Existem momentos na vida de um homem, que são capazes de mudar para sempre o curso do seu destino. Para alguns vem em forma de glória, para outros, em forma de vergonha.

Capitão Edward Kenway teve os dois.

A primeira vez que o leme de sua vida lhe escapou das mãos e girou desgovernado, foi na fatídica noite em que bebeu demais com James Kidd. Vergonha.

A segunda vez, foi quando finalmente entendeu o significado da palavra glória, foi o dia em que Kidd pintou os lábios de vermelho...

O amor é a pior das armadilhas, sempre escondida onde menos se espera e capaz das piores e mais baixas artimanhas. Quando acontece, nem mesmo um pirata pode escapar.

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Nassau, 1715

" – Você os conhece, Capitão?" – Perguntou Adéwalé, o homem que ajudou Edward a fugir de seu cativeiro, roubar o Gralha e se tornou um fiel imediato, observando um grupo de piratas expulsar um Capitão da Rainha daquela Ilha aos berros.

" – Sim." – Respondeu Edward. " – Fomos todos corsários juntos. Antes das guerras acabarem. Venha, eu vou apresenta-los."

Desembarcaram e tomaram imediatamente o caminho rumo ao bar do cais. Ambos estavam exaustos e os marujos também. Tudo o que precisavam era de uma refeição, uma cama quente, quem sabe algumas cortesãs e claro, muito... muito rum para comemorar.

A musica estava alta e a animação dos piratas era contagiante. Nassau era a terra sem lei, sem reis e sem regras. Era o porto certo de cada pirata vivo sob a Terra, ou melhor, sob os sete mares.

" – Por Deus! Você é um colírio para os meus olhos salgados! Entre e pegue uma bebida!" – Gritou o homem de cabelos pretos ao ver Edward chegar.

" – Bom dia a todos!"

" – Bom dia Kenway." – Chegou mais um pirata com uma barba negra brilhante, e sem virar para Adéwalé, perguntou " – Quem é isso?"

Edward apertou o ombro negro de seu fiel imediato abraçando-o. " – Este é Adéwalé. Imediato do Gralha!"

" – Gralha?" – Ele riu. " – Você colocou no seu navio o nome de um passarinho?"

" – Adé, esses rapazes são a melhor parte dessa crescente confederação. Ed Thatch, Ben Hornigold e aquele ali é James Kidd."

Um rapaz jovem, que parecia não ter mais de dezoito ou dezenove anos, alto e magro acenou ao longe. Quando Adéwalé saiu, Hornigold se aproximou de Edward e disse: " – Você deixa ele carregar uma arma?"

Edward sabia a preocupação deles por Adé ser negro e muito provavelmente um escravo foragido. " – Calma Ben! Adé salvou a minha vida. Agora nós estamos tentando recrutar uma tripulação para encher o resto do meu navio."

" – Hn, está bem. Você encontrará bons homens por aqui. Mas use cautela, estamos também infestados de soldados da Rainha procurando confusão como se esse lugar fosse deles."

Edward deu um longo gole em seu rum. " – Certo, vou ver o que eu consigo reunir." – Fez um sinal para que Adé o seguisse. Estava muito cansado, porém se quisesse partir rápido em busca do "Observatório" não poderia perder tempo, precisava reunir uma tripulação o quanto antes, ainda mais com tantos navios da marinha real Inglesa e Espanhola infestando os mares.

Deixou o bar com Adewalé em busca de homens, não... de piratas!

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Quando a noite caiu sobre Nassau, Edward tinha as mãos doloridas e agradecia por dessa vez não ter perdido nenhum dente ou ganhado um novo corte que precisasse de pontos. Assim como Hornigold havia alertado, em cada canto da cidade haviam soldados da coroa, atacando piratas e procurando confusão.

A parte boa é que cada grupo de piratas que Edward ajudou a se livrar dos soldados, aceitaram de muito bom grado fazer parte de sua tripulação como agradecimento. Era um capitão ainda de poucas posses, não podia se dar ao luxo de fazer propostas com grande quantia em moedas e a gratidão, faz homes se sujeitarem a salários baixos.

Ele e Adé voltaram para o bar, onde agora a animação de seus frequentadores estava ainda maior.

" – Capitão... eles estão bebendo o dia inteiro?"

Edward riu. " – São Piratas, Adé. Piratas!"

Se fartaram de peixe, siri e frutas tropicais. Beberam rum e decidiram ficar por ali aproveitando da companhia dos outros piratas.

" – Então, quando irá navegar para pilhar algum lugar rico?" – Perguntou Hornigold à Edward, ambos se servindo de mais rum.

Edward já sentia os lábios formigarem e o estranho calor que a bebida provoca, embora ainda estivesse bem o suficiente para perceber os olhos semi-abertos de Hornigold graças ao rum.

" – Já ouviu falar em um lugar chamado O Observatório?"

Foi então que o sempre calado James Kidd se aproximou. Era tão alto quanto Edward, embora fosse magro, linha um nariz longo e sempre usava muita roupa mesmo quando estava quente, era jovem. O Filho ilegítimo de Willian Kidd era muito jovem, e os poucos que não o conheciam, não tinham como adivinhar o quão perigoso aquele pirata era, graças ao seu rosto liso e sem pêlos, e a pele queimada de sol, delicada exceto pela cicatriz no olho direito. " – Sim! É uma lenda antiga, assim como El Dorado ou a fonte da Juventude" – Disse ele. E claro Edward não esquece das piadas infames sobre provavelmente aquele garoto ter testículos minúsculos, graças a voz suave e completamente desprovida de rouquidão masculina.

" – E o que você já ouviu a respeito?"

" – Algo sobre ser um templo ou algum tipo de tumba..." – James se juntou a mesa deixando o rum um pouco de lado. O garoto também estava bebendo o dia inteiro. Era magrinho, rosto lisinho, mas bebia mais do que qualquer marujo e era bem duro na queda, para derruba-lo, era necessário mais rum do que para derrubar toda a tripulação do Gralha. Porém neste dia, até mesmo Kidd já estava com a voz arrastada...

Edward não sabia se era por causa do rum, da musica, da adrenalina de ter conseguido o seu primeiro navio, ou se por finalmente ter encontrado alguém que também já havia escutado a respeito do observatório. Com as mãos ligeiramente desgovernadas por causa do álcool, tirou um desenho do bolso e apressadamente o entregou a Kidd, de maneira suplicante. " – É isso! Veja!"

James tomou em suas mãos o papel amarelado com os desenhos de uma estrutura trabalhada, complicada, como se fosse parte de um grande ouro maia escondido. Edward podia ver que os olhos do garoto brilharam.

" – Merda! Isso são contos de fadas, você não prefere ouro de verdade?" – Gritou Thatch, já muito bêbado.

Kidd se afastou com os desenhos para longe, e isso não passou desapercebido por Edward. " – Isso vale mais do que ouro, Thatch. Isso é dez mil vezes mais do que nós poderíamos pilhas de qualquer navio espanhol."

" – Roubar o rei para pagar-lhe seus indigentes é como nos mantemos aqui rapaz. Não conseguimos nenhuma fortuna, isso é fantasia." – Disse Hornigold se servindo de mais rum.

Provavelmente já havia bebido demais, pois a melancolia familiar que sempre o assombrava voltou a tomar conta de Edward, afinal, se não foi por fortuna que ele abandonou a casa e a esposa, arriscou a vida e estava há tantos anos na pirataria, por que foi então? Seria tudo em vão?

James lhe lançou um olhar solidário ao ver o tamanho de sua decepção, lhe deu um tapinha camarada no braço, devolveu-lhe os desenhos e se afastou. Edward guardou o desenho novamente com cuidado. Ele ainda tinha esperança, algo no fundo lhe dizia que ele tinha uma estrela para brilhar, que seus anseios por fama glória e fortuna nunca estiveram tão perto, voltar atrás nunca foi uma opção.

Ao longe haviam duas ou três cortesãs, elas riam, dançavam e serviam rum aos marujos. Era tudo o que ele precisava para esquecer, do quanto o presente era complicado e do quanto o passado era doloroso, até porque, amanha seria um longo dia.

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Dois homens fortes o arrastavam aos solavancos para fora da estalagem. Bêbado como estava, não tinha a menor condição de reagir.

" – E da próxima vez que quiser uma briga, procure-a no bar, ou no chiqueiro de onde você veio!" – Gritou a velha cafetina fechando a porta bruscamente. Definitivamente, num lugar onde se vende amor, não havia espaço para pancadaria.

Edward trocava os pés de maneira desgovernada, mal conseguia andar três passos sem cair. Queria um lugar para cair e dormir, uma cama confortável e quente, mas acabou de ser expulso justamente do lugar onde encontraria uma cama e um outro corpo quente para lhe aquecer. Como se tudo não pudesse ficar pior, uma chuva tropical se armou rapidamente. Era uma parte detestável daquele lugar, como a água chegava tão rápido que nem dava tempo de fugir sem se ensopar.

O que poderia ficar pior? Ele estava molhado, bêbado, machucado e talvez dessa vez, até tenha perdido um dente... foi quando viu uma figura conhecida de joelhos, debruçado sobre uma moita de flores.

" – Kiiiidd!" – Berrou debaixo da chuva que além de forte, fazia um barulho alto e insuportável.

Igualmente ensopado, limpado o vômito dos lábios com as costas das mãos, estava o rapaz. " – O quÊ?"

" – Pode ajudar um velho senhor a andar, Kidd?"

O rapaz apenas deu dois passou a caiu também. Edward tentou andar até ele e gargalhou quando percebeu que agora ambos estavam caídos na mesma poça de lama. James vomitou outra vez e Edward não conseguia parar de rir. Juntos e se apoiando um no outro, levantaram outra vez. Talvez em quatro pernas, fosse mais fácil de andar...

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Quando um raio de sol esbofeteou-lhe a cara com toda a violência, Edward abriu os olhos... então se arrependeu amargamente. A luz o machucava como agulhas, fechando-os novamente, sentiu o corpo rodar... rodar... rodar como se tivesse caído em um redemoinho. Seu estômago raivoso sacudia dentro de sua barriga. Edward lutava contra a vontade de vomitar por sabia que se o fizesse agora, não teria forças nem para levantar a cabeça correndo o risco de morrer afogado no próprio vômito.

Ele não sabe dizer se ficou assim por minutos ou por horas. Sua visão era turva e ele não conseguia identificar o lugar onde estava. Vez ou outra, enxergava flashes com a imagem turva de James Kidd vestindo suas roupas. Numa figura totalmente fora de foco, ele viu a figura alta e esguia de costas, completamente nu enquanto vestia as calças... apagou por mais algum tempo e o viu amarrando as fitas de sua blusa... depois, Edward apagou de vez, abrindo os olhos novamente só quando recebeu um chute no ombro.

" – Kenway!"

A voz de James invadiu sua cabeça como milhões de agulhas em chamas, ele gritava e Edward gritava junto com ele, só que de dor.

" – Kidd! Kidd! Por Favor! Pare!" – Implorou Edward, sentando e levando as mãos aos ouvidos. Então gritou outra vez quando James Kidd o puxou pelos cabelos, forçando-o a olha-lo.

" – Eu vou te matar! Eu nem sei porque esperei você acordar! Me de uma boa razão pra te deixar vivo, Kenway!"

" – O que? Do que você está falando garoto?" – Kidd tinha os olhos vermelhos de ódio e estava mais recuperado do que ele, logo, poderia mata-lo. Sendo assim, era melhor se concentrar e tentar entender porque o garoto estava tão nervoso. – " –Calma Kidd... calma... eu não lembro de porra nenhuma! Por que você está nervoso? O que houve?"

James trincou os dentes e o soltou num solavanco violento. " – Minhas botas! Cadê a porra das minhas botas!"

" – Não grita! Ah! Ah! Porra! A minha cabeça!" – Edward choramingou. E foi então que ele percebeu que estava completamente nu, deitado sobre uma pilha de feno e um cobertor velho, num lugar parecido com um depósito. Eu estou pelado, porquê? Em que hora eu tirei a minha roupa?

" – Aqui!" – Disse James Kidd achando suas botas.

Edward olhou a sua volta e sentiu o cheiro familiar no ar, o cheiro de sexo. As manchas de sêmem no cobertor velho e porra seca em seu próprio corpo. Seus olhos arregalaram numa fração de segundos. Nem mesmo durante um ataque de tubarão Edward sentiu tanto pânico. Ele queria gritar mas a voz não saia.

" – Kidd..." – Sua voz saiu fraca, fina e cheia de pânico. " – Kidd..."

" – Caralho! O que?"

Olhou para o rapaz, suplicando internamente para que o moreno lhe desse uma boa noticia. Que dissesse que não aconteceu o que estava com medo que tenha acontecido. " – Kidd... nós... nós..." – e foi demais. Edward perdeu a batalha contra o próprio estômago, deixando com que os litros de vômito, com o peixe, com o siri, com as frutas e todo o rum que bebeu saíssem em jatos para fora.

Quando finalmente terminou e olhou para a sujeira que fez, no feno, no cobertor e nele mesmo, focou no olhar frio dos olhos castanhos de James Kidd. Então o moreno disse: " – Nós o que? Eu não sei do que você está falando." – Nesse momento a voz do outro pirata pareceu mais calma e cheia de auto controle.

Quando James Kidd se foi, Edward deixou-se cair em sua própria poça de sujeira. E então gritou.

Continua...

Essa fic deveria ser uma one shot, mas não será. Tentarem contar essa estória o mais rápido possível. Eu zerei o jogo essa semana e esse casal simplesmente me encantou, me fez rir e chorar, me emocionou demais. Eu TINHA que começar algo sobre eles URGENTE. Nem dava pra esperar minha fanfic de Resident Evil terminar. Não. Enfim, espero que curtam, por favor, deixem seus comentários.

Bjssss