A LEGIÃO DOS CAVALEIROS DO GELO
CAPITULO 1
O POVO DO GELO
Camus estava com sua armadura toda rachada, sangrava muito. Caído de joelhos no chão de sua casa, em ruínas, sobre seu próprio sangue. Um homem alto e magro, usando uma armadura prateada coberta por um grande casaco de peles, segurava Camus pelos cabelos.
- E então Camus? Aceita se juntar aos meus cavaleiros? – pergunta o homem com uma voz grossa e imponente – Ou prefere ficar e morrer como todos os outros?
- Prefiro morrer a ter que me unir a você!
- Ora Camus, abra os olhos! Saori está morta! Só resta o espírito de Athena! E Athena esta no Olimpo, não poderá vir a Terra novamente a tempo para salvar os humanos!
- Então me mate de uma vez! – grita furiosamente Camus.
- Você é muito poderoso, cavaleiro! Conseguiu sobreviver aos meus guerreiros do gelo! Mas já que não quer se unir a mim, a única opção será matá-lo! Mas seria um desperdício jogar tanto poder fora... Vou deixá-lo viver, porém irá fica isolado na Sibéria. Apenas você e aquele povo medíocre. Eles serão os últimos dessa raça de mortais... Um dia você se decidirá...
- Já decidi! Nunca irei me unir a você! Nunca!
Camus viu-se sozinho. Seus gritos ecoavam por toda a casa.
- Nunca! – Camus levanta assustado de sua cama, suando muito, olha para os lados e vê que está em seu quarto.
– De novo aquele maldito sonho... Até quando irei ser torturado assim pelo passado? Isso deve ter um significado... Tenho que falar com Edgar!
Ele se levanta, bota um pesado casaco de peles e sai de sua cabana. Lá fora está nevando com intensidade, apesar de não estarem mais no inverno siberiano. As ruas da vila estavam cobertas de neve, o vento balançava com vigor os volumosos cabelos de Camus. Ao passar por um campo, onde vários jovens estavam treinando ao ar livre, o homem que os treinava o cumprimenta:
- Olá mestre Camus!
- Olá Alexei! Como está o treinamento dos garotos?
- Estão indo muito bem... – e acena com a mão, Camus responde com o mesmo gesto.
Apesar de não ser mestre de Alexei, ele era chamado de mestre por todas as outras pessoas da vila.
Caminha mais um pouco até uma velha cabana de madeira. Pela janela embaçada via-se uma luz fraca, da sua chaminé saia fumaça. Como se fosse íntimo do morador da casa, Camus adentra-a.
Uma sala bem aconchegante, com um tapete redondo de pele ao centro, e sobre ele uma grande poltrona virada de frente para a lareira. Camus se aproxima com passos tímidos.
- Venha se esquentar, Camus. – chama o homem sentado na poltrona.
- Como sabe que sou eu?
- Ora, já ouvi muito esses seus passos...
Camus puxa uma cadeira e se senta. Ao seu lado um senhor de barba e cabelos brancos estava na poltrona. Apesar da aparente idade, o homem não parecia enfraquecido pela velhice, ao contrario, seu ar mostrava um homem ainda saudável e suas palavras mostrariam o quão sábio ele era.
- Sabe Edgar... Aquele sonho está mais freqüente... Toda noite revivo aquele momento na 11ª casa... Acho que está na hora de chamar os garotos...
- Já faz uns 10 anos desde que aconteceu... Não é? Graças a você nós, o povo do gelo, fomos os únicos sobreviventes... Porém, como condição, estamos destinados a viver para sempre aqui na Sibéria, longe da luz do sol... As crianças mais novas nunca viram um verdadeiro raio de sol... Mas estamos vivos, e graças a você...
- Eu não quero que essas pessoas continuem vivendo assim... Quero libertá-las desta geleira... Desde quando os Deuses tomaram a Terra estamos destinados a viver aqui... Eu e todos os outros cavaleiros falhamos, se realmente tivéssemos cumprido nossas obrigações, teríamos vencido. – Camus pára por alguns segundos e fecha os punhos com raiva – Havíamos pensado que as guerras santas já tinham terminado... Como iríamos saber que um semideus banido do Olimpo iria nos atacar?
- Ora... Não se culpe... Foi você que nos salvou... Se não fosse por você todos nós estaríamos mortos... – Edgar solta uma leve gargalhada – Você está vendo que agora que não é mais um cavaleiro, seus sentimentos estão voltando?
- Eles estão surgindo... Você conhece a minha historia e sabe por que digo isso... É a primeira vez que estou realmente me importando com as pessoas...
- Sim... Eu sei...
- Edgar... Será que está na hora de voltar a enfrentar o ser que trouxe todo esse sofrimento? Eu sinto estar próxima essa hora...
- Se você sente... Seus sentimentos estão nascendo agora, são sentimentos novos e por isso são verdadeiros. Se você esta sentindo, chame os garotos, revele as armaduras...
- Sim Edgar... É isso que vou fazer... Eles treinaram muito... Sinto que já está na hora...
- Vá... Faça o que seu coração manda, Camus!
Encorajado pelas palavras do velho Edgar, Camus levanta-se e sai da cabana.
Edgar fica só na cabana. Em profundo silêncio, ele mergulha em reflexões e pensamentos. Sua mão apertando contra o peito e a lágrima escorrendo de seu olho mostram que lembranças dolorosas passavam por sua mente. Sozinho, sussurrava pra si mesmo, como se estivesse falando com Camus.
- Vá... Tenha cuidado... O inimigo lhe fará ver tudo que seu coração quis esquecer... Deverá ser forte... – Então Edgar põe seus dedos sobre os olhos enquanto soluçava em meio às lágrimas.
- Por favor, me perdoe...
Camus afasta-se da vila e vai até uma região montanhosa. No alto de um monte estava um rapaz dando socos e chutes no ar, vestindo apenas uma calça e uma camiseta regata.
- Aleck! – grita Camus – Venha aqui! – O rapaz de cabelos volumosos num tom lilás escuro dá um salto e cai em pé, na sua frente.
- Sim, mestre?
- Onde estão os outros?
- Estão pros lados da fronteira. – responde o rapaz.
- Eu já disse para não se aproximarem da fronteira! Vocês sabem que além das montanhas finais fica o território de Artemis! É muito perigoso!
- Não se preocupe mestre! Nós nos mantemos longe das montanhas finais... É que naquela região existem grandes montes e são bons para treinar...
- Vá chamá-los. Encontre-me na grande planície! E rápido!
- Sim mestre. – em grande velocidade o rapaz parte atrás dos outros jovens.
Cerca de meia hora depois em uma grande planície chegam quatro rapazes ao encontro de Camus. Ele se vira e dá uma boa olhada em cada um deles.
- Meus pupilos... Chegou a hora do combate de vocês, chegou a hora para que tanto treinaram... – depois dessas palavras de Camus os jovens ficam espantados e perguntam quase em coral o que estava acontecendo.
- Tudo ao seu tempo... – Camus caminha um pouco e coloca a mão no ombro do primeiro rapaz, aquele com os volumosos cabelos lilás escuro.
– Você, Aleck, é dotado de muita sabedoria e inteligência, deixa transparecer toda a verdade assim como um cristal que mostra sua pureza...
Bota a mão no ombro do segundo rapaz, este tinha seus cabelos verdes, curtos e meio bagunçados.
– Você, Fritz, é dotado de força, velocidade e agilidade, seu cosmo é tão explosivo quanto o do monstro marinho, Kraken.
Em seguida bota a mão no braço do terceiro rapaz, que era muito alto, quase que um gigante, com músculos muito bem desenvolvidos, olhos pretos e cabelos bem curtos e castanhos.
– Você Kolckier, é dotado de muita força e resistência, com um cosmo poderoso e agressivo assim como a criatura das neves, Yeti.
Depois coloca a mão sobre um rapaz forte, com cabelos loiros, que lhe caiam sobre parte da testa e cobriam suas orelhas.
– E você Jacob, com força, coragem, espírito de liderança e um cosmo poderoso como o de um cisne do gelo. Todos vocês foram meus discípulos. Treinei-os tão bem quanto, ou até melhor que meus outros discípulos. E agora irei revelá-los o por que de tanto treinamento.
- Diga mestre Camus, por que esse mistério? – pergunta Jacob
- Qual o motivo deste nosso treinamento? – pergunta Kolckier
- Pois bem – começa Camus – Escutem com atenção:
Desde que o mundo é mundo existe a discórdia. Seja entre mortais ou imortais. A discórdia entre os imortais, os deuses, resultavam em batalhas fenomenais que manchavam o solo de sangue. As guerras entre eles aconteciam a cada 200 anos quando eles encarnavam em corpos de mortais.
O anseio de deuses malignos era tomar a Terra, destruir os humanos e erguer uma nova civilização. Apenas Athena, a Deusa da Justiça opunha-se. Seus cavaleiros, protegidos pelas constelações, batalhavam sem descanso para que a Terra não fosse tomada.
Há dez anos, Saori Kido abrigava o espírito de Athena. Poseidon, Abel, Éris, Lúcifer, Ares e até mesmo Hades… Nenhum destes deuses foi capaz de nos derrotar, não sucumbimos ao poder de nenhum deles. Mantemo-nos fortes, firmes, defendendo a humanidade, que desconhecia nossas ações, com nossas vidas.
Depois de tantas batalhas e tanto sangue derramado, ousamos descansar, eis nosso erro. Iludidos pelo extenso tempo de paz que estava perdurando, baixamos nossa guarda e muitos relaxaram no treinamento, acreditando que as guerras haviam cessado, que os deuses haviam se conformado. Engano nosso... Terrível engano. Engano que custou a vida de toda humanidade, que custou o sonho de paz de Athena.
No início da noite, na calmaria das primeiras estrelas, cosmos começaram a explodir com intensidade. Sem nenhum aviso de nosso sexto sentido, estávamos sob ataque! Muitos cavaleiros de bronze e de prata já estavam mortos antes do ataque efetivo ter início, nossas forças já estavam fracas.
Era Polarius e seus cavaleiros nos atacando. Polarius é um semideus, detentor do controle das forças naturais do gelo, que havia sido banido do Olimpo por desobedecer a Zeus. Seu objetivo era tomar a Terra e recuperar seu prestígio entre os imortais, para isso utilizou-se do poder jamais visto de seus cavaleiros. Eles possuíam cosmos tão intensos e poderes tão devastadores como nunca havíamos visto. Bastaram doze horas e todos os guerreiros de Athena haviam sido liquidados, inclusive os cavaleiros de ouro, famosos por igualarem seus cosmos ao de um deus.
Apenas eu sobrevivi, pois tinha domínio sobre a técnica do zero absoluto, que era manejada com facilidade pelos guerreiros do gelo de Polarius. Acreditando que um dia eu pudesse me unir a ele, Polarius deixou que eu vivesse. Apenas eu e o povo do gelo, isolados no extremo norte da Sibéria. Mas nunca me uni a ele. Até pensei em acabar com tudo, pois já não tinha companheiros nem minha deusa a quem eu daria a vida. Estava no fundo de um abismo profundo.
O desejo de Athena era ver um mundo em paz, onde todos pudessem viver suas vidas tranqüilas, fazendo suas próprias escolhas, sendo livres. Por nossa culpa, de seus cavaleiros, ela não o realizou. Eu não morreria com esta culpa, minha alma iria para o inferno ficar sofrendo com isso por toda eternidade. Não poderia deixar. Nestes últimos dez anos eu os treinei com todas as minhas forças, passando-lhe absolutamente tudo que sei. Junto com vocês quero atravessar os territórios que nos separam de Polarius, chegar lá, derrotar seus cavaleiros, tomar a Terra dos deuses e realizar o desejo de Athena. Quero que venham comigo e me ajudem a nos libertar...
Camus pára num profundo suspiro. Os seus discípulos se entreolham, até que Fritz se manifesta.
- Mas e Athena, o que houve com ela?
- Polarius a matou...
- Maldito! Como ele conseguiu!
- Não adianta sentirmos raiva Fritz... Athena estava no corpo de Saori Kido, e no seu corpo era como de qualquer outra mortal... O espírito de Athena não morreu, voltou ao Olimpo, mas quando retornou ao nosso mundo todos já estavam mortos. E a ela foi dado um território na Terra.
- Então foi isso...- diz Jacob de cabeça baixa – foi esse monstro que matou Hyoga... Maldito verme! Vai pagar caro por isso!
- Acalme-se Jacob, o que temos que fazer é ir até Athena, pedir que nos dê forças e que nos mostre o caminho até o território de Polarius...
- Mestre, você acha que podemos vence-lo? – pergunta Aleck.
- Sim Aleck, e irei mostrar-lhe como. Afastem-se! – os jovens se distanciam um pouco de Camus. Ela levanta o braço para o alto e começar a aumentar seu cosmo intensamente. Depois de alguns segundos de concentração ele desfere um poderosíssimo soco no chão rachando toda a região da planície e abrindo uma cratera no solo de gelo, no fundo podia-se ver água.
– Vejam, na verdade esta planície é um grande lago congelado a milhares de anos. Ele só foi quebrado duas vezes, a primeira foi quando eu escondi as armaduras do gelo em suas profundezas, dentro de uma caverna submarina. A segunda vez é essa! Pegaremos as armaduras e partiremos para a batalha! Vamos!
Depois dessas encorajadoras palavras Camus pula e começa a mergulhar em direção a uma caverna que estava no fundo lago. Os outros quatro jovens também o seguem, eles não têm total consciência, mas estão dando o primeiro passo para a maior luta de suas vidas.
Depois de nadar alguns minutos nas geladas águas daquele lago, os cinco homens chegam à caverna. Lá dentro podia-se respirar. A temperatura da caverna era muito inferior a temperatura da água, bem abaixo do zero Celsius. Seus discípulos demonstravam sentir algum frio.
- Não devem sentir frio, isto não é nada em relação a temperatura que seus cosmos irão chegar. Todos vocês já conseguiram atingir o zero absoluto, e é nele que deverão manter a luta, pois é nessa temperatura que os cavaleiros de Polarius mantém seus cosmos.
Os quatro jovens acenam positivamente com a cabeça.
- Venham. Vou mostrar-lhes as armaduras. – eles caminham um pouco pela caverna e no fundo, encostadas em uma parede, estavam quatro urnas.
– Cada um de vocês receberá uma delas. Elas haviam sido de meus discípulos, todos motos na batalha contra Polarius. Vão... Peguem-nas, sei que elas os chamam.
Fritz caminha em direção a urna de Kraken.
- Eu sinto que é ela. Esta será minha armadura.
Aleck vai a direção da urna da armadura da Coroa Boreal, a armadura de Cristal.
- Ela...está me chamando...
Kolckier vai a direção da urna da armadura de Yeti
- Yeti...ela será minha...serei o cavaleiro de Yeti.
Jacob caminha para a urna de cisne.
- Hyoga... A armadura de cisne será minha!
Camus permanece parado olhando para a armadura de Aquário.
- Estas são suas armaduras. Vistam-nas e tornem-se, apartir de agora, os Cavaleiros da Legião do Gelo!
Cada peça das armaduras une-se ao corpo dos jovens com perfeição. Seus cosmos unem-se numa só energia, profunda e intensa, demonstrando toda a esperança e a garra que tinham. O único pensamento era utilizar o grande poder que estavam recebendo para retomar seu mundo que lhes haviam sido tirado.
Camus e os quatro jovens trajando suas armaduras partem para a região da fronteira.
- Além das montanhas finais está o território de Artemis, e na sua vasta floresta encontraremos os cavaleiros das estações. Eles são muito fortes e vão nos dar trabalho... Por isso mantenham-se sempre atentos... Vamos ter que passar por todos eles, e depois de atravessar o território de Artemis chegaremos enfim ao território de Athena, lá ela poderá nos ajudar. – os cavaleiros acenam "positivo" com a cabeça.
Ao chegarem no alto das montanhas finais, os cinco homens podiam ver uma imensa floresta, com muitas árvores verdes. O sol brilhava fortemente em uma paisagem totalmente diferente daquela que Camus e os outros estavam acostumados.
- Que beleza! Esse é o nosso mundo? – pergunta Fritz. Que assim como os outros estão muito admirados com tamanha beleza do território de Artemis.
- Ainda não é nosso mundo...Esse é o mundo dos deuses...Mas será nosso... – responde Camus – Não temos tempo para admirar, temos muitas lutas pela frente... Vamos!
E os cinco Cavaleiros começam a descer a montanha final em direção ao belo e temido território de Artemis.
