O que importa de verdade
Dia catorze de fevereiro. Os ocidentais chamam de dia de São Valentim, e em muitos lugares se comemora o dia dos namorados.
Aqui não é diferente...
Parece que a nacionalização de uma cultura estrangeira anda aumentando por aqui, e geralmente as mulheres dão chocolates aos seus amados, sejam eles amantes, amigos, irmãos, pais, tios... Apenas um mimo para representar o quão importante eles são.
Pessoas importantes... Houve uma época em que eu não sabia como era ter alguém pra mim. Achava que bastava gostar da pessoa e me doar. Não dava espaço para a outra se doar também. Hoje eu entendo isso todas as vezes em que eu olho para as cicatrizes da Himawari-chan.
Vejo por essa entrada os dias passando: primeiro os ventos, depois a neve. Aí vem as chuvas e então o calor, só para o ciclo se reiniciar, mas não aqui dentro. Aqui, tudo permanece da exata forma como no dia anterior, no segundo anterior.
Minhas únicas ligações com o mundo externo são os clientes (alguns) que aparecem, a Himawari-chan e o Doumeki. Doumeki... Não entendo muito ele. Ou então não faço força para entender.
Lembro de uma vez que uma cliente queria de qualquer forma ter uma chance com ele, e não entendia aquilo, mesmo com as explicações da Kohane-chan e da Himawari-chan. A garota era louca e seria capaz de vender a própria alma apenas para ter uma chance com ele, mesmo que isso significasse matar a pessoa que o Doumeki estava envolvido.
Naquela época, eu não perguntei, mas certamente ele teria dado alguma pista sobre estar mesmo vendo alguém, e tenho certeza que não estava. Inclusive, a única ocupação do Doumeki por um bom tempo (desde aquela vez) é vir me visitar e cuidar do que nós precisássemos...
"Watanuki! Watanuki! Eu quero chocolate!"
"Eu acho que você anda vendo televisão demais, Mokona... Cada hora uma coisa diferente..."
"Ah, eu pedi pro Doumeki trazer, mas até agora ele não trouxe!"
Watanuki grunhiu.
"Calma, daqui a pouco ele aparece querendo comer e beber..."
"Eu quero agora!" – no mesmo instante Doumeki chegou e foram recepcioná-lo. Claro, Mokona mais interessado na encomenda do que na visita em si.
"O que tem hoje para a janta?" – pergunta em sua voz monótona.
"Boa noite... Você não muda, já chega e vem perguntando o que tem pra janta?"
"Boa noite." – responde e continua olhando, querendo saber do cardápio.
"Doumeki! Doumeki, trouxe a encomenda?"
"Está na sacola, junto do sake."
"Eu quero!" – Mokona logo se entusiasma com o doce que vai comer junto do sake.
"Só depois da janta! Nem adianta que você não vai comer chocolate enquanto não comer tudo o que eu fiz."
"Ah... Watanuki é malvado..." – se desesperando, pois sabia da tirania de seu novo "chefe", tratou de arrastar Doumeki para a varanda, onde eles sempre comiam e bebiam – "Vamos, vamos!"
Abandonando a sacola na entrada, coube a um aborrecido Watanuki revirá-la para retirar os itens de dentro dela e carregá-los até a varanda.
Qual não foi a sua surpresa ao ver que além do sake havia ali três pequenas barras de chocolate e uma barra maior e mais trabalhada.
Watanuki corou e sorriu. Em silêncio, foi à cozinha, guardou o chocolate maior, pegou os três menores, mais o sake e dirigiu-se para a varanda. Ao se sentar, olhou para Doumeki e disse:
"O que você sugere para o cardápio amanhã?"
FIM~
