Através da Janela

Por Mili Black


1) O garoto sem rumo X A garota que sonha X Por causa da Lua


O sol brilhava intensamente naquela manhã de terça-feira. O céu estava sem nuvens, no mais límpido azul. A brisa fresca, que denunciava o outono presente, derrubava as folhas secas e amarronzadas das árvores, fazendo-as juntar-se em um amontoado naquela praça.

Sentado num banco, o rapaz de cabelos alaranjados tinha o olhar perdido, sem brilho. Com seus cotovelos apoiados em suas coxas, inclinado para frente, estava totalmente absorvido em seus pensamentos.

As pessoas, ao perceberem que iriam passar por ele, faziam questão de desviar o caminho. Algumas não desviavam apenas para comentar o quão podre ele estava, o quanto ele era estranho.

Mas, o próprio garoto de cabelos laranja e totalmente sujo, parecia não ligar para tais fatos.

Não que ele fosse o tipo de pessoa que não ligasse para o que os outros pensam... Longe disso. Ele ligava, e muito. Por isso que preferia ignorar, para não se ofender com a realidade do que ele era.

Cabelos arrepiados e laranja; Roupas negras e sujas; Uma expressão neutra...

Ele havia fugido. Ele estava fugindo. Ele continuaria a fugir da sua realidade dolorosa, e se agarraria a lembrança do que ele um dia já foi, para não desmoronar.

O rapaz então fez seus olhos criassem um foco: Seu braço esquerdo, Com a mão direita, ergueu a manga cumprida de sua camisa até depois da dobra de seu braço.

Olhou desolado para as várias marcas de injeções que havia dado em si mesmo Seu braço avermelhado e com uma ardência, devido a isso.

Como eu pude fazer isso com minha vida?

Suspirou pesadamente e abaixou a manga da camisa. Se alguém visse essas feridas, saberia que ele se drogava. E isso não seria bom para o que restou de sua reputação.

Levantou-se lentamente, fechando os punhos com força, fazendo as pulseiras negras que havia em seu pulso esquerdo caísse e parassem nas mãos.

Onde ele deveria ir, agora que fugiu de tudo? Precisava de um banheiro, de comida, e acima de tudo, de um teto. Mas para isso ele precisaria de dinheiro...

Porém... Ele não queria roubar novamente.

Enfiou as mãos no bolso da calça apertada e seguiu seu rumo. O rumo para um lugar que ele não sabia onde ficava. O rumo para onde seus pés o mandavam ir.


-... As pessoas, hoje em dia, confundem muito 'Fonte de Informação' com 'Alienação'. Afinal, o que aprendemos ao assistimos uma mini-série dramática? Por que... – A garota confortavelmente se apresentava pela classe, que, pelo menos, em sua maioria a escutava atenciosamente.

- Então, Kuchiki-san, você está dizendo que nós devemos parar de assistir televisão? Isso é um pouco de exagero, não acha? – Uma aluna da classe se pronuncia, fazendo todos os olhares voltaram para si.

- Não, Minako-san, até porque isso seria ridículo. Estou dizendo... – A professora olhava com certo orgulho para sua aluna, e escutava atenciosamente todas as palavras de sua aluna.

Um aluno de cabelos castanhos batia sequencialmente a caneta em sua carteira, distraído, enquanto uma outra garota de cabelos loiros parecia fazer questão de irritar todos, formando bolas com o chiclete em sua boca.

-... E com isso, concluo minha apresentação. – A jovem de cabelos negros e curtos falou, segurando uma resma de folhas nas mãos.

- Parabéns, Kuchiki. Ótima apresentação. – A professora sorriu, e se levantou da carteira que estava ocupando, indo para frente da turma.

A morena de olhos azuis voltou ao seu lugar, sendo cumprimentada por seus colegas de classe, quanto toda a conversa foi interrompida quando a professora bateu palmas.

- Muito bem, agora que todos se apresentaram, quero resumido tudo no paltado, sem esquecer de ressaltar os fatos principais e colocarem suas opiniões. – A professora diz, animada. – Para a próxima aula. Dispensados!

Como esperado, todos os alunos levantaram num segundo, Barulhentos, começaram a sair da sala apressadamente. Cinco minutos depois, da pequena sala de vinte e dois alunos, sobrou apenas um.

A tal garota dos olhos azuis.

Ela começou então a guardar seu material lentamente. Novamente, fizera isso, esqueceu-se do tempo, ficando no mais puro vazio.

Ela não sabia o porquê de um simples sonho esteja a atrapalhando tanto, afinal e só um sonho. Um sonho estranho, mas mesmo assim.

Terminando de guardar seu material, ela saiu da sala, com a bolsa em mãos.

Baixinha, sem muitos atributos físicos, pele branca, olhos azuis... Levava uma vida monótona e tipicamente normal.

E nesse momento, ela só queria ir para casa, e esquecer desse garoto dos seus sonhos.

E esquecer tais cabelos ruivos.


Quanta hora passou caminhando sem rumo?

Não sabia,

Então, só por não saber, decidiu parar.

Havia aprendido que quando se está perdido, era bom parar e esperar, que logo viria uma pessoa e lhe mostraria o caminho.

Já era tarde da noite. Percebia-se logo, graças às ruas vazias, e as luzes amareladas dos postes acesas na esquina de cada rua.

Ele precisava parar... Era urgente.

Uma expressão de dor tomou conta de seu rosto, ao sentir seus pés já calejados pisar em uma pedra. Nem o tênis conseguiu o proteger dessa dor.

O ruivo, graças a dor em seus pés, caminhou vaga e dolorosamente até debaixo de uma árvore. O mesmo se senta nas raízes dela, encostando-se em seu tronco.

Tal árvore, inclusive ele, estavam rodeados de folhas secas devido ao outono, dando uma visão melancolicamente magnífica ao local.

O rapaz, cansado, retira o tênis do pé direito, o deixando ao sue lado.

Viu seu pé, como previsto, cheio de calos. Levou as mãos até o mesmo e o massageou cuidadosamente, com uma expressão incômoda.

Setenta e duas horas fugindo. Sessenta e oito horas sem tomar banho. Quarenta e oito horas sem ter lugar para dormir, vinte e quatro horas sem se drogar... E seguidamente, quatro horas andando.

Suspirou pesadamente, se perguntando até quando poderia fugir... Até quando poderia sobreviver.

Já havia roubado duas vezes nesse dia para se alimentar. E ele, novamente, desceu de nível... Já estava adivinhando, No próximo dia, certamente, roubaria novamente, para comprar comida e...

... Drogas.

Afinal, o rapaz já estava sentindo algumas mudanças. Era seu corpo, pedindo loucamente por mais heroína. E tinha que ser heroína, a droga mais fatal. As outras não faziam o mesmo efeito.

Ele agora, teve a certeza de que não iria durar por muito tempo.

O rapaz de cabelos laranjas balançou a cabeça violentamente, para afastar tais pensamentos.

Se ele não queria pensar, não devia pensar, o que faria? Esperaria ali, sentado, até virar osso?

Olhou involuntariamente para Lua, como se pedisse proteção. Fixando seus orbes castanhos na sua imensidão branca, admirando sua frieza...

Toda sua agonia tinha começado aos seus catorze anos. Sua mãe morrera, quando voltava de uma festa com seu pai, chamado Isshin. Isshin sempre fora um bom pai, porém... Tinha um pequeno problema com bebidas. Não que fosse alcoólatra, mas toda vez que começava, não queria parar, porém Masaki, sua mãe, sempre voltava dirigindo.

Naquela noite, havia sido diferente.

Isshin e Masaki começaram a brigar dentro do carro, e então, seu pai quis tomar a direção do carro. Quando ele fez isso, o carro se descontrolou e saiu capotando, até cair dentro do rio.

O acidente só foi descoberto três dias depois.

Isshin e Masaki?

Mortos.

A filha que Masaki nem sabia que esperava?

Morta.

Isso foi um trauma para Ichigo, filho único, que teve de ir morar com os tios. Tios rígidos, que nem sentiam sua presença na casa.

Ele foi fazendo amizades. Amizades erradas, mas amizades que compreendiam seu estado de depressão profunda. Amizades, que solucionaram seu problema com drogas.

Primeiro apenas um cigarro, coisa inocente.
Depois o tempo foi passando, e ele foi percebendo que estava se viciando.

Ele saiu de casa, e foi morar num apartamento com seu amigo, que também se drogava. E os tios nem ligavam.

Mais um motivo para continuar com isso.

Fazia dívidas e mais dívidas apenas para se drogar, para estragar sua vida.

Dois anos depois, ele começou a usar heroína, já que as viagens que ele dava com drogas mais leves não faziam mais tanto efeito.

Então... Quando percebeu que seus dias estavam contados, ele decidiu pular fora. Mas eles não deixaram. Havia tantas dívidas para pagar, e o jovem não queria mais assaltar outras pessoas.

Então, ele fugiu.

Dezesseis anos, alto, esquelético e com os dias contados.

Fechou os olhos com força, querendo novamente expulsar aquelas lembranças ruins.

O garoto, tristonho, abriu os olhos e começou a olhar para tudo ao seu redor. Se ia dormir em baixo daquela árvore, deveria ao menos conhecer o local.

E aí se surpreendeu quando viu uma casa ali.

O ruivo arregalou levemente os olhos, e pôs-se a observar atentamente toda a construção da casa. E seguindo olhar pela construção da mesma, viu uma janela. Uma janela relativamente grande, por assim dizer. A ficou observando por um tempo, tentando ver se havia algum movimento na casa.

Foi quando viu...

Ela.


- Me ajude... Me ajude.... Me Ajude...

A voz rouca e sofrida do rapaz ecoava em sua mente, onde tudo que poderia ver era a mais pura escuridão.

Ela queria ajudá-lo, mas ela não podia! Não sabia onde ele estava.

Começou então, a correr.

Ela não sentia nada, mas sabia que estava correndo.

E correu por muito tempo, mas não entendia o porquê de não ficar cansada.

Ela tropeçou em algo, manchando seu vestido branco.

E tudo que pôde ver foi um rapaz de cabelos alaranjados e tristes olhos castanhos, vestindo apenas negro. Ele a estava olhando.

- Por favor, se levante... Eu preciso de você.

Rukia acordou, num solavanco.

Seus olhos totalmente arregalados expressavam pânico e impotência, além de surpresa. Seu rosto estava suado, suas mãos estavam geladas, respirando com dificuldade.

A morena passou a mão gelada pelo rosto, afastando os fios de cabelos da testa.

O que foi isso?

Ela retirou o cobertor de cima de si, e se levantou da cama, sentindo o chão frio em seus pés. Foi caminhando, séria, com sua camisola branca arrastando pelo chão, dando-lhe uma beleza fantasmagórica.

A mesma caminhou até a janela larga, devendo ter em média o dobro do seu tamanho. Ela põe as mãos ali, no batente da mesma, junto das flores que ficavam ao redor dela.

Suspirou, e olhou para a Lua, como se buscasse inspiração.

Não era a primeira vez que ela tinha esse sonho, não. Era sempre a mesma coisa...

Ele sempre pedia ajuda, e ela toda vez estava incapacitada de ajudar...

O que será isso?

Ela se sentia triste por não poder ajudá-lo, o que era um pouco ridículo, afinal... Era apenas um sonho. Um sonho real, mas apenas um sonho.

Quando ela se sentiu estranhamente observada.

Rukia arqueou uma sobrancelha, estranhando tal fato, e então, direcionou o olhar para onde sua sensibilidade apontou.

Seus olhos se arregalaram.

Era... Ele.

O garoto dos seus sonhos.


Hoho :3

Fanfic já foi postada no orkut.... Ignorem os erros gramaticais, please ;D

Espero que gostem dessa minha idéia...

Beijos

Mili Black