Titulo: Um universo sobre mim
Autora: ACM2099
Tradutor: Mazzola Jackson
Status: AUTORIZADO PELA AUTORA
Shipper: Harry Potter/Draco Malfoy Severus Snape/ Neville Longbottom
Advertências: Morte de personagens
Gênero: angustia, drama, romance
Resumo: Harry só tem uma oportunidade para o mudar tudo. Reescrever a história e fazer possível sua redenção.
Uma broma do destino
uma melodia acelerada
em uma canção que nunca acaba
Capítulo I
Toda esperança perdida
A mão de Harry estava imóvel alçada em um adeus.
—Estará bem —murmurou Ginny.
Quando Harry olhou para ela, baixou a mão ausentemente e se tocou a cicatriz em forma de raio em sua frente.
—Eu sei.
A cicatriz não lhe tinha doído a Harry em dezenove anos. Tudo ia bem…
De repente, um trovão estridente rompeu a tranquilidade do dia e um raio surcou o firmamento fazendo parecer que se partia. Harry olhou de novo para Ginny, quem estava observando o céu. Escutaram o trem parar-se em seco; as rodas fizeram um som endemoninhado ao deter-se tão opressivamente sobre as vias. Harry quis tomar sua varinha, mas tão cedo como a apanhou se incendiou entre seus dedos. Um novo raio fez que o céu se vestisse de vermelho. Ginny correu para o trem; Harry quis detê-la, mas não o conseguiu. Assim que a ruiva subiu, o trem explodiu queimando tudo a seu redor. Incrivelmente, Harry saiu ileso.
Podia cheirar o cheiro a pele queimada. O sangue gotejava por tudo o que tinha sido a plataforma. Rodeavam-no corpos queimados. Um novo trovão e depois a chuva. Estava quente. Harry tomou uma gota entre os dedos. Com horror, deu-se conta de que não era água, era sangue. O líquido que lhe banhava, espesso e quente, era sangue.
Começou-lhe a faltar a respiração, os batidos do coração aceleraram-se lhe a cada vez mais e foi-lhe impossível tomar ar… Até que desfaleceu e caiu ao solo.
—NÃOOOOO!
Harry acordou-se tremendo. Arquejava ferozmente até que se deu conta de que em realidade a seu corpo não lhe fazia falta mais ar. Pouco a pouco, começou a normalizar sua respiração. Olhou a seu redor e deu-se conta de que estava em sua habitação…
De novo esses malditos pesadelos. Harry conhecia-as demasiado bem. Tinha-as desde fazia muitos anos, dezessete para ser exatos. As piores eram aquelas que lhe davam esperanças de um final feliz e depois se tornavam terríveis. Às vezes eram só ele, Ron e Hermione, sem filhos; outras era Ginny ou qualquer outra mulher; de vez em quando era um homem ao que não podia lhe ver o rosto, mas que sustentava sua mão. Tinha meninos, pelo regular sempre os tinha. Em ocasiões eram seus filhos, em outras só eram os filhos de Hermione e Ron ou um afilhado que nunca conheceu. Harry não recordava todas as combinações, mas sim recordava o final de todas: destruição e morte. Tal e como a guerra terminou em realidade.
Levantou-se da cama e foi-se diretamente à ducha. Sentia o corpo pegajoso, mas, mais que isso, era como se o sangue em realidade lhe tivesse empapado. Esfregou-se a pele com força até que se sentiu mais limpo. Vestiu-se com sua acostumada túnica negra e saiu para o ministério. Ainda era temporão, mas sabia que não tinha nada mais importante que fazer. Talvez o trabalho poderia lhe distrair.
Caminhou pelo grande corredor que levava aos elevadores. Seu escritório estava no último andar, justo ao lado do escritório do ministro. Harry abriu-a, correu as cortinas e começou a revisar os assuntos pendentes sem deter-se. Ainda podia recordar a mirada feliz que Ron tinha em seu pesadelo, o orgulhoso e satisfeito que se via. Harry fechou os olhos, apartou a imagem de sua cabeça e obrigou-se a concentrar no trabalho. Era fácil perder-se nele; tinha demasiado que fazer, sobretudo desde que o ministro estava doente.
—Chefe Potter? —Harry levantou o rosto de seus papéis quando escutou a voz de sua secretária. — Senhor, a que horas tem chegado? —A voz da mulher era um pouco estrangulada. Era evidente que tinha medo a uma reprimenda por chegar tarde.
—Evidentemente mais cedo que você, senhora Dench. —A mulher engoliu saliva. — Mas não se preocupe, já deveria estar acostumada. Sempre chego antes que todos e me vou muito depois.
—Claro, senhor. —disse a mulher com a voz ainda mais estrangulada. — Precisa algo?
—Um café. Negro e sem açúcar. —A idosa mulher deu-se média volta. — Senhora Dench, quero que me tenha prontos todos os relatórios dos impostos do beco. —A senhora Dench volteou de novo olhando a Harry com certa incredulidade.
—Chefe…, hoje esperava sair um pouco mais cedo para despedir de meu neto. É o aniversário de minha filha e…
—Que bem. Então espero que termine o mais cedo possível com esse reporte. —Harry regressou sua atenção aos documentos sobre a mesa. — Recomendo-lhe que não perca o tempo em conversas inúteis com seus colegas.
Cinco minutos depois, Harry tinha uma caneca com café fumegante sobre sua mesa. Sua secretária tinha-lhe dedicado uma mirada desdenhosa, mas a Harry isso não se importava, precisava esse relatório para anexá-lo aos que tinha que lhe mostrar a Dumbledore. Harry deu-lhe o primeiro gole a seu café e suspirou pesadamente. O premiê Albus Dumbledore. Harry esfregou-se o rosto e girou a cadeira para olhar o cromo nublado que hoje tinha em sua janela.
Ele tinha destruído os horcruxes e a Voldemort e com isso tinha trazido um novo mago escuro para governar o mundo: Albus Dumbledore. Como tinha sucedido? Harry não o sabia.
Após acabar com Voldemort, Dumbledore regressou da morte e saiu da tumba branca. Ao princípio todos estavam surpreendidos, mas felizes, após todo era Dumbledore, o melhor mago da história. Harry foi um dos emocionados, dos que nunca temeram nem desconfiaram. Tinha-o perdido quase tudo, tinha lutado pelos ideais desse homem e o ver vivo de novo só lhe fazia sentir feliz.
Dumbledore sugeriu-se de imediato como ministro de magia. O ministério estava praticamente destruído e a sociedade mágica era uma ruína total após a guerra de modo que poucos disseram que não, poucos ou quase nenhum pensou que aquela podia ser uma má ideia. Harry nem sequer duvidou; apoiou a Dumbledore em sua decisão. E esse foi o princípio do fim.
Dumbledore, como ministro, começou a promover novas ordens e passou de ser um ministro de magia temporário a ser um ministro de magia vitalício. Dumbledore tinha-lhe dito a Harry que a sociedade mágica não poderia sobreviver sem ele e Harry lhe creu porque não tinha mais em quem crer, porque pensava que Dumbledore jamais lhe falharia. Naquele momento muitos protestaram e Albus convocou de novo ao Exército de Dumbledore para deter os levantamentos. Pouco a pouco, Harry e os demais detiveram todos os focos de violência e tentativas de derrocamento. Já naqueles anos, alguns membros do Exército de Dumbledore manifestaram sua desconformidade, entre eles Ron e Hermione. Harry não quis os ouvir porque pensava que Albus tinha seus motivos e que não devia dos questionar.
Tudo mudou quando Dumbledore mandou a arrancar aos meninos magos de suas casas desde seu nascimento. Não importava que fossem filhos de muggles ou de magos, Dumbledore os queria desde pequenos instruídos em magia. O Exército esteve completamente na contramão e todos se rebelaram na contramão do ministério, na contramão de Dumbledore. Harry encontrou-se entre a espada e a parede. Tinha que eleger e o fez. Ficou com seu mentor, com a pessoa que lhe tinha dito que era a única família que lhe ficava. Ficou com Dumbledore.
Lutaram para acalmar as rebeliões enquanto, passo a passo, instaurava-se o totalitarismo na sociedade mágica tendo como cabeça a Dumbledore. Após formar a sociedade mágica tal e como a queria, Dumbledore decidiu derrocar a sociedade muggle. Caíram de imediato. Opuseram muito pouca resistência quando viram o que os magos eram capazes de fazer. Alguns magos seguiam rebelando-se, mas Dumbledore sabia como os manter a raia; Harry servia-lhe para isso.
Dez anos depois, o mundo era exatamente o que Dumbledore tinha querido e deixou de ser o ministro de magia vitalício para ser premiê mundial. Os muggles tinham sido rebaixados a classe trabalhadora, os magos com menor potencial seguiam-lhes na corrente (tinham servido muito bem de carne de canhão em todas as lutas contra os rebeldes), depois vinham os magos mais sobressalientes e, acima de todos, Dumbledore manejando todo como melhor a parecia.
Os rebeldes, comandados por Neville, foram os antigos heróis de guerra, muitos deles também antigos amigos de Harry. A maioria já estavam mortos, caídos nas batalhas. Harry não sabia ao cem por cem quantos ficavam. No entanto, sim que podia recordar os rostos das pessoas que tinham caído por sua mão. Entre eles, todos os Weasley, incluindo a Ron.
Harry não se orgulhava, sabia que se tinha equivocado ao eleger, mas já não tinha marcha atrás, não após tudo o que tinha sucedido e como tinha sucedido.
Soltou um grande suspirou e terminou-se o café. Esta era agora sua realidade: era um traidor, um assassino, o executor de um juiz cruel. Estava mais que banhado em sangue, estava condenado em vida. Os olhos encheram-lhe de lágrimas, as mesmas lágrimas que sempre ameaçavam com sair quando recordava. Evitou, como sempre, que saíssem. Com as mãos trémulas regressou ao trabalho. Não queria pensar, não queria recordar. Não podia chorar.
—Chefe Potter, aqui está o relatório. —Harry levantou os olhos e olhou o cansaço pintando no rosto da mulher maior. Olhou seu relógio; ainda era temporão, duas horas dantes de sua saída habitual.
—Bem, pode se ir.
—Obrigado, chefe. —Harry assentiu distraidamente enquanto olhava o relatório. No entanto, a mulher não se marchou de imediato.
—Sucede algo? —A mulher boqueou.
—Vai revisá-lo e anexar agora? —Harry levantou uma sobrancelha sem dizer nada. A mulher se aclarou a garganta e olhou-o com verdadeiro carinho. — É demasiado trabalho, senhor. É… Só isso…
—Agradeço-lhe sua preocupação, senhora Dench, mas pelo regular faço o que me dá a vontade com meu tempo. Retire-se.
A mulher assentiu e saiu apressada. Harry sabia que a senhora Dench lhe tinha algo de aprecio. Fazia cinco anos que era sua secretária e pouco a pouco se tinha acostumado a seu humor azedo. Mas a Harry molestavam-lhe as ocasiões nas que a mulher o olhava com algum vislumbre de carinho.
Quatro horas depois, Harry terminou o relatório para Dumbledore. O ministério estava quase deserto; só ficavam as pessoas de vigilância, que o saudaram quando saiu de seu escritório. Pensou em levar-lhe os papéis ao premiê, mas seria uma perda de tempo, seguramente Dumbledore já estava dormindo. Decidiu caminhar pelas ruas de Londres. Agora eram os magos os que o manejavam tudo e já não tinha necessidade de se esconder ou de não se aparecer.
Após avançar uns metros deteve-se; sentia como se alguém o estivesse seguindo. Dumbledore precisou dez anos para chegar a consolidar seu poder e agora, após mais nove anos, Harry ainda tinha que se cuidar as costas. Seguiu caminhando. Ao chegar a uma esquina girou-se. Já tinha o feitiço na mente e estava disposto ao usar quando escutou uma voz que jamais pensou ouvir de novo dizendo seu nome sem rancor.
—Harry, não te vou atacar. —O sangue gelou-se lhe quando escutou a voz de Hermione. — Há um bar na seguinte esquina. Entra e vá diretamente para a parte traseira. Encontrará um beco no que poderemos falar. —Harry pensou-o um momento. Podia ser uma armadilha, uma grande armadilha que o poria em mãos dos rebeldes. — Deve-lhe, Harry. —Essas palavras… Ele sabia a quem se referia.
Caminhou para o bar sem deter-se. O lugar estava cheio. Apesar de ser conhecido por todos, Harry estava quase seguro de que a gente não lhe prestava demasiada atenção. Caminhou para a porta de atrás, saiu e encontrou-se com um beco negro e vazio. Aos poucos segundos viu a Hermione sair de uma capa de invisibilidade. Dumbledore tinha-as proibido e mandado destruir todas as que existiam, ainda que evidentemente não tinham feito um bom trabalho.
—Guardamos algumas. Usamo-las muito pouco porque são uma arma demasiado valiosa como para desperdiça-la. —lhe disse Hermione como se tivesse adivinhado os pensamentos de Harry.
Tinham dezoito anos sem ver-se, pelo menos assim de perto. As vezes que lhe tinham feito desde então tinha sido em alguma batalha. Hermione tinha envelhecido, via-se maior do que em realidade era; tinha marcas de expressão profundas em seu rosto, mas, sobretudo, seus olhos eram menos brilhantes. Neles tinha desafio, luta interna, mas também uma decisão. Harry perguntava-se qual poderia ser.
—O que tens feito tem sido muito arriscado. —Hermione se ergueu adiante de Harry olhando-o intensamente.
—Ainda pensa que elegeu bem? —perguntou-lhe. Harry engoliu saliva e fixo seus olhos nos de Hermione.
—Não. Soube-o faz muito, mas era demasiado tarde. —Hermione assentiu.
—Foi antes ou após ter assassinado a Ron?
Cinco anos após o regresso de Dumbledore as lutas contra os rebeldes eram constantes. Teve vários ataques e o ministério se cambaleava. Harry buscava a forma de dar-lhes um bom golpe e assim foi como chegou a um traidor dos rebeldes. Era um mago jovem que queria dinheiro e uma boa posição e que estava cansado de lutar sem descanso e de ser marginado pelo ministério. Deu-lhe informação: uma reunião em um bosque ao norte da Escócia.
Harry, acompanhado de numerosos magos especialmente capacitados, encontrou o lugar e atacou. Deu-lhes aos Weasley a oportunidade de ir-se; só queria que lhe entregassem a Neville. Eles se negaram. Teriam morrido muitos mais se os Weasley não se tivessem ficado a lutar. Harry tentou não levantar sua varinha contra os membros dessa família e o conseguiu. No entanto, os magos que lhe acompanhavam eram muito capazes e conseguiram ferir a Billy e ao senhor Weasley. Harry sentiu que a vida se lhe escapava, mas teve que continuar; Dumbledore tinha-lhe pedido.
Harry ia por Neville. Sabia que o capturar serviria para acalmar a rebelião, com um pouco de sorte talvez a acabar. Entre feitiços lançados e corpos caindo, Harry conseguiu ver a Longbottom lutando contra outro mago. Correu para ele disposto ao capturar, no entanto, dantes de atingir, Ron se interpôs entre eles. Harry não queria ter uma briga com Ron, de modo que o desarmou e encarou a Neville. Mas Ron não se deu por vencido e Harry se encontrou lutando contra ambos, Ron e Neville. Eram destros, nos anos de luta tinham incrementado suas habilidades. Queriam sua cabeça e Harry estava em verdadeiro perigo. Foi então quando se decidiu: tinha que acabar com Neville e assim lhes dar uma lição aos rebeldes.
Ainda com os anos, Harry não podia esquecer como ocorreu todo passo a passo. Tinha-se escondido depois de um pilar enquanto Ron e Neville buscavam-lhe. Justo quando teve a Longbottom em uma posição cômoda, saiu de seu esconderijo e lhe lançou a maldição. Nunca, jamais imaginou que Ron se cruzaria no caminho da maldição. De repente, seu amigo, seu melhor amigo, jazia morto em frente a ele.
Harry também recordava o sucedido depois: a mirada de ódio de Hermione, a maldição saindo da varinha de Neville diretamente para ele, terminar sendo salvo por um de seus homens, alguém o sujeitando a mão e o tiro do desaparecimento. Harry nunca tinha sentido tanto asco por si mesmo como aquela noite, como todas as noites após essa. Dumbledore esteve especialmente trágico quando se lhe informou. Reconfortou a Harry dizendo-lhe que tinha sido necessário, que eles só queriam o bem para todos e que os rebeldes tinham que entender de alguma forma. No entanto, Harry sentia-se destruído, morto e vazio.
Hermione tinha razão, esse evento tinha sido a mostra perfeita do equivocado que estava. Mas seu arrependimento não lhe regressaria a vida a Ron, nem a ninguém. Era demasiado tarde para abandonar a Dumbledore e demasiado tarde para unir aos rebeldes, eles jamais o aceitariam. Harry perdeu qualquer esperança aquela noite.
—Importa? Há alguma diferença? Sinto muito, Hermione, mas faz muito que me equivoquei e já não há marcha atrás. Seus reclamos, ainda que justificados, são inúteis. —Ela assentiu e se umedeceu os lábios em uma clara tentativa de se acalmar.
—E se tivesse marcha atrás? —Harry notou de novo o desafio na mirada de Hermione.
—Não a há. Não me unirei a vocês. Há demasiado ódio de por meio. Inclusive em ti, justo agora, tentando ser civilizada comigo, posso notar tudo o que me odeia, tudo o que gostaria de dizer-me essas palavras dirigentes que se te querem escapar da boca.
—Não quero que te unas a nós. Neville te cortaria a cabeça justo antes de que nem sequer pudesses dizer que o sente. —Harry estremeceu-se. — Quero que regresse, Harry. Quero que mude tudo o que saiu mau. —Harry não entendia.
—A que te refere? —Hermione olhou ao princípio do beco.
—Veem manhã a este lugar. —Deu-lhe uma nota com uma localização. —Te repito, não é uma armadilha e lhe deve mais que a ninguém. Tem que fazer por ele.
Hermione desapareceu justo após acabar de falar. Harry tivesse pensando que era uma jogada de sua imaginação, mas se aferrou à nota em sua mão como a prova de que o encontro tinha sucedido para valer. Uns segundos depois escutou umas fortes calcadas que chegavam da entrada do beco. Era um dos aurores que patrulhava a zona.
—Senhor, está bem? Informaram-nos de que o viram sair deste bar e pensamos que podia estar em…
—Fora. —disse Harry caminhando para a rua. — Quero estar sozinho. E não se te ocorra me seguir.
Essa noite Harry não pôde dormir. A cada vez que fechava os olhos sua mente se enchia de imagens das batalhas contra seus amigos: o corpo de Ron caindo inerte, Dean gritando enlouquecido por uma maldição cruciatus... O pior era o pranto dos meninos quando eram arrancados dos braços de seus pais. Harry passou a metade da noite pensando em que poderia ser o que Hermione queria dele.
Regressar… Seria possível fazê-lo? Reescrever a história de uma forma na que todo terminasse com um final feliz. Harry pensava em isso mas era um sonho inalcançável. Não se pode regressar.
Quando saiu o sol, Harry decidiu atuar com normalidade. Essa manhã tinha que se reunir com Dumbledore para lhe dar o balanço mensal do ministério. Decidiu que devia fazer as coisas como sempre porque, se Dumbledore chegava a suspeitar, faria qualquer coisa por evitar seu encontro com Hermione. Vestiu-se com sua habitual cor negra, apanhou os pergaminhos e apareceu-se na mansão que agora ocupava Dumbledore: a antiga mansão Riddle.
Ele era a única pessoa com acesso, a única que podia se aparecer dentro já que, segundo Dumbledore, eles eram família e sempre se tem que confiar na família. A figura de Dumbledore atingia-se a vislumbrar entre a escuridão do quarto. Harry correu as cortinas com magia e olhou ao velho. Dezenove anos não passavam em balde.
—Harry, rapaz, acerca-te. Tens chegado cedo. —Dumbledore apareceu um relógio de areia e franziu o cenho. — Minhas desculpas, sou eu quem não tem estado a tempo. Ultimamente custa-me mais levantar-me. —Harry sentou-se no cadeirão da o lado da cama, entregou os pergaminhos ao velho e esperou enquanto revisava-os. — Tudo vai de maravilha e isso é muito bom, sobretudo agora. —Harry estranhou-se.
—Agora? A que se refere, professor? —Era um velho costume. Harry não podia deixar de lhe chamar assim e Dumbledore parecia o aceitar, nunca lhe tinha dito nada sobre isso.
—Estou-me morrendo, rapaz. —Harry negou de imediato. Com os anos tinha-o odiado tanto como o tinha admirado e lhe era quase impossível pensar que pudesse morrer.
—Claro que não, senhor. Você tem que ser nosso ministro para sempre. —Dumbledore negou e pareceu não notar a amargura no que Harry tinha dito.
—Já não. Temos estado em guerra todo este tempo, Harry, e isso pouco a pouco me esgotou. Estou tranquilo, consegui o que queria e —os olhos azuis de Dumbledore pareceram resplandecer. —, te tenho a ti. Será um digno sucessor, saberá seguir com minha obra. Tem muitos anos por diante, Harry. —Potter negou de novo. Não podia morrer, Dumbledore não podia deixar nesse mundo com a responsabilidade de continuar essa obra retorcida e asquerosa. Dumbledore não podia lhe herdar esse mundo doente e ressentido. — Será meu legado para ti, filho. Sei que não tem sido um caminho fácil, mas era o caminho necessário para chegar até aqui. Harry, a sociedade precisava-nos, sem nós tivessem estado perdidos. A magia é o maior valor que existe e nós temos conseguido que prevaleça.
Harry sabia que Dumbledore estava lhe dizendo algo, mas ele não escutava. As lágrimas que não tinha querido derramar durante anos começaram a fluir sozinhas sem que ele o notasse. Imaginou-se nesse mundo, sendo a cabeça de tudo, o amo e senhor. Teve que aguentar as arcadas. Não, ele não era Dumbledore, ele não podia o fazer. Estava aborrecido de sua vida e odiava como nunca ao velho que estava em frente a ele, mas, ao mesmo tempo, desejava que não morresse nunca, que jamais obtivesse o descanso que dá a morte. Queria-o como o vigilante permanente de sua doentia obra.
—Posso retirar-me, professor? —Dumbledore assentiu. Harry sabia que tinha tentado entrar em sua mente, mas que tinha sido inútil. Fazia anos que tinha levantado uma barreira impenetrável. E, era verdadeiro, o velho estava demasiado débil como para o tentar para valer.
Harry apareceu-se em uma rua indeterminada de Londres e vomitou quase de imediato. Queria chorar, gritar, destruí-lo tudo. Acalmou-se assim que sentiu que sua magia começava a se sair de controle. Respirou profundamente esperando, rogando por que Hermione tivesse a resposta que ele queria. O resto do dia se aferrou a essa ideia, a essa esperança que, ao final, era já o único que lhe ficava.
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Apareceu-se à hora indicada no lugar que Hermione lhe tinha assinalado na nota. Era uma adega abandonada. Harry tinha uma estranha sensação, mas obrigou-se a permanecer tranquilo. A escuridão nunca tinha gostado, talvez era um remanente de sua vida com seus tios dormindo dentro de uma armazém.
Sentiu o aparecimento de alguém e se alertou de imediato; a figura era demasiado fornida para ser Hermione. Harry pensou imediatamente em uma emboscada, e talvez era o melhor. Preferia morrer a mãos dos rebeldes que ser o sucessor de Dumbledore. A figura foi acercando-se. Quando pôde a distinguir mais claramente, ao princípio não reconheceu ao homem, mas quando seus olhos se encontraram Harry se estremeceu. Era Neville, seu inimigo número um, o tipo que poria fim a sua vida.
—De modo que enviou-te para matar-me. —Neville também se via muito maior do que era. Sua barba tinha umas partes encanecidas e seu cabelo curto também mostrava um pouco o passo acelerado da idade.
—De fato, enviou-me a dar-te uma oportunidade. —Estendeu-lhe uma nota. Harry estudou-o por um momento. Neville era bem mais alto que ele, seu corpo era mais fornido e suas facções se tinham endurecido com os anos. Não ficava nada do garoto gordinho e temeroso que Harry tinha conhecido.
—Onde está Hermione? —Neville deu um passo mais para ele.
—Morta. —Harry permitiu-se soltar um gemido de surpresa. — Uma maldição escura consumia-a pouco a pouco desde fazia meses. Tentou-se sanar, mas era inútil, de modo que começou a trabalhar em um projeto especial para ti. —Harry negou. Ainda não se tinha recuperado da notícia. — Ela seguia achando que você era o eleito, me dizia o tempo todo. Ironicamente, ela cria em ti. —Harry se umedeceu os lábios para evitar chorar. Baixou o rosto e abriu a nota.
Para este momento, Neville já tem devido te dizer que estou morrida. Isso não é o importante, o importante é que tenho conseguido descobrir a forma de te mandar de regresso. Não será uma viagem no tempo como os que conhecemos senão algo mais complicado, algo que me levou todo este tempo. Regressará a sexto curso. Desafortunadamente não te posso dizer a que momento, só sei que será antes de que Dumbledore te fale dos Horcruxes. Recordará tudo, Harry, terá sua memória, poderá recordar esses dezenove anos e espero que nunca esqueça a cada erro. É o momento de que emende tudo o que saiu mau. Só há uma oportunidade, só uma para recuperar tudo o que temos perdido. Só há uma oportunidade para regressar a Ron.
Harry dobrou a nota. Sentia de novo a responsabilidade do mundo sobre seus ombros. Queria que o terror se fosse, mas não sabia como.
—E você? Também acha que o sou? —Harry tinha que perguntar. Queria saber desesperadamente se ainda lhe ficava um vínculo com alguém vivo. Neville encolheu-se de ombros.
—Hermione sempre foi mais inteligente que todos nós e se ela cria em ti apesar de tudo o que lhe fez, que podia lhe dizer? Antes de morrer obrigou-me a perdoar-te. Essa foi sua última vontade. —Harry viu a Neville tensar-se, como se tivesse sido um grande esforço. Longbottom estendeu sua mão esquerda e entregou-lhe a Harry algo que parecia um viratempo, mas maior e com umas inscrições. — Não me pergunte como o fez, mas essa coisa te transladará ao passado. Não é um viratempo, é outra coisa, algo que Hermione inventou. É uma viagem astral ou algo assim segundo ela me explicou de maneira que pudesse o entender.
—Mas… que diabos queria com isto? —explodiu Harry ainda sabendo que Neville não lhe responderia. — Que se supõe que tenho que fazer? —Harry elevou a voz. Sentia-se frustrado, só e inútil.
—Só tens que lhe dar volta. Hermione deixou-o pronto para regressar a sexto curso, não sei exatamente a que momento. —Harry assentiu. Podia notar o grande esforço de Neville para não lhe dar um golpe.
—E depois? —Neville negou.
—Não tenho nem ideia. Hermione disse que era o suficientemente inteligente como para o descobrir você só. —De repente, Harry sentiu-se mareado e com vontade de que Neville o assassinasse.
—Não posso, Neville. Isto é demasiado. Eu… Merda… O sinto tanto… —Neville arremeteu contra Harry encurralando-o contra a parede.
—O fará. Regressará e terminará com esta loucura antes de que comece. —Neville soltou-o um pouco e depois reafirmou seu agarre golpeando a Harry contra a parede. — A onde vai há um montão de garotos e adultos que no momento indicado te seguirão até a morte, o entende? No passado todos éramos uns estúpidos que jamais tivéssemos questionado as intenções de Dumbledore. Ali há um Neville idiota que te admira e respeita mais que a ninguém no mundo, um imbecil que quer ser como você. Desta vez, Harry, não o podemos arruinar. Se tem sucesso, se para valer consegue-lo, nada disto existirá. Nada de sofrimento, nada de terror, nada deste mundo doente e agonizante. Hermione perdoou-te, Harry, e ademais deu-te uma oportunidade de reescreve-lo tudo de novo. —Neville engoliu-se o nodo da garganta e olhou a Harry aos olhos ao mesmo tempo que afrouxava seu agarre. — Eu também me estou morrendo, da mesma maldição que ela. Dentro de uns meses deixarei aos rebeldes sem líder. Os que ficam são quase uns meninos e isto é o que lhes deixaremos como mundo, um campo de batalha onde terão que brigar a morte sem saber exatamente por que.
Neville deixou-o pensar. Harry olhou o estranho artefato entre suas mãos e decidiu-se. Que podia ser pior? Muito poucas coisas, se era sincero consigo mesmo.
—Tem razão. É hora de pagar-lhe todo o que lhes devo. —Neville desenhou a careta de um sorriso. Harry estava seguro de que era o mais perto que Neville tinha estado de sorrir.
—Tranquiliza-me —disse ausente, como se em realidade não quisesse lhe dizer a Harry senão a si mesmo. — Tinha medo de deixar a Scorpius sozinho no meio deste pesadelo. —Harry entrecerrou os olhos.
—Scorpius? —perguntou-lhe. Neville assentiu aparecendo uma garrafa de whisky de fogo. Abriu-a, deu-lhe um grande gole e depois ofereceu-lhe a Harry.
—É o filho de Draco. —Harry sentiu um peso instalando-se em seu estomago. Os Malfoy tinham-se unido aos rebeldes. Harry tinha capturado a Lucius, mas o maior dos Malfoy tinha-se envenenado antes de chegar à sala de interrogatório. Narcisa tinha morrido em uma batalha e Draco… Harry tinha terminado com ele. Tinha sido um digno adversário, feroz e decidido, que tinha dado sua vida por proteger aos demais. Quem lhe tivesse dito que com os anos admiraria o valor de Draco Malfoy. — Tem doze anos e é um grande garoto. Quero-o como se fosse meu filho. Ao final quis muito a seus pais. —Harry sorriu com amargura.
—Terminaste sendo amigo de Draco Malfoy. De fato, Malfoy terminou sendo melhor herói que eu. —Neville também sorriu. Parecia estar evocando algo, mas depois se tornou sério de novo.
—Deve voltar. Encontra uma maneira para que isto não acabe assim. —Harry assentiu. O de Neville tinha sido quase uma ameaça. Não sabia como, mas tinha que o conseguir. — Deve acabar com Voldemort enquanto tenta descobrir como pôde regressar Dumbledore e evitar que suceda.
Ainda pensava que podia ser uma armadilha, que esse estranho objeto poderia o fazer explodir, mas, de novo, pouco importava. Deu-lhe um último gole à garrafa e suspirou sonoramente antes de fazer girar o artefato. De repente, sentiu-se envolvido em uma magia nova e a adega foi-se apagando ante seus olhos. Neville deixou de ser solido para voltar-se uma bruma. Harry sentiu-se mareado, fechou os olhos tentando esquecer a sensação vertiginosa e depois tudo terminou. Caiu ao solo sem poder respirar e perdeu o conhecimento.
Nota tradutor:
O que acharam dessa drama? Eu achei super foda! Espero que vocês gostem...
Vejo vocês nos próximos capítulos :p
Ate breve
