Os minutos pareciam arrastar-se, como as formigas carregadas lá foram se arrastavam, naquele dia interminável. Naquele, no antes desse, e, provavelmente, em todos os que estariam para vir até ao final desse ano. No fundo dos meus pensamentos uma voz baixa e distorcida recitava algo servindo de banda sonora aquele aborrecimento interminável.
Tentei vir à superfície daquele transe – pensar não era uma tarefa assim tão fácil (ou interessante, para o caso) – apanhando as palavras "de seguida estudaremos" e decidindo que definitivamente aquilo não era para mim. Outro som me chamou a atenção: murmúrios. Sim, não há dúvida de que qualquer tipo de murmúrio seria mais interessante do que voltar a pensar e certamente mais interessante do que ouvir o que iríamos de seguida estudar. E este em particular eu gostava. Olhei de relance para a origem do som: Bella Swan e Edward Cullen, lado a lado, o braço de um junto ao braço de outro, formando uma fina linha onde um se perdia no outro, sempre, desde à 6 meses, que tudo havia voltado ao normal (desde que Edward voltara, claro), que Bella mais uma vez me havia trocado pelo Cullen. Não a podia censurar, não é como se eu não fizesse o mesmo, até porque ele é todo bom. Ah o que eu não dava para que, no mínimo, eles fossem daqueles que gostam de partilhar…
Abanei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. É óbvio que eles não a queriam, quem queria? Só o totó do Mike. Desde que começaram a namorar, três meses atrás, as coisas haviam sido… pouco interessantes. Sinceramente, o Mike não era o rapaz que eu imaginara, e não num modo positivo. Bella e Edward falavam de planos para essa noite. Qualquer coisa sobre trovoada e basebol? Fosse o que fosse, não fez muito sentido e também não parecia muito interessante.
Um barulho estridente mas reconfortante, despertou-me dos meus pensamentos. Levantei-me pegando nos meus livros e na pequena mala tão cinzenta como o céu de Inverno em Forks, sorrindo ao pensamento de como era irónico ter uma mala que condizia tanto com o tempo e com o meu estado de espírito. Passei pelo casal, sem os olhar, e saí para fora do edifício, onde mais uma vez chovia. Pela primeira vez, penso que em toda a minha vida, apreciei a água suja que caía do céu, só porque ela não tinha fugido de mim, ou porque não era entediante. Fechei os olhos tentando absorver o máximo daquele momento, e fiquei assim durante longos segundos.
Quando voltei a abrir os olhos, a minha cara estava completamente humedecida, e senti um par de olhos fixos em mim. O que é que eu tinha feito? Apenas me limitara a aproveitar a chuva, era assim tão estranho? Pronto, tinha que admitir que talvez fosse um pouco estranho, mas mesmo assim… Olhei, curiosa.
O par de olhos penetrante pertencia a Emmett Cullen. Um milhão de perguntas invadiram a minha mente.
