Eu sou meio antiga aqui no ff, e ultimamente tenho percebido que a maioria das fics ShikaTema são extremamente parecidas. Um tal de briga-apelido-provoca-sexo-felizesprasempre, que mesma já usei um bocado, mas o negócio ficou velho e parece que tudo continua no mesmo lugar. Então eu escrevi essa fic há um bom tempo, com a intenção de fugir desse negócio de briga, sabe? Eu adoro uma briguinha ShikaTema, mas me falta ler fics em que eles não estão brigando ou agindo meramente pelos impulsos. Essa fic é o que saiu.
Enfim, é um presente pra Natii-chan, minha amora k-pop lover que destruiu meu ideal de perfeição nipônico quando me apresentou o Siwon. Eu ainda não te perdoei, ahahah!
Espero que você goste!
Disclaimer: Naruto e seus personagens são de propriedade do pior mangaká do mundo, também conhecido por Masashi Kishimoto.
Rating: T por precaução. Não tem nada demais.
Avisos/Observações: Essa fic terá dois capítulos e um epílogo. Eu devo postar o segundo capítulo em no máximo duas semanas, tenho que dar tempo para a minha beta corrigir e ela é uma moça ocupada! E por falar nisso, obrigada de novo, Lirit! Eu não deixei a nota no fim porque ela era mais pra mim. XD
Esta fic também contêm insinuações de outros casais, mas meras insinuações. Muita gente morreu também.
Capítulo I - Missão
O silêncio na sala do Hokage era absoluto, apesar do grande número de shinobis presentes. A curiosidade imperava, pois todos queriam saber o motivo daquela "reunião de emergência" que fez com que todos abandonassem seus afazeres para ir ao encontro do Sétimo imediatamente, mas ninguém ousava dizer qualquer palavra antes do Kage. E ele não parecia ter pressa, como lhe era habitual.
- Bem, - Kakashi finalmente disse, cruzando as mãos sobre a mesa – Imagino que todos estejam curiosos para saber por que motivo os chamei aqui com urgência.
Os homens se entreolharam em concordância, alguns chegando a balançar a cabeça num movimento que denotava ansiedade. Shikamaru cruzou os braços na frente do peito, observando as ruínas do que fora o Hospital de Konoha pela grande janela da torre. O que quer que o Hokage tivesse para dizer, não estava muito interessado.
- Vocês sabem que os resultados da última guerra foram desastrosos para todos os países ninja. – A voz do Hatake voltou a soar de maneira explicativa, apontando o óbvio.
A última Guerra. Um ano atrás, Konoha – e a maioria das Vilas Ocultas – ainda estava inteira. Sim, aquela era a expressão que poderia ser usada. A destruição causada por Pein não era nada comparada à devastação causada pela Terceira e última Guerra Ninja. Poucos prédios permaneciam de pé e a reconstrução era lenta, afinal havia sobrado pouca gente para realizar o trabalho.
- Por isso, precisamos nos empenhar na reconstrução da Vila, mas não apenas na sua reestruturação física. – Kakashi continuou com expressão de desinteresse, impassível. - Konoha precisa ser repovoada. Urgentemente.
Um pequeno burburinho se espalhou pelos homens presentes, que se entreolhavam. Alguns estavam surpresos, outros tentavam desvendar significados ocultos das palavras, e ainda alguns se cutucavam inquietos, mais do que animados para começar o "serviço" insinuado.
- Como disse? – a voz grave de Neji soou pela sala abarrotada, impondo-se sobre os murmúrios, que foram imediatamente silenciados. – Quer que tenhamos filhos, é isso?
- Precisamente. – O Hatake confirmou. – Preciso que todos se empenhem na tarefa de ter filhos. É a missão prioritária de vocês agora.
Os murmúrios recomeçaram com mais animação enquanto Shikamaru observava o Hokage, atônito. Só mesmo o maior leitor e fã do Ero Sennin poderia dar ordens tão absurdas a homens que haviam lutado a Guerra mais cruel e destrutiva de seu tempo.
- Se começarem logo, em nove meses teremos uma estrutura melhor para receber novos moradores. O tempo é perfeito. Mas haverá regras. – a voz do Copy Ninja soou mais alta e um tanto autoritária, tentando controlar a onda de animação que o anúncio da "missão" havia causado. Os homens foram ficando em silêncio, interessados em ouvir as limitações da tarefa e partir para a consumação. O herdeiro do Clã Nara continuou silente, ainda surpreso com o teor das ordens recebidas. Não entendia como Kakashi esperava que tivessem tempo para pensar naquilo quando tinham tantos problemas. Se bem que para fazer "aquilo" não era preciso pensar.
Não que ele não soubesse do déficit na população de Konoha. Era fácil ver que quase não havia mais homens adultos ou até mesmo crianças. Especialmente crianças. Isso sem mencionar idosos, ele nem sabia dizer quando fora a última vez que vira um. Havia sido praticamente um massacre e poucos haviam conseguido sobreviver. Ele tinha muita sorte por ainda ter seus pais vivos, ainda que seu pai ainda não pudesse deixar o leito e sua mãe aparentasse ter envelhecido 15 anos em um único mês. Muitos que estavam ali naquela sala não tinham mais ninguém.
- Não pensem que com essa missão vocês poderão sair por aí molestando todas as mulheres que ainda sobraram na Vila. Terão que se casar com elas. – Kakashi explicou. Ele empurrou uma pilha de papéis que estavam sobre sua mesa para frente, de modo a chamar a atenção para os documentos. – Aqui estão certidões de casamento para todos vocês, já assinadas por mim. Não teremos tempo para realizar cerimônias, Konoha precisa de bebês logo. É só assinar, fazer com que a moça assine e tudo estará legalizado. Ainda prezamos as estruturas familiares, a moral e os bons costumes, não estou promovendo o sexo livre ou o nascimento de crianças sem qualquer tipo de apoio ou família. Já nos bastam os órfãos da guerra.
Alguns muxoxos puderam ser ouvidos, mas logo todos pareceram concordar com as condições impostas. Shikamaru enfiou as mãos nos bolsos enquanto observava uma fila ser formada para a distribuição de certidões de casamento, sem conseguir deixar de pensar naquilo como um absurdo quase desumano. Fabricar bebês, assim, de sopetão? Casar não era uma decisão a ser tomada repentinamente. Antes de se perder em mais pensamentos, percebeu Kiba parado a seu lado, com maneiras atipicamente reticentes.
- Kiba? – ele perguntou desconfiado, arqueando uma sobrancelha.
- Oe, Shikamaru. – O Inuzuka cumprimentou, sem jeito. - Ordens malucas, não? – o rapaz tentou disfarçar o desconforto tocando o curativo em sua bochecha de maneira distraída.
- O que foi, Kiba? – Shikamaru cortou, estranhando o comportamento esquivo do amigo.
O Inuzuka o olhou, aparentando agitação. Um longo momento se passou.
- Você pretende ficar com a Ino? – o outro perguntou por fim, sem rodeios.
- Ino? – Shikamaru franziu o cenho ao ouvir o nome da única companheira do time 10 que ainda estava viva. A realidade da missão o atingiu em cheio. – Não! Kami-sama não, ela é como se fosse minha irmã. – ele completou com uma careta.
- Posso pedir para que ela case comigo, então? – Kiba sorriu levemente, parecendo mais com ele mesmo.
- Por favor! Konoha está quase sem habitantes, vá fazer bebês tagarelas com a Yamanaka. – O Nara deu um tapinha em um dos ombros de Kiba, rindo da sugestão absurda e fazendo com que o outro shinobi também risse.
- Ela ficou bonita com o cabelo curto. – Kiba comentou com um sorriso leve, um pouco encabulado.
- Ficou. – Shikamaru concordou, pensando na médica-nin. Em uma explosão, o cabelo longuíssimo da Yamanaka havia pegado fogo, queimando a maior parte das madeixas loiras e obrigando a vaidosa kunoichi a cortá-los abaixo das orelhas.
- Ela fica linda de qualquer jeito. – Kiba murmurou.
O Nara sorriu. Talvez nem todos os casamentos estivessem condenados a ser um erro, afinal.
A algazarra era grande enquanto os homens se acotovelavam para pegar os papéis, e a voz de Kakashi voltou a ser ouvida, com uma pontada de bom humor distinta.
- Ah, e quem tiver um filho primeiro vai ganhar uma recompensa, sim? Muito satisfatória, devo adicionar. E não preciso mencionar que todos os bebês serão bem vindos, mas torcemos especialmente pelo nascimento de meninos, preciso?
Shikamaru suspirou cansado. Além de fazer com que os shinobis saíssem pela Vila procurando mulheres como se caçassem fêmeas no cio, o homem ainda transformava tudo numa competição.
A sala se esvaziava rapidamente e o Nara continuava onde estava, relutante em ir apanhar a certidão. Não queria se casar apenas para a reprodução. Mulheres já eram problemáticas quando envolvidas, que dirá as apressadas num compromisso sem termo final, que implicava vida comum e responsabilidade vitalícia com filhos? Choukso. Mas ele era um shinobi que havia acabado de receber ordens de seu superior, não poderia contestá-las diretamente.
E pior ainda, com quem se casaria? Não havia nenhuma garota em Konoha por quem ele realmente se interessasse.
Aproximou-se da mesa a passos lentos. Neji lia sua certidão com atenção, levantando os olhos para Kakashi, que ainda permanecia sentado com ar divertido, como se a situação toda fosse muito engraçada.
- Hokage-sama? – o Hyuuga encarou o Hatake com ar desconfiado.
- Yare, a sua certidão já tem um nome. – O Copy Ninja concordou. - Na verdade, tomei a liberdade de indicar com quem deve se casar, assim como tenho um nome para Shikamaru também.
- O quê? – o ninja das sombras se aproximou ao ouvir seu nome. – Vão me obrigar a casar com alguém predeterminado?
- Não veja por esse lado, Shikamaru. Você estará ajudando seu país a se reerguer. Mais do que uma missão militar, é um dever cívico!
- Tsc...
- Então, ela só precisa assinar? – Neji interrompeu, ainda confuso.
- Você entende que são os últimos sobreviventes do Clã, não Neji? – Kakashi voltou a se dirigir ao Hyuuga, que o observava intensamente. – O Clã Hyuuga é um dos mais prestigiosos e antigos de Konoha, a missão de vocês é também manter a linhagem e as origens. Sabe disso.
- Entendo, Hokage-sama. – Neji disse. – Vou falar com Hinata-sama.
- Penso que ela não vai se opor. Só precisa assinar. – Kakashi sorriu por detrás da máscara, quase malicioso.
O Hyuuga se curvou num cumprimento formal e se afastou, mancando visivelmente. O ferimento de guerra já havia sido tratado, mas nenhum médico-nin conseguia fazer com que ele parasse de sentir dores ou de mancar. Junto com a prima, Neji era o único sobrevivente dos orgulhosos Hyuuga, e ela estava em condições não muito melhores que ele. Ajudava-o na reconstrução do que fora o Clã, e também trabalhava como médica-nin no hospital. Todos carregavam marcas e cicatrizes, umas mais, outras menos visíveis.
- Tenho um pedido especial a você, Shikamaru. – O Hokage voltou a se dirigir ao Ninja das sombras quando os dois ficaram quase sozinhos.
Kakashi estendeu a certidão a Shikamaru, que pegou o papel, hesitante. Leu rapidamente o nome da moça com quem deveria se casar e encarou o homem com cabelos prateados sem conseguir esconder o espanto.
- Sakura? – ele perguntou, surpreso.
- Sakura. Ela está sozinha, Shikamaru. Depois que Naruto e Sasuke morreram na última guerra, ela perdeu o chão e um pouco da razão de viver. Sei que são amigos e que você não tem interesse em nenhuma moça em particular. Estou pedindo não apenas como Hokage, mas também como sensei dela. Por favor, cuide dela. Está tão fragilizada, imersa em trabalho e em sofrimento.
Shikamaru passou a mão pelo rosto, nervoso. Como poderia se casar com Sakura? Eles eram amigos, por Kami-sama. Nunca vira a Haruno como nada além de... uma garota chorona que havia se tornado uma grande médica nin.
- Mas... nunca a vi como mulher, Kakashi-sensei. – Shikamaru encarou seu superior com sinceridade absoluta. – Como isso poderia funcionar?
- Talvez dessa amizade nasça um sentimento. Você só precisa dar uma chance a ela, e tempo ao tempo.
O Nara olhou para cima, suspirando. Ordens eram ordens, por mais problemáticas que soassem.
- Vou conversar com ela. – disse resignado.
- Arigato. – Kakashi sorriu. – Ela já sabe das ordens que daria hoje, só não disse que já havia pensado em um pretendente para ela. Não serão necessários melindres para abordar o assunto.
- Ah. – o ninja mais jovem dobrou o papel e colocou-o em seu porta-kunais. – Hai.
- Sei que cumprirá suas ordens. – o ninja de cabelos prateados disse por fim, não deixando dúvidas quanto à natureza da sugestão.
Enquanto saía da sala e percorria os corredores do prédio, Shikamaru pensava no que tinha que fazer e no que diria quando encontrasse Sakura. Feh, que saco. Era verdade que não tinha interesse em nenhuma moça de Konoha, mas isso não queria dizer que não houvesse alguém.
Sempre houve alguém.
O problema é que ele não sabia se ela estava viva ou morta. Não tinha notícias dela há quase dois anos.
Quando alcançou a rua, o sol ofuscou sua vista, fazendo com que ele tampasse os olhos com a mão esquerda. A falta de prédios fazia com que os raios solares castigassem Konoha com severidade ainda maior. Incomodado com a luminosidade, Shikamaru entrou na casa de chá mais próxima – e único estabelecimento do tipo que ainda funcionava em Konoha – e qual não foi sua surpresa quando encontrou justamente a pessoa com quem deveria conversar, sentada sozinha na primeira mesa.
- Sakura?
A kunoichi de cabelos rosados levantou os olhos para ele, sorrindo em seguida.
- Shikamaru! Bom te ver. Quer sentar e tomar um refresco? – ela apontou a cadeira à sua frente.
- Ah, claro.
O Nara sentou-se e pediu chá para a garçonete que surgiu em seguida. Assim que a moça lhe trouxe a bebida e deixou-os novamente a sós, Shikamaru tentou iniciar uma conversa.
- Acabou seu turno no hospital?
- Hai... mas amanhã cedo volto. Os feridos ainda são muitos e os médicos, poucos. Vai ser difícil consertar todo mundo.
- Algumas feridas ficarão. – Shikamaru refletiu, pensando nas próprias perdas. Chouji havia sido a mais dolorosa, mas incontáveis amigos também haviam perecido.
- Para sempre. – Sakura concordou com o olhar vazio, atormentada pelas próprias lembranças.
O silêncio se prolongou e as bebidas terminaram. O assunto que deveria tratar com a kunoichi parecia um peso que Shikamaru precisava aliviar, e a inquietação fez com que ele se levantasse.
- Quer dar uma volta? – ele convidou a garota, enfiando as mãos nos bolsos. Se caminhasse, conseguiria controlar o sentimento incômodo que tinha desde que recebera suas ordens.
Sakura assentiu e logo eles caminhavam pelas ruas quase vazias da Vila. Era perto das seis da tarde, e o sol começava a se por. Em outros tempos as ruas estariam apinhadas de gente, aproveitando o início de noite que refrescava o dia quente de início de primavera, mas agora as poucas pessoas que passavam por eles simplesmente queriam ir para o que restava de suas casas.
- Sakura? – Shikamaru começou, pensando numa maneira de falar sobre a "missão". Maldito Kakashi.
- Sim?
- Kakashi nos passou uma missão esta tarde, e pediu para que eu falasse com você.
A Haruno olhou-o sem expressar nenhuma emoção.
- Que tipo de missão? – ela perguntou, por fim.
Shikamaru arqueou uma sobrancelha. Kakashi tinha dito que ela sabia.
- Sobre a população de Konoha. – ele testou.
Os olhos verdes da garota finalmente refletiram entendimento.
- Ah. Então Kakashi-sensei escolheu você. – ela disse em tom tristonho enquanto olhava para o chão. – Sinto que seja assim, Shikamaru.
- Eu entendo as ordens e a situação do nosso País. Se for o que devemos fazer agora, então que assim seja. – O Nara comentou de maneira resignada.
Sakura sorriu.
- Realmente se tornou um homem, Shikamaru. Asuma-sensei ficaria orgulhoso em te ouvir falar assim.
Chegaram a uma pequena praça e sentaram-se num banco. As primeiras estrelas já despontavam distantes no céu multicor.
- Sei que você queria se casar por amor, Sakura. Sempre pareceu ser uma garota romântica. – Shikamaru comentou.
A rosada suspirou.
- Meus sonhos foram enterrados com a última guerra. Às vezes penso ser uma injustiça eu ainda estar viva quando tantos morreram. As ilusões foram um preço baixo a ser pago.
- Todos tiveram seu papel nessa guerra. As perdas foram inevitáveis.
- Eu sei. – ela cruzou as mãos no colo, reflexiva, por um momento. Então ela sorriu, mudando de assunto. – Mas por outro lado, fico feliz por Kakashi ter me escolhido para casar com você.
Shikamaru passou as mãos pelo cabelo, subitamente nervoso com o comentário.
- Mesmo. – ele comentou desconfortável.
- Não sinto repulsa com a idéia de ir para a cama com você. Na verdade é bem o contrário. Sempre foi um dos rapazes mais cobiçados da Vila. – Sakura comentou com uma risadinha.
O Nara engoliu torto e sentiu-se suar frio. Todas as mulheres do mundo tinham que ser problemáticas?
- Yare...
- É verdade! Acho que só perdia para Sasuke-kun em número de fãs, ainda mais quando se tornou o único shinobi de Konoha a matar um Akatsuki. Sabia disso, não? – Sakura ainda ria.
O Nara enfiou as mãos nos bolsos da calça, fazendo uma careta. Ele sabia, mais ou menos.
"- Aquela garota gosta de você. – Ino comentou enquanto curava a perna dele. – Parece um urso hipnotizado com um favo de mel. - ela completou rindo.
- Eu não sou comestível. – ele respondeu mal humorado.
- Bem, tem gente que discorda. Um número até grande, se você quer saber. – ela riu."
- Feh, isso é ridículo. - ele comentou por fim, lembrando-se da conversa com a companheira de time.
Sakura riu novamente, parecendo realmente divertida com o desconforto dele. Então resolveu deixar tudo pior.
- Já esteve com uma garota, Shikamaru?
Pego de surpresa, o ninja das sombras engasgou e começou a tossir de maneira convulsiva. Sakura riu ainda mais. Quando se acalmou, ele encarou a Haruno.
- Não estou com você aqui agora? – perguntou inocente enquanto tentava recuperar o fôlego.
- Sabe o que quis dizer... E está tão vermelho quanto um tomate! – a garota apontou.
- Choukso...
- Vamos, tenho o direito de saber já que vai ser meu marido.
Shikamaru respirou fundo e deixou seu olhar se perder no horizonte enquanto sua mente se perdia em lembranças. Cabelos cor de areia e revoltos, olhos que não eram nem verdes nem azuis, mas uma perturbadora mistura dos dois, temperamento explosivo, língua afiada, corpo curvilíneo e o sabor mais doce que jamais havia experimentado.
A única mulher por quem jamais se interessara – e a única por quem se interessaria. A maior problemática que poderia encontrar, a única cujo corpo se encaixava perfeitamente no dele.
Sabaku no Temari.
A guerra os havia separado e era doloroso pensar que ela pudesse estar morta. Era uma mulher forte e capitã de uma das divisões mais combativas do exército de Suna, certamente seria um alvo almejado, mas dificilmente alcançado. Ele saberia se ela houvesse sucumbido, não saberia? Mas se ela ainda estivesse viva, por que não dera nenhuma notícia até então?
Seu peito pareceu pesar sobremaneira e ele estralou as juntas dos dedos. Sentia falta daquela mulher problemática que havia conseguido vencer as resistências dele e se instalado em seu coração. Como poderia se casar com Sakura quando seus pensamentos e emoções pertenciam à outra mulher? Um nó formou-se em sua garganta e ele lutou para controlá-lo, maldizendo o sentimentalismo inoportuno. Chorar faria com que ele lembrasse ainda mais de Temari, e certamente não gostaria de ser chamado de bebê chorão por outra pessoa.
- Eu a conheço? – Sakura perguntou de maneira suave, tirando-o de seus devaneios.
O Nara a olhou, surpreso. A kunoichi sorriu de maneira doce.
- Pareceu tão distante e tão perdido em lembranças que ficou claro que a resposta da pergunta é sim.
Shikamaru suspirou novamente e subitamente notou que Sakura também tinha olhos verdes. Aquilo não o ajudaria em nada.
- Existe alguém. Ou melhor, existiu. – ele admitiu, olhando para frente. – E você a conheceu.
Sakura estreitou-o os olhos e observou-o curiosa. Então arregalou os olhos, risonha.
- Temari-san!
Não havia sido uma pergunta, mas uma constatação. Seria inútil negar.
- Como é que não me dei conta disso antes? Era tão óbvio, tão óbvio! – a médica-nin exclamou animada, a descoberta parecendo tirá-la da apatia anterior. – Shikamaru, Shikamaru... sempre na frente. Se tornou chuunin antes de nós, e também se tornou homem antes dos outros. Como foi que conseguiram esconder de todo mundo?
- Não escondíamos. Só éramos discretos. – o Nara resmungou.
- Mas negaram quando o Naruto perguntou daquela vez.
- Contar ao Naruto era a mesma coisa que contar para todo mundo. Não queríamos fazer alarde e nosso relacionamento só dizia respeito a nós dois.
- Verdade. – ela sorriu com ar saudosista. – Aquele idiota não conseguia manter a língua atrás dos dentes.
Shikamaru ficou em silêncio e Sakura pareceu novamente perdida nos próprios pensamentos. O tom dela então mudou do divertido para o preocupado.
- E agora, Shikamaru?
- O quê?
- Temari! Tem notícias dela?
- Não. – o humor do ninja se tornou sombrio. – Não tenho nenhuma notícia desde o fim da guerra. Acho que ela não sobreviveu.
- Não deveria pensar assim! – Sakura ralhou, enérgica. – Recebemos notícia de todos os shinobis importantes que morreram no front¹ e Temari-san não estava entre eles.
- Tem certeza? – ele perguntou ansioso.
- Absoluta. Controlei esse tipo de informação pessoalmente depois que Shizune... – ela não terminou a frase.
Shikamaru considerou a informação, tentando não alimentar a ponta de esperança que surgiu em seu íntimo.
- Acha que...
- Acho que você não pode se casar comigo enquanto não tiver certeza sobre ela.
Ele observou Sakura, que o encarava de maneira séria. Sempre foram amigos e honestos um com o outro, não poderia esperar outra atitude dela.
- Acho que você tem razão. Preciso ir para Suna. – ele disse mais para si mesmo do que para Sakura.
- Até demorou demais. – a Haruno comentou com um muxoxo.
- Parto amanhã mesmo, depois de falar com Kakashi. - Shikamaru se levantou, com energia renovada.
- Boa sorte. Espero que encontre o que procura. – Sakura sorriu.
- Arigato. – Shikamaru inclinou a cabeça. – Por tudo e por entender.
- Não precisa me agradecer, não daríamos um bom casal. Seríamos mais uma dupla de infelizes forçados a viver sob o mesmo teto... Não sei onde isso poderia dar certo. – ela completou debochada. – Agora vá descansar, porque tem uma viagem longa.
Shikamaru seguiu o conselho dela, e o caminho até seu Clã pareceu mais curto do que de costume. Quando atravessou os portões, sua esperança de que Temari estava viva já havia se restaurado quase que por completo.
A propriedade dos Nara também sofreu avarias sérias. A casa principal estava totalmente reconstruída devido aos esforços de Shikamaru e seus pais, que trabalharam noite adentro. O serviço pesado havia prejudicado a saúde de Shikaku, já debilitada pela guerra, mas tinham relativo conforto. O maior prejuízo havia sido a floresta secular, mas as árvores voltaram a se erguer altivas com alguma ajuda de Yamato. Ele havia se tornado o homem mais requisitado da Konoha no pós-guerra.
Quando entrou em casa, encontrou sua mãe aplicando um ungüento especial nas costas de seu pai. Depois de explicar a missão recebida, recebeu a perplexidade dos mais velhos.
- O filho do Canino Branco ficou louco. – Shikaku murmurou.
- Como pode se casar com aquela moça, Shikamaru? Eu nem a conheço.
- Não vou. – O Nara mais novo explicou.
- Como? – sua mãe franziu o cenho.
- Vou para Suna pela manhã. Preciso saber se Temari está viva. – Shikamaru explicou num só fôlego.
- Kakashi vai permitir que faça isso? Não estaria descumprindo ordens, querido? – Yoshino questionou.
- Ele é razoável, mulher. A ausência de Shikamaru é perfeitamente justificável. – Shikaku disse.
- Espero que saiba o que está fazendo. – A mãe dele estava preocupada, e Shikamaru entendia. Depois de todas as dificuldades, a matriarca havia ficado muito receosa.
- Eu sei. Vou falar com o Hokage amanhã. – Shikamaru afirmou com convicção, tranqüilizando os pais.
- Então que Kami-sama te abençoe, meu filho. Vá para Suna e traga aquela moça com você.
Na manhã seguinte, o sol mal tinha raiado quando ele entrou pelo escritório do Hokage. Kakashi ouviu-o com ar de incredulidade, mas autorizou a viagem e aceitou as explicações que o chuunin lhe deu, especialmente quando o Nara disse que fora sugestão de Sakura.
O Hatake estava se divertindo com o simples fato de Shikamaru estar fazendo tudo aquilo por uma mulher. Ele conheceu a irmã do Kazekage e sabia dos boatos que cercavam os dois jovens. Temari não era uma garota qualquer, com toda a atitude e personalidade que lhe eram características, o pedido de Shikamaru apenas confirmava toda a especulação. E ele não conseguia deixar de fazer uma correlação com Asuma e a situação parecida que viveu. Um sorriso surgiu em seu rosto encoberto enquanto ele autorizava a jornada.
Antes de sair da sala, o manipulador de sombras parou por alguns segundos na porta e encarou o copy ninja
- Kakashi-sensei, por que não se casa com Sakura? Não há ninguém melhor para cuidar dela.
Antes que o jounin respondesse, Shikamaru fechou a porta atrás de si, deixando o Hatake com uma sobrancelha arqueada e muitas idéias na cabeça.
Ao deixar o que restava dos grandes portões da Vila oculta da folha, Shikamaru encarou a estrada à sua frente. Três dias de viagem o separavam da Vila Oculta da areia. Em três dias saberia se Temari estava viva, e tentaria convencê-la a se casar com ele, porque não poderia se casar com outra. Mas se ela não estivesse... não queria nem pensar.
¹ Front no sentido de frente de batalha.
