Notas: Bem, essa é uma short-fic que eu já tinha postado em outro site, mas como acabei de fazer uma conta aqui vou postar também ^^! A primeira parte é narrada pelo Percy, mas vai alternar, ok?

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Parte I

O treino de arco-e-flecha com os garotos de Apolo não estava mais divertido, eu não estava melhor nisso e Annabeth ainda estava pegando no meu pé. É, tinha tudo voltado ao normal.

- Hey! Boa, Percy! Essa foi quase... perto! - me incentivou Kayla, quando atirei outra flecha que acertou o ponto mais distante do alvo. Levantei uma sobrancelha, e ela brincou: - Ah, sabe... Você só precisa treinar mais. Vai estar atirando como Apolo quando Cronos for bonzinho... - tivemos que rir com essa.

Kayla era uma ótima pessoa. Os cabelos no mesmo tom de areia que os do pai, os marotos olhos azuis e o sorriso travesso a faziam parecer uma adolescente de seriado, do tipo que sai escondida dos pais e está sempre arrumando encrenca. Tecnicamente, era verdade. Por ser a única garota do chalé 7, era alvo de piadinhas idiotas, mas sempre levava numa boa. O único problema é que ela se vingava, e para isso contava com os gêmeos de Hermes, Travis e Connor Stoll, que eram os arruaceiros oficiais do Acampamento. Era normal ver o chalé de Afrodite em pânico por seus espelhos sabotados, ou os garotos de Ares espumando de raiva quando viam suas espadas e lanças cobertas por marshmallows e geléia de morango. Apesar dos pesares, Kayla era uma garota legal. Extrovertida, vingativa e um pouquinho exagerada, mas legal.

- Te achei, idiota. Onde se enfiou a manhã toda? Eu assumo daqui, Kayla. - falou Annabeth, com seu mal-humor matinal depois de minhas últimas aventuras com Ártemis. É, conheçam minha delicada e amável quase-namorada - Mais uma de suas vítimas, Cabeça de Alga?

- Eu escolhi você, não foi? - a abracei por trás, enquanto a passava o arco. Ela se esquivou, e eu resolvi deixar pra lá. - Dormiu bem, Sabidinha? - ok, eu sei que isso de "namorado carinhoso e apaixonado" não combina nem um pouco comigo, mas veja bem... Eu sei do que eu não posso abrir mão, e Annabeth é uma das primeiras da lista. Nunca fui bom em demonstrações de afeto, mas eu estava realmente me esforçando para reconquistar essa cabeça dura.

- Sim. - respondeu simplesmente.

- Nem um "sim, amor"? - tentei. Ela riu friamente, de puro desdenho.

- Você sabe que não está com essa bola toda. - depois dessa eu fiquei calado; não podia argumentar. Só fiquei parado olhando, sem encostar, enquanto Annabeth acertava uma flecha atrás da outra no centro do alvo. Pensei em puxar papo sobre os projetos do leptop de Dédalo - era o único assunto que ela rendia ultimamente -, mas algo nos interrompeu. Alguém, no caso, e em uma péssima hora.

- Olá! Percy, Annabeth, tudo bem? - falou uma Rachel animada, como sempre.

- Ah... É, sim, Rachel. - respondi sem jeito, depois de Annabeth ter bufado pesadamente. Agora, ela não tentava sequer disfarçar que odiava nosso Oráculo, aposto que por ciúmes. Então por mais que Rachel seja minha amiga, essa foi uma ótima oportunidade perdida de ficar quieta na Casa Grande.

- Só vim avisar que Nico chegou da missão, aquela de buscar um meio-sangue. Ele pediu para vocês mostrarem a ela o Acampamento. - disse com um sorrisinho divertido no rosto, sem se abalar nem um pouco com a reação desagradável de Annabeth. Sorriu para mim, uma despedida, e saiu correndo para Deus sabe onde.

Annabeth finalmente se dirigiu diretamente à mim, com uma sobrancelha arqueada.

- Mostrar para ela? - também fiquei confuso.

A profecia, palavras de Rachel-Oráculo, dizia "Sozinho partirás, em busca do meio-sangue em perigo." Seria bom se Apolo ajudasse na diferenciação de gêneros... Mas acho que isso não foi o mais estranho. Nico não se relacionava exatamente com outras pessoas, e aquele sorrisinho de Rachel... Deixei pra lá. Já tinha uma loira difícil para conquistar, não ia me preocupar com os problemas daquele baixinho.

Lá fomos eu e Annabeth - ao menos isso ela podia fazer comigo - atrás de Nico na Casa Grande. Quando o vimos, ele estava com uma cara entediada, assentado nos degraus da varanda com uma garota do seu lado, olhando obstinada para o chão. Me perguntei se ela era filha de Hades, quando vi uma multidão de cachos espessos e tão escuros quanto o cabelo de Nico contornarem seu rosto até abaixo das costas, e sua pele alguns tons mais morena do que a do garoto. Mudei de ideia quando ela levantou a cabeça, e pude ver seus olhos azuis elétricos combinados ao brilho raivoso de seu rosto. Sei o que me assustou mais. Por um segundo, vi o rosto de Thalia.

Ao que parece Annabeth pensou o mesmo, porque ofegou baixo e arregalou os olhos. Tudo bem que os deuses haviam suspendido o juramento de não ter mais filhos, mas ainda assim nenhum filho dos Três Grandes aparecera no Acampamento depois de Nico; aquilo me deixou curioso. Annabeth ia dizer alguma coisa mas eu a impedi, nos empurrando para fora de vista deles. Antes que ela pudesse me interrogar a garota falou:

- Eu tenho que ficar aqui? - ela tinha um baixo tom petulante na voz, o que me deixou mais curioso ainda. Havia boatos de que ela era a única indeterminada com treze anos desde o último juramento dos deuses, era estranho ninguém suspeitar de quem seria seu pai ou mãe divino. Embora ela tivesse os olhos de Thalia e o jeito meio estressado, ela não parecia capaz de simplesmente te acertar com um raio. Ela parecia capaz de te torturar com um, e então te mandar para o Tártaro sem nenhuma piedade.

Nico suspirou.

- Quíron me disse para te mostrar ao Senhor D. - respondeu simplesmente. Annabeth apontou para eles e fez menção de ir até lá; fiz um sinal de "espera aí" e me voltei para escutar. A garota morena bufou e riu desdenhosamente.

- Onde ele tá? Vai surgir do nada? - Nico olhou para o braço.

- Já é quase meio-dia, ele vai acordar daqui a pouco. A garota bufou.

- A gente está só esperando ele acordar? - Nico ficou... esquisito. Não pergunte por quê. - E esse "Senhor D" é o quê, de tão interessante assim? Vidente? - ela o encarou.

- Ele é um deus. - Nico encarou de volta, e ela enrijeceu.

- Você não tá falando sério, tá? - perguntou.

- Não! Estou inventando e zoando com a sua cara porque é legal te irritar... - Nico ironizou, com seu usual sarcasmo negro. Annabeth me cutucou freneticamente; ignorei e impedi que ela saísse de trás da parede, o que seria bem ruim. Eu não queria perder essa briga.

- Ah! cala a boca, ok? Agora você tá realmente me irritando. - a garota levantou a voz, os punhos cerrados.

- O incrível é que você me irritou durante a viajem toda. Sabe, eu tenho é que voltar para a casa do meu pai! Antes voltar a ser um buquê do que...- Nico respondeu, mas foi interrompido pela garota.

- Cala a boca! - ela parecia indignada. Agora estava ficando bom mesmo, até Annabeth parou de me encher para observar. Nico a fitou, com uma cara exageradamente maligna. - Você quebra o meu celular de propósito, perde a minha mochila com tudo dentro, me leva pra um deserto no meio do nada onde o seu pai quase me mata, me faz perder um... Argh! Você me arrasta da minha vida pra esse Acampamento de criaturas gregas e eu te irritei a viajem inteira, Nico?- ela contorceu o nome do garoto.

- Ah, você vai começar a contar, Anna? - ele devolveu no mesmo tom, ambas as vozes elevadas. - Ok. Eu estava ótimo aqui, saio só pra buscar você do outro lado do país e trazer em segurança. Aí você vai para os lugares errados, nos mete em problemas, quase vira foragida da polícia e agora fica gritando comigo. Quer saber de uma coisa? Se quiser esperar a droga do cara acordar, ficar aqui e se manter viva, ótimo. Se não quiser, a vida é sua e você faz dela o que quiser!

- Quer saber? Você não me quer aqui, eu também não estou afim de ficar... Tchau.

- Ah, você vai embora? - Nico a encarou, incrédulo. A garota morena, Anna, bufou.

- É, aham. Seu estúpido, como diabos você quer que eu vá daqui até San Diego, já que você sumiu com todas as minhas coisas? Pelo que eu vi, é um caminho sem volta. Mas e se eu fosse voltar, por que se preocupa tanto? Como você mesmo disse, a vida é minha, o problema é meu. - se virou e saiu andando por caminho esquisito entre a floresta, como se o objetivo fosse exatamente se perder. Annabeth ia sair atrás dela, mas parou e viu a situação de Nico.

Ele mesmo parecia extremamente perturbado, encarava a floresta como se não acreditasse que essa cena tivesse realmente acontecido. Depois abaixou a cabeça, e fez uma cara engraçada. Algo como "eu sei que estava errado, mas ela também provocou". No fim das contas, ele parecia sinceramente arrependido. Se assentou novamente na varanda, as mãos cruzadas na boca e os cotovelos apoiados na perna. Achei que já era hora de aparecermos - entenda isso por "Annabeth me puxou violentamente" -, e tentei alguma coisa como:

- Ahn... Você voltou, então? - estúpido, não?

Nico olhou pra mim e bufou; se virou e andou para a floresta, uma árvore, em especial. Annabeth ficou confusa, mas eu sabia que ele iria viajar pelas sombras.

- Hey, Nico, espere! O que... Por que vocês estavam brigando? - ela perguntou. Ele se virou, e não parecia exatamente feliz.

- Ela só é estressada demais. Só isso. - falou, parecendo frustrado.

- E te acha chato? - tentei. Ele deixou a cabeça pender para o lado.

- Não chato. Irritante, como ela diz. - ele voltou a andar para a floresta.

- Acho que não há motivo para se preocupar... - Annabeth me surpreendeu, falando com um sorriso na voz. - Você se lembra de quando chegou aqui, não é? Isso é pura paixão. Logo, logo, teremos um novo Cabeça de Alga...

Nossas risadas pararam no momento em que uma rachadura razoavelmente grande tomou vida desde onde Nico estava até nossos pés, e nos derrubou no chão.

"Eu ouvi isso, seu idiota.", pensei ter ouvido as sombras sussurrarem.

Só queria saber o final dessa história...


Notas: Estou postando os próximos capítulos agora; leiam, é rapidinho! ;*