Caribe, savvy?

- Mas que bosta de viagem ... - resmunguei resignada, colocando o chapéu sobre meu rosto.

Férias no Caribe. Aliás, reformulando, cruzeiro de quinze dias pelo Caribe. Verão, céu límpido, brisa fresca, diversas praias e ilhas ... perfeito, não? Bem, até agora, não. Deitada em uma das espreguiçadeiras, eu vivia o ponto mor do tédio.
Claro que no primeiro dia é pura agitação. Eu mal conseguia me conter de felicidade, apesar da minha melhor amiga não ter conseguido viajar por compromissos no trabalho. Acomodei as coisas na cabine pequena e rodei os quatro cantos do navio. Sério.
Só que depois do terceiro dia ... uff ...
Sabe o que é não ter NADA PARA FAZER, trancafiada a céu aberto? E a única saída é ser comida por tubarões?
Você me diz: - Que drama! Vai arrumar amigos, ué.
Eu lhe respondo: - Eu tentei.
Por azar, este é o "Cruzeiro de Família", ou seja, só casais, crianças e velhinhos. Os únicos – poucos - da minha idade estavam compenetrados demais em seus próprios umbigos. O início de amizade que tive foi com a tripulação, que infelizmente tinha que trabalhar, então passava a maior parte do tempo sozinha.
Eu não queria ler livros, ouvir música ou tostar no Sol; que posso fazer muito bem em casa. Eu queria DIVERSÃO! Estava indo para o Caribe ou à padaria da esquina?
Uma das coisas que me confortavam era a paisagem. O azul do oceano misturado com o azul celeste. Vezes eu conseguia ver montanhas ao longe e alguns golfinhos. Contei dos tubarões? Tá, melhor pular essa parte. A quem interessar possa, aquele era o poente do quarto dia e logo estaríamos em terra firme!
Enfim, decidi debruçar no parapeito e olhei na direção oeste. Nuvem preta. Ooooo be-le-za. Chuva para completar!
Meia hora depois, trovoadas, relâmpagos e o barulho das ondas quebrando nas extremidades do navio. Tempestade na minha primeira viagem ... vai dizer ...é carma! Eu tremia de medo e tudo parecia meio instável. Levantei da cama e fui cambaleando até a porta da cabine, ouvindo as pessoas andarem apressadas pelo corredor. Temi pelo pior.
AI, MEU DEUS, TÁ AFUNDANDO!
Colete, bote salva vidas ... o que era preciso mesmo? Sai desesperada e me juntei ao monte de pessoas que iam na direção do convés. Qual é? Aquele navio tão imponente nem era para balançar! Mas daí lembrei do Titanic ( não do filme - sem adição de açúcar, por favor, HAHA! - mas do fato em si) e ... gelei.
NÃO QUERO MORRER TÃO JOVEM!
Eu me senti em um drama tão grande que estava no meio de uma novela mexicana! Quanto mais eu chegava do lado de fora, mais era empurrada e encochada. Eu daria um murro em cada um se não estivesse em estado de alerta.
Do lado de fora a pancada de chuva ainda era forte e logo minha roupa e cabelos estavam molhados. Um relâmpago rompeu o céu e o calafrio do inesperado me consumiu. A tripulação tentava em vão acalmar as pessoas e distribuir os coletes. Vendo todas aquelas pessoas buscando ao menos sobreviver e o navio balançar frenético, chorei.
E aconteceu.
Fui arremessada com força contra o parapeito e perdi o equilíbrio. Sabe quando as pessoas dizem que a vida passa em flashes antes de morrer? Pois, comigo, não. Meu corpo caiu com velocidade na água a ponto de as costas baterem com violência na superfície e logo me senti puxada para o fundo, acredito que pela pulsão do navio.
Nem o melhor mergulhador/nadador conseguiria escapar. Eu me esforçava sem parar, na tentativa de voltar. Tudo em vão. O ar foi acabando ... a visão escurecendo ... meus ouvidos surdos pela pressão ... era o fim? Estava prestes a me render quando um solavanco me puxou para cima. Eu me enverguei com tanta rapidez que a espinha estalou. Desmaiei.
Escuro e incólume.
O cheiro da maresia me incomodou a tal ponto que espirrei. Abri os olhos e nada vi. Visão embaçada é uma merda. Remexi nos lençóis e um sorriso de alívio apareceu no rosto. Em casa, finalmente! Era só um ... sonho? Ué? Foi então que aspirei um cheiro diferente no travesseiro, sabendo de imediato que não era o meu.
Pânico.
Pisquei umas trocentas vezes para enxergar melhor e definitivamente aquele "quarto" não era o meu.
Pânico ao quadrado.
Sentei na cama e reparei o que vestia: somente uma camisa branca, larga o suficiente e grande nos braços a ponto de sumirem as mãos. Masculina, de fato.
AI, CARAMBA!
Olhei ao redor e aquele lugar era muito ... sei lá ... diferente, acho. Sei que nunca estive ali antes e meu coração pareceu saltar pela boca. Levantei com dificuldade, sentindo as costas doerem. Na verdade, meus olhos ardiam, os ouvidos zuniam e o interior das narinas queimava.
Chão de madeira? Paredes de madeira? Banquete para cupins? Ora, ora.
Girei a maçaneta devagar e abri a porta; que fez um rangido enorme. Só deu tempo de capturar com visão periférica um vulto e após escutar várias panelas caindo no chão. Meus tímpanos quase estouraram.
Em seguida, o barulho ritmado da sola do salto - de alguma bota, creio – descendo as escadas. Mantive a porta aberta, não sei se por estar travada o suficiente para fechá-la ou por querer saber de uma vez por todas onde estava. A figura que desceu era ... estranha.
Para esclarecer melhor, a escada terminava a poucos metros da porta do quarto em que estava, por isso dei DE CARA com o homem, que arregalou os olhos e parou de andar, faltando três degraus.
Ok, aquela figura eu sabia que já tinha visto em algum lugar, mas o cérebro não colaborava nem a pau. Estreitei os olhos e do nada o homem subiu as escadas igual a um furacão.
Po, eu sabia que era feia .. só que nem tanto!
Sem pensar duas vezes, subi atrás dele. E ... TADAN! Fiquei cega de novo. A luz do lado de fora era tão intensa que se chocou com meus olhos ardidos e cansados. Levei as mãos ao rosto e esfreguei as pálpebras, respirando rápido também por ter subido as escadas num rompante.

- Gibbs, coloque essa carcaça para trabalhar! - a voz, regada em tom ríspido e inglês carregado, saiu acima da minha cabeça.

Franzi o cenho e pensei ter escutado mal.

- Capitão, a senhorita despertou. - outro homem disse com uma subordinação incrível.

Senhorita? E desde quando alguém ainda me chama de senhorita? Qual é? Ele vive no século 18 ou o quê?
Abri os olhos e vi a figura novamente, apontando para ...MIM! Mas não foi exatamente aquilo que captou meu olhar.
Estava em um navio.
Você diz: - Oh! Que novidade! Mongol, você não estava em um cruzeiro?
Eu respondo: - Não é este tipo de navio.
Tudo ali era diferente. Quase antigo. E a tripulação era esquisita.
Velas? Velas? Velas?
Mastro? Mastro?
Bandeira PIRATA?
MAS QUE PORRA ERA AQUELA?
Olhos curiosos e surpresos estavam sobre mim. Tive a quase impressão, além do meu aparente desespero, de que conhecia alguns rostos por ali. Todos ali haviam parado com seus afazeres no convés e praticamente me assistiam como a um programa de reality show.
Nenhuma mulher?
Oh, God.

- Ah, já era hora. - o mesmo homem de voz mandona e peculiar afirmou, descendo escadas, que só agora percebi estarem acima da minha cabeça.

Vi a traseira das botas descerem firmes na madeira e engoli em seco. O povo ali olhava com tanto temor para o homem que um pavor sobrenatural se apoderou de mim.
O sobretudo cobria as costas por completo, sem contar no chapéu gigantesco plantado na cabeça e só pude vê-lo quando virou o vão da escada. Oh ... aquilo estava errado ... MUITO ERRADO! Arregalei os olhos, fazendo ao extremo de beirar o limite do suporte das órbitas, tendo um acesso de tosse incontrolável. Eu conhecia aquele rosto! Na verdade, eu conhecia grande parte daqueles rostos!
Piratas!
Piratas do Caribe?
Puta merda ...
... quer dizer que fazia parte do cruzeiro uma encenação?
Bufei com raiva e caminhei na direção de alguém igual – igual mesmo, do tipo clone – ao Capitão Barbossa e disparei.

- Mas que merda de serviço é esse? Eu paguei os olhos da cara para cair no mar, quase morrer afogada e ferrar meu corpo inteiro?

O homem pendeu a cabeça para o lado e ficou me encarando por um tempo, sem dizer nada. Um silêncio mortal envolveu aquele navio e senti um calafrio. Seja quem for, aquele cara dava medo igualzinho a personagem. Foi daí que eu reparei ... Piratas do Caribe não é Piratas do Caribe sem ...
... e o soar de passos lentos e fortes a descer a escada. O olhar do homem, que pensei quase estar me dando um tiro a qualquer momento, desviou para alguém que estava atrás de mim. Senti um corpo preencher o espaço vazio das minhas costas e o cheiro inconfundível de rum invadiu as narinas. Fechei os olhos por instinto e mal sabia que conseguiria distinguir o rum sem ter a prática de bebê-lo.

- Aye, Barbossa! Levando gritos de uma donzela? - o homem atrás de mim atiçou sarcástico, com tom grave e levemente bêbado.

Todos ali falavam inglês? E que inglês carregado no sotaque, credo!
Espera. ESPERA AI! Tudo bem estar à caráter, imitar as atitudes, mas aquela voz ... ah ... aquela voz ... só poderia vir de um exímio reprodutor fônico. Involuntários arrepios percorreram desde os pés até a cabeça. Abri os olhos e rodei a visão pelo local, ainda inebriada pelo cheiro da bebida.
Pérola Negra?

- Não sejas estúpido Sparrow, se não meto uma bala no meio dos teus córneos! - "Barbossa" respondeu raivoso.

De repente, fui dar conta de que estava no meio de uma briga.

- Capitão Jack Sparrow! - corrigiu e continuou. - Duvido fazeres isto na frente de tão ... - parou de falar e tive a certeza que me secava por trás. - ... semelhante senhorita.

O clone de Barbossa tirou uma pistola da cintura e prendi a respiração pelo susto. Ok, ele não iria me matar, pois ainda nem tinha completado de pagar as prestações da viagem, mas porra! NUNCA MAIS contratarei essa agência!

- Que modos são esses de tratar uma visita à bordo? - o tom do "Capitão Jack Sparrow" era de pesar.

Vi Barbossa bufar e guardar a arma, dando as costas e dizendo entredentes:

- Mulheres dão azar, sabes bem.

Conforme Barbossa andava, os tripulantes voltavam a trabalhar, mas ainda pregando os olhos em mim.

- Só falas português, love? - "Capitão" sussurrou no meu ouvido.

Ui! Tá, respira!
Fiz praticamente uma preparação psicológica para virar e ver finalmente o imitador de Jack ... ops .. perdão ... Capitão Jack Sparrow.
E ...
... WOW!
Eu não sei que expressão fiz no momento em que o vi pela primeira vez, mas "Capitão Jack Sparrow" fez uma careta tão divertida de surpresa que não tive dúvidas. Ou era ele ou ...
... o QUÊ?

- Johnny Depp! - eu gritei tão alto que quase o deixei surdo.

Nem tinha mais coordenação dos meus reflexos, mas tenho certeza que fiz uma cara de fã maníaca/assustadora (pior do que as garotinhas que têm colapso pelo Justin Bieber). Ele deu um passo para trás, franziu o cenho, entortou os lábios e nada disse.

- Pode me dar um autógrafo? - a voz saiu meio falha, acredito que pelo berro da anterior.

O lado consciente do cérebro alertava em letras neon: PARA!
Eu estava babando?
O terror na face do "Capitão" era evidente. Só faltava ele sair correndo ou me lançar da prancha, a ser servida como comida de tubarões.
E que merda! Como pedir autógrafo se não tinha nem papel e muito menos caneta?
Aliás, deveria ter desconfiado que se todos ali falavam inglês, as minhas frases também deveriam ser em inglês, certo? Claaaaro que não! Por quê? Porque eu continuava a falar em português!
Oh Deus, eu não queria ficar retardada assim ...
... mas ... qual é? Dá um desconto! É O JOHNNY DEPP! Tem noção?
Soltei o ar que havia prendido – não sei como – em um suspiro esquisito. Não era eu, definitivamente. Um sorriso de esperança brotou dos meus lábios e amenizei a expressão by " garotinha possuída de 'O Exorcista'"®, notando que ele ficou mais relaxado.

- Qual o teu nome, love? - ele questionou com um sorriso ladino, me olhando dos pés à cabeça.
- Susan. - respondi monossilábica.
- Ah, então entendes inglês. - abriu mais o sorriso e pude ver seus dentes de ouro. - Meu nome é Capitão Jack Sparrow, savvy? - ergueu uma das mãos ao ar, girando-a rapidamente, acho que para dar mais efeito a personagem. Foi quando ele percorreu meu corpo com o olhar novamente.

Mas o que ele tanto olha? Eu ...
...oh man ...
... WTF!
E dai percebi que ainda vestia a camisa branca. Repetindo: somente a camisa branca.
Uma queimação avassaladora de vergonha me impactou e as bochechas arderam tanto que pensei que iriam explodir! Fiquei estática.

A primeira vez em que encontrei Johnny Deep, eu estava semi nua, com uma camisa masculina que tinha quase certeza que era dele.

Se eu colocasse essa frase em qualquer outro contexto, seria digna de filme pornô.

- Bem vinda ao meu navio, o Pérola Negra. - abriu os braços e inclinou o corpo em algum tipo de reverência; como se não tivesse notado meu estado de puro desconforto com a situação.
- Eu quero ... roupas? - a voz saiu mais fina que o meu normal.

Agora eu parecia ter o vocabulário do Tarzan! Se estivéssemos em terra, já teria cavado um buraco e me escondido.

- Roupas? - desceu os olhos para o decote não intencional na camisa que eu vestia e fez um som com a garganta que não consegui distinguir. - Suas roupas? - subiu a visão como se tivesse um estalo, abrindo as pálpebras pintadas com o característico delineador preto. - Por certo! Suas roupas! - ele exclamou, levando os braços ao ar e gritando para que Gibbs as trouxesse.

Rapidamente o imediato obedeceu, trazendo as roupas que vestia antes de saltar do cruzeiro e entregando-as nas mãos de Johnny/Jack/Capitão, que fez uma careta ao verificar o tecido e o tipo de roupa. Recebi um olhar de Gibbs que senti vontade de socá-lo.

- Não achei prudente a senhorita ficar com as roupas molhadas. - ele afirmou, andando na minha direção e estendendo as mãos com as vestes.
- Molhadas? - inquiri sem entender, pegando-as.
- É assim que elas ficam depois de caíres no mar, por certo?

Oi?

- Ah ... - saiu meio que uma confirmação. - ... então...
- Se tivesses passado mais tempo na água, talvez não conseguiria tê-la salvado, senhorita Susan. - ele me interrompeu, cruzando os braços e dizendo a frase em um tom sério.

Fiquei muda.
Ele fez um som com a boca e avançou mais.

- Ora, acredito que tu necessites de privacidade. - sorriu malicioso e pegou minha mão direita, dando um leve beijo entre o punho.

Estremeci.

- Podes acomodar-te na cabine, não iremos perturbá-la. Se quiseres algo de comer ou beber, fiques à vontade em ordenar. - girou nos próprios calcanhares e subiu a escada.

Fiquei parada ali uns dez segundos depois que ele sumiu do meu campo de visão e fui na direção do quarto em que estava, igual a um robô.
Confesso que não sei por quanto tempo estive "fora do ar". De repente, acordei do transe, com minhas roupas já postas e corri para o convés.
Céus!
De quem era a camisa, afinal? Quem me trocou? Quem me viu nua? Por quanto tempo estava ali? Qual continuação do filme eu estaria fazendo parte? Trombei com Pintel na subida, que me olhou assustado.

- Onde está o Johnny? - eu perguntei de forma ameaçadora.
- Quem? - ele questionou mais que respondeu.

Ok, ele queria seguir a cena? Vamos lá.

- Jack. - disse seca.
- O Capitão está recolhido na cabine. - o mesmo medo na voz que notei em Gibbs.
- Mostre onde fica! - ordenei e ele obedeceu.

A noite pairava sobre nós e assim não consegui notar as nuvens carregadas. Paramos na porta da cabine e lancei-lhe uma mirada inquisidora:

- Como consegue nunca sair da personagem?
- Parso ... o quê? - franziu o cenho e passou inocência.

Esses atores são realmente bons.
E, afinal, cadê o diretor, câmeras, contra regras e maquiadores?
Bufei, já perdendo o pouco de paciência que me restava, batendo na porta.

- Love. - o sorriso dourado bem receptivo atendeu. - Já despertastes? - dando uma boa olhada em minhas roupas, tão diferentes dos demais. Ou será que ele estava me secando?
- Johnny, isso não tem graça. - é isso mesmo? Estou dando uma bronca em um astro de Hollywood?
- Do que me chamastes? - ele fez uma cara de nojo, que se eu não estivesse tão brava, iria rir descontroladamente.
- Johnny! - o nome saiu mais como repreensão do que como resposta.
- Querida ... - ergueu o dedo indicador da mão direita, em seu gesto peculiar. - ... meu nome é Capitão Jack Sparrow.
- Não tem mais graça. - murmurei, sentindo-me em pleno cinema 4D.
- Love ... - desta vez, ergueu todos os dedos da mão direita e passou a limpar as unhas. Descaso total. - ... eu realmente não ...
- NÃO TEM GRAÇA! CHEGA!

Notando que Pintel assistia à cena atentamente e o resto da tripulação parou os afazeres para dar atenção ao meu berro, "Capitão" puxou-me pelo braço para dentro da cabine. Pressionou o corpo contra o meu e bati com as costas na porta.

- O que pensas estar fazendo? - ele questionava aterrorizado.
- Hã?

Uma trovoada retumbou perto do navio e a avalanche de recordações veio à mente. Eu fui parar ali por uma tempestade. Será que iria embora também através dela?

- Não respondestes a minha pergunta. - ele fez maior pressão e eu morreria ali, de felicidade, se fosse preciso.
- J ... - mal comecei a frase, assim a terminei.

Caímos no chão da cabine, devido à instabilidade do navio. A posição era um tanto favorável, visto que fiquei por cima.
Ah, quer saber?
Pouco me importava, agora, raciocinar! Estou com Johnny Depp, ou o que quer que ele diga que seja, abaixo de mim, totalmente à minha mercê e dando um sorriso convidativo.
Abaixei o tronco e o beijei.
É, isso mesmo.
Beijei.
Os lábios dele estavam um pouco secos – creio que pela excessiva exposição à maresia - , mas isso não foi problema algum. Passei a língua para molhá-los e ouvi um gemido dele, logo colocando uma das mãos em minha nuca e aprofundando o beijo de forma assustadora.
Aquele homem, sim, sabia o que fazer para deixar qualquer mulher em estado de necessidade por ... er ... coisas ... inapropriadas ...
O navio continuava a sacolejar e eu não dando a mínima. Ter a outra mão daquele mestre passeando pela minha perna tirava toda a concentração do mundo exterior àquela cabine.
Pude provar o gosto do rum; a habilidade dele com a língua, dentes e lábios ...
Separamos as bocas, com a respiração pesada. Johnny/Jack/Capitão abriu os olhos e fez uma expressão divertida, dizendo em um tom grave de excitação.

- Aye, love.

Não consegui me conter e sorri.

- Onde está aquele maldito Jack Sparrow? - "Barbossa" vociferava perto da cabine.

Não deu tempo de reagir. Johnny/Jack/Capitão impulsionou o corpo e em um movimento certeiro, me pôs sob ele. Eu, sem ter como me apoiar, por reflexo, segurei no sobretudo, mais precisamente na área dos bolsos e algo rolou e caiu na palma de minha mão.
Ouvi um estalo e desmaiei.
Escuro e incólume novamente.

- Oh, graças a Deus, ela está bem! - uma senhora suspirou aliviada.

Acordei sobressaltada e vi duas senhoras ao redor da minha cama. Minha cama! Como assim estava de volta ao cruzeiro? Elas me explicaram que a tempestade logo passou e que fui resgatada no convés, completamente desacordada.
Ah ... entendi.
Não, mentira. Não entendi bosta nenhuma! E creio que você, caro(a) leitor(a), também não. Que seja, levantei da cama ainda um pouco zonza e com as mesmas sensações de quando acordei no Pérola Negra. Se é que acordei lá ...
Caminhei a passos lentos até o convés e um aperto no coração me fez sentar na espreguiçadeira. Tão logo deixei o corpo deslizar e acabei por deitar. Olhei as estrelas, reluzentes no céu azul marinho, quase negro, e suspirei. Eu poderia jurar ainda sentir o gosto de rum na boca. Senti uma coceira na perna direita e levei a mão até lá.
Só que no meio do caminho ...
... oh! Wait!
Um volume no meu bolso direito me fez saltar de susto. Enfiei a mão e retirei um objeto bastante peculiar, parecido com uma bússola.
Ah, tá.
ESPERA!
Levantei em um pulo e a abri.
Desregulada!
O coração acelerou de tal forma que se fosse um motor, ganharia a Fórmula 1.
Engoli em seco, esperei o ponteiro acertar e claro: não apontava para o norte.
Apertei o objeto contra o peito e uma alegria imensa tomou conta do meu ser. Somente uma palavra ecoava em mente:

- LESTE.

Diga-me o que você mais deseja.