O buquê da noiva voou sobre dúzias de donzelas afoitas e atingiu o rosto de Isabella Marie Swan, antes de tombar em suas mãos. Por um instante, ela enxergou apenas estrelas, os olhos tornaram-se marejados e o nariz parecia bloqueado pelo forte aroma de gardênia. Ela piscou algumas vezes e, em seguida, espirrou com violência.
Primeiro, as jovens damas ao redor começaram a rir. Depois, uma onda de sussurros espalhou-se entre os convidados que se encontravam na Ala Leste da Casa Branca.
– Sou alérgica a gardênias – Isabella
murmurou, tremendo de vergonha.
As pétalas que caíram sobre o rosto e o vestido deixaram resíduos de pó amarelo. Um pente caiu dos cabelos, soltando o detalhado penteado.
Jogando o buquê, Isabella não parou para ver onde o adereço havia caído. Embrenhou-se entre os convidados, na esperança de fugir da festa. Murmúrios especulativos a rodeavam. A cada doloroso passo, ela tentava ignorar os comentários de sempre:
– Que desgraça para o senador Swan. Sua
filha sempre foi um tanto estranha, não? Deve ser um estorvo na vida do pai...
Naquele mesmo instante, seu pai achava-se do outro lado do salão, observando Isabella com olhar de desapontamento. Em vez de colaborar para a imagem impoluta do respeitado senador da Virgínia, ela conseguia provar a todos que dinheiro e poder não podiam comprar uma filha adequada.
De repente, Bella teve vontade de morrer. A expressão do senador e os mexericos dos convidados a sufocavam. Na pressa, ela tropeçou e quase caiu, mas se equilibrou para manter o penteado intato, ou quase intato.
Tudo tornou-se indistinto: o noivo, elegantemente trajado em seu
uniforme militar, e a noiva, deslumbrante no vestido perolado, tentavam
descobrir que fim levara o buquê, o aglomerado de cavalheiros, rodeando o presidente, clamavam por sua atenção. A primeira dama e seu bando de
mexeriqueiras falavam do último vexame da filha do senador Swan.
Embora os convidados se afastassem à frente, tal qual o mar Vermelho, Bella tinha a nítida impressão de que adoravam testemunhar tamanha humilhação. Pressentindo diversos pares de olhos sobre si, atravessou o salão, ávida para atingir as portas do jardim antes que espirrasse novamente.
Sem dúvida, causava um constrangedor espetáculo no casamento da amiga. Em primeiro lugar, não quisera ir à cerimônia e chegara a utilizar os mesmos argumentos para livrar-se do fardo: era desajeitada, estranhava as pessoas, inapta demais para dançar.
Mas, claro, a insistência do pai prevalecera. O senador Charlie Frank
Swan sempre obtinha o que desejava, principalmente em se tratando da filha caçula, que almejava agradá-lo a qualquer custo.
De cabeça baixa, Isabella concentrou-se na fuga, desviando-se de
convidados, vasos de plantas e serventes. Ao sentir a ameaça de outro espirro, tirou o lenço da manga e cobriu o nariz com ele. Conseguiu conter a explosão, mas quase estourou os ouvidos.
Aquele era um casamento na Casa Branca, Bella pensou consigo, notando os olhares críticos em sua direção. Com trajes finos e gestos elegantes, aqueles convidados compunham a elite da capital: esposas de senadores, secretários de gabinete e industriais. Não havia nada mais interessante para entretê-los além de Isabella Marie Swan?
As portas do jardim encontravam-se abertas, emoldurando o céu de outono. Ela tentou se apressar, mas seu passo era lento demais. Sempre fora, aliás.
Desde pequena, já sabia que era diferente. Não pudera correr, pular
corda ou brincar como às outras crianças. Mas, à noite, quando Bella fitava o céu em busca das estrelas, sentia-se elevar.
A segurança da varanda surgiu. Estava quase livre. Enfim, atravessou as portas e viu-se no pátio deserto. O ar fresco de outono causou-lhe certo arrepio. Ao inspirar profundamente, percebeu que havia prendido a respiração. Isabella apoiou-se na murada de concreto. No mínimo, suas luvas ficariam imundas, mas não importava. Seria impossível encontrar um parceiro para dançar e ninguém seguraria sua mão naquela noite.
Tal qual fizera em tantas ocasiões, Bella nem sequer preenchera o
pequeno caderno de dança. E tampouco acreditava um dia poder fazê-lo.
Após ajeitar os cabelos, caminhou pelo pátio. O céu noturno começava a acalmá-la. Com freqüência, o nevoeiro do mar e as luzes da cidade interferiam na visão das estrelas. Contudo, aquela noite estava particularmente clara. Andrômeda cintilava, soberana; o grande cavalo, Pégasus, galopava em direção ao Sul. Saturno encontrava-se alto; em um mês, seria a vez de Júpiter.
O lento e infinito mundo estelar envolveu Isabella. O firmamento, em
toda sua glória, nunca julgava insignificantes criaturas que tinham o hábito de envergonhar-se em público.
De súbito, o ruído de passos alertou-a. Negligenciava os próprios
deveres ao se esconder como uma covarde. Não se tratava de qualquer casamento.
Tratava-se de uma exuberante recepção oferecida pelo presidente e pela primeira dama. Isabella e a noiva, Alice Hale, haviam estudado juntas no Liceu da srta. Blanche.
A necessidade de agradar o pai tornava-se cada vez maior. Até agora ela só conseguira se ferir com o buquê e sofrer um ataque de alergia. Mas a noite ainda era uma criança, Bella disse a si mesma e endireitou os ombros. Como um prisioneiro prestes a enfrentar o pelotão de fuzilamento, ela caminhou de volta ao salão.
O pai de Isabella encontrava-se ao lado de bufê de ponche, conversando com o vice-presidente. Ela procurou a irmã, mas não havia sinal de Rosalie.
Devia estar em algum lugar sendo maravilhosa ou ultrajada, dois campos em que Rosalie tomara-se especialista. Contudo, era melhor que Rose se mantivesse discreta. Seria grosseiro ofuscar o brilho da noiva.
Como sempre, restava a Isabella fazer o que era certo, o que era
esperado. Não importava se era boa ou não. Ser a pessoa adequada para o trabalho tornou-se menos importante que realizar o trabalho.
Sendo três anos mais velha. Rosalie deveria assumir tal
responsabilidade, Isabella concluiu, ressentida. Porém, para isso, obviamente. Rosalie teria de preocupar-se com o que era apropriado.
Ninguém se preocupava mais que Rose. Portanto, sendo uma mulher adulta, tinha de superar o medo e voltar ao baile para redimir-se
Tão logo aproximou-se da porta, um movimento chamou-lhe a atenção.
Ela espiou entre as sombras do pátio. Havia uma trilha de pedriscos,
rodeada por bancos. E, sobre um dos bancos e envolto pelas flores de outono, um casal se abraçava.
Bella cobriu os lábios com o lenço para reprimir a exclamação. Alheio a sua presença, o casal fundia-se num beijo apaixonado. Um impulso perverso impeliu Bella a esgueirar-se pelas sombras para olhar mais de perto.
Santo Deus, o homem tinha a mão sob as saias da mulher. As pernas esguias encontravam-se sobre o colo dele, revelando a fita preta ao redor da coxa. O fascínio de Isabella aumentou quando a mulher gemeu e jogou a cabeça para trás, expondo o decote ousado. O homem beijou a região entre os seios. Isabella, de repente, sentiu uma onda de calor que não sabia nomear.
– Oh, Edward... – a mulher murmurou com a
voz repleta de paixão. – Edward... – Inclinando-se mais, ela virou o rosto.
Isabella escondeu-se atrás de um arbusto a fim de visualizar melhor a face daquela que, de olhos fechados, gemia de êxtase. Assim que a reconheceu, quase teve um choque. Era a sra. Tânia Denali, a irmã viúva do presidente.
O nariz de Isabella começou a coçar. Aflita, ela se afastou das flores.
A despeito dos esforços, não pôde controlar o espirro gigante. Ele irrompeu com a força de um vulcão, sacudindo seu corpo inteiro.
O casal se separou. O homem disse uma palavra que Isabella jamais escutara, mas o tom furioso a fez corar.
Em menos de um segundo, ela correu até a porta. O lenço caiu de sua mão. Sem parar para pegá-lo, entrou no salão de baile.
Rezando para que ninguém a visse, Isabella encostou-se na parede, fechou os olhos e tentou recuperar o fôlego. A festa prosseguia e os convidados continuavam conversando, alheios a sua presença. Ela suspirou, aliviada. Deus, quem imaginaria que um simples espirro poderia delatá-la?
Talvez uma boa dose de ponche a acalmasse. Enquanto dirigia-se à mesa de refrescos, ela esfregou as luvas na saia. Devia ter escutado Rose e encomendado um novo vestido. Bella sempre investia tempo e dinheiro em coisas mais úteis e pouco ligava para a moda. Porém, misturada à elite da sociedade, sabia que fora um erro. Ela no mínimo assemelhava-se a um parente pobre do interior.
– A senhorita derrubou isso.
A voz masculina deteve Isabella. Tensa, ela se virou devagar.
Deparou-se então com um estranho alto. Os olhos verdes a encaravam com intensidade e os lábios formavam o sorriso mais zombeteiro que Isabella já vira.
Era ele. O homem do jardim. Oh, Edward, Edward... O homem que
seduzira a irmã do presidente segurava o lenço de Isabella entre os dedos da mão máscula
Completamente ruborizada, ela agarrou o tecido.
– Obrigada – murmurou, pálida de
vergonha.
– Foi um prazer – ele replicou numa tão
voz profunda e rica que Isabella sentiu-se estremecer.
Oh, Edward, Edward...
– Eu me perguntava onde o tinha deixado.
– Agora já sabe. – O sorriso insolente e
o brilho dos olhos indicavam que ele sabia muito bem quem era Isabella e o que la havia visto.
E o que sentira enquanto o observara.
– Agradeço-lhe a gentileza – Bella
balbuciou. – Agora tenho de ir.
Ele clareou a voz.
– Senhorita, talvez queira usar o lenço
para... – Com o dedo, ele apontou a face de Bella
Ela esfregou a região e, ao fitar o lenço, notou o pó amarelado do
buquê.
– Algo mais? – obrigou-se a perguntar,
Assentindo, o homem inclinou-se para escondê-la dos convidados e,
discretamente, apontou mais duas áreas do rosto de Isabella. Ela limpou-se bem depressa.
– Muito bem. Agora a senhorita está
perfeita.
– Então – ela ensaiou uma cortesia –,
adeus.
Aquele homem havia conseguido reduzi-la a uma idiota em questão de minutos. Precisava se afastar dele antes que as fofocas começassem a circular. Ainda cambaleava para se recompor quando, de repente, viu-se frente a frente com o objeto que mais amava além das estrelas.
O tenente Jacob Black.
A primeira vez em que o vira, ele não passava de um menino magricela e desajeitado que, com Isabella, sofrera os desafios das aulas de dança. Mesmo naquela época, ela já o admirava. Depois, Jacob partira para a escola e ambos perderam contato.
Agora ele estava de volta, transformado pelos anos e pela academia naval num homem glorioso. Era a primeira vez que o encontrava socialmente.
– Srta. Swan. – O filho do
vice-presidente curvou-se. – Confesso que me assustou.
– Boa noite, tenente Black. – Ela olhou
para trás com certa discrição a fim de verificar se o estranho a seguira.
Felizmente, ele se misturara à multidão.
Como era de se esperar, Isabella ofereceu a mão direita a Jacob Black. Tarde demais, pensou, lembrando-se das luvas que sujara no jardim. O tenente segurou-lhe a mão e levou-a aos lábios, fitando de relance as manchas pretas na luva branca.
Os pais de ambos encontraram Isabella e o tenente Black naquela posição ao passarem pelo perímetro do salão.
– Ora, ora – disse o vice-presidente. –
Não são nossos filhos fazendo amizade, senador?
– Na verdade, já nos conhecíamos, senhor
– o tenente retificou. – A srta. Swan fez a gentileza de renovar nossa amizade quando eu me encontrava em dever no Observatório Naval.
Isabella sentiu-se flutuar. A verdade era que fora barrada no
observatório e ameaçara relatar o ocorrido ao presidente se não a deixassem entrar. Jacob havia interferido, alegando que não existia problema em deixar uma mulher usar o observatório. Que amável da parte dele não mencionar a atitude beligerante de Isabella naquela noite.
– Aliás – prosseguiu o tenente Black –,
eu estava prestes a convidar a srta. Swan para dançar
Dançar. Deus do céu. Ela fitou o pai,
desesperada. O rosto de traços duros transmitiu certa ambição. Os olhos do senador brilhavam com uma promessa contida. Não que seu pai não a amasse, ele simplesmente não era dado a manifestações afetivas. Charlie Swan, como político experiente, sempre esperava algo em troca.
Mas Isabella iria tentar. Apegando-se à promessa que via nos olhos do pai, ela esforçou-se para ser elegante e educada. Virou-se ao tenente Jacob Black e sorriu. Ele se mantinha à certa distância, talvez um tanto alto demais. Isabella, no mesmo instante, sentiu-se inferior. No entanto, seu pai e o vice-presidente os observavam.
– Ouso dizer que, naquela noite no
observatório, nunca conheci uma alma tão generosa quanto a sua.
O senador a favoreceu com um sorriso controlado.
– Sr. BLack, seu filho deve ser
condecorado por possuir tolerância perante o entusiasmo incomum de minha filha em relação á astronomia.
Um arrepio de pavor percorreu a coluna de Isabella. Encarou o tenente. Se ele a defendesse, ela o amaria para sempre.
Jacob sorriu para o senador.
– Senhor, o interesse de uma dama pela
ciência é um tanto distinto dos requintes de um bordado, mas ambos sã
igualmente desconcertantes para mim.
Enquanto os três cavalheiros riam, Bella tentava decidir se o tenente
Black a defendera ou não. Ele estava tão charmoso que resolveu dar-lhe o
benefício da dúvida. Sim, de maneira educada, ele conseguiu contradizer o
senador sem ofendê-lo. O homem era um gênio.
– Srta. Swan, poderia me dar a honra
desta dança? – perguntou o garboso tenente.
Por fora, Isabella ficou paralisada, incapaz de se mexer. Por dentro, o coração batia acelerado. O pai a observava, esperando. A promessa em seus olhos movia-se devagar, tal qual a lua no céu da meia-noite. Ela não podia decepcioná-lo. Afinal, já havia cometido uma gafe com o buquê da noiva. Caso se recusasse a dançar com o filho do vice-presidente, jamais superaria a desilusão do pai.
A perspectiva queimava-lhe a alma. Ela se viu diante do tenente,
mexendo-se como uma marionete.
– Será um prazer, tenente Black.
A resposta originou a reação esperada. Black, o mais jovem, ofereceu-lhe a mão. Black, o mais velho, assentiu, orgulhoso. E o olhar afetuoso do senador aqueceu o coração de Isabella.
Agora o desafio seria dançar pelo salão sem tropeçar.
Escondendo a ansiedade atrás de um sorriso, ela acompanhou o tenente até a pista e aguardou a próxima seqüência musical. Rezou para que fosse uma melodia lenta e suave.
Os acordes do violino invadiram o salão. O tenente Black executou uma reverência perfeita e Isabella correspondeu com uma breve cortesia. A incrível precisão de Jacob ofereceu-lhe a confiança de que necessitava para os primeiros passos.
O ritmo era lento. Embora os joelhos bambeassem, ela conseguiu
empreender os passos. Enquanto se moviam na órbita do salão, Isabella se concentrava. O tenente não podia saber que ela estava prestes a se partir como uma boneca de louça.
Oh, Deus... Ele começou a conversar com ela
– ...uma aliança e tanto, não acha?
– Sim, de fato – ela respondeu. – Uma
aliança e tanto.
– Não posso dizer que estou surpreso. –
Jacob parecia alheio ao impacto que causava nas jovens do salão. A cada passo, rostos fascinados sorriam e se iluminavam. Com os cabelos negros muito bem penteados e o uniforme sem uma dobra sequer, ele era o sonho americano personificado.
Abigail fitava os maravilhosos lábios de Jacob. Caso beijasse aquela boca, o que aconteceria? Ela se romperia? Ou se derreteria com o ardor do beijo?
Ruborizada, Isabella orgulhou-se de ter sido a escolhida. Não era bonita como as irmãs Stanley, tampouco talentosa como as primas da noiva.
Mas era mais inteligente que todas elas.
Não que tal qualidade fosse uma grande virtude.
– Por que não está surpreso? – perguntou,
ainda concentrada nos passos simples. Não sabia de que o tenente falava, mas ele não havia reparado nisso.
– Porque meu pai é o diretor presidente
do senado e o seu é presidente do comitê da ferrovia. Os dois juntos controlam o Congresso inteiro.
Isabella assentiu. De súbito, reconheceu a sra. Stanley dançando com o mesmo homem que a abordara minutos atrás. Um calor repentino a invadiu.
– Isso a perturba? – Jacob indagou.
– Claro que não. A legislatura do país
não podia estar em melhores mãos que as de nossos pais. Não concorda?
O estranho notou que ela o observava sobre o ombro do tenente. Então, ele piscou. Piscou. Em princípio, Isabella achou ter imaginado, mas a piscadela foi real. Assim como a reação física que o gesto sutil ocasionou
dentro dela.
– Quem é aquele homem? – ela perguntou,
sem pensar. – O insolente pelo qual acabamos de passar.
Com muita discrição, Black virou-se.
– Oh, ele.
– Imaginei que o conhecesse. – Quando
rodaram de novo, Isabella quase perdeu o equilíbrio, mas pôde ver melhor o desconhecido.
Ele era bem alto, mais de um metro e noventa. O temo lhe caía com
acurada perfeição. Os cabelos avermelhados estavam bagunçados demais e, diferentemente dos outros cavalheiros, não possuía um bigode encerado ou costeletas.
– Eu o conheço, sim – o tenente a corrigiu.
– Edward Cullen. É um congressista recém-chegado da Virgínia. Tem a reputação de ser selvagem e implacável.
– Edward Cullen – ela repetiu o nome, mas
ainda escutava os gemidos da irmã do presidente, Oh, Edward..
– Ele estudou na Europa, pelo que eu
soube. Entendo que os estudos foram à revelia dos pais, que acreditam que um cavalheiro da Virgínia deva ser educado tradicionalmente.
– E quem são os Cullens?
– O pai. Carlise Cullen, cria cavalos de
corrida. Ouvi dizer que Edward possui um talento nato para comprar animais árabes e viajou por lugares perigosos a fim de adquirir cavalos. – Jacob riu. – E agora tornou-se um congressista. – 0 sorriso do tenente desapareceu.
– O que houve? – Isabella perguntou,
confundindo-se com os passos. Sem dúvida, ele a achava uma companhia tediosa.
– Lembrei-me de meus deveres – Jacob
explicou. – Às vezes, sinto que os olhos do mundo estão sobre mim.
Na realidade, ele lidava muito bem com a atenção política, mas Isabella preferiu se abster do comentário. Não era segredo que o pai de Jacob aproveitava a festa para lançar o filho na carreira política. E, talvez um dia, na presidência,
– Entendo que sou necessário – Jacob
afirmou, sem vaidade. – Compreendo o dever de um líder, mas é um peso enorme a se carregar. Às vezes, eu preferiria...
– O que, tenente Black?
"Oh, por favor", ela pensou, "o que quer que seja, deixe-me prover-lhe essa satisfação".
– Esqueça. Vai me achar um tolo.
– Não vou, juro. Por favor, diga-me.
– No fundo, eu gostaria de viver apenas
de romance e poesia.
Isabella quase perdeu o equilíbrio, e só não tombou na pista porque
conseguiu controlar a dor nos pés. Porque a mulher tinha sempre de dançar para trás?, perguntou-se. Não era justo.
– É um desejo nobre – ela comentou.
"Oh, Jak..." o coração de Isabella clamava. "Eu lhe daria romance e
poesia pelo resto da vida". Não importava o fato de ela não saber como fazer isso, mas, por Jacob Black, descobriria um jeito.
– É tão agradável conversar com a
senhorita – ele disse. – Sinto-me à vontade. O peso de minha posição diminui quando estou em sua companhia.
Isabella teria flutuado pelo salão, se não estivesse com dor nos pés.
Ali estava sua chance. Era o momento de confessar o amor que nutria por ele desde a adolescência. Respirou fundo e arriscou.
– Tenente Black, ouso dizer que sinto o mesmo.
– Deus tenha misericórdia! – ele
exclamou, de repente, fitando a entrada do salão.
– O que aconteceu? – Isabella temia ter
exagerado na declaração.
– Quem é aquela criatura? – Jacob perguntou,
sem ao menos fitar Isabella. Aliás, ele parecia tê-la esquecido. – É uma deusa.
Bella seguiu o olhar do tenente. O mundo parou de girar ante a realidade evidente. O tenente Black e cada um dos cavalheiros da Ala Leste, inclusive o noivo, encaravam, boquiabertos, a entrada do salão, Bella não precisou imaginar quem criara tamanho fervor. Já havia acontecido inúmeras vezes,
Quando cada homem se virava, perplexo, só podia significar uma única coisa.
Sua irmã. Rosalie, havia chegado.
Tal qual Vênus, ela cintilava na Ala Lesta de Casa Branca. Como sempre, Rose vestia o último lançamento da moda, cujo corte realçava o corpo perfeito.
Mais uma vez, Isabella fitou o parceiro, que se esquecera dela e, sem dúvida, não escutara sua declaração. Por cinco minutos, fora feliz ao dançar com Jacob Black. Havia ousado imaginar que o tinha interessado e talvez, durante aqueles instantes, a atração fosse verdadeira.
Agora, claro, ele nunca mais a olharia.
– Aquela é minha irmã, Rosalie – Isabella
comunicou o inevitável. – Maravilhosa como sempre.
Então, Bella preparou-se para o que viria em seguida. Jacob Black
educadamente comentaria que ela estava corada demais. Portanto, ele a
acompanharia até a mesa de refrescos e imploraria para que fosse apresentado a Rosalie.
Por sua vez, Bella tentaria sorrir e, resignada, daria abertura para que Jacob se jogasse aos pés da irmã.
Embora não fosse proposital, Rosalie atrapalhou a concentração dos
casais que dançavam. Quando já era tarde demais, Bella percebeu que Jacob, distraído, guiava-a para a extremidade da pista de dança.
E então aconteceu. Ela tropeçou e sentiu uma dor aguda na perna. Tentou agarrar-se a Jacob, mas não conseguiu. Sobre o próprio ombro, avistou o bolo gigantesco em cima da mesa, a porcelana presidencial, os talheres de prata e os cristais irlandeses. Bella caía e sacudia os braços, desesperadamente, a fim de recobrar o equilíbrio já perdido.
O rosto do tenente Black transmitia horror. Ele moveu-se para segurá-la, mas foi em vão.
De repente, um milagre ocorreu. Um par de braços fortes agarrou-a por trás e a amparou.
– Devagar, senhorita. – A voz familiar
soou sedutora. – Não quer se tornar o prato principal do banquete.
Edward Cullen. O calor e a firmeza do corpo másculo a assustaram. Era tal qual uma parede sólida entre ela e o desastre.
Segurando-a pela mão, Edward limpou a poeira negra da luva.
– Gosto de jovens que não temem sujar as
mãos durante o dever – ele comentou, sorridente.
Humilhada, Bella afastou-se.
– Obrigada, senhor. Agora eu desejo...
– Ninguém nunca lhe avisou para ter
cuidado com o que deseja? Vamos, minha cara. A dança ainda não terminou. – Guiando-a como se Isabella fosse uma criança, Edward entregou-a ao tenente Black.
– Senhor – ele se dirigiu a Jacob –, no
futuro, aconselho-o a ficar mais atento a sua parceira de dança. – Edward
colocou-se de lado para ter certeza de que o casal se reuniria novamente. – Sabe o que costumam dizer a respeito de mulheres apressadas e éguas de raça? – Edward perguntou, piscando outra vez. – Dê-lhes rédea, e elas o derrubam da sela.
Rindo do comentário inadequado, ele se afastou.
Bella queimava de vergonha. Tinha certeza de que o tenente podia
enxergar o rubor excessivo das faces.
Ela desprezava Edward Cullen, odiava seu cinismo com o fogo de cem sóis. No entanto, apesar de tudo, existia um fato que precisava admitir. Enquanto todos os homens do salão fitavam Rosalie, o sr. Edward Cullen estivera observando somente ela.
