Se alguém viesse agora e me perguntasse o que diabos eu estava fazendo em cima da árvore, existiriam apenas duas prováveis respostas: a) "mulheres são fogo, cara", por que esse é o meu mantra, ou b) algo muito mais fácil e acessível, como um "argh", talvez. No momento, meu cérebro não consegue processar nada muito complexo.

Sobre as mulheres, não é como se elas evocassem um simples receiozinho quando aborrecidas - ou um vento passageiro. Está mais para um verdadeiro furacão!

É por isso que eu detesto, você sabe, óvulos mortos e todas essas coisas nojentas. O problema não somos nós, os homens (esqueça a conversinha de "Não é você, sou eu"). O problema são essas coisinhas microscópicas que não são fertilizadas. Quero dizer, podemos não colaborar com o momento - deixando as roupas espalhadas pela sala, esquecendo as toalhas molhadas sobre a cama e/ou derramando leite na geladeira - mas é um fator ínfimo, um mero agravante ante o Big Bang.

De todos os modos, sendo perdoado ainda nesta década ou numa próxima encarnação, eu digo, estou confortável. Posso esperar.

Vejo as garotas passarem na rua lá embaixo com suas saias minúsculas e seus sorvetes semiderretidos pelo calor sufocante desse verão. Quando a brisa bate, o tecido oscila em torno daquelas pernas deliciosas – das que são deliciosas, que fique claro. Um espetáculo gratuito e que pode me manter ocupado por várias horas e de modo ininterrupto, basicamente.

Não que Ino não seja um espetáculo, sabe como é. Ela só é excessivamente irritada. E fútil.

Bem, todos têm defeitos. Minha tia está sempre dizendo que devemos aprender a perdoar o outrem, a não guardar rancor, que viver é amar. "O próximo é nosso irmão", ela garante. Nada contra irmãos, mas eu já tenho uma e é suficiente, obrigado.

Quero dizer - porra! -, não bastasse uma garota e sua voz de taquara rachada (suas exigências estapafúrdias, seu humor oscilante, sua carência interminável [...]), ainda precisava suportar outra, da qual não poderia me livrar nem mesmo se pedisse para que a esquecessem no porão?

Deus não pode ser assim tão injusto.

Pelo menos uma namorada fornece sexo. O que uma irmã fornece? Nada. Ela te faz de escravo, é isso que ela faz. E ainda se junta contra você quando percebe que existe qualquer possibilidade de que você saia: a) contundido, b) capado, c) desesperado.

Pois eu digo: é o complô do sexo frágil. Aliás, essa frase é uma infâmia. Eu sou o sexo frágil.

Hormônios? Há, isso é papo de fêmea. Nada me faz ficar melodramático, inchado, doente ou simplesmente irritado demais para tentar acertar a cabeça da minha noiva com os objetos da casa.

Se eu chutá-la, ela ri e fala "É só isso que você pode fazer, amoreco?" E eu? Se ela me chuta, eu choro e peço pinico.

Agora... Quem é o sexo frágil de nós dois? Pois respondo: é aquele que corre para cima da árvore quando pressente o perigo.


A Temperamental


"Hmm... O que eu posso dizer a respeito da minha garota preferida? Ino é uma boa menina, apenas um pouco irritadiça.

Você terá mais chance com ela se apenas se mantiver longe.

Cem metros, só para começar. Ainda dá para analisar com bastante precisão os contornos das suas curvas. E você sairá vivo deste relacionamento."

(Akimichi Chouza)


Ino e Kiba namoravam há... Bem, ninguém saberia dizer há quanto tempo. Possivelmente nem eles mesmos.

Não que não se importassem com o andamento do seu relacionamento ou que fossem impassíveis um para com o outro. Apenas tinham outras coisas em mente além de contar os dias e as horas e os segundos em que estiveram juntos - em paz ou em guerra.

E ninguém também sabia o que os levou àquilo, àquele amor turbulento, digo. Era como se, num dia ensolarado - ou pode mesmo ser frio -, ambos houvessem despertado e pensado "Hoje eu agarro aquela(e) (preencha aqui seu xingamento preferido em relação ao sexo oposto)", sabe como é, só pra descontrair.

Era de opinião da maioria que nenhum dos dois jamais se mostrara um ícone com relação à inteligência, de modo que não poderia haver um segredo místico por detrás das suas motivações, fossem quais fossem. Mas ambos tampouco eram previsíveis, esse ponto eles ganhavam.

E talvez fosse exatamente pela imprevisibilidade e irresponsabilidade que se converteram na primeira opção de muitos no que se referia a "diversão intensa e inconsequente".

Porém, verdade seja dita, afora o corpo fantástico de uma verdadeira viciada em ginástica, Ino só se tornava suportável após algumas horas de convivência se viesse acompanhada de um trago. E Kiba, coincidência ou não, estava constantemente embriagado.

Shikamaru dizia que era por isso que eles se davam bem.

Naruto acreditava que aturar o terrível gênio de Sakura era uma tarefa mais fácil do que tentar conter Ino quando furiosa – o que o fazia ter medo dela, sim, só pra constar.

Todos os homens que a conheciam, mais do que ninguém, sabiam que contrariá-la nunca acabava bem. Sua gama de afetos e desafetos era tão grande que o ditado "fale bem ou fale mal, mas fale de mim" poderia ser a sua marca registrada.


Embora ninguém tenha perguntado uma vez sequer a Kiba o que ele via em Ino, a resposta era simples (não era mesmo como se ele fosse capaz de citar Shakespeare ou Tolstoi): fazer amor com Ino compensava todos os aborrecimentos posteriores.

Ela era quente, aconchegante, voraz.

Apenas o perfume de essência de sândalo seria capaz de levá-lo à loucura.

Não importava quão aborrecida ela estaria, sempre seria o bastante para deixá-lo excitado. Adorava a maneira como a boca rosada se contorcia de cólera. Um fetiche, uma doçura ou uma doença, isso depende do seu ponto de vista.

Basicamente, era por esses motivos que eles davam tão certo. Na maioria do tempo.


- O que você disse?

Kiba imediatamente se arrependeu.

Vislumbrou a fúria nos belos olhos azuis, desviando inconscientemente os seus próprios para a janela, donde podia observar o céu azul claro e sem nem mesmo uma nuvem.

O tempo estava péssimo: o sol brilhante e escaldante, os pássaros cantando. Sim, um péssimo dia para Kiba. Fazia Akamaru suar demais.

- Esqueça isso - resmungou, tentando evitar um estrago maior. - É óbvio que você está irritada, boneca. Que tal se formos tomar um sorvete? - convidou.

Para ele, não havia problema no mundo que não se resolvesse com um sorvete. Era assim que fizera as pazes com sua mãe, durante a infância, e até hoje mantinha o ritual, quando se sentia triste ou aborrecido.

Mas, veja só, Ino não acreditava na Terapia do Sorvete. Para ela, sorvete estava mais para tortura (afinal, ninguém mantém o seu corpo sarado sem algumas privações).

- Sorvete? - repetiu, parecendo furiosa. - Sorvete! - jogou as mãos para o alto enquanto continuava a fitá-lo como se quisesse cravar estacas imaginárias em todas as partes do seu peito. - Você faz isso comigo, me esquece, e acha que um sorvete estúpido irá consertar as coisas! Típico de você, um calhorda imbecil, igual àquele cachorro boboca!

Ignorando a cena comum (Ino era a pessoa mais carente e teatral do universo. Você não pode ser amigo dela por muito tempo se não aprender a ignorá-la após cruzada a linha da fúria absoluta), ele franziu o cenho à ofensa feita a Akamaru. Não gostava quando ela falava daquele modo do seu companheiro mais fiel.

Os dois normalmente se davam bem, a loira e o cão, exceto quando ela estava brava e precisava de algum modo arranjar meios eficientes de descontar a raiva e alfinetá-lo. Kiba sempre caía – ser esperto não era uma das suas melhores qualidades.

- Pelo menos ele não age como uma rainha do drama que não pode ser contrariada - reiterou, ácido.

O rubor na face pálida foi tão intenso que Kiba sentiu um comichão na virilha. Os acessos de fúria eram definitivamente tentadores.

- O que você disse? - ela voltou à fala inicial, os punhos apertados.

Aquele era o momento em que o diálogo era definitivamente deixado de lado. Ele podia começar a preparar as pernas para correr. Nem mesmo o Papa seria capaz de afastá-la do seu Estado de Monstro (Shikamaru e Chouji haviam até mesmo criado uma tabela de estágios, só pra descontrair).

Ino ficou um instante em silêncio, esperando por uma resposta que não veio, os olhos chamejantes e dardejando veneno, e logo principiou a caminhar com passos duros até o sofá. A mensagem da sua expressão era clara: "Você está tão, tão fodido, amiguinho!"

Pegando uma almofada, arremessou-a na cara do noivo. Ele a agarrou no ar. O mesmo para a segunda. Até que ela brandiu uma das suas estatuetas de porcelana, a bailarina de tutu, percebendo que itens fofos lhe facilitavam a fuga.

O objeto se espatifou contra a parede, fazendo cacos voarem para todos os lados.

- Cai fora da minha casa - sibilou, trêmula. - Cai fora. FORA! FORA! - e apanhou o abajur.

- Espere! Não jogue isso-Não!

Era sempre isso que levava Kiba para o seu esconderijo nada secreto.


Sete horas atrás.

As coisas naquela manhã não andavam bem.

Quando Kiba acordou, enrolado nos lençóis, Ino não estava na cama ou em qualquer outro lugar do cômodo.

Tal acontecimento era inédito. A loira era a criatura mais preguiçosa que ele já tivera a oportunidade de conhecer e possivelmente nem mesmo um maremoto poderia tirá-la do seu sono imperturbável quando se encontrava cansada.

Assim, primeiro ele se preocupou que pudesse ter acontecido alguma coisa e depois hesitou, consciente de que acontecimentos inéditos só ocorriam quando ela não estava nos seus melhores dias.

Abandonando a cama com um suspiro, encaminhou-se para o corredor.

Akamaru apareceu, vindo da sala, abanando a cauda e latindo, parecendo agitado.

Kiba imediatamente compreendeu que Ino saíra (Akamaru sempre ficava eufórico quando Ino saía. Talvez ele se sentisse livre). Sem nem mesmo dizer para onde ia. E sem dar qualquer previsão de volta. Típico dela: imprevisível.

Os armários da cozinha estavam vazios.

Pegando a caixa de leite dentro da geladeira, bebeu-a no gargalo até o final (porque sabia que a loira odiava isso). Depois a abandonou sobre a pia, não se preocupando em lavá-la (porque sabia que a loira também odiava isso).

Foi para o banheiro e tomou uma ducha gelada, que o ajudou a despertar, e se vestiu, preparando-se para sair. Estava dispensado do treino naquele domingo, mas Akamaru se mostrava muito mal-humorado quando tinha de ficar o dia inteiro dentro de casa.

Indo até o armário para pegar os calçados, deparou-se, assim que o abriu, com todas as vestes femininas desarrumadas.

Franziu o cenho.

Ino detestava bagunça. Era uma perfeccionista e tratava as suas roupas como se fossem pessoas. Às vezes as tratava até mesmo melhor do que pessoas. Lavava-as com todo o cuidado, estendia-as para secar na brisa, passava-as e então cuidadosamente as dobrava, para não haver necessidade de retomar o processo quando necessitasse vesti-las.

O mesmo para seus sapatos: estavam separados em caixas etiquetadas, limpos e lustrosos, em ordem alfabética.

Nada a fazia ir contra suas explícitas regras. Kiba sabia que ouviria milhões de gritos caso mexesse na parte do roupeiro que não lhe pertencia e acabasse por sujá-la ou pior: desarrumá-la.

A caixa de joias sobre a penteadeira também estava revirada. Ele não sabia se faltava algo ou não, porque não era muito observador, mas supunha que Ino deveria ter escolhido alguma peça, já que raramente saía desprovida de adornos desnecessários.

Havia uma festa àquela hora da manhã?, perguntou-se, aborrecido. Ou eles haviam sido assaltados e Ino, raptada? Considerou a hipótese mirabolante por um segundo, desistindo no mesmo instante. Afinal, antes de ser raptada, ela daria alarme para toda a vizinhança com os gritos agudos e ele certamente sentiria a presença de um invasor.

Sim, deste modo, acreditava que seria mais fácil que alguém estivesse inspirado o bastante para dar um baile – ou o que fosse – às seis da madrugada. Muito mais fácil.

Com tais pensamentos em mente, deixou a casa.

Akamaru latia, correndo pela rua, e Kiba logo iniciou sua corrida diária.

Eram quase duas da tarde quando voltou para casa. O sol estava alto no céu, queimante.

Kiba se encontrava faminto. Adentrou a residência, livrando-se da camisa e dos calçados, indo para o banheiro. Após um banho refrescante, saiu de toalha na direção do quarto.

Naqueles casos de fome desesperada, sempre fazia as refeições na casa da mãe, que era para onde tencionava ir.

Foi até a cabeceira para pegar o relógio, o qual se esquecera de colocar durante a manhã. Gelou. Havia um papel cuidadosamente apoiado nele. Reconheceu a caligrafia da noiva.

"Baby, você sabe que dia é hoje, não sabe?"

O moreno quase chorou quando principiou a ler. A pergunta 'Você sabe que dia é hoje?' nunca acarretava nada de bom.

"Faz quatro anos que estamos juntos! Não é maravilhoso? Eu apenas lembrei porque encontrei minha antiga agenda enquanto arrumava o sótão, ontem à tarde. Vista sua melhor roupa, meu bem. Reservei uma mesa para nós no seu restaurante preferido. Encontre-me ao meio-dia em ponto. Não se atrase. Amor, Ino."

Hesitante, lançou um curto olhar para o relógio: 14:15.

Tarde demais, boneca, pensou, sabendo o que viria pela frente. Logo ela chegaria em casa, furiosa e assassina.

Vestindo-se, ele achou melhor esperar no sofá da sala, pronto para a guerra. O almoço poderia ficar para mais tarde. Se é que haveria mais tarde.


Agora.

A árvore é um local confortável, se pensarmos bem. É fresca, dá frutos e é extremamente - maravilhosamente - silenciosa.

Se eu criasse uma religião, poderíamos nos casar ou algo assim (afinal, quem precisa reproduzir?). Fantástico. Seria o primeiro caso de amor interespécies do mundo.

Com mulheres fora da jogada, Hana não se juntaria a Ino para armar planos com o intuito de me castigar. E isso não parece nada ruim, considerando os prejuízos que eu tenho com aquela loira. Na realidade, poderia ser um alívio. O resto da eternidade sem ouvir os berros agudos, suportar o mau-humor matutino ou os dias de fúria.

Enquanto não chovesse, e isso demoraria porque estávamos longe do inverno, seria a moradia perfeita. Nunca tive mesmo problemas com mosquitos. E dali poderia enxergar a janela do nosso quarto e a dança sensual que Ino sempre fazia quando se livrava das roupas.

Resumindo, a habitação que qualquer homem pediria de Natal, se ainda recebesse algum presente.

Reconheço que seria melhor, é claro, estar lá dentro, de preferência na cama, mas sei que acabaria por se tornar cômodo o fato de não precisar ouvir o falatório interminável de Ino logo após o sexo – aparentemente, indagar "Foi bom pra você?" está no topo da sua lista de frases preferidas. Às vezes me dá vontade de sufocá-la com o travesseiro.

É por isso que sou contra o casamento. Partilhar a vida não é nada prático ou mesmo fácil. Tenho pena dos desavisados, que resolvem experimentar sem ter feito o test-drive.

- Ei - não ouvi o trinco do portão sendo movido, o que denunciava minha distração.

Reconheci Naruto ao pé da árvore, com os cabelos loiros naturalmente bagunçados e aquele forte cheiro de colônia masculina que me deixava nauseado.

- O que você está fazendo aí?

- Podando - respondi, entre dentes. Era óbvio que não fazendo um piquenique.

Ele pareceu confuso um instante, analisando a enorme árvore, que de fato não precisava ser podada. Oferecia uma sombra interminável e agradável naquele catastrófico calor e ainda me deixava oculto para quem quer que fosse que não estivesse bem abaixo de mim.

Ela ocupava grande parte do jardim, tinha já cerca de cinquenta anos e havia aumentado o valor do terreno em quase três por cento, maldita fosse.

- Onde está sua tesoura de jardinagem?

- Eu uso os dentes - rodei os olhos. - Sabe como é, sou selvagem!

Naruto fez um ruído de descrença e então girou os olhos, exatamente como eu.

- Você está se escondendo da Ino - falou, num tom de quem sabia a verdade desde o princípio. - Sakura me disse que sempre que você corre para cima dessa árvore é porque está fugindo da Ino - soltou uma risada, debochado. - Mas tudo bem, dá pra entender. Afinal, ela é tão... - ele fez uma careta. - Ugh. Assustadora! - e encolheu os ombros.

Encarei-o, cético.

Aquela era uma conclusão típica de quem não a conhecia. Porque, fato, Ino não é assustadora. Na realidade, é engraçada. E sexy. Dolorosamente sexy.

- O que é que você está fazendo aqui? - perguntei, ignorando as últimas palavras. - Ino está dando outra reunião do Clube da Fofoca?

- Não. Ino ligou para a Sakura e avisou que você estava escondido em cima da árvore outra vez - Naruto fez um ruído engraçado. - Bem, eu precisava mesmo vir aqui para pegar os relatórios da semana passada, aqueles que você teve de refazer depois que Akamaru comeu.

Ahh, os malditos relatórios. Pobre Akamaru. O cão era sempre o bode expiatório.

Gastava a maior parte do tempo em treinos ou missões, já que essa era a minha profissão, e detestava fazer trabalho burocrático. Se gostasse de mexer com papelada, nunca teria escolhido aquela carreira, para começo de conversa.

Desde que Tsunade pretendia indicá-lo como Hokage num futuro próximo, Naruto assumira algumas funções básicas (geralmente as funções chatas) – apenas de modo parcial, uma vez que continuava a receber instruções do que fazer e de como agir – para adquirir experiência.

O fato é: Naruto podia ser bom em semear palavras de esperança, mas era tão tolerante com os ninjas de modo geral que eu desconfiava que os mesmos o faziam de gato e sapato (isso basicamente deixava os anciões de cabelos em pé).

Ino dizia que ele era como a Lady Diana do proletariado.

- Parece divertido aí em cima. Dá pra enxergar a rua sem ser visto. Eu bem que gostaria de ver a obaachan me procurar agora – Naruto fez uma careta de desgosto. - Posso subir?

Soltei um grunhido, sinal de descaso.

- Sinta-se à vontade - cedi algum espaço no galho onde estava acomodado. - Possivelmente parecerei menos estúpido se ficar ao lado de alguém estúpido.

Ele ignorou meu comentário, como seria conveniente, e rapidamente estava junto de mim. Olhando para todos os lados, testou a visão, e pareceu satisfeito quando pôs os olhos sobre as garotas que passavam pela rua usando minúsculas blusas de verão.

Yeah. Era por isso – pelas cinturas finas, pelas pernas grossas, pelas bocas pintadas - que eu gostava daquela árvore.

Em frente à casa, do outro lado da rua, havia uma lanchonete e sorveteria - às vezes penso que Ino escolheu o lugar apenas porque haveria um local perto o bastante para eu fazer as refeições, livrando-a da tortura de cozinhar (ou tentar cozinhar, o que é mais apropriado).

Algumas mesas estavam postadas fora do estabelecimento, recheadas de ninfetas e seus namorados adolescentes, e, naquele instante, uma delas acabava de lamber o sorvete de creme.

- Nós precisamos de uns biscoitinhos - disse Naruto por fim, muito concentrado. - E água – concluiu, quando a garota fez o mesmo movimento um segundo depois e ele ofegou.

Eu ri, zombador.


- O que diabos vocês estão fazendo aí em cima, suas bichas?

Ah, ótimo. Não falta ninguém, porcaria. Agora Hana, também conhecida como Terror da Minha Infância, também está aqui.

Deveria ter previsto que isto, melhor dizendo, que Hana aconteceria.

Se há uma verdade universal no mundo, é a de que Hana e Ino sempre se aliam quando há necessidade de uma delas promover uma retaliação. Elas são mais unidas do que gêmeas siamesas.

E eu não sei o que fiz de tão ruim para merecer ser perseguido desta maneira.

Posso suportar Naruto, posso suportar morar sobre uma árvore pelo resto da minha vida e posso suportar até mesmo uma catástrofe nuclear, mas não posso – por favor, não me peçam para - suportar minha irmã.

Melhor dizendo, suportar minha irmã dando ideias maléficas e espalhafatosas para minha noiva, aquela que devia me amar e me honrar (digo, se o noivado é um treino para o casamento, deveríamos começar a pôr à prova todas aquelas citações poéticas inúteis).

Hana consegue ser ainda mais boca-suja e mal-educada que eu - se é que isso pode ser humanamente possível. E, pô, eu sou macho. Pra mim, agir como macho é legal. Pra ela, deixa eu pensar... não! E isso, você sabe, a pose do cara malvado, não é o pior. Afinal, a vadia sabe todos os meus podres e frequentemente os usa para me subornar - ou atormentar.

É óbvio que Ino, vingativa e fresca como é, procuraria todas as armas para fazer da minha vida um inferno. Típico dela: sempre efetiva.

- Estamos podando - respondeu Naruto enfim, erguendo os ombros, assim que nos voltamos para a recém-chegada, que naquela tarde usava um vestido colante que contrastava com os recentes piercings espalhados pelo rosto e com o cabelo picotado.

Soltei um riso de escárnio, porque sabia que nada nos privaria de uma resposta sarcástica. Sarcasmo era o segundo nome dos integrantes desta família. Sorte para nós.

- Sei - Hana ergueu uma das sobrancelhas, irônica. - Querem um pouco de privacidade? Deve ser muito cômodo, dois homens escondidos, sem que ninguém possa ver, neste calor... Ótimo tempo para queimar calorias, não?

- Vá para o diabo - rugi antes que houvesse espaço para que fosse pronunciada mais uma fodida palavra.

Brincar com a minha sexualidade era algo que eu detestava.

- Você sabe por que estou aqui. Siga em frente, - sacudi o braço. - debande para o lado da minha noiva assassina, planeje a minha morte! Não vou descer até que Ino pare de lançar olhares furiosos na minha direção.

Mas ela apenas me olhava, sua melhor expressão de intransigência no rosto, como se estivesse se divertindo, e eu me obriguei a resmungar como uma criança pequena:

- Nem mesmo se você espalhar para toda a cidade a minha bobagem mais suja.

- Como quando você era sonâmbulo e ia para o jardim e gritava para toda a rua que estava esperando a mamãe trazer sua mamadeira?

Rugi, mas não foi nada perto da estúpida, maldita gargalhada escandalosa de Naruto (afinal, o que aconteceu com "Homens unidos jamais serão vencidos?").

Ele piscou, absorvendo a informação, e logo depois desandou num riso tão histérico que precisou se segurar com ambas as mãos no galho para que não ocasionasse a própria queda.

- O que isso importa? - indaguei, mal-humorado, movendo a cabeça após passar a mão pelos cabelos, numa tentativa de conter a raiva. - Pelo menos eu usava uma, no lugar de brincar de sugar das tetas da sua cadela! E, se você quer saber, isso sim é nojento - grunhi, o que só parecia ajudar para tornar as risadas ao meu lado ainda mais profundas. - Mas eu entendo que o gosto pelo negócio veio desde a pequenez, não é mesmo? - arreganhei os dentes, malicioso.

Ela torceu o nariz, postando uma das mãos na cintura.

Hana odiava que falássemos sobre isso, ainda que sua bissexualidade não fosse exatamente um segredo entre nós - não com ela comprando revistas pornográficas. Aparentemente, verbalizar fazia parecer obsceno e ela só gostava de obscenidade na prática.

Embora a ideia tenha deixado a vovó horrorizada, era simplesmente um fato confirmado: sua netinha preferida era boa com rapazes, mas melhor ainda com garotas. Até mamãe aceitou a situação, eventualmente. Não foi sua decisão mais fácil, mas ao fim e ao cabo ela decidiu que perder uma filha era pior do que vê-la enfiar a língua dentro da boca de uma tatuadora punk.

Hana não disse nada naquele instante em que Naruto ainda se recompunha, arfante.

Nós nos encaramos, hostis, e então ela fez o movimento de mão displicente que significava "O que vem agora vai te chocar, meu bem".

- Se eu tivesse um pênis, - disse, deslizando a língua pelos lábios pintados de vermelho como se apreciasse seus pensamentos doentios. - eu seria bem-dotado, diferente de você.

Um instante depois, Naruto ia em direção ao chão, gargalhando como uma gralha.

Akamaru, que se encontrava sentado ao pé da árvore, deu um pulo para o lado, assustado, e o gemido do maldito Naruto logo rompeu o silêncio momentaneamente feito.

Cutucando-o com o pé, Hana suspirou e me lançou um olhar aborrecido, como se dissesse que a morte do futuro Hokage era unicamente minha culpa e não da sua piada infame.

Não sei com quem essa lésbica depravada aprendeu a ser tão sarcástica, danação!

- Maldita seja - praguejei. - Vá aborrecer o demônio, Hana! Você e o seu vibrador especial - resmunguei então, irritado. - E você, Naruto, levante esta maldita bunda antes que a tenha atacada!

Ele arregalou os olhos àquelas palavras, como se "vibrador" e "seu traseiro" não preenchessem o mesmo espaço.

- É, b-bem, - gaguejou assim que se pôs em pé, enfiando a mão atrás da nuca, com um sorriso sem-graça. - acho que eu preciso ir agora. Pego os relatórios mais tarde, se for necessário - e desapareceu quase que imediatamente. Nada amedrontado, é claro.

Seus devaneios com ninfetas nuas não foram o bastante para fazê-lo suportar a pressão. Fraco.

- Menos um - Hana disse, maliciosa. - Divirta-se com seu amigo imaginário, irmãozinho - e acenou, adentrando a casa silenciosa.


Agora é fato: é impossível viver em paz. Estou formalmente desistindo.

Não bastasse saber que tinha demônios femininos armando um plano para me derrubar, que o cara mais metido a engraçadinho da Vila estava ciente de que eu era sonâmbulo e estar desprovido de uma moradia satisfatória, precisaria encarar o fato de que em breve toda a cidade estaria aqui para me ver. Exatamente como se eu fosse uma atração de circo fantástica. Exceto que ninguém estava cobrando os ingressos. Que eu soubesse.

Sai e Sakura, também conhecida como Paixão Platônica do Saizinho, acabavam de chegar, rindo de qualquer coisa que envolvesse as palavras "Kiba", "Ino" e "árvore" - maldita Haruno faladora.

Detesto quando Ino reúne o Clube da Fofoca.

Suas melhores amigas (falando sério, nunca vi alguém com tantas melhores amigas. Não existe um número máximo, não?) aparecem e ficam horas na sala, conversando muito alto, falando obscenidades e bebendo todo o meu álcool.

Tolero pacientemente ser privado do silêncio do meu lar nos meus dias de descanso, mas não que esvaziem todas as garrafas de uísque - Temari adora uísque, e eu, consequentemente, odeio a Temari Seca Garrafa.

Além do mais, às vezes podia ouvir algumas coisas interessantes quando estava no andar de cima, coisas que faziam valer a chateação.

Sabia, por exemplo, que a esposa de Shikamaru, minha concorrente no setor etilista, constantemente se acariciava quando o marido estava fora. E que Hana e Shizune haviam tido uma experiência homossexual muito satisfatória enquanto estavam bêbadas, de modo que Sakura, solteira desde que seu último namorado admitira ser gay, acreditava que poderia experimentar qualquer dia desses – para ter um parâmetro.

Possivelmente, ela acrescentava sempre, quando estivesse em uma das suas crises de excitação mensal, no período que antecedia a sua – argh - menstruação.

Nunca considerei usar tais informações a meu favor, porque sabia que isso deixaria Ino louca. Afinal, ela prezava os segredos do Clube da Fofoca mais do que seu guarda-roupa. Mas nós estávamos num tempo de cólera. E talvez este fosse o tempo correto para aplicar tudo o que ouvi, a fim de obter algum sucesso. Ou sossego. Tanto faz.

- Então, seu quadrúpede descerebrado, se divertindo? - Sai perguntou, ao passo que Sakura apenas me cumprimentou e adentrou pela porta entreaberta.

- Mais do que você, seu puxa-saco - reiterei, azedo. - Pelo menos tenho uma noiva. Que tal você, que visita a Sakura enquanto ela dorme apenas para pintar quadros nus seus e depois se masturbar olhando? - ergui as sobrancelhas, com um meio sorriso sarcástico. - Acho que sim, obrigado, eu estou me divertindo!

Ele não pareceu se importar. A coleção de quadros nus da Paixão Platônica do Saizinho, que costumava dormir pelada, estava guardada a sete chaves, mas era verdadeira. E, é claro, era um segredo.

- Só fiquei curioso para ver como você estava se saindo nessa situação degradante.

- Melhor do que você esperava, presumo - respondi. - Além do quê, donde estou posso ver muito mais do que você. E descobrir mais segredos que você - aticei a sua curiosidade. - Inclusive sobre a sua musa inspiradora.

Voltei os olhos para a janela da sala, que podia observar com perfeição daqui. As garotas conversavam.

Fiquei distraído por um instante, observando Ino se movimentar sobre o sofá, mostrando-se, ao invés de furiosa, muito satisfeita, rindo de modo a parecer que nada poderia perturbá-la. A boca rosada se fechava e abria, curvava conforme os sorrisos, expondo aqueles dentes que tantas vezes haviam me mordido.

Estava com uma saia jeans e uma blusa roxa, sua cor preferida, que caía sobre o ombro, me dando uma deliciosa visão da sua clavícula. Diabos, aquele corpo me enlouquecia.

- Pago metade do meu salário pra saber.

Voltei os olhos imediatamente para Sai.

- É pouco, considerando a importância da informação - disse, encolhendo os ombros, aparentando desinteresse. - Com o que eu sei, meu caro, acredite, você me agradeceria se eu exigisse a sua casa e seus bens todos e você os desse. Não é apenas um segredo banal, que possa envergonhá-la. É uma arma secreta do sexo - frisei, algo sombrio em minha voz.

Ele arqueou as sobrancelhas, postando uma das mãos na cintura.

- Você só pensa nisto, não? - perguntou, os orbes fixos em mim, uma expressão resignada na face. - Sexo - murmurou, parecendo reflexivo um instante, embora, ao que pareça, houvesse sido pronunciada para mim a palavra. Depois soltou um profundo suspiro. - Está bem, Inuzuka - sorri imediatamente, sabendo que conseguiria o que quisesse dali adiante. - Diga-me seu preço e eu o pagarei, estando dentro das minhas possibilidades.

- Veja bem – fingi estar pensativo. Não havia nada que eu desejasse naquele instante em particular, além de conseguir fazer com que Ino me perdoasse. - Será algo simples: apenas precisará dissipar o Clube da Fofoca para que eu possa agir.

- Descer da árvore, você quer dizer - Sai corrigiu, sarcástico.

Rodei os olhos.

- Dá tudo na mesma! – respondi, irritado. - Neste momento, a loira está ansiosa demais para dividir sua frustração com as amigas. Ela até mesmo esquece que está brava quando aquelas abelhudas depravadas estão por perto, mas isso me impossibilita de tentar resolver nossos problemas - grunhi. – Agora as tire de lá.

- Está bem. Dê-me alguns minutos - e ele sumiu.


Estou chocado.

O negócio é, afinal, que eu não posso dizer com precisão o que é que fez o quarteto da felicidade debandar e nem que diabos originou uma ideia no enorme cérebro do maldito Sai num tão curto espaço de tempo.

Apenas percebi que, cerca de dez ou quinze minutos depois do projeto de pintor de quadros pornôs ter desaparecido para cumprir seus intuitos malignos, todos os seres do sexo feminino alojados na minha residência começaram a gritar. E saíram correndo. Pela porta. E janela. Como desvairadas.

Até Hana. A machona.

Será que a cidade estava sendo invadida por zumbis em avançado estágio de decomposição? Ou alguma delas lembrou que esqueceu o peru no forno? Ou essa era uma nova estratégia de abordagem, pra me fazer descer... Digo, aparecer?

Nada se podia deduzir do fato de que a casa havia sido abandonada em questão de segundos, como se estivéssemos sob um alerta vermelho mortal e derradeiro. Afinal, para quem pode demonstrar tanta fúria gratuita, eu esperava que o Clube da Fofoca, embora composto de mulheres, não se mostrasse tão facilmente afetado. Ou pelo menos não deveria fazê-lo, se quisessem manter sua integridade moral.

Ino tinha os olhos arregalados quando apareceu na porta, a última a abandonar o navio, e se aproximou do pé da árvore.

- Kiba, entre lá e mate aquele rato agora - gritou, apontando com o dedo indicador para dentro da casa.

Rodei os olhos com o absurdo daquele acontecimento. Um animal indefeso poderia desfazer o esquadrão mais destrutivo de batalha verbal. Seria cômico se não fosse trágico, háhá.

- Um rato! Na minha casa! – ela dizia, pálida e furiosa, enquanto eu descia do galho num pulo. - Não acredito que você permitiu que um rato invadisse a nossa casa!

- Ino, boneca - torci os lábios. - Eu converso com cachorros e não com todos os animais do mundo! - reiterei, seco. - Agora espere aqui, assim, paradinha - segurei os seus braços, impedindo-a de continuar se movendo.

Ela ainda parecia muito contrariada quando cedeu, mordiscando a boca para segurar a raiva.

- Isso. Faça aquela respiração que aprendeu com o seu professor de yoga - sugeri, movendo a mão num gesto de indiferença. - Akamaru vai dar um jeito nele em instantinhos.

Com um olhar meu, porque Akamaru era capaz de farejar a diversão mesmo a quilômetros de distância, ele adentrou a casa, latindo e sacudindo o rabo, louco para deslizar pelo corredor e destruir todos os enfeites da casa, sob a desculpa de estar caçando um intruso.

Precisava admitir, enfim: aquela havia sido uma jogada de mestre. Sai podia ser oficialmente condecorado como gênio. E eu não me oporia dessa vez.

Afinal, ele merecia algum crédito. Seu plano fora brilhante. Por mais segura de si que fosse, até Hana demonstraria ter asco de um rato. Se o mesmo fosse adestrado ou falasse e dançasse polca, isso era irrelevante. Roedores (esquilos inclusos, não me pergunte porquê) e insetos eram o seu ponto fraco.

Então, digo que foi fácil, mais do que em todos os outros dias (em que precisava armar planos mirabolantes e na maioria das vezes mal sucedidos), dissolver o Clube da Fofoca naquela tarde – se vodka de péssima qualidade não havia sido capaz de afastar Temari, então animais da base da cadeia alimentar o seriam.

E, bem, agora que havia aprendido o truque, trataria de aperfeiçoá-lo.

Dei um sorrisinho malévolo a esse pensamento, que mais parecia uma cerveja gelada depois de cruzar um enorme deserto.

Cruzei os braços, relaxado pelo que pensei ser a primeira vez no dia. Ou a primeira vez desde que li o bilhete premiado deixado sobre a minha mesa de cabeceira – bilhete premiado com o meu desastre absoluto, acrescento.

- Poxa, Kiba - voltei-me ao escutar o muxoxo da loira. Ela tinha um bico de insatisfação, gesto que a tornava perturbadoramente deliciosa. - Não posso acreditar que você esqueceu nosso aniversário! - soltou um resmungo, virando o rosto. - E eu ainda tive o maior trabalho para depilar... - cortou a frase, porque naquela hora Akamaru voltou, latindo e balançando o rabo, e ela compreendeu que estava tudo certo. - Bom garoto! - elogiou, sorrindo.

- Depilar o quê? - arqueei uma sobrancelha, curioso.

- O quê? - ela havia se distraído, mas assim que percebeu do que eu falava, se desinteressou. - Ah - fez, balançando a mão num gesto idêntico ao meu. - Esqueça. Era o seu presente, mas você se comportou como um menino muito, muito mau hoje, me deixando plantada naquele restaurante e tudo o mais - murmurou, tornando a acariciar a orelha de Akamaru.

Suspirei. Droga, detestava ser obrigado a ceder. Não fazia o meu feitio aceitar ser o perdedor, mas fazia tudo para satisfazê-la, até mesmo abdicava do meu orgulho quando estava certo de que Ino o merecia. Abominava ver aquela coisinha maravilhosa triste. Irritada talvez, mas triste não.

Mexi no seu cabelo e ela não ofereceu resistência. Geralmente gostava de cafuné, mas não gostava de ser tocada quando irritada.

Estava mesmo chateada. Os olhos azuis estavam baços, um pouco marejados.

Enrolei uma mecha loira no dedo, observando-a por algum tempo. Então a abandonei para erguer com os dedos seu queixo e baixei o rosto até pressionar os lábios macios contra os meus, de modo gentil.

Não queria assustá-la ou aborrecê-la ainda mais depois de todo o estresse daquele maldito dia. Já havia sido suficientemente difícil conseguir me aproximar. E passar horas sobre aquela árvore, por mais simpática que ela pudesse ser à minha causa perdida, estava começando a se tornar cansativo.

- Perdão, princesa - sussurrei ao pé do seu ouvido, abraçando-a e afundando o rosto no seu pescoço. Tinha cheiro de perfume. Toda ela era extremamente cheirosa.

- Tudo bem, ursinho - Ino afastou-se pouco tempo depois, dando-me um pequeno sorriso, o que significava que as coisas começariam a se ajeitar com um pouco de tato e sorte. Mas... Argh. Detestava quando ela me chamava de ursinho. Não sei onde aprendeu isso. Eu nem sequer tenho algo a ver com ursos. Com cachorros, sim.

Vá entender a mente das mulheres.

O que importa é que fizemos as pazes, afinal.

- Então por que você não me conta qual parte do corpo você depilou especialmente para mim, embora eu seja um idiota? - deslizei o nariz pela sua bochecha, roçando nossos lábios, até que ela soltou uma risadinha, um pouco maliciosa, mas muito dócil. Os cílios dourados ainda estavam molhados.

Admitir a culpa era uma tática infalível para quebrar sua resistência.

- Prometo que vou fazer o que você quiser durante o resto da semana para compensar. Até acompanhá-la nas compras - Danação! Odeio fazer compras, muito mais do que odeio ser obrigado a fugir de casa.

- Eu vou cobrar - ela arqueou as sobrancelhas.

- Às ordens, paixão.

Nada melhor do que tê-la nos meus braços, sem gritos - de fúria, é claro. Era pra isso que eu havia sido feito: beijar aquele corpo maravilhoso até a exaustão. Mesmo que às vezes precisasse correr para cima da árvore. Várias vezes, melhor dizendo.


Era perto das duas quando eu e Sai nos encontramos para acertar os prêmios.

Ino dormia debaixo do edredon, nua em pelo.

Vi o pintor pornô sentado em cima da árvore com seu melhor sorrisinho sacana irritante. Deve ter se deparado com uma bela cena há cerca de meia hora, considerando que estava ali há algum tempo.

Eu e a loira não tínhamos o hábito de fechar as janelas ao anoitecer. Nosso quarto ficava no segundo andar, não havia muitos mosquitos e ela preferia acordar com a luz do sol ao despertador. De modo que éramos facilmente vistos se alguém houvesse estado no exato lugar em que eu estivera durante metade do dia.

Bem, não é como se eu me importasse. Para os outros, era apenas uma demonstração do que nunca teriam: o meu pênis, a minha garota.

- Pensando por um lado - Sai falou assim que me juntei a ele em cima do galho, tendo pulado da janela. -, até que este é um bom lugar. Não sabia que ela podia ser tão atraente.

- Tarde para descobrir - reiterei, me espreguiçando. Estava apenas de calças e descalço. O tronco irregular pinicava meus pés. - Então - comecei, decidindo-me por não me demorar no diálogo. -, seu pseudo-artista escroto, pronto para descobrir o segredo do sexo da sua querida musa? Se você estava pensando em maneiras de levá-la para cama, pode acreditar que conseguirá.

- Bem, então vá soltando o bico.

- Ansioso? - arreganhei os dentes, fazendo-o girar os orbes nas órbitas, cruzando os braços. - O negócio é simples: - ri perante sua impaciência. Era indubitável que, por mais forte que fosse o homem, ele sempre se interessaria por sexo. - todo o início de mês a Garota Perfeição tem um período de frustração sexual em que os hormônios insatisfeitos clamam luxúria. Ela não irá resistir a você se tentar se aproximar. Provavelmente agradecerá.

- Interessante - ele postou uma mão no queixo por um instante, pensativo com a informação, depois voltou os olhos para mim, seu rosto não expressando nada, como era habitual. - Boa noite, Inuzuka.

- Boa noite - encolhi os ombros. - Ahh - fiz, antes que ele pulasse. - Foi muito inteligente aquela ideia, a de usar o rato estúpido. Fez com que elas saíssem correndo como se houvesse ameaça de incêndio! - soltei uma gargalhada à lembrança.

- Obrigado - Sai deu um sorriso de canto, dando-me as costas. - Mas não fui eu quem postou o rato lá. Foi apenas sorte - e saltou.

Xinguei ao vê-lo desaparecer na escuridão, depois concluí que tanto fazia. Não seria eu a vítima do assédio.

Então bocejei e voltei para o quarto. Tudo estava bem, até o próximo mês.


O próximo mês.

- Inuzuka Kiba! - o grito furioso de Ino irrompeu os cômodos da casa como uma explosão sônica.

Veio do segundo andar e se alastrou com tal força que da cozinha, no andar de baixo, o dito cujo pôde escutá-lo como se a mulher estivesse ao seu lado, ou como se não houvesse distância nenhuma entre eles.

Abandonando o liquidificador, onde fazia uma batida de frutas, um hábito que adquirira depois de correr, o moreno soltou um suspiro de resignação.

Sabia que estava com uma boa sorte exagerada naquele mês e que ela não era um bom sinal. Preferia começar os dias com a mesma rotina: grunhidos furiosos, estatuetas voando, pedidos de desculpas...

Passando a mão pelos cabelos molhados, começou a subir as escadas que levavam para o segundo andar. Logo encontrou a noiva, que acabara de chegar e subira como um furacão até seu cômodo preferido, no batente da porta, com as roupas de ginástica e o rosto afogueado, suada, os cabelos grudando à face.

A mão com unhas perfeitamente cuidadas e pintadas de rosa fraco, embora curtas, estavam apoiadas no umbral da porta e ela mordia o lábio com força, sinal óbvio da sua ira.

Kiba nem mesmo precisou se pronunciar. Ao vê-lo, de bermuda, descalço e sem camisa, Ino corou ainda mais e bateu o pé.

- Eu não acredito, seu safado! - voou na sua direção, estapeando-o seguidas vezes no tórax. Sendo que não sabia pelo que estava sendo culpado daquela vez, ele permaneceu em silêncio. Ela detestava quando o moreno ficava imóvel. - Seu safado! - repetiu. - O que é que você andou espiando das minhas reuniões com as meninas, hein, hein? - exigiu saber, o dedo em riste.

- Nada - ele disse de modo automático, imediatamente concluindo que não adiantaria mentir. - ...demais - completou alguns instantes depois, enfiando a mão nos cabelos mais uma vez e dando passos para trás. - Não é como se fosse um segredo, não é mesmo? Quando bebem, elas ficam gritando tudo aos quatro ventos. Você não pode me proibir de ter ouvidos - resmungou. - Por que não sugere que as suas amiguinhas alcoólatras controlem seus impulsos? Ou troquem a tequila por suco natural?

- Seu estúpido - a loira rugiu mais uma vez. - Você sabe o que eu acabei de saber? Sabe?

- Hn... - Kiba rodou os olhos. - Não? - ergueu uma sobrancelha.

- Mas pode adivinhar, porque foi você quem iniciou tudo isso - cutucou-o com força com o dedo indicador, luzindo. - Acabei de encontrar a Sakura. E sabe o que ela me disse? - estreitou os orbes azuis, repetindo mais uma vez a pergunta. - Que Sai a seduziu. Não - Ino balançou a cabeça. - Pior do que isso! Ele a interpelou na madrugada e a levou para a cama. Assim, de repente - estalou os dedos. - Do nada! Subitamente. Não é estranho, ursinho? - rosnou o apelido de modo a se tornar assustadora. - Que ele tenha adivinhado a sua época mais suscetível do mês?

- Hn... - ele forçou uma expressão pensativa, sabendo que deveria adiar o confronto o máximo que pudesse. Do jeito que Sakura se encontrava, o moreno acreditava que receberia bonificações. - Não? - tentou, mas percebeu que não foi bem sucedido mediante o semblante furioso à sua frente. Deu um pequeno sorriso, nervoso. - Sabe como é, ele pode ter tido um acesso de inspiração repentina! Os pintores de hoje em dia são surpreendentes, docinho.

- Surpreendente - balbuciou Ino, erguendo o queixo para encará-lo. - vai ser a greve que você vai ter de suportar pelas próximas semanas por ser tão fofoqueiro! - deu as costas, num tom de quem encerra a conversa, voltando para o quarto. - Precisará usar a sua árvore para mais do que morar, amoreco! - e bateu a porta com tal força que as paredes tremeram.

Kiba suspirou.

- Você não pode me culpar ser fofoqueiro - gritou, sem se mover. - Você também é!

Pelos barulhos que vieram de dentro do cômodo, ele decidiu por si só que era melhor deixar a residência. Pelas próximas horas, no mínimo. Chegando ao jardim, lançou um olhar à velha companheira. "É, lá vamos nós de novo..."

FIM