A Carta de Amor
Capítulo primeiro
Chovia. E ela estava incrivelmente feliz por isso. Havia dias que não chovia. Dias quentes e úmidos demais para seu gosto. Dias em que ela chegava em seu apartamento depois do trabalho e se trancava no quarto, ligando o ar condicionado, e ficando lá o resto do dia. Levava seu laptop para lá e ficava até noite. Dias em que nem tinha vontade de comer. A geladeira gelava a comida, mas não a cozinha. Acordou muito disposta naquele dia de chuva, sem o habitual sol no seu rosto quando abria as cortinas do quarto e se dirigiu ao banheiro. Tomou um banho quente e foi tomar seu café. Acordou cedo demais, dava tempo para tomar café da manha. Deixou os pratos na lavadora e seguiu para o quarto, para se vestir. Estendeu sua roupa na cama. Seu gato pulou em cima do colchão. Decidiu finalmente vestir a habitual saia marrom com blusa branca de botão e, dessa vez, mais um blazer. Prendeu seus cabelos em um coque, deixando duas mexas à frente. Pronta finalmente, deu comida ao gato, fechou a porta do 602 e chamou o elevador.
Foi procurando as chaves do carro enquanto a máquina subia. Remexeu toda sua bolsa. Encontrou desde lenços de papel até um convite de formatura de uma das garotas da redação. A qual ela não foi. Tinha um desfile para cobrir aquele dia. Procurou, procurou, e nada da maldita chave. O elevador apitou, avisando que já havia chegado no sexto andar. As portas de abriram e ela entrou. Enquanto descia continuou procurando a chave. 'Será que esqueci em casa?' Se perguntava. Abriu sua agenda e a sacudiu dentro da bolsa. Gostava daquela bolsa. Era espaçosa, grande. Cabiam muitas cosias dentro. Balançou mais um pouco a agenda, fazendo cair vários papéis no chão. 'Só me faltava essa'. Abaixou-se para pegar. Havia envelopes com contas a pagar, convite para festas, notas fiscais de lojas e supermercados. Juntou todos. Mas um lhe chamou a atenção. Ela sempre sabia o que colocava dentro da agenda, e não se lembrava daquele pequeno pedaço de papel amassado, azulzinho, mal dobrado. Pegou-o, colocando os resto dos pepéis dentro da bolsa. Quando chegasse no escritório arrumaria a agenda. Abriu o papelzinho mal dobrado e o leu:
"Meu amor,
Como a gente se apaixona? Dá uma topada? Tropeça, se desequilibra e cai na calçada, esfola o joelho, esfola o coração? Se espatifa nas pedras do chão? Será que tem um precipício e a gente vai ficar sempre pairando ali na beira?
Sei que me apaixonei quando vejo você, quando conto os segundos que faltam para estar com você. Nem um músculo se moveu. Não corre brisa nenhuma para agitar as folhas. O ar está parado. Apaixonei-me sem dar um passo. Quando aconteceu isso? Eu nem pisquei. Estou em brasa. Será isso banal demais para você? Não é, sabe. Você vai ver. É o que acontece. É o que importa. Estou em brasa.
Já não como, esqueço de comer. A comida me parece bobagem, irrelevante. Quando nela reparo. Mas não estou reparando em nada. Minha cabeça está transbordando e fervendo, uma casa cheia de irmãos, ligados pelo sangue, brigando com inimigos de sangue. Me apaixonei.
Joguei um livro pela janela ontem à noite. Tentei esquecer. Você não serve para mim, eu sei, mas já não ligo para o que penso a menos que esteja pensando em você. Quando estou perto e você. Em sua presença, sinto seu cabelo no meu rosto sem que nada me toque. Desvio a vista, de vez em quando. Depois torno a olhar para você.
Quando amarro meus sapatos, quando despelo uma laranja, quando estou dirigindo meu carro, quando me deito a cada noite sem você.
Sou sempre, apaixonadamente, seu." (nota as autora no final).
Sakura ficou olhando para a carta. Para suas linhas diagonais. Havia sido digitada. Por um breve momento ela se esqueceu do trabalho, das chaves do carro, da bolsa bagunçada e do elevador, que havia chegado ao térreo. Ficou ali, olhando para a carta em suas mãos. Com a grande bolsa pendurada em seu ombro. A porta do elevador se abriu novamente. Ela só se deu conta de que não estavam mais de movendo quando o porteiro a chamou.
Senhorita Haruno?
Ahn? – respondeu por instinto. E foi andando em direção ao porteiro. – Sim?
A senhorita tem correspondência. – e lhe entregou um maço de envelopes.
Ah, obrigada. – e saiu em direção a garagem.
Entrou dentro do carro e colocou a mão na inguinição. Acabou esquecendo que não tinha achado suas chaves. Decidiu pegar um ônibus. Saiu novamente e passou pelo porteiro. Disse que perdera as chaves do carro. Ele lhe aconselhou tomar cuidado, pois havia um surto de roubo a carros. Ela agradeceu e saiu. Seu ônibus ainda demoraria pelo menos dez minutos. Tirou mais uma vez a carta da bolsa e tornou a lê-la. "Meu amor...". Ela não era de ninguém, quem se atrevia a chamá-la daquele jeito? De trata-la como uma posse? "Como a gente se apaixona?". Como ela iria saber? Porque estava pergunta a ela? Leu a carta várias vezes. E quando viu já havia decorado. E quando viu já tinha perdido o ônibus. E quando viu já estava atrasada para o trabalho. Se enraiveceu com sigo mesma. Decidiu pegar um táxi. Chegou na redação quase meia hora atrasada.
oOoOo
Aonde você se meteu?.! O chefe está furioso! – Ino foi levando-a para a sala do chefe.
Ela bateu e entrou.
Senhorita Haruno, bom dia, não?
Desculpe-me pelo atraso, perdi as chaves do meu carro.
Pois fique sabendo que esse atraso entrará para seu currículo permanente.
Desculpe-me.
E esse atraso fez com que você perdesse sua promoção.
'O que?.!' Ela pensou. Havia se lembrado porque acordou tão cedo naquele dia. Não era só por causa do clima agradável. Hoje era o dia em que ela poderia ser promovida. Era o dia de promoção na redação. 'Como pude me esquecer?.!' Tentou gesticular algo, mas nenhuma palavra saiu.
Está dispensada. – ela já estava saindo quando ele falou – quero a matéria sobre Veneza ainda hoje na minha mesa.
Ela saiu pisando forte da sala do chefe, e se deparou com Ino em sua mesa.
E aí?
Perdi a promoção...
Droga!
Ino saiu, e ela se sentou. Abriu seu laptop e começou a digitar. Mal tinha escrito um parágrafo e alguém se aproximou de sua mesa.
Saaakura –chaaan! Bom dia!
Ah, bom dia. – respondeu, sem nem tirar os olhos do computador.
Oh, está mal humorada, Sakura-chan? O que está fazendo? Por que chegou atrasada?
Estou mal humorada. Fazendo meu trabalho, o que você também deveria fazer. Perdi minhas chaves.
Sakura-chan está tão chata hoje... Não quer ir ao cinema à noite? Preciso fazer uma matéria sobre esse novo filme de aventura-romântica que lançou. Quer ir comigo?
Naruto, quando você vai entender que tudo o que houve entre nós já acabou? – levantou o olhar o fitou.
Não seja tão má. Não tenho segundas intenções, só para você ficar com um humor melhor, só por amizade...
Ela lhe deu um olhar cortante, e ele pareceu entender, porque voltou para sua mesa. Voltou a se concentrar na tela a sua frente, mas um pedacinho de papel caiu em cima do teclado.
"Vamos almoçar juntas? Tenho ótimas notícias para te contar!
Ino".
oOoOo
E então? Quais são as ótimas notícias? – e se serviu de uma colher de arroz.
Elas tinha ido a um selfservice, que ficava ao lado da redação. Era um lugar agradável. Um restaurante ocidental em plena capital do Japão.
Quando a gente se sentar eu te conto, mas antes você vai me explicar porque chegou atrasada.
As duas terminaram de se servir e se dirigiram a uma mesa para dois, perto da janela. Sakura lhe contou toda a história, exceto a parte da carta. Ino pareceu não levar aquilo muito a sério. Parecia muito empolgada para contar a grande notícia. Comeu um pedacinho de frango empanado e começou. Contou que logo de manhã, quando ela chegou na redação, tinha acabado de saber que "aquele ator, daquele seriado que passa nas terças a noite no canal 8, você sabe né?", Sakura fingiu saber, tinha acabado de terminar com a namorada, "aquela que apresenta o game-show das 4", e como que ela, Ino, não a namorada, estava abatida, pois achava que elas eram super fofos juntos, e que deviam se casar.
Quando eu entrei na redação Kiba estava lá, lindo como sempre, em pé, ao lado do bebedor. Ele se despediu do Uchiha e veio na minha direção. Eu nem notei, porque estava muito arrasada com a separação deles. Não do Kiba com o Sasuke, do ator com a apresentadora. Então ele veio sacudindo dois ingressos para o cinema. – Ino falava enquanto devorava mais e mais pedacinhos de frango empanado. – Ele me convidou para sair! Você sabe que eu espero isso dele desde que terminei com aquele lerdo do Shikamaru! E sabe qual filme? Sabe!.? – ela cuspia enquanto falava – Aquele que acabou de estrear! Sim! Aquela aventura-romântica! Você nem sabe como eu estou feliz...
Ela finalmente parou de falar. Sakura se surpreendia com a velocidade em que Ino conseguia falar. E como que ela conseguia falar e comer ao mesmo tempo.
Parabéns – foi a única coisa que conseguiu dizer
Uau, você está mesmo mal humorada...
Não que ela estivesse mal humorada. Quer dizer, ela estava mal humorada. Mas não era isso que não a deixava pensar em algo melhor para falar. Desde que chegou na redação aquela carta não saia de sua cabeça. Ficava recitando os versos para sai mesma, pois já a havia decorado. Queria saber quem a escrevera. Queria saber como ela tinha ido parar dentro de sua bolsa. Queria saber se a carta era para ela. Olhou para a bolsa de Ino, que estava comendo arroz agora. Lembrou-se do dia em que elas haviam comprado as bolsas.
Era verão, estavam de férias e queriam ir para a praia. Decidiram fazer compras. Passaram em uma loja de biquínis, e logo depois em uma de bolsas. As duas não tinham nenhuma para a praia. Quando bateram os olhos nas estantes se apaixonaram pela mesma bolsa. Acabaram comprando, junto com uma de praia. As duas usando bolsas iguais.
'Vai ver confundiram a bolsa. Vai ver Kiba escreveu essa carta para Ino, e colocou na minha bolsa por acidente. É, essa carta não é para mim.'
Acabaram de almoçar e voltaram para a redação. Sakura sentou novamente na sua mesa. Não abriu o laptop. Olhou para o teto. Ah, como queria saber quem escrevera aquela carta. Estava tomada pela curiosidade. Olhou de mesa em mesa. Para todos da redação. Poderia ser qualquer um. Desde Chouji, da crítica culinária, até Sasuke, o repórter policial. 'Pode ser qualquer um', concluiu para si mesma 'pode ser para qualquer um'. Abriu o laptop e começou a escrever novamente.
SUPER-HIPER-IMPORTANTE!
Quero que fique bem claro que a carta que está escrita aí não é da minha autoria. Ela pertence a Cathleen Schine, que escreveu o livro A Carta de Amor, no qual eu me inspirei para escrever essa fic. Está avisado, não venham me dar sermão depois. E fique claro também que eu só peguei a carta. SÓ!
Beeeeem... Parece que eu não aprendo mesmo. Sim. Vou começar outra fic de capítulos. Eu estava lendo esse livro, A Carta de Amor, que vocês não devem ter lido, porque eu comprei em uma loja de livros antigos. Ele é muito bom. E eu acabei me inspirando para escrever essa fic. Acabei pegando o jeito da Cathleen de escrever também. Hehe. Bem, espero que vocês gostem da fic. E dessa vez eu vou tentar, não abandonar ela. Mas vou deixar claro que só vou continuar se receber reviews. É chato, eu sei. Mas não vou escrever algo que ninguém lê. Até o próximo capítulo. Aliás, eu posso mudar o rating de K+ para T.
Gigi-chan
OBS.: mudei de nick sim :P
