Partido Contrário pertence parcialmente a Rachel Lindsay! Quanto aos personagens, uns pertencem a Rachel Lindsay e outros a J.K. Rowling.


Partido Contrario

James Potter pegou a caneta, inclinou-se para a frente e começou a assinar a última carta. A luz do abajur realçava o brilho de seu cabelo escuro e dava à sua pele, geralmente pálida, um tom mais escuro.

- Pronto. - Sorrindo, ele fechou a pasta e a entregou ao secretário. - Não pode se queixar de que eu deixo o serviço atrasar.

- O senhor trabalha demais. Não sei como iria se arranjar se não existissem gravadores.

- Eu teria de conseguir mais um secretário bom como você. Se é que isso é possível - ele respondeu, levantando-se e caminhando para a porta.

James era um homem alto e magro, de trinta e poucos anos, com uma postura que fazia lembrar seus antepassados militares. Suas feições nobres mostravam que os boatos sobre o relacionamento bastante íntimo de um príncipe da Escandinávia com uma Potter podiam muito bem ser verdadeiros. Um observador atento notaria que seu belo físico era cheio de contrastes. As sobrancelhas arqueadas, tão bem-feitas que pareciam esculpidas, contrastavam com a boca sensível; os cílios espessos diminuíam a frieza dos olhos castanho esverdeados e o queixo quadrado de um homem de ação se opunha à testa larga de um pensador.

Quando chegou à saleta de estar, ele encontrou a mãe à sua espera, para tomarem o aperitivo de costume, antes do jantar. A Sra. Potter, uma mulher de cabelos grisalhos e ar imponente, estava sentada em uma confortável poltrona, olhando os anúncios de casamento no The Times. Só levantou a cabeça quando o filho lhe entregou o copo de sherry.

- Lucio Malfoy vai se casar com a filha de Cygnus Black. Isso explica por que ele ficou sócio do banco de Black, no ano passado.

James cruzou a sala para ligar o rádio. Mal ele começou a ouvir as notícias, sua mãe falou, com impaciência:

- Desligue isso. Preciso falar com você,

- Não vai me falar sobre Marlene de novo, vai? - Impaciente, ele abaixou o volume do rádio, mas não o desligou.

- Não sei o que há com vocês dois. Estão noivos há quatro meses e ainda não marcaram a data do casamento.

- Não temos pressa.

- Qualquer um diria que você não quer se casar.

- Isso é bobagem. Claro que eu quero.

- Você pode provar isso marcando a data. Ou é Marlene que está hesitando?

- Nenhum de nós está hesitando - ele falou, com calma. - Acontece que nós não estamos com pressa.

Sua mãe franziu a testa.

- Vocês já estão vivendo juntos?

Por um instante, o filho não se manifestou. Depois, sorriu forçado.

- Não, mamãe, não estamos. Mas, mesmo que estivéssemos, isso não tornaria o casamento desnecessário.

- Mas explicaria a falta de pressa. - O silêncio dele não desanimou a sra. Potter. - Você está solteiro há tanto tempo, que vai acabar virando um monge. Já é tempo de se casar e formar uma família.

- Vamos marcar a data, depois da eleição. Mas não vai ser um casamento luxuoso, mamãe. Afinal, não é o meu primeiro casamento.

- Mas é o primeiro de Marlene, e ela tem o direito de esperar alguma coisa especial. Quanto ao seu outro casamento... bem, você sabe o que eu penso daquilo. Um negócio feito às escondidas com uma estrangeira que...

- Mamãe!

- Desculpe, James, mas toda vez que eu penso no modo como ela agiu...

- Lily não teve escolha. - Ainda com o copo na mão, ele caminhou para a porta. - Tenho mais algumas coisas para fazer. Eu a vejo no jantar.

Rapidamente, James voltou para a biblioteca, um lugar grande e retangular, com móveis de mogno. Era o lugar onde se sentia melhor. De pé em frente da janela, ele olhou para o gramado bem cuidado, pensando nos enormes campos e pastagens que ficavam além dele. Era tudo seu e ele amava cada centímetro daquilo. Também amava o povo que trabalhava ali e pelo qual era responsável. Em uma coisa sua mãe estava certa: precisava de uma mulher para compartilhar tudo aquilo; precisava de filhos que crescessem sentindo a mesma coisa que ele, e que continuassem seu trabalho, quando estivesse velho demais para isso.

A imagem de Lily, a garota alta e esbelta com quem tinha se casado oito anos atrás, surgiu em sua mente. Naquela época, Lily tinha dezoito anos, era tímida e nervosa, com cabelos ruivos, pele dourada e olhos verdes. James nunca pensara que alguém pudesse ter olhos daquela cor, e quando os viu pela primeira vez, achou que refletiam a cor de seu vestido. Depois percebeu que não era assim, pois fosse qual fosse a cor de suas roupas, os olhos dela continuavam com aquele tom verde-amendoado, tão raro.

Como tudo estava distante! Aqueles oito anos pareciam uma vida inteira. Quando se lembrava do rapaz que fora naquela época, tinha a impressão de estar pensando em um estranho. Mas, sem dúvida, aquele rapaz tinha uma certa semelhança com o homem sério e maduro de agora, que pedira demissão de seu emprego no Ministério do Exterior para tomar conta das terras de seu pai. O homem que logo ia se casar com a filha de Lord Mckinnon.

James tentou voltar seus pensamentos totalmente para o presente, mas não conseguiu. A imagem de Lily, como a tinha visto pela primeira vez, tomou conta de sua mente.

Ele trabalhava na Embaixada da Inglaterra em Rovnia, e naquele lindo dia de verão participava pela primeira vez de um festival rovniano. Junto com alguns amigos foi até o centro da cidade observar o Carnaval das Rosas, uma festa tão antiga, que ninguém mais se lembrava de seu significado. Não que alguém se importasse com isso. Para a juventude de Rovnia, qualquer desculpa para se divertir era boa.

O povo dançava nas ruas, brindando com vassi, um vinho doce e leve da região, e aplaudindo animadamente os carros alegóricos que passavam por ali, carregados de rosas de todas as cores e tipos.

Foi só depois que o décimo carro passou que James viu a garota alta e esbelta, junto com um bando de jovens, do outro lado da praça. Ela estava com o traje tradicional de Rovnia, uma saia rodada e uma blusa bordada em tons alegres. Não estava cantando e acenando para todo mundo, como as amigas. Pensativa, observava os carros que passavam. Se a moça estivesse mais perto, ele teria ido até lá para tentar descobrir por que ela estava tão triste, quando todos em volta estavam tão felizes. Mas no momento em que esse pensamento passou-lhe pela cabeça, a multidão se moveu e a garota desapareceu de vista.

Mais tarde, depois que ele e os amigos comeram e beberam à vontade, James não quis se juntar às pessoas que dançavam na rua e decidiu voltar para casa. As ruas estavam superlotadas e frequentemente as pessoas o paravam, tentando convencê-lo a se divertir com elas. Foi depois que ele recusou o quinto convite e estava abrindo caminho na direção da rua que levava à embaixada, que viu a garota ruiva de novo. Ela estava com um grupo de jovens e parecia se divertir bastante. Logo depois, eles começaram a dançar de um modo cada vez mais animado e James percebeu que ela estava achando difícil acompanhar os outros, e tentava em vão sair da roda. Num impulso, James estendeu os braços e a segurou pela cintura, quando ela passou por ele, retirando-a da roda.

- Você está bem? - perguntou, mostrando logo que era estrangeiro, pelo modo como falava o rovniano.

- Estou sim, obrigada. Foi muito gentil me tirando da roda.

Fez um movimento para ir embora, e ele deu um passo à frente, barrando seu caminho. James ficou surpreso com seu gesto, pois não era um rapaz impulsivo. Mas havia alguma coisa naquela garota que fazia com que tivesse vontade conhecê-la melhor.

- Conheço um restaurante calmo, aqui perto. Vamos até lá tomar um aperitivo? - Percebeu a hesitação dela e disse: - Meu nome é James Potter e trabalho na Embaixada da Inglaterra.

- Eu sou Lily Evans.

Estendeu a mão com timidez e ele a apertou sorrindo.

- Agora que nos apresentamos - James continuou -, espero que concorde em tomar um chocolate gelado comigo.

Isso foi o começo de uma amizade, que logo se transformou em um sentimento mais profundo. Inteligente e bem-educada, Lily não era liberada como as outras moças. Seus pais já eram de meia-idade, quando ela nasceu, e a garota tinha um modo de pensar diferente do das amigas, o que às vezes a fazia se sentir uma estranha no meio delas.

- Mas eu não mudaria nada na minha vida - Lily confessou. - Meu pai é um historiador e eu aprendi mais com ele do que com qualquer outra pessoa. Para ele, o passado é tão real quanto o presente. Às vezes acho que é até mais real, e sinto medo por ele.

James não precisou perguntar o que ela queria dizer com essas palavras pois sabia qual era a política de Rovnia. Aqueles que se lembravam do passado, cheio de liberdade, não podiam deixar de compará-lo com o presente, onde até os pensamentos eram controlados.

Mas naqueles dias quentes de verão, a situação política de Rovnia não era a coisa mais importante na cabeça de James. Ele só conseguia pensar em uma coisa: fazer de Lily sua esposa. Para sua surpresa, o embaixador não tentou obrigá-lo a mudar de idéia, e o governo de Rovnia não fez nenhuma objeção ao casamento de uma moça dali com um estrangeiro. É claro que o fato do pai de Lily ser um historiador famoso no mundo inteiro teve muito a ver com isso. Mas, para James, ele podia ser um camponês, que não ia fazer nenhuma diferença. Era Lily que ele amava. Era com Lily que ele queria passar o resto de sua vida.

Quando eles estavam em lua-de-mel, a situação política do país piorou. Houve um golpe de Estado, o primeiro-ministro foi deposto e um ditador tomou conta do governo. James foi chamado de volta para a Inglaterra e, dez dias depois do seu casamento, Lily despediu-se dele no aeroporto.

- Logo estaremos juntos, querido - ela sussurrou. - Meu passaporte vai ficar pronto em uma semana.

- Vou ficar contando as horas. - James abraçou-a com força. Nenhum deles podia imaginar que nunca mais iam se ver.

No início, Lily não foi para a Inglaterra porque seu pai foi preso e ela não quis deixar a mãe sozinha. James lhe implorou para deixar Rovnia enquanto ainda podia. Falou com ela duas vezes pelo telefone, mas Lily se tornou cada vez mais reticente e ele teve que aceitar seu silêncio. Logo depois ela lhe escreveu, contando que tinha pedido permissão para levar a mãe para a Inglaterra. Mas a alegria do rapaz durou pouco; a permissão foi negada, e pior ainda, a de Lily cancelada.

Várias vezes ele foi à embaixada em Londres, mas sempre conseguia a mesma informação: eles estavam entregando suas cartas para Lily, e se ela não respondia era porque não queria. James se recusou a acreditar nisso e continuou a lutar pela libertação da esposa, mesmo sem receber uma palavra dela. Então, um dia antes de completarem dois anos de casados, o governo de Rovnia anunciou que todos os seus cidadãos casados com estrangeiros tinham pedido a anulação de seus casamentos.

- Não acredito que minha mulher tenha feito isso de livre e espontânea vontade - James explodiu com o funcionário da Embaixada de Rovnia: - Ela deve estar sendo forçada.

James continuou a amolar o pessoal da embaixada, e só quando seu chefe no Ministério do Exterior o avisou de que ele podia estar prejudicando Lily com sua atitude, foi que percebeu que talvez estivesse colocando a vida dela em perigo.

Não foi fácil para o rapaz aceitar que seu casamento acabara, e com o tempo ele começou a imaginar se o silêncio dela, naquele primeiro ano, fora deliberado. Talvez Lily não quisesse sair de Rovnia. Se quisesse, teria dado um jeito de escapar. Aos poucos, James se convenceu disso e seu amor por Lily começou a desaparecer.

Quando seu pai morreu, ele pediu demissão de seu emprego e voltou para casa, esquecendo seu casamento desfeito. Gradualmente, o rapaz se estabeleceu como fazendeiro, reencontrando a paz e a tranquilidade que pensava ter perdido para sempre.

Os anos se passaram e seis meses atrás ele decidiu que não só tinha que cuidar de sua herança, como também conservá-la para o futuro. Por isso, pediu Marlene McKinnon em casamento. Ela era uma garota de cabelos castanhos e maneiras frias e elegantes. James a conhecia desde a infância; eles gostavam um do outro e seu casamento seria baseado em interesses de ambas as partes.

Logo depois, o representante daquele distrito no Parlamento morreu, e pediram a James para se candidatar ao lugar. Como estava muito interessado nas fazendas da região, aceitou. Sabia que ia ter que lutar muito para vencer seu oponente, Sirius Black, cuja família era muito importante na Inglaterra. Black era considerado a ovelha negra da família, por não concordar com os seus costumes "nobres", mas ainda assim ainda era um Black.

- Eu não vou ser membro do Parlamento apenas nas horas vagas - Black costumava repetir, insinuando que James estava muito preocupado com seus próprios problemas como fazendeiro, para se preocupar com o dos outros.

James tentou desmentir, mas Black sempre repetia o ataque.

Enquanto pensava isso, bateram à porta. Um rapaz forte e loiro entrou.

- Estou amolando você, James?

- De jeito nenhum. Venha beber alguma coisa. Como vai o pessoal?

Remus Lupin, que era seu cunhado e administrador da fazenda, sentou-se numa poltrona, com as pernas estendidas.

- Grant está reclamando do telhado, de novo. Já mandamos arrumá-lo duas vezes, este ano. Acho que todas as noites o velho sobe nele, para fazer buracos.

James riu.

- É melhor mandar arrumar novamente.

- Você é muito mole - Remus comentou. - Aquele homem é uma peste.

- Com oitenta anos de idade, ele tem o direito de ser até duas pestes! Mais alguma novidade?

- Não. - Fez uma careta. - E agora sua irmã deu para reclamar que não acontece nada por aqui.

- Ela deve estar aborrecida. Por que não a leva para jantar fora, esta noite?

- Estou muito cansado. E Charlotte também estaria, se trabalhasse o dia inteiro.

James não disse nada. Ele sabia que Remus não gostava de viver com a família da esposa, mas achava que isso era uma coisa que eles tinham que resolver sozinhos.

- Vamos tomar um aperitivo - James convidou, para mudar de assunto. Remus o acompanhou até a porta.

- Marlene vem para cá, esta noite?

- Já deve estar aqui.

James abriu a porta da sala de estar. Marlene e sua mãe estavam sentadas no sofá e a garota olhou sorrindo para ele, que se inclinou para beijá-la no rosto. Como Marlene estava bonita, naquele vestido azul-marinho tão simples! - pensou.

- Que tal uma volta de carro, depois do jantar? - ele murmurou, excitado com o aroma do perfume que ela usava.

- Seria ótimo. Se você... - Marlene se interrompeu, quando o mordomo entrou e parou ao lado de James.

- Desculpe-me, Sr. Potter, mas tem uma moça aí, querendo falar com o senhor.

- A esta hora da noite! - sua mãe reclamou.

- Quem é, Hamford? - James perguntou.

- Ela não quis dizer o nome. Só disse que precisa ver o senhor.

- Bem, é melhor mandá-la entrar. - O mordomo saiu e ele falou para a noiva: - Deve ser alguma eleitora.

A porta se abriu e uma mulher, usando um casaco preto deselegante, entrou. Seus cabelos despenteados estavam cobertos por um lenço estampado de azul e calçava sapatos sem saltos. Em uma das mãos, carregava uma bolsa desengonçada e na outra uma sacola já bem gasta, que pousou sobre o tapete.

Por um momento, as três pessoas que estavam na sala olharam fixamente para a desconhecida. Depois, James deu um passo à frente.

- A senhora quer falar comigo? - perguntou, com cortesia.

A mulher olhou-o e a luz suave de um abajur caiu sobre suas feições magras e angulosas. A cor acinzentada de seu rosto mostrava que isso era devido à falta de alimentação, e não a um tipo físico. Era difícil adivinhar sua idade, mas James percebeu que, com uma boa alimentação e alguns cuidados, ela poderia adquirir um ar bem mais jovem.

- James! - Seu nome saiu dos lábios dela, com um som claro que cortou o ar como se fosse um raio laser.

Ele franziu a testa.

- Acho que não... - A horrível suspeita que se infiltrou em sua mente fez com que se interrompesse. Continuou olhando fixamente para a moça, como se esperasse que a intensidade de seu olhar a fizesse sumir. Mas aquela criatura magra, de idade indeterminada, usando roupas pretas humildes, não desapareceu. O que mais o impressionou foram as mãos dela, calejadas e vermelhas de tanto trabalhar, com as unhas quebradas, movimentando os dedos de um modo convulsivo. Foi avista daqueles dedos que despertou nele o senso de responsabilidade.

- Lily! - ele murmurou. - Não... Não pode ser você, Lily!

Ouvindo-o dizer seu nome, a mulher soltou um soluço áspero e jogou-se em seus braços. Desajeitadamente, James começou a dar tapinhas nos ombros dela, olhando por sobre sua cabeça para Marlene e sua mãe, que o fixavam horrorizadas. Mas nada podia se comparar ao horror que ele mesmo sentia.

- É... minha... é Lily - disse alto. - Ela deve ter escapado... e veio diretamente para cá.

- Oh, meu pobre James! - A voz de sua mãe se ergueu. - O que é que nós vamos fazer?