Disclaimer: dona de nada.

Aviso: Wincest. Linguagem imprópria (sério?). Dois ou três capítulos, não mais. Segunda temporada (provavelmente).

MY DOLL

Uma história sobre Sam e as bonecas.

"Hora de irmos embora da cidade.

"Otário!"Sam aproximou-se e limpou o canto da boca de Dean. Uma mancha de batom rosa Cadillac do Elvis com aquele brilho típico do gloss, escorregava formando uma trilha de lesma em direção à bochecha.

"Viado!" Dean retribuiu, batendo na mão do irmão.

"Você devia me agradecer. Parece que você acabou de comer um frango assado e não teve tempo de usar o guardanapo."Sam mantinha o sorriso displicente, olhando a ponta dos próprios dedos lambuzados enquanto se dirigiam ao Impala.

"Talvez tenha sido isto mesmo que eu tenha feito, Maninho." Dean encarou o mais novo já no banco do motorista, acionando a ignição com um sorriso pervertido nos lábios. Sam corou.

"Há! Certo! Nunca experimentou um frango assado...!" Dean exultou, Sam limpava a mancha dos dedos na calça jeans, franzindo a testa em sinal de desgosto com a sensação. Mas ainda com os malares rosados e um sorriso de Monalisa pregado na boca.

"Dean..."o moreno usou o tom de pedido, só queria que o mais velho não continuasse o assunto. Mas, como sempre acontecia quando Dean arranjava uma garota e Sam ficava no quarto assistindo TV ou no laptop, o loiro estava de ótimo humor e muito disposto a fazer das próximas milhas muito divertidas.

"Ok, ok, então um dólar pelos seus pensamentos! Se não tiver a ver com frango assado, eu até te peço desculpas."

"Você vai ter que pedir de joelhos."

"Só se você trapacear."

"Você não vai gostar do que vai ouvir..." Sam avisou, virando-se para encarar o irmão. Dean até desviou o olhar da estrada, algo entre preocupado e curioso.

"Manda ver. O que um pouco de batom brilhoso te fez lembrar?"

"Você. De batom. Quando a gente brincou de boneca no velho solar Dukakis."

Dean só faltou frear o carro bruscamente, engasgando com o próprio sorrisinho besta que vinha abrindo. O carro chegou a deslizar alguns metros pelo acostamento, até seu motorista endireitá-lo na estrada. Agora foi a vez de Sam abrir um delicioso sorriso de orelha a orelha. Tinha conseguido dar o troco rápido. Após um minuto de silêncio que, Dean sabia, se aumentasse seria prova de sua derrota e vergonha, ele tentou manejar com uma risada que soou bem mais nervosa do que deveria:

"Cara! Que memória, hein! Caraca!"

"Uhun..." resmungou, lacônico e provocativo. Sam manteve os braços cruzados e a expressão falsamente desligada. Conseguia perceber que Dean estava aflito e vexado só pelo vermelho que ia da nuca de cabelos curtos, subindo pela orelha. Mas de algum modo, saber que Dean também se lembrava, fez Sam sentir um calor estranho na barriga. Ele não tinha se lembrado daquilo até hoje, até tirar com o polegar a mancha no rosto de Dean. Com certeza Dean também não se lembrava. Mas as imagens estavam vindo tão, tão vívidas em sua mente...

Dean olhou de soslaio para o mais novo outra vez, e na sua última e patética tentativa de negar seu embaraço, falou casualmente:

"Para você ver como eu sou o irmão mais velho mais incrível do mundo."

"Uhun..."


Flashback on

O caso que inicialmente parecia ser de assombrações evoluiu para uma coisa muito mais misteriosa e, embora a paisagem desolada e gélida não animasse muito John, havia algo na floresta, e não na velha mansão Dukakis, que estava aterrorizando a pequena cidade.

E calhava que Sam tinha se cortado numa velha roda de carroça, a coisa quase virando pó de tanta ferrugem. Dean tinha ficado apavorado o suficiente para perder a ação enquanto o menino menor sangrava, e John finalmente pensou que tudo o que eles precisariam depois de Sam costurado e medicado, seria algum descanso num quarto quente, e não no banco de trás do Impala. Não no inverno.

O velho solar tinha sido abandonado há cerca de 15 anos, pelos dois últimos remanescentes de uma família rica e prepotente cheia de manias esquisitas. Mas vá lá, a maioria das coisas estava inteira, a lareira funcionava e Dean conseguiria dar um jeito de fazer ficar confortável pelo tempo que precisavam. Assim são os nômades. Então o pai aventurou-se pela paisagem branca e os meninos refugiaram-se no andar de cima da mansão decadente.

Sam ainda estava um pouco quente, ameaçando voltar à febre do dia anterior, e absolutamente aborrecido e irritadiço por causa dos pontos no braço. Dean queria mantê-lo no quarto, perto do calor, mas a verdade é que já não havia mais graça no pôquer ou em qualquer outra brincadeira de cartas. E não, não havia absolutamente nenhuma televisão por perto.

E Dean neste momento estava no banheiro no final do corredor, tentando tomar banho nas precárias condições que podiam no momento.

Então Sam pulou da cama, desvencilhando-se dos cobertores e sacos de dormir que Dean tinha preparado para os dois. Já estava acostumado com o cheiro de mofo. Deu uns passos incertos pensando que talvez tivesse saído da cama muito rápido, mas logo as coisas ficaram claras novamente. Foi até o closet. Por algum motivo sinistro, deveria ter havido tanta naftalina ali um dia que tudo ainda tinha um odor forte e ardido, mesclado com o da poeira e mofo. Sam vislumbrou as velhas roupas, coisas do tempo de seu pai, tecidos brilhantes e extravagantes; vestidos estranhos e encardidos. Passava seus dedos pelos tecidos observando a figura no espelho manchado no fundo do armário; ele mesmo, um menino que ainda tinha o rosto rechonchudo, ainda parecia só boca e cabelos.

Com esforço empurrou com a ponta dos dedos uma caixa de chapéu da prateleira superior, derrubando seu conteúdo sobre a própria cabeça. O cheiro adocicado e almiscarado de perfume velho de rosas quase o sufocou. Ele tinha acabado de derrubar uma dezena de objetos de toalete, estojos de pó de arroz, sombra e blush que se partiram perdendo o conteúdo; batons e coisinhas que rolaram pelo chão empoeirado.

Sam se abaixou para recolher o que restara, aborrecido por ter quebrado os objetos. A casa estava abandonada, mas tinha dono, ele sabia. E foi assim que, ao agachar-se, Sam viu embaixo das roupas uma mala enorme e empoeirada. Rastejou por sobre as roupas para alcançá-la, pois se sentia fraco demais para puxá-la, ainda mais somente com uma das mãos.

Abriu os fechos, sentado no chão. Sua decepção foi enorme. Não havia nada além de um amontoado de pequenas figurinhas humanas, embaladas dentro de suas caixinhas como se estivessem em sarcófagos. Eram bonecas. Bonecas. Pequenas bonecas e dúzias delas.

"Mas que droga!"desabafou sozinho, esfregando o olho que ardia por causa da poeira do armário. Fuçou por entre as caixas, tentando encontrar algum brinquedo mais interessante. Mas eram somente bonecas. Vestidas em roupas típicas de nacionalidades diferentes.

"Dean!"ele chamou, tentando fazer sua voz a mais alta possível. Teve que chamar três vezes até que o irmão afastasse algumas roupas nos cabides, enfiando a cara por entre elas, rescendendo a sabonete:

"Droga Sam! Mas que raios...! Agora vai precisar tomar banho e sinceramente... O que é isso?"

"Me ajuda. Eu não consigo arrastá-la pra fora do armário."

"Mas pra que diabos você quer isso, Sammy? São mesmo... bonecas?"

"São."Sam podia dar um uso para elas e ao menos teria algo diferente para fazer. Não se intimidou com o olhar abismado e divertido de Dean e esfregou novamente os olhos, já vermelhos devido ao excesso de pó, a inflamação que ainda não cedera completamente, e suas constantes esfregadas. "Pode me ajudar? Cada uma delas é de uma nacionalidade diferente. Eu quero vê-las."

Dean ainda franziu a testa em sinal de incredulidade:

"Vamos, sai daí. Este mofo todo vai te matar. E...cara...são bonecas! Você vai brincar com bonecas agora?"

Sam entortou a cabeça para o lado encarando o irmão com seus olhos doces e determinados e, coincidente e convenientemente, um acesso de tosse devido ao pó o atacou.

"Ok, Samantha! Sai daí, você vai precisar de um banho depois de brincar com suas bonecas."

Sam não se abalou com as provocações. Sua curiosidade tinha sido atiçada e sabia que Dean ia mudar de idéia.

Sam saiu do armário e sentou-se na cama, esperando Dean arrastar a grande mala para o centro do quarto. O mais velho ficou olhando com curiosidade desdenhosa o conteúdo, de longe, fuçando com o pé e esparramando as pequenas caixas pelo chão em volta da mala.

Depois foi passando os brinquedos para Sam, e o menor foi pegando as bonecas e enfileirando. E isso ocupou um longo tempo.

Sam sentia Dean o encarando curiosamente, agora jogado na cama com as pernas para fora. Observando seus movimentos lentos e concentrados. Sam gostava de ser meticuloso. Estava organizando as nacionalidades alfabeticamente. E quando não sabia ao certo qual nacionalidade da boneca, mostrava para o mais velho:

"E esta, Dean?"

Dean encarou a boneca de longos cabelos negros, roupa vermelha com um cinto verde.

"Sei lá? Mexicana?"

"Aquela é a mexicana!" Sam ficava emburrado se achasse que Dean não participava.

Suspirou. "Italiana, talvez."

"É, pode ser."Dean tentou dar um sorriso animador, mas tudo o que conseguiu foi irritar ainda mais a Sam.

"Você podia brincar comigo, Dean?!"Sam explodiu, estava agoniado com os sintomas da luta de seu corpo contra a inflamação; sentindo-se desprezado e sem chão. Seus olhos rasos encheram-se de lágrimas que transbordaram e segundos, por mais que ele quisesse evitar isso. O calor que o afligia só aumentou, ele rolou na cama como um animal que busca alívio, gemendo de frustração por não conseguir conter o choro. O braço ferido chegou a latejar.

Logo o irmão estava levantando o mais novo no ar, sacudindo seus ombros e pedindo atenção; Dean colocou as mãos contras as bochechas quentes do menor:

"Ei Sam! Ei! Escuta! Tudo bem. Ei cara! Eu brinco! Ahn! Eu brinco! Mas que tal a gente comer primeiro? E você definitivamente precisa de um banho. Logo vai anoitecer. Ok? Eu brinco, Sammy! Não fica assim não..."

Dean estava nervoso e só se acalmou um pouco quando viu o enorme beiço do garoto desfazer-se com sua promessa.

"Vou esquentar a água para o seu banho e depois nós jantamos. Talvez ela seja colombiana...Eu diria que ela é colombiana, Sam.

O menor afastou o cabelo da testa suada para encarar o irmão. Abriu um sorriso fraco, embora quisesse que fosse um sorriso maior. Dean esfregou sua cabeça antes de sair do quarto.

A boneca definitivamente parecia colombiana, o menino menor achou.

...

Sam saiu do banho, correndo na ponta dos pés enrolado na toalha em direção ao quarto. A comida (um pacote de pão de forma, um pote de manteiga de amendoim e uma caixa de leite com sabor morango) estavam sobre a mesa do quarto, perto da janela. Mas não havia sinal de Dean.

O menor sentiu imediatamente a apreensão atingir seu peito. A ausência do irmão não parecia nada boa. Ele vestiu-se rapidamente, olhando sobre os ombros.

"Dean...?"

A ansiedade foi crescendo conforme o silêncio se abatia sobre a casa. Dean não tinha muito o que fazer em outro cômodo, eram gélidos, e se tivesse ido ao banheiro, teriam se cruzado, certo?

"Dean!"

Deu passos incertos em direção ao armário, cuja porta ainda estava entreaberta e de onde exalava o odor desastroso de rosas e almíscar velho, o que para Sam lembrava caixões e velhotas, duas coisas pelas quais ele não tinha a menor simpatia até ali. Novas lágrimas brotaram em seus olhos, sua boca tremeu.

"Dean...por favor...aparece."

Ele ouviu o farfalhar de tecido e seu coração suspirou algo entre pânico e alívio.

"BOOOOOO!"

"Seu idiota!" o Winchester mais novo controlou-se para fingir que o salto triunfal de Dean de detrás das roupas não o tinha assustado nem um pouco. Mas seus olhos embaciados estavam espremidos e fechados e seus braços cobriam a cabeça. Mas, embora a raiva e a vergonha o fizessem se recompor com rapidez, a figura que estava a sua frente quando abriu os olhos o espantou: o irmão estava com uma camisola por sobre a roupa; uma camisola e batom e um casaco sobre a cabeça como se fosse cabelo.

Sam esfregou os olhos outra vez. Dean tinha rido, mas agora estava sério. Na verdade, um pequeno sorriso constrangido se prendia em seus lábios carnudos e pintados desajeitadamente com batom rosa escuro. Falou com voz abafada, encarando o menor:

"Qual a nacionalidade, Sammy?"

Sam levou a mão a boca, sufocando o próprio riso:

" De outro planeta!"

Dean riu também. Dividiram o jantar e voltaram para a cama, para entre as bonecas. O casaco da cabeça de Dean tinha caído e ele não preocupou-se em colocar novamente:

"Você trata muito mal suas bonecas, Samantha. Olha só a cabeça desta." Ele arranjou um lugar entre a coleção, ajeitando a camisola rendada e deitando-se como um cadáver no caixão. Os olhos verdes pareciam pesados e cansados; Sam arrastou-se pela cama até sentar-se ao seu lado.

"Você é a mais bonita."

O mais velho ergueu uma sobrancelha pensando em protestar, mas sentiu o dedo de Sam tocando seus lábios e calou-se. Colocando mais batom em sua boca com bastante cuidado, embora sem muita perícia. Mas Sam era meticuloso. Dean apenas fechou os olhos, deixando Sam fazer o que quisesse. Conseguia sentir o calor do corpo do mais novo e sabia que ainda havia febre. Tinha medo que piorasse. Não ia conseguir levar Sam ao hospital com aquele tempo. Não sozinho. E então ele ficou ali, satisfeito de ter novamente paz; e esperançoso. E se no início conseguia imaginar-se ridículo e desajeitado, aos poucos houve aquela sensação doce e estranha que o assaltava as vezes, uma melancolia solitária que nem Sam nem o pai conseguiam preencher, mas que o fazia ter saudades, muitas saudades, da mãe. Talvez fosse o cheiro daquelas coisas; talvez fosse o olhar intenso de Sam sobre si, igual ele se lembrava de olhar para a mãe enquanto ela escovava os cabelos, ou passava batom nos lábios. Não dava vontade de chorar, Dean apenas se lembrava de coisas antigas e desbotadas de sua jovem vida. E era o calor de Sam lhe fazia saber que não era um sonho. E o calor de Sam era perturbador.

Sam ficou olhando seu trabalho na boca de Dean, ficou vendo como as sardas desapareciam na pele clara por causa da cor forte; ficou vendo o formato daqueles lábios e os cílios longos dos olhos fechados, a gola da camisola cheia de rendas em volta do pescoço do irmão, destoando dos cabelos loiros curtos e espetados. Aquela boca chamava a atenção e transformava Dean, seu irmão, em alguém diferente. Em alguém diferente e lindo. Era algo irreal e estranho, Dean permitindo, Dean aceitando, que ele simplesmente... O fizesse de boneca. E de algum modo aquela visão era perturbadora.

Flashback off



CONTINUA

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