar muito com isso, afinal, eu estava acostumada com pessoas sendo rude comigo o tempo todo, não vou dizer que não me importo porque isso machuca bastante.

- Você deve ser Michelle, certo? – uma mulher me perguntou. Ao lado dela tinha um rapaz.

- Sim.

- Eu sou Miranda, e este é Cris. Sra. Marta pediu para te entregar isso – falou me entregando uma muda de roupa – Nós vamos te levar para onde você vai ficar a partir de hoje. Você toma uma banho e depois vamos te levar ao redor enquanto falamos algumas de suas obrigações tudo bem.

- Sim.

- Você não gosta de falar muito não é? – o rapaz Cris me questionou.

- É só porque não conheço vocês ainda, eu sou um pouco tímida, só me dê alguns dias – não estava querendo ser rude com ninguém, eu só estava um pouco aterrorizada ainda por tudo o que estava acontecendo.

- Não se preocupe – Miranda falou.

Fiquei muito emocionada quando entrei em minha nova casa, Sra. Marta disse que era pequena mas para mim era enorme. Ela tinha uma cozinha, quarto e banheiro, já tinha moveis de muito bom gosto.

Tomei banho e coloquei a roupa macia que fazia anos que não vestia algo tão confortável. Sai do quarto para encontrar os dois na cozinha me esperando.

- Vamos lá? – Cris falou.

- Vamos.

Demorei muito para conhecer a mansão, era enorme. Tinha quadras, piscina e casa da piscina, um jardim gigante, salão de jogos. Dentro da casa havia a cozinha, sala de jantar, sala de estar, biblioteca e muitos quartos. Quando eu vi a quantidade de empregados que havia na mansão eu tinha achado exagerado, claro eu guardei isso pra mim, mas depois que eu olhei tudo, a sensação era que todas estas pessoas não davam conta de tudo isso.

- Então o que você achou Michelle? – Miranda perguntou.

- Enorme, mas estou muito animada em trabalhar aqui, e com vocês – os dois sorriram.


Havia se passado um mês desde que comecei trabalhar aqui, no começo foi difícil, porque nunca tive um emprego de verdade, mas agora já estou familiarizada com tudo. Eu toco bastante para Sra. Marta, ela diz que sempre que está estressada ela precisava me ouvir para conseguir se acalmar um pouco, eu me sentia lisonjeada por causar esse efeito nela, tínhamos feito meio que um acordo, já que ela não me pagava para tocar, eu podia pegar qualquer livro na biblioteca, eu adorava ler e aprender. Sra. Marta já disse que ano que vem eu vou para escola, estou estudando muito, porque eu quero muito passar na prova, é uma avaliação que vou precisar fazer para saber meu nível escolar, eu quero muito estar no mesmo período que as pessoas da minha idade estão, por isso que estou me dedicando tanto.

Infelizmente Gigi continuava me assediando, eu sinceramente não tinha idéia o que eu tinha feito para ela me odiar tanto, os outros empregados diziam que ela era uma cadela mesmo, infelizmente pra mim, não era apenas Gigi que me odiava, mas a mãe dela também, Jéssica fazia questão de me chamar para tudo, eu já passei por muita coisa na minha vida e não será essas duas que vão me impedir de continuar.

- Como estão os estudos? – Miranda me perguntou, ela tinha 19 anos, tinha acabado seus estudos ano passado, ela tem me ajudado muito – Preparada?

- Tudo bem. E acho que sim – meu exame seria mês que vem.

- Se precisar de ajuda é só me chamar tudo bem?

- Ok. Obrigada – sorri para ela – Você tem me ajudado muito.

- Amigos são para essas coisas.

- Michelle, eu preciso de você agora – Jéssica me gritou.

- Essa cadela não te deixa em paz.

- Droga, estou na minha pausa, será que é tão importante que outra pessoa não poderia fazer.

- Mitchie, você sabe que ela só quer te irritar – Miranda tinha colocado esse apelido um par de semanas atrás, eu gostava, ela e Cris me chamavam assim e Sra. Marta também, uma vez ela ouviu Cris me chamando e achou legal e desde então ela só me chama de Mitchie se fosse outra pessoa como Gigi ou Jéssica eu ficaria irritada, mas Sra. Marta era autorizada.

- Michelle, é para hoje – ela colocou as mãos na cintura olhando pra mim.

- Já estou indo Senhora.

- Mitchie, é só você dizer que está em sua pausa.

- E agüentar o estresse dela depois? Não, obrigada – fui até onde ela estava me esperando – Como posso ajudar?

- Eu preciso que você troque os lençóis da minha cama.

- Tudo bem, algo mais? – não acredito que ela fez esse escândalo todo por causa de um lençol que nem é minha obrigação.

- Não isso é tudo, mas esteja por perto que eu posso precisar de você ainda – falou com desdém indo em direção a piscina.

- Então, o que ela queria?

- Pediu para eu trocar o lençol do quarto

- Que Vadia louca – eu me encolhi em suas palavras – Desculpa eu sei que você odeia palavrão, mas quando se trata dessas duas eu não consigo me controlar. Eu não entendo como Sra. Marta que é tão doce pode ter uma cobra de filha e depois um cobra de neta.

- Não é! Eu sempre me pergunto isso – nós rimos – Deixa eu ir antes que ela comece gritar comigo de novo.

- Ok, vamos assistir a um filme hoje na sua casa?

- Tudo bem, você traz a pipoca.

- Combinado.

Subi para o quarto da megera para trocar as roupas de cama, não foi surpresa nenhuma para mim, quando cheguei lá e os lençóis estavam perfeitamente limpos e passados, mas eu os troquei mesmo assim, eu não queria confusão.

Quando a noite chegou e depois que terminei de fazer tudo o que me foi solicitado, eu entrei em minha casa, tomei um banho e esperei Miranda chegar, ela não morava na mansão como eu. Me levantei da minha cama depois que escutei algumas batidas na porta.

- Hey, pronta para diversão? – ela falou com o saco de pipoca e alguns dvds na mão.

- Prontíssima – ela colocou o dvd. Não conseguimos assistir mais que um filme, adormecemos logo quando acabou o primeiro, estávamos muito cansadas do dia que tivemos hoje.