DANÇANDO NO ESCURO

Depois da prisão de Lúcio graças a batalha no Departamento de Mistérios, Narcissa Malfoy escolhe se unir a Ordem da Fênix temendo a morte de sua família e as conseqüências de sua decisão mudarão o curso das vidas de Draco e Gina. (AU durante o sexto ano). Escrita para o projeto Like Always no fórum 6v. AU a partir do sexto livro.


Prólogo

Escolhas

Sempre há um preço a pagar quando se muda de alianças. Não importa o quão seguro pensamos que ficaremos as conseqüências virão. Narcissa Malfoy sabia disso e, apesar de negar firmemente para seu filho, temia por sua vida.

Porém estava sozinha, desesperada e não havia ninguém que pudesse ouvir seu pedido de ajuda. Em questão de meses, todos viraram a cara para ela. Até mesmo sua irmã. E o que podia fazer? Abaixar a cabeça e deixar que matassem seu único filho? Se fosse outra mulher, outra pessoa. Se tivesse outro sangue correndo pelas veias, faria justamente isso. Mas era uma Black e Malfoy, bastava aquilo para que tal opção não existisse.

Assim que descobriu o que planejavam fazer com Draco, não pensou duas vezes. Sua lealdade já estava abalada desde que Lúcio foi jogado em Azkaban e deixado para apodrecer. Ela não era mais uma jovem tola com ilusões sobre o Lorde das Trevas, principalmente depois de quase ter perdido o marido várias vezes. A partir do momento em que o risco se estendeu para Draco, Narcissa sabia que o limite havia sido atingido.

Draco esteve cego aos perigos, mais preocupado com glória e poder; apenas quando fosse tarde demais entenderia o risco que estava correndo, mas ela sabia que aquela seria uma lição que seu filho não poderia aprender sozinho e enquanto era menor de idade teria que obedecê-la.

Quanto a Lúcio, só tinha esperança de que um dia pudesse entender a decisão que tomou. Não que imaginou que as conseqüências do seu primeiro plano fossem tão drásticas. Sua intenção inicial era pedir ajuda a um velho amigo e desobedecer apenas uma ordem, não trair para sempre Lord Voldemort.

Em uma noite amena deu o primeiro passo para a decisão que mudaria sua vida e de sua família para sempre.


Vestiu a capa mais surrada que tinha, cobriu o rosto como pôde e partiu. Andou sozinha pelo vilarejo trouxa e, apesar de parecer o contrário, a cada passo sua apreensão crescia e dúvidas surgiam. Estaria fazendo a coisa certa? Lúcio a perdoaria?

Porém, nenhuma dessas perguntas fizeram diminuir sua resolução. Nem mesmo o próprio Lorde das Trevas poderia impedi-la de continuar. O único que possuía esse poder era o homem em que estava depositando suas ultimas esperanças e, principalmente, sua confiança.

Parou em frente à única porta da única casa de luzes acesas da vila. Olhou para os lados e com o rosto determinado, bateu duas vezes contra a madeira. A porta se abriu revelando uma silhueta familiar contra a luz vinda de dentro.

- Narcissa?

- Preciso falar com você, Severo.

- Mas é claro... Entre.

A sala pequena e desarrumada que entrou não lhe inspirou mais segurança que a rua vazia e pobre. Observou atentamente sua volta, procurando qualquer sinal de outra presença no cômodo... Foram necessários alguns segundos até que registrasse a figura de Severo lhe oferecendo uma cadeira para que sentasse.

- Você parece perturbada, Narcissa... Por que não se senta?

- Obrigada – agradeceu nervosa, enquanto sentavam, não parando de olhar para os lados.

- Uma taça de vinho, talvez?

- Não, eu...

Houve um som de um corpo batendo contra uma parede próxima e imediatamente Narcissa se levantou assustada.

- Não se incomode com Rabicho... Ele criou o mau hábito de tentar ouvir conversas alheias – informou calmamente Snape, balançando a varinha para que uma estante de livros próxima se movesse e revelasse uma passagem secreta onde Pettigrew estava caído.

- Por que ele está aqui?

- O Lorde das Trevas o mandou aqui para... – fez uma pausa, sua expressão cheia de repúdio a criatura caída. - ...Me auxiliar.

Era claro que aquela não era a real razão da presença do lacaio de Voldemort... Mas Narcissa estava preocupada demais com outras coisas para perceber tal coisa. No momento, só o que importava era que Rabicho estava atrapalhando seus planos.

- Rabicho, levante-se. Cumprimente Narcissa Malfoy e traga uma garrafa de vinho.

- Eu não sou seu elfo-doméstico, Severo. Você não manda em mim.

- Não? Tive a impressão de que o Lorde das Trevas havia deixado instruções especificas para que você me obedecesse.

Resmungando, o rato careca desceu as escadas da passagem e Snape colocou novamente a estante de volta a seu lugar original.

- Temos alguns minutos até ele voltar a nos importunar – informou. – Sente-se.

Apesar de aparentar apenas um comentário qualquer, Narcissa teve a impressão de que ele sabia seu desejo de falar algo em segredo. E ao excluir a presença de Rabicho estava, na verdade, excluindo a presença do próprio Lorde das Trevas. Aproveitando a oportunidade, não perdeu tempo.

- Preciso pedir um favor. Você... Você deve saber do que aconteceu com Draco – começou, tentando controlar o nervosismo.

Severo apenas assentiu.

- Não pude impedir a decisão dele. Nem ele mesmo, se desejasse, poderia ter evitado. Mas... Há mais. Sei que o Lorde das Trevas confia o bastante em você para lhe contar sobre o plano... E não importa se temos ordens de não mencionar para ninguém...

- Está indo para águas traiçoeiras, Narcissa.

- Não me importo! Severo, você sempre foi amigo da família. Não há ninguém que confia mais em você do que Lúcio. Estaria disposto a me ajudar? Estou aqui, me arriscando... Indo contra os desejos de minha própria irmã... Preciso ter certeza que vai me ajudar. Preciso que faça isso. Troque de lugar com ele.

- Não há em que ajudar. Draco já foi iniciado... E a missão que lhe foi dada está fora do meu alcance. O que me pede é impossível.

- Não pode ajudar Draco? Por favor, Severo! É meu único filho! Não posso perdê-lo. Deve haver algo que possa fazer! Eu faria qualquer coisa para que Lúcio e ele estivessem a salvo – confessou, lágrimas escorrendo vergonhosamente por seu rosto pálido. – Qualquer coisa.

Severo permaneceu em silêncio e apenas o choro de Narcissa era ouvido. Colocou as mãos no rosto e deixou que toda a preocupação e aflição que sentia a tomasse.

- Estaria realmente disposta a fazer qualquer coisa? – perguntou sério. – Mesmo que isso terminasse com a vida que conhece hoje?

- Sim.

- Não sabe o que diz – desdenhou, falando devagar. - A única maneira de salvar Draco... Seria ir atrás de ajuda... Questionável. Realmente pensaria em tal coisa?

Poderia ser um teste de lealdade, uma armadilha, mas precisava arriscar, por seu filho.

- Não há nada que eu não faria agora.

Barulhos de passos subindo lentamente escadas e murmúrios de reclamações começavam a ficar próximos. Rabicho voltava com o vinho. Seu coração acelerou, o tempo estava acabando.

- Por favor, Severo. Por favor. Se puder fazer alguma coisa por Draco...

- Não deveria ter vindo aqui.

Assim que Severo terminou de falar, a passagem da estante se abriu outra vez e Rabicho entrou segurando uma garrafa e dois copos.

Narcissa fechou as mãos, não acreditando que não teria ajuda.

- O que o fez demorar tanto, Rabicho? Se perdeu no caminho?

O homem respondeu com resmungos e deu bruscamente um dos copos para ela.

- Agora já não há mais necessidade. Narcissa está de saída.

- Sim... Eu... Preciso ir – pegou a deixa e se levantou. – Obrigada pela atenção, Severo.

- Deixe-me abrir a porta para você – ofereceu, levantando da cadeira e a acompanhando de perto até a saída.

Alguns dias depois, ela recebeu um livro de poções raras e na página descrevendo os efeitos de Veritasserum encontrou um pergaminho. E nele, uma mensagem.


Olhando para trás não havia nada de que se arrependesse de ter feito. Nem mesmo de ter seguido as instruções do pergaminho e se encontrado com Severo em um lugar trouxa, distante de qualquer ouvido perigoso.

Na hora duvidara das palavras dele. Temia que fosse uma armadilha para expô-la como traidora, mas quando a figura pálida de Alvo Dumbledore revelou seu plano, tudo mudou. O diretor de Hogwarts, aquele que o Lorde das Trevas mais temia era o único que podia ajudá-los e a partir daquela noite, Narcissa teve certeza disso.


- Beba isso, Narcissa. É Veritasserum... Uma precaução necessária. Apenas uma gota basta.

A poção esfriou sua garganta anunciando que fizera seu efeito. Sentiu sua cabeça ficar leve e as preocupações que antes a impediam de falar sumiram suavemente.

- Por que está aqui?

- Para arranjar um modo de salvar meu filho.

- Alguém sabe que veio?

- Não. Consegui despistar Bella.

Houve uma pausa nas perguntas, mas Narcissa não se preocupou, apenas continuou parada observando Severo sem nenhum pensamento em mente.

- Qual é a missão de Draco?

Ela estava para responder quando foi interrompida:

- Acho que já é o bastante, Severo. Ela deve escolher conscientemente se quer ou não nos ajudar – uma voz calma disse, vinda de trás de Narcissa.

- Era necessário saber se suas intenções são verdadeiras – respondeu dando outra poção para ela. – O antídoto.

A leveza imediatamente desapareceu e o que sobrou foi um misto de confusão e revolta.

- O que ele está fazendo aqui?! – gritou, virando-se para o diretor e quase pegando sua varinha. – O que significa isso?!

Alvo Dumbledore continuou com a mesma expressão serena e esperou que Snape respondesse as demandas dela.

- Você pediu ajuda, Narcissa. Disse que faria qualquer coisa... Pois bem, Dumbledore está lhe oferecendo a ajuda que deseja.

- Todo esse tempo era você o traidor?!

- Estou me arriscando por sua família, não faça me arrepende da minha decisão. Não quer salvar Draco? A missão que o Lorde das Trevas deu a ele é suicida, você sabe muito bem. E quanto a Lúcio, jogado em Azkaban? Não seria uma traição maior deixá-los morrer? Sua família está em ruínas, Narcissa, e só você pode mudar isso.

Continuou em silêncio, temendo revelar demais seus pensamentos. Dumbledore tentou outra vez, sua voz calma e lhe passando confiança.

- Estamos dispostos a não poupar esforços para proteger Draco e você, Narcissa. Lúcio está seguro em Azkaban, por enquanto, mas também o ajudaremos se for necessário. Não precisa correr mais riscos, nem ser ameaçada por Voldemort. A Ordem a protegeria.

- Qual é o preço dessa "proteção"?

- Certas informações – anunciou Severo. – Apenas isso. Depois, quando tudo terminar, estarão livres para escolherem o caminho que quiserem... Sair do país, se esconder... Seja o que for a Ordem da Fênix está preparada para apoiá-los. Pense bem, Narcissa. Se continuar com o Lorde das Trevas, perderá seu filho, seu marido. Quanto mais terá de dar a ele?

Houve uma longa e dolorosa pausa, dúvida a consumindo, mas também desejo... Desejo de se livrar do medo e aflição, de finalmente estarem ela e sua família livres. Mas teria coragem para enfrentar as conseqüências de uma decisão tão perigosa?

- Como posso ter certeza de que estaremos seguros?

Alvo Dumbledore deixou um pequeno suspiro de cansaço escapar.

- Não há como ter certeza, mas faremos tudo que for possível para protegê-los. Prometo que enquanto algum membro da Ordem viver, sua família terá a quem pedir ajuda.