Bem, dessa vez vou ter que fazer um aviso um pouco mais elaborado que o normal.

Esta é uma obra de ficção sem fins lucrativos. Os personagens Sherlock e Mycroft Holmes, John Watson e Gregory Lestrade pertencem a Arthur Conan Doyle e seus representantes legais no momento e à BBC One, Steve Moffat e Mark Gatiss que estão usando no prezado momento para elaborarem a melhor série de TV sobre o tema atualmente. Wilhelmina Rutherford Harayashi e todos seus parentes são personagens originais meus. Apesar de Rutherford ser um sobrenome comum na Inglaterra e eu citar alguns fatos históricos nessa fic, todos os personagens ou acontecimentos da fanfic são fictícios e qualquer semelhança com a vida real de alguém é mera coincidência.

Gostaria de pedir antecipadamente perdão, porque eu sou uma fã de Sherlock Holmes e apesar da diversão em escrever essa e outras histórias, mexer com um lado obscuro de um personagem tão carismático como ele é terrível. É tremendamente arrogante da minha parte criar uma família para Sherlock. Nos meus termos. Enfim, eu me absolvo da heresia tentando divertir vocês.

Esta é uma fanfic feita por mim, então claro que vai ser slash/yaoi/male relationship. Se você não gosta não leia, simples assim. Há páginas e páginas internet afora com pares heteros para Sherlock ou histórias mais voltadas para o lado policial/suspense da coisa. Não perca seu tempo lendo para reclamar depois. Johnlock e Mystrade. E brigas por toda a parte, porque famílias grandes sempre proporcionam os melhores barracos de Natal.

A CHRISTMAS GIFT

Encontrando Nanny

Contrariando os prognósticos nefastos de Mycroft, a revelação de que o Dr. Watson era gay não causou um total esvaziamento de sua clientela. Algumas pessoas ficaram mais reticentes, como aquelas que automaticamente associam homossexualidade e pedofilia, mas as pacientes idosas se recusaram a trocar de médico e muitas mães começaram a recomendá-lo às outras mães com filhas justamente por ele ser gay. "Ele é mais sensível e atento" diziam elas.

O que nem ele nem o namorado contavam era com o aumento do interesse das mulheres neles. O flerte aumentou e ficou mais ousado. Parecia que era ponto de honra para algumas mulheres provar que eles não eram gays e sim, com a mulher certa, retornariam para o mundo hetero. John tinha que ser mais paciente com as crises de ciúme de Sherlock e trabalhar melhor com as suas próprias. Sherlock não entendia a paquera como tal, mas adorava elogios. ISSO era irritante.

John chegou a desconfiar que Wilhelmina estava grávida por causa do mal estar em sua festa de aniversário. Mas não. Ela lhe confessou que era um desejo do casal, mas eles não iam conseguir por vias normais, já que a contagem de espermatozoides de Yoshihiro era baixa.

-Decidimos por fertilização in vitro no ano que vem.

No final de Novembro, John andava ansioso pelos feriados de Natal e não conseguia compreender o ar de desolação que emanava dos Holmes. Eles rolavam os olhos e suspiravam a cada pergunta de Watson sobre os preparativos.

-Você comprou os presentes? – Mycroft um dia perguntou ao irmão.

-Uma hora inteira perdida na Harrold's para comprar para aqueles que vão ficar aqui em Londres. O resto eu comprei e enviei pela internet direto para a casa da Nanny.

-Você gastou UMA hora na loja?

-Comprei tudo em vinte minutos. Sair da loja é que me custou. E nem é época ainda daquelas pessoas possuídas pelo espírito natalino. Perto do Natal deve ser pior.

-Você não pode mesmo me dar um carona?

-Não, Mycroft, não posso. Vou levar o Lestrade comigo e combinamos de sair às vésperas do Natal. Papai e mamãe nos enlouqueceriam se pelo menos um não fosse lá buscá-los antes.

-Eu poderia dar carona para o Inspetor Lestrade. Só não entendi o porquê de você convidá-lo. Ele tem família, não sei se você se lembra.

-Porque o divórcio dele foi homologado e não é bom que ele passe os feriados sozinho, remoendo. Se ele for para a casa dos parentes, vai haver muito daqueles dois tipos de conversa fiada: consolo falso e os casamenteiros – Sherlock mudou para falsete - "conheço um amigo que tem uma prima..." "e aí, já arrumou outra? Não fique aí, se lamentando. Sua mulher não perdeu tempo", "porque você não convida a vizinha pra sair?"

-Desde quando você é sensível assim aos problemas sentimentais alheios? John está te estragando...

-Não vou viajar antes. Não vou passar mais horas que as obrigatórias por lei com os nossos parentes. E só para constar dos autos, pelo John viajaríamos hoje mesmo. Ele está empolgado com a perspectiva de um "autêntico Natal em família".

-Por Deus. Ele não sabe como é...

-Não, não sabe. Você, que vai chegar antes, esconda aqueles álbuns constrangedores com as nossas fotos de infância...

-Eu? Se você não vai facilitar as coisas pra mim, por que diabos eu facilitaria para você, caro irmão? Vou chegar antes e ainda ajudar a mamãe a procurar TODAS as suas fotos e dizer a ela que foi você quem pediu para mostrar ao John! Boa tarde, Sherlock!

-Mycroft, não... Mycroft! TE ODEIO! Ah, por que não posso simplesmente entrar em coma até a virada do ano?

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-Sherlock, obrigado por me convidar para o Natal com sua família. Mas eu me sinto mal por não levar nada para eles.

-Lestrade, eu já enviei, via correio, presentes para todos, em meu nome, em nome do John e no seu. A sua presença lá conosco é super necessária, para um pouco de normalidade esses dias. Vocês dois vão se dar bem com os cônjuges, creio eu, e vão poder fazer companhia um para o outro, no pior dos casos.

-Não ligue pra ele, Greg. Ele vem pintando um quadro soturno sobre esse Natal em família desde que aceitei o convite, em Julho.

-Família é SEMPRE complicado, John. Casal e filhos já é uma situação estressante, e conforme o círculo aumenta, os problemas também.

-Oh, Senhor, obrigado por pelo menos UMA voz sensata nesse hospício. Eu tentei, sem sucesso, explicar ao meu namorado como é uma reunião de família com 8 filhos idosos, 24 netos adultos e até onde eu lembro, em torno de 63 bisnetos de idades variadas. Mesmo não comparecendo todo mundo ou porque estão espalhados pelo mundo ou porque o trabalho absorve suas vidas, já vai ser o suficiente para tornar este feriado inesquecível. Como sempre. - Sherlock suspirou – Deus ajude a todos.

-Você é a rainha do drama. - John cruzou os braços.

Lestrade achou por bem desanuviar o ambiente.

-Por que vocês chamam sua avó de Nanny e não de Granny, como todos os netos britânicos?

-Porque é o nome dela: Nancy. Dizem as lendas que desde o primeiro filho ela se apresenta como Nana para as crianças. Minha avó nunca foi mãe, mamãe ou vovó. Sempre foi a Nana ou a Nanny, para a terceira geração.

-E ela está muito idosa, Sherlock? Quero dizer, muito debilitada?

-Para quem já está beirando os cem anos, ela está ótima. Aos oitenta ela ainda fazia trilha mas caiu num buraco de toupeira e machucou seriamente a perna. Foi necessário colocar alguns pinos e agora ela anda com auxilio de uma daquelas muletas reguláveis. Isso a irrita profundamente, ser dependente depois da idade. Mas ela é bem lúcida, até demais pro meu gosto.

-Todos os oito filhos estão vivos?

-Sim. As três flores: minha mãe, Violet e minhas tias Rose e Heather. Meus tios James, George, Roger, Jeremy e o famoso travesti da família tio Rudd. Que a essa altura do campeonato já é chamado de Tia Ruby.

-Mas ele é mesmo um travesti ou um crossdresser?

-É complicado. Operar ele nunca quis. Tomar hormônio também não. Namorar homens ele não gosta. Mas ele prefere se vestir como mulher e fazer coisas femininas: costurar, cozinhar, limpar a casa, fazer bonecas de pano. Foi um tremendo escândalo quando ele jogou tudo pro alto e se assumiu. Mas nós somos os excêntricos Rutherford. O choque foi só na hora, depois os vizinhos balançaram a cabeça e aceitaram como mais uma maluquice "daquela gente".

-Ele já era casado?

-Com três filhos. A esposa dele ficou, firme e forte, apesar dos falatórios. Os cônjuges são mais loucos que os membros do clã. Chegamos, que Deus me ajude.

John e Lestrade olharam para o portão alto e o muro de pedra. Sherlock pediu ao Watson:

-Você que está no whats da família, avise que chegamos e peça pra alguém abrir o portão. Ele é automatizado.

Enquanto eles entravam pela alameda, Lestrade assoviou:

-É uma propriedade grande!

-Não, na verdade meu avô preferiu manter essa entrada, a casa, uns poucos hectares para algumas árvores frutíferas e o lago. No século XVIII era uma fazenda a perder de vista, mas os herdeiros a enfiaram no nariz com dívidas. Após a Primeira Guerra o banco confiscou e leiloou. Muitos descendentes dos primeiros arrendatários compraram e fizeram pequenos sítios. Na primavera pode ser ver melhor as divisões das terras. É até uma vista encantadora...

-Vocês não consideram essa casa grande?

-É uma monstruosidade arquitetônica, criada pela mente prática dos meus tios, essa heresia! Era um chalé duplo, com sala de estar, de jantar, cozinha grande, três quartos, um para meus avós, um para os meninos outro para as meninas. Mas as crianças foram crescendo, se casando e dando cria. Daí algum gênio resolveu criar esse cubo horrendo, onde coubesse pelo menos metade do clã. Agora no andar superior temos um quarto com cama de casal e dois beliches para cada filho do meu avô, uma sala de estar outra de música, uma sala de jantar que dá pra fazer um baile de debutantes nela, uma cozinha que dá pra assar um boi na lareira e uma varanda nos fundos que chega até o lago. Nenhum lugar sossegado o suficiente para ler um livro ou se esconder do blablablá. - Sherlock procurou manobrar ao lado do carro de Mycroft. - E a sorte está lançada. Dependendo de quem abrir aquela porta agora...

Assim que eles bateram as portas do carro, a porta da frente se abriu. Um senhor alto de cabelos e barba branca sorriu, acenando pra eles se aproximarem:

-Ora, ora, então é verdade que William Sherlock veio se reunir a nós nos festejos desse ano! Bem vindos! Eu sou Jeremy Rutherford!

-Olá, tio Jer.

-Olá, senhor... eu sou John Watson!

-Rapaz, de tanto falarem seu nome nessa casa nos últimos meses, você dispensa apresentações. - riu o idoso – mas é um prazer vê-lo pessoalmente. E você deve ser o Gregory Lestrade. Bem vindo também! - e ele abriu espaço para que eles entrassem. - Violet! Seu filho pródigo chegou!

Eles até escutaram um "que bom!" ao longe, mas de repente não foi só Violet Rutherford quem veio da cozinha. Passos soaram de todos os lados da casa e John se viu cercado de dezenas de olhos azuis inquisidores e avaliativos. No meio deles, Wilhelmina saiu e veio abraça-los.

-Pessoal, o capitão John Watson e o Inspetor da Scotland Yard, Gregory Lestrade.

John franziu a testa, pensando "por que ela está nos apresentando dessa forma?" mas os outros primos começaram a rir.

-O fator de atração Rutherford por homens de uniforme continua firme e funcional. Nem Sherlock conseguiu escapar dele.

John olhou para o namorado, que estava vermelho de vergonha, já com o nervinho do queixo repuxando, num tique de desgosto. Antes que ele pudesse dizer alguma coisa para cortar o clima, começaram a abrir caminho para um som metálico e logo uma senhora idosa apareceu:

-Mais respeito com a atração por homens de uniforme. EU ficava muito bem no meu, por isso o avô de vocês ficou caidinho por mim. - gargalhadas agora. - Bem vindo ao hospício, Watson, senhor Lestrade. Bram, Wilhelmina, Oscar, levem as malas e acomodem nossos hóspedes. O resto volta pra ajudar na ceia. William? - E Sherlock se voltou para a avó – É muito bom ver você de novo...

N/A: Porque implicância entre primos é o que há de melhor e pior no mundo. Vamos ver se Sherlock sobrevive. 23/12/14