Disclaimer: -Man não me pertence. Fosse meu, já estaríamos assistindo mais uma temporada. Fanfic não tem fins lucrativos.

Resumo: 1752. Ocultistas, caçadores de vampiros, os mistérios sobre o vampiro original, mitos e lendas se tornando reais quando a noite domina… YAOI(CrossXKomui, KandaXLavi, AllenXTykki)

So obscure and so beautiful

(Tão obscuro e tão belo)

1 – Shadowman

À noite, insônia, pesadelos – não sonhos

Me arrastam pela obscenidade

Não há lugar para correr – nem esconder

Revirou-se na cama novamente. O corpo já começava a doer pelo tempo em que permanecera sem conseguir dormir. Lá fora, a noite alta e sem estrelas, o vento como um silvo passando pelas árvores.

Sua insônia o incomodava outra vez depois de muito tempo. Mas havia um estado ébrio em que se encontrava, entre o sono e o despertar, um lugar onde sua mente não conseguia decidir o caminho, se voltava e despertava completamente daquele desespero ou se adormecia e deixava os pesadelos que já haviam começado o dominarem por completo. Sentia o sabor nos lábios, passava a língua por eles e sentia que o líquido viscoso e quente estava ali. Se apavorava e queria se debater, limpar a boca e cuspir fora o sangue, mas fazia exatamente o contrário, lambia mais e deixava o sabor metálico preencher completamente sua boca. Ele sentia medo. Medo de desejar mais daquela sensação pavorosa, o sangue que provara em seus lábios o deixava ainda mais fora de si.

Ele está em meu sangue

Eu tento impedi-lo

Ele governa a dor

Ele inventa os pensamentos vis

As palavras corruptas

Ele enlouquece meus nervos

Sentia uma pressão no peito, como se algo estivesse em torno de seu coração, tentando sufocar sua vida e suas emoções. Queria gritar, a dor o fazia querer parar, contudo sua voz não saia, queria dominar aquilo que o desesperava, queria matá-lo. Pensava em como se livrar do seu pesadelo, daquilo que estava lhe sufocando, daquele homem que lhe fazia tremer… queria matá-lo. Se o matasse, ele nunca mais entraria em seus sonhos, ele nunca mais lhe daria o sangue, nunca mais inebriaria seus sentidos com dor e prazer começando a se misturar.

- Você quer que eu pare? – A voz era docemente carregada de luxúria. Não parecia querer ameaçá-lo. – É só se deixar levar… esqueça a dor. Um dia isso não vai mais existir…

Não queria se deixar levar por aquele sangue colocado em seus lábios outra vez, mas o bebia ainda assim. Como se tivesse sede daquele medo imoral que o dominava quando fazia isso.

Suas garras

Sua risada envenenada desfigura a lâmina

Seus longos dentes afiados

Lento silêncio

Murmurando obstinado

E enquanto bebia, não tinha forças para parar as unhas que deslizavam pelos lados de seu corpo, cravando-se em suas costelas, cada vez mais fundo. Gemia e arfava, mas não conseguia parar aquilo. Era insanamente prazeroso. A sensação de ser subjugado na escuridão, morrendo lentamente tendo seu coração sufocado, ao mesmo tempo em que não podia morrer porque havia vida sendo empurrada contra sua boca, em sua língua, descendo por sua garganta, escorrendo em seu rosto e pescoço.

Era quando sua sanidade gritava: o que estava fazendo? Seria tragado para um mundo que não havia volta!

A mão debilmente alcançava o punhal que jamais deixava de colocar debaixo do travesseiro antes de se deitar, mas seu pulso era tomado firmemente e as mesmas unhas que se cravaram em suas costelas agora se enterravam ali. A risada do homem sobre si preenchia o quarto e o punhal caia de suas mãos, deformado.

- Você quer mesmo tentar isso outra vez?… Não pode usar isso contra mim, meu anjo…

A voz sussurrava contra seu pescoço, sentia o hálito morno deslizar sobre sua pele. Então tudo começava a se dissolver quando sentia algo afiado rasgar a carne macia e se aprofundar cada vez mais. Nesse instante, sequer conseguia gemer. Imóvel e silencioso, deixava o outro arrancar vida de si. Seu corpo parecia queimar debaixo dos lábios e mãos que o tomavam. Mas ele parava, abandonava seu corpo e apenas dizia em seu ouvido:

- Você sempre me pertencerá…

Ele possui a culpa

ele está em minhas veias…

Ele possui a culpa

Eu tento impedi-lo

Ele governa a dor interior

Ele inventa os pensamentos vis

As palavras corruptas

Ele enlouquece meus nervos

Conseguia abrir os olhos debilmente, mas só o que enxergava além da escuridão era a brasa e a fumaça que ondulavam na beira da cama. O cheiro do cigarro o invadia. Era sempre o mesmo. Tentava mover-se, queria falar, queria ver, mas era tudo inútil.

Eu nunca vi sua face

Mas eu tenho sentido sua respiração muitas vezes

Encharcado em suor

Calmantes e cigarros

Mas quando o dia persegue a noite distante…

Ele possui a culpa

Ele está em minhas veias…

Por um momento, lhe ouvia a voz outra vez, mas não conseguia compreendê-lo. Então seus olhos pesavam e não podia mais mantê-los abertos.

Despertou num susto e se sentou na cama no mesmo instante. A respiração descompassada, o corpo completamente molhado de suor e a sensação de estar com o peito sendo comprimido ainda permaneciam. Estava excitado, seu corpo tremia. A vela colocada sobre a mesa de estudos estava no final, com a chama oscilante, iluminava debilmente o quarto. Fitou ao seu redor. Estava sozinho.

- O mesmo pesadelo outra vez… - Mas o gosto forte de sangue ainda estava em sua boca, podia senti-lo, e o cheiro de cigarro pairava no ar. Tocou o próprio pescoço, nada.

Não havia nada. Olhou para seu corpo nu, nenhum arranhão sequer. Só o suor e a excitação haviam sido deixados de fato. Fechou as mãos, apertando o lençol, trazendo-o para cobrir-se. Se sentia abandonado. Traído por si mesmo. Seus pesadelos o estavam seduzindo.

- O que você quer de mim? – Sussurrou para o nada antes de deixar-se cair sobre o travesseiro novamente.

O punhal jazia no chão com a lâmina destorcida. Mas não chegaria a vê-lo. Havia adormecido.

Enquanto seu irmão tinha pesadelos, a garota sonhava. Sonhava com uma voz doce e gentil:

- Você nunca mais vai ficar sozinha… não tenha medo… sempre estarei com você.

E dormia um sono tranqüilo, sem saber que no quarto ao lado seu precioso irmão estava sendo levado para seus pesadelos mais profundos.

(…)

Sete de dezembro de 1752, Irlanda.

Vivia do mundo obscuro que as outras pessoas não viam porque estavam adormecidas. Começara isso por causa de sua insônia, ainda criança. Ao andar solitário pela noite vira e ouvira coisas das quais as outras pessoas não lhe acreditavam. Mas ele sabia o que estava vivendo, não enlouquecera e tão pouco criara ilusões. Tornara-se um pesquisador de fenômenos ocultos e sobrenaturais. Vivia de comprovar (ao menos para si mesmo) que as lendas noturnas eram reais. Tudo anotado detalhadamente em seus relatos.

Agora por vezes se reunia com outros interessados em ocultismo e observações sobrenaturais para exporem e discutirem suas experiências e pontos de vista.

…Numa sala reservada do hotel, ele se reunia com outros doze homens, alguns dos quais já encontrara anteriormente. Naquele momento, era ele quem discursava. Jamais se agradara de falar em público, mas via-se necessário.

Seus olhos negros puxados fitaram a sala iluminada por velas trêmulas, onde as combinações de sombras criavam espectros nas paredes. Desses doze homens que o acompanhavam, onze se reuniam em semicírculo sentados à sua frente e um outro assentava-se nos fundos da sala, onde a iluminação não atingia, com as pernas cruzadas e um cigarro aceso entre os dedos da mão direita – era tudo o que se podia distinguir na penumbra. Mas o cheiro que sentia desde que entrara ali lhe era familiar. Parecia vir dos fundos, de onde o homem se sentava. Não se recordava de onde conhecia aquele cheiro, mas o conhecia.

Komui Lee discursava sobre coisas que lhe eram reais, mas sua imaginação, muitas vezes, era bem mais assustadora do que os fatos. O homem no canto da sala estava deixando-o profundamente incomodado, a brasa e a fumaça do cigarro que dançavam na penumbra, sem poder ver o rosto, distinguir suas formas…

- Senhor Lee, na última vez em que estive lendo os seus relatos, achei uma curiosa menção sobre alguma coisa que descreve como "vampiro original"… - Reever, um estudioso velho conhecido de Komui entrou no assunto.

- Eu e alguns outros estudiosos estivemos tentando chegar ao ponto de partida de seu raciocínio, mas ainda ficamos em dúvida. – O velho professor Tiedol não entendia como alguém tão suscetível à insanidade como Komui Lee podia escrever relatórios tão intrigantes.

Komui – Há muito tempo estudando especialmente as atividades vampíricas, cheguei a fatos que me mostraram evidências da existência de um vampiro original, ou seja, um ser que não foi criado por outro vampiro ou por maldições.

Reever – E que tipo de "coisa" seria essa se até hoje evidenciamos que, para existir um vampiro, primeiro uma pessoa tem que "morrer"?

- Ele está se referindo a uma criatura que nunca foi humana. – A voz ecoou familiar nos ouvidos do ocultista oriental. O homem no fundo da sala se levantou e caminhou para perto do grupo. Komui ajeitou os óculos para fitá-lo melhor. Era alto, robusto, de pele impecavelmente branca e uniforme como mármore, olhos cor de amêndoa, suaves e insinuantes, emoldurados pelos cílios da mesma cor dos longos cabelos vermelhos - um tom de vermelho tão vivo como se tivesse sido tingido com sangue, - os lábios eram carnudos e perfeitamente contornados. Vestia-se impecavelmente, com um casaco de veludo quase tão vermelho quanto seus cabelos, com bordados nos punhos e na gola e botas pretas incrivelmente bem engraxadas, que chegavam a reluzir.

A aparência do homem incomodou ainda mais o ocultista dissertante.

Tiedol – Meu senhor, como pode nos sugerir uma criatura "que nunca foi humana"?

- Um vampiro original, alguém jamais transformado, portanto… - O homem prosseguiu sem concluir.

Komui –… Já teria nascido vampiro. – Komui sentiu um leve tremor em seu corpo ao dizer essas palavras encarando o homem parado a sua frente. "Strigoii?… Impossível… Não é isso… é…"

Reever – Isso sim me parece muito incoerente e louco, senhor Lee…

- De fato. É uma especulação e tanto… - O homem colocou um tom de descrença na voz. Um burburinho surgiu na sala, os homens sussurravam seus mais diversos pensamentos a respeito uns aos outros. Komui apenas continuou a olhar o homem misterioso, que olhava em retorno diretamente em seus olhos. Suspirou alto, cada vez mais desconfortável. Passou as costas da mão pela testa, enxugando algumas gotículas de suor que começavam a se formar, embora estivesse bastante frio. O homem pareceu sorrir com o canto dos lábios, ao que Komui sentiu que seus cabelos de alguma forma haviam se soltado do laço de cetim que os prendia; passou a mão por eles, as longas mechas negras caiam sobre os ombros perfeitamente lisas e brilhantes, descendo até o meio das costas. Olhou para o chão, procurando a fita, mas não havia sinal dela. Tornou a olhar para o homem em pé atrás dos outros, seu coração saltando violentamente no peito ao ver a fita de cetim enrolar-se e escorregar nos movimentos dos dedos longos e pálidos. Sua respiração ficou pesada, como se o ar no local houvesse ficado mais denso; contudo, nenhum dos outros homens pareceu notar isso.

"Não é possível… isso não pode estar acontecendo…" Passaram tantos pensamentos em tão pouco tempo que não conseguiu focar um sequer. Sua fita ainda passeava nos dedos do outro quando sua voz pareceu retornar, dirigindo-se a todos:

Komui – Senhores, eu sinto muito, mas preciso me retirar imediatamente. Nossa reunião fica pendente. – Antes que qualquer um pudesse protestar, Komui se virou e atravessou a porta tão rapidamente como se um compromisso inadiável o esperasse. Talvez fosse esse o caso.

"Entrar em meu quarto e fechar a porta é algo absolutamente ridículo para alguém que conhece o que eu conheço."

Seus passos se tornaram mais rápidos, ecoando pelo corredor vazio do hotel, até encontrar as escadas. Desceu os degraus de dois em dois, chegando ao hall. Dali, dirigiu-se até o pequeno restaurante que o hotel possuía e sentou-se numa mesa no canto perto do balcão. Apoiou os cotovelos nela e passou as mãos pelos cabelos, nervosamente. Aguardou; cabeça baixa, dedos entrelaçados na nuca. Sua espera não durou mais do que segundos. Sentiu alguém sentar-se na cadeira ao lado; colocou as mãos sobre a mesa e ergueu os olhos sem relutar. Nenhuma surpresa ao encontrar o par de olhos amendoados o encarando.

- Normalmente as pessoas "fogem" para seus quartos e trancam as portas atrás de si… - O homem comentou.

Komui – Eu não sou "normal". – Suspirou. Assim, tão perto, parecia fazer sua mente girar enlouquecida. Agora tinha absoluta certeza de que conhecia o cheiro. O homem passou os dedos pelo cavanhaque bem aparado da cor dos cabelos e sorriu.

- Oh, estou com algo que é seu! – Com a outra mão, retirou do bolso do casaco a fita de cetim e estendeu-a na direção de Komui. O ocultista tomou sua fita de volta, mas não a colocou nos cabelos. – O seu nome é Komui Lee, certo? Vi escrito no edital da reunião…

Komui – E você, tem nome?

- É claro que tenho. Embora não costume dizer a muitas pessoas. É Marian Cross.

"Isso só pode ser uma piada…"

O homem, que agora tinha nome, riu, afastando os cabelos que insistiam em lhe cair sobre o olho direito.

Cross – Não, não é uma piada. Este realmente é o meu nome.

Komui – Pode conhecer os meus pensamentos? – Ajeitou os óculos outra vez, não conseguia conter seu coração que parecia querer saltar para fora do peito.

Cross – Quando os deixa transparecer em seus olhos, sim.

Komui – Por que veio?

Cross – Porque você me esperava. – Komui abriu a boca para falar, mas não teve tempo. – Agora, o que você quer de mim?

Komui – Muitas coisas. Mas, a princípio, só queria ter certeza, para eu mesmo, de que você existia…

Cross – Bem, eu estou aqui. E essas "muitas coisas" parecem mais com "muitas perguntas", estou certo novamente?

Komui – Sim. Muitas que eu sempre tive, muitas que surgiram agora que estou diante de você. – O homem ruivo passou a fazer algo que não costumava: reparar no outro.

Cross – Você é chinês, mas isso parece muito óbvio. Seus pais foram mortos pelo que vocês chamam de chiang-shih. Um e depois o outro. Então você fugiu com sua irmã pequena para que vocês não tivessem o mesmo fim. Mas a criatura não parou de segui-los e você fez a única coisa que podia naquelas circunstâncias: o enfrentou. Você se perguntou se a tocha não ter se apagado com o vento era apenas sorte e ateou fogo na criatura. Essa foi a primeira, mas não a última vez em que enfrentou um vampiro. E, tão pouco, vampiros foram as únicas entidades "sobrenaturais" que cruzaram o seu caminho. – Komui apenas prestava atenção enquanto o homem contava a sua história. – O que você não sabe é que as memórias sobrenaturais das entidades que você elimina vagam com você. E eu só sei a sua história porque consigo ler essas memórias registradas na sua energia vital.

Komui – O que mais sabe sobre mim?

Cross – Relativamente eu não sei nada sobre você e sim sobre as criaturas que enfrentou. O que eu sei é o que as pessoas comentam, coisas que flutuam entre a realidade e a fantasia. Que você é brilhante ou completamente maluco – ou os dois.

Komui – Se eu fosse maluco, você não estaria diante de mim agora. – "Seus olhos mostram que você me conhece melhor do que quer deixar que eu saiba… eu também posso ver mais do que o óbvio…" – A história sobre o chiang-shih eu nunca contei a ninguém e minha irmã era muito pequena para se lembrar.

Cross – Ah, e você não é nada cauteloso. Procurar um vampiro original assim, tão descaradamente, oscila entre a loucura e a burrice.

Komui – Ninguém acredita que exista um mesmo… e eu jamais poderei provar.

Cross – As pessoas estão olhando. Um chinês numa cidade pequena como esta não é comum. – Quem é que estaria prestando atenção num chinês quando tinha um homem com cabelos cor de sangue no ambiente? – Não gostaria de conversar mais reservadamente? – O convite era tão tentador quanto ameaçador. Komui relutou por um instante:

Komui – No meu quarto há a minha irmã, que certamente já está dormindo e não quero aborrecê-la.

Cross – A essa hora meu filho não deve estar no quarto, me acompanharia até lá? – Aquela estranha informação espantou o ocultista:

Komui – Você tem um filho?

Cross – Lhe falo mais sobre ele se me acompanhar. – Soara quase como chantagem.

Komui – Sim, está bem. – Levantaram-se da mesa e caminharam para fora do restaurante.

"Filho? Como ele pode ter filhos?"

Cheio de perguntas gritando em sua mente, e sem cuidado algum, Komui acompanhou o estranho escada acima, em direção a suas prováveis respostas.

(…)

A garota chinesa despertou de seu sono subitamente. A vela que seu irmão havia deixado ainda estava acesa, mas ele não retornara, sua cama estava vazia.

Estava acostumada com o ritmo das viagens, o trabalho de seu irmão não permitia que ficassem num mesmo lugar por muito mais que duas ou três semanas. Era só o tempo que ele precisava para coletar informações para seus relatórios, ou então, para ir a campo só para ser atacado por alguma criatura "sobrenatural". E ela sempre se lembrava do velho dizer popular: quem procura, acha. Komui era seu exemplo perfeito disso. A obsessão por encontrar pistas, evidências, provas de que as lendas noturnas eram reais, acabava sempre levando-o a se deparar com coisas bem desagradáveis, que, na maioria das vezes, tentavam devorá-lo ou simplesmente matá-lo. Mas o ser sem um pingo de juízo que chamava de irmão ou tinha uma sorte muito grande ou estava sendo protegido, porque, do jeito mais desajeitado o possível, saia quase ileso. E ainda havia as ocasiões em que conseguia destruir uma daquelas "coisas" que antes queriam tê-lo como refeição… Ela própria já passara situações constrangedoras junto dele, embora, na maioria das vezes, preferisse só olhar enquanto ele arcava com as conseqüências de sua compulsão por momentos perigosos. E ela nem se lembrava muito bem de como aquela loucura toda começara. Agora, seu precioso e desmiolado irmão estava em busca de algo que ela realmente começava a levar a sério. Porque ela mesma conseguia sentir se aproximando…

- Que horas serão agora? Será que a reunião do Komui ainda não acabou? – O relógio do lado da cama mostrava o quão tarde era. – Ah, nii-san, sem dormir assim você vai ficar doente! – Se levantou, pegando o casaco para colocar por cima da camisola, estava decidida a achar seu irmão e levá-lo para dormir. Mal fechou o casaco e já estava com a porta do quarto aberta. Nem se deixou abater pelo frio do corredor e saiu impulsivamente. Trombou com tudo em algum desavisado que passava. – Ah, me desculpe… - Quando ergueu os olhos, se deparou com um par de olhos claros acinzentados lhe fitando quase assustados.

- Ah, senhorita, eu é que peço desculpas… eu… você está bem?

- Tudo bem. Foi um acidente. Não se preocupe, estou bem sim!

- Que bom! – O desavisado em que trombara era um garoto que aparentava mais ou menos a sua idade, embora tivesse cabelos brancos. A pele também era muito clara e combinava com o ar de ingenuidade de sua expressão. – Ahm… é… você por acaso não seria a irmã do senhor Lee?

- Sim, sim, sou irmã daquele maluco. Me chamo Linali, e você?

- Allen. Allen Walker.

Linali – De onde conhece o meu irmão? Estava na palestra?

Allen – Eu, na palestra? Não, não! Meu pai é que esteve lá. Eu imaginei que você fosse a irmã do senhor Lee porque ouvi dizer que ele é oriental, mas eu não cheguei a vê-lo. – "Não dessa vez…"

Linali – Ah… então você não sabe me dizer onde ele está, não é?

Allen – Está conversando com meu pai no quarto dele. – "Embora eu não consiga ouvir uma única palavra…"

Linali – Oh, sério? – "Meu nii-san achou alguém que não se assusta com as loucuras dele?…"

Allen – Sim. Parece que eles vão ser amigos, afinal. Meu pai não gosta muito de conversar e de repente o está fazendo…

Linali – Que bom que meu irmão encontrou alguém para ser seu amigo!

Allen – O único problema… - O garoto baixou o rosto, parecendo aborrecido. -… é que agora eu não sei até quando vou ficar aqui esperando, meu pai trancou o quarto e eu estou cansado… - "É claro que eu tinha a opção de ficar vagando, mas não sou um fantasma!"

Linali – Ah… - Ela pareceu se compadecer. – Meu irmão sempre causa problemas por onde passa…

Allen – Não é culpa dele. Ficarei feliz se eles se derem bem! ^^

Linali – Será que você… não quer jogar cartas? – Ele parecia tão inofensivo e sozinho que a garota teria pena se o deixasse ali, ainda mais sabendo que seu irmão estava por trás do abandono do menino.

Allen – Jogar cartas? – "Está aí uma coisa que não era de se esperar…"

Linali – É! Assim você fica aqui comigo ao invés de ficar no corredor…

Allen – Eu ficaria grato…

Linali – Assim nenhum de nós ficará sozinho, e quando meu irmão voltar, você pode ir até seu pai também.

Allen – Sim, isso parece bom!

Linali – Então, venha! – Ela sorriu, entrando no quarto, enquanto o garoto a seguia. – Sente-se ali. – Apontou a mesa perto da janela. Allen foi até a mesa e se sentou em uma das cadeiras, enquanto Linali procurava algo na mala posta no pé da cama. – Eu não sei onde estão…

Allen – Senhorita Linali…

Linali – Sim?

Allen – Acho que eu deveria lhe dizer algo antes que nós… jogássemos… - " E lá vou eu tentando fazer as coisas da maneira certa outra vez…"

Linali – O que foi, algum problema? – Ela o fitou, quase preocupada, parando de procurar as cartas.

Allen – Eu não sei se poderia chamar de problema… mas não acho que seja… honesto de minha parte não lhe dizer o que sou eu…

Linali – Mas você já se apresentou… - "Não era Allen?"

Allen – Não estou falando disso… Um nome é apenas um nome, não significa o que a pessoa é…

"De que diabos esse garoto está falando?"

Deixou a mala de lado e se aproximou da mesa.

Linali – Não estou entendendo… Você vai me explicar, eu espero…

Allen – Sim, eu vou. Não acho que se assustará com o que eu tenho a dizer tendo em conta o tipo de vida que você leva.

Linali – Tendo o Komui como irmão, não me assusto com nada… ¬¬

O garoto remexeu-se na cadeira, estava visivelmente desconfortável. Nunca passara pela situação de dizer a alguém o que estava prestes a dizer para a chinesa.

Allen – Penso que seja melhor você se sentar…

Linali – É tão longa a história?

Allen – Por favor…

Linali – Está bem. – Ela sentou-se de frente para o garoto albino e apoiou os cotovelos na mesa. – Estou ouvindo, o que é?

Allen – É sobre o que seu irmão tem procurado…

Linali – Sobre… o vampiro original?

Allen – Isso mesmo. – Agora sim Linali estava realmente interessada em ouvir o que o garoto tinha a dizer. – Bem… ele encontrou. – Allen não era bom em explicações complicadas, melhor ir direto ao assunto.

Linali – Como assim? – Mas as explicações para Linali precisavam ser detalhadas, ela não gostava de coisas pela metade.

Allen – Quero dizer… seu irmão encontrou o que ele queria, um vampiro original, como ele diz. Ou foi o vampiro que o encontrou? Não sei… acho que os dois estavam procurando um pelo outro…

Linali – Menino, você é louco? Do que está falando? Se meu irmão tivesse achado um vampiro, estaria com problemas agora! E você disse que ele está com o seu pai…

Allen – Ele não está com problemas porque o vampiro que está com ele não vai machucá-lo. – Allen tentou contornar a situação, mas a verdade simples parecia não fazer muito sentido.

Linali – Não está falando sério… - Começara a compreender as entrelinhas.

Allen – Estou, sim.

Linali – Então… o seu pai… - A teoria que formulara mentalmente soara quase absurda.

Allen – Meu pai é o vampiro. Bem, não foi tão difícil contar isso… - Mas quando estava quase aliviado, sentiu as mãos da garota em seu colarinho, punhos cerrados e ela quase o ergueu da cadeira:

Linali – Meu irmão está com um vampiro e você fala isso com a maior naturalidade? – Ela gritou a plenos pulmões.

Allen – E-eu já disse… que meu pai não vai machucá-lo… eles só estão… conversando… - Gaguejou, assustado pela reação de Linali.

Linali – Como é que seu pai pode ser um vampiro?

Allen – Senhorita, por favor, acalme-se! Eu lhe direi tudo, mas acalme-se!

Linali – Você não pode dizer "seu irmão está com um vampiro" e "acalme-se" na mesma frase!

Allen – Não grite, por favor! Meu pai vai ficar furioso comigo se souber que eu aborreci a irmã de um amigo dele! – A garota respirou fundo, contou até dez, depois até dez de novo, porque uma vez só não foi o suficiente, então largou o colarinho de Allen e voltou a se ajeitar na cadeira.

Linali – Como assim seu pai é um vampiro? E como posso ter certeza de que ele não vai machucar o meu nii-san?

Allen – Ele é um vampiro, sendo um, oras… não sei como explicar. E ele não é mau e nem é irracionalmente sedento por sangue. Ele não vê seu irmão como "comida" ou coisa do tipo, ele queria encontrá-lo há muito tempo. Acho que queria lhe pedir alguma coisa, mas não sei o que é.

Linali – Então seu pai… não está… morto?

Allen – Claro que não! Nunca esteve! Se meu pai estivesse morto, eu seria de todo órfão… - ÇÇ

Linali – Sim, está bem… suponhamos que eu tenha entendido que seu pai é um vampiro… como é que ele pode ter filhos?

Allen – Acho que todo ser vivo se reproduz… isso não é o ciclo natural das coisas?

Linali – Um vampiro vivo? É realmente como a teoria que meu irmão formulou, que ele já nasceu vampiro?

Allen – Isso mesmo. Nunca fomos humanos. Não somos da mesma espécie, se quiser colocar as coisas assim. Embora muito próximos, não somos como vocês.

Linali – Você disse "somos"… Você…?

Allen – Sim, obviamente. Assim como meu pai, sou vampiro.

Linali – E agora que você me diz?

Allen – Mas você não perguntou antes!

Linali – Pois eu não acredito em você! – Cruzou os braços, mostrando-se irritada.

Allen – Mas é verdade! O que você quer que eu faça?

Linali – Que me prove, oras!

Allen – Certo, certo… Mas fique longe, está bem?

Linali – Como assim "fique longe"?

Allen – Do outro lado do quarto está bom, eu acho…

Linali – Que seja, você é mais esquisito do que o meu irmão e isso pode ser um problema. – Ela se levantou, caminhou até o lado oposto do quarto e se virou para o garoto. – Assim está bom? Mostre-me.

Allen se levantou, mantendo a cabeça baixa por um momento. Em seguida, ergueu o rosto, um pouco receoso. Quem via o que a garota esta prestes a ver, não sobrevivia para contar. Linali prestou atenção em cada minucioso detalhe quando pode visualizar o rosto do garoto. Não muito havia mudado. A não ser pelo olho esquerdo, que se tornara vermelho-sangue e brilhava intensamente. Ela ponderou por instantes.

Linali – Um olho vermelho não quer dizer que você seja um vampiro.

Allen (PLOFT) – O quê?

Linali – Continuo não acreditando em você! – A verdade era que já imaginava que aquele garoto não fosse uma pessoa normal, mas não sentia presenças como seu irmão era capaz de sentir, não sabia diferenciar uma entidade sobrenatural de outra.

Allen – O que mais eu tenho que fazer?

Linali – Eu é que vou saber? Mostre-me o que te faz diferente de mim.

Allen – Isto faz… - Forçou-se a sorrir, embora não sentisse a mínima vontade, revelando as presas pontiagudas que estavam sempre presentes, só bastava reparar.

Linali – Já vi maiores… - Fez cara de deboche e o garoto quase perdeu a vontade de provar. – Ainda não é o suficiente. – Para ela, só havia uma coisa que podia torná-los diferentes. Era por isso que ela esperava.

Nem sequer piscou e o garoto estava diante de si, um braço em torno de sua cintura, segurando-a, e a outra mão lhe segurando o pulso próximo aos próprios lábios. De perto, as presas e o olho vermelho tomavam uma conotação realmente ameaçadora.

Allen – Se eu fizer isto, vai acreditar em mim?

Linali – Isto acaso não vai me matar? – Ela não parecia assustada. Não estava.

Allen – Não, não vai. É só um pouco de sangue, como um arranhão qualquer. Você sequer vai se sentir mal.

Linali – E você sequer tem coragem de fazer isso…

Allen – Ah… - Suspirou, seu olho começando a voltar a cor normal, enquanto fitava as veias pulsantes no braço da garota. – Eu não posso fazer isso se quero ser seu amigo… - Confessou. – Seria como me aproveitar da situação e colocaria uma barreira entre nós… - Estava sendo sincero.

Linali – Allen… se você quer mesmo ser meu amigo, faça isso. Beba. É uma oferta.

Allen – Mas… - As palavras da garota o espantaram. Jamais esperaria por isso.

Linali – Se você recusar, terei isso como um insulto. Se aceitar, seremos amigos então, e eu nunca mais duvidarei de você. – Allen assentiu com a cabeça. Estava seguro de que uma única vez não faria mal a garota, então, não relutou mais, e cravou os dentes no pulso delicado de Linali, sentindo o sangue invadir sua boca. Ela suspirou, não sentia dor, nem medo. Estava tudo bem para ela em fazer as coisas daquela maneira. Era o seu jeito de dizer a Allen que o aceitava, embora eles fossem diferentes um do outro.

Allen saboreou o instante. O sangue era doce, assim como deveria ser o do irmão dela para seu pai. Compreendeu a obsessão do vampiro mais velho pelo homem chinês. Ele queria o sangue. Embora não fosse tomá-lo como faria com qualquer outro. Afastou sua boca da pele da garota, lambendo cuidadosamente a ferida.

Allen – A marca vai sumir logo, eu prometo. – Então se afastou completamente dela, mostrando respeito. – Me perdoe se fui agressivo…

Linali fitou o próprio pulso. A ferida também não doía.

Linali – Não foi agressivo. Está tudo bem. Você gostou de fazer isso? – E Allen pensou que raio de pergunta era aquela. Ficou extremamente corado antes de responder:

Allen – Bem… é claro que gostei. O sangue que é oferecido ao invés de "roubado" é muito melhor…

Linali – Agora acredito em você. E podemos ser amigos.

Allen – Fico feliz em finalmente ouvir isso.

Linali – Podemos voltar a nos sentar?

Allen – Como desejar. O seu irmão é estranho assim também? – Voltaram à mesa.

Linali – Não. Ele é muito pior. E deve estar, como eu poderia dizer, feliz, por ter encontrado seu pai.

Allen – Acho que meu pai pode responder as perguntas dele, afinal…

Linali – Eu também posso te fazer perguntas?

Allen – Claro! É adorável ter alguém com quem conversar! – Sorriu, mostrando-se disposto.

Linali – Quantos anos você tem?

Allen – Ah… por quê?… - Essa era a última pergunta que ele esperava.

Linali – Porque você parece ser até mais novo do que eu, e eu tenho dezesseis…

Allen – Desculpe, eu não posso dizer a idade exata, porque perdi a conta, mas vou arriscar uma idade aproximada… Eu tenho… mais de seiscentos…

Linali – Mais de seiscentos o quê?…

Allen – Mais de seiscentos anos…

Linali – Eu disse que não ia mais duvidar de você, mas… você bateu com a cabeça com muita força ou andou bebendo muito?

Allen – Eu sabia que você não ia acreditar… - ÇÇ

Linali – Como você pode ter seiscentos anos? Vocês podem viver tanto assim?

Allen – Eu não sei o quanto um vampiro pode viver, sequer sei a idade do meu pai porque ele a esconde. Mas falo sério sobre a minha idade…

Linali – Num parece de jeito nenhum…

Allen – Eu parei de crescer antes de completar quinze anos e permaneci com essa aparência.

Linali – Mas seu pai também parece jovem assim?

Allen – Não, ele aparenta uns trinta anos. Uma vez ele me contou que nós, vampiros, permanecemos com a aparência que temos quando… bem, quando provamos sangue de um humano vivo pela primeira vez…

Linali – Seu mundo é interessante. Vocês são como… predadores de pessoas?

Allen – Que termo horrível!

Linali – Me desculpe, não achei um melhor!

Allen – Não somos, não. Casualmente precisamos de sangue, mas acabamos geralmente por destruir os mortos sugadores de sangue, que insultantemente também são chamados "vampiros". Ou outras criaturas que se alimentem de sangue humano. Matar pessoas vai contra nossa moral e ética. Quando bebemos sangue de um humano vivo… bem, você teve uma idéia de como é…

Linali – Se é assim, tudo bem.

Allen – Não que haja pessoas que ofereçam suas veias de bom grado como prova de amizade…

Linali – Eu tenho uns lapsos de loucura que acho que herdei do Komui… - XD

Allen – Você também não teve muito tempo para fazer amigos, não é?

Linali – Por que diz isso?

Allen – Estamos em situações parecidas. Meu pai nunca parou por muito tempo num mesmo lugar, então não consegui criar vínculos com outras pessoas ou vampiros.

Linali – Conhece outros vampiros como você?

Allen – Conheço. Uns poucos, na verdade. Geralmente são isolados, ou vivem com mais um ou dois vampiros. Não há famílias… parece triste.

Linali – E sua mãe?

Allen – Ela morreu quando eu nasci. Não sei nada sobre ela. Meu pai se recusa a falar. Acho que ele deve ter ficado muito triste, porque nunca mais teve um companheiro.

Linali – Meus pais também morreram. Eu era muito pequena, não me lembro deles. Tudo que eu sempre tive e tenho é o Komui. Deve ser bom ter um pai…

Allen – Eu não reclamo do meu… deve ser bom ter irmãos…

Linali – Se o seu irmão não ficar se metendo em confusão diariamente…

Allen – Acho que você pode ficar um pouco mais tranqüila agora, pelo menos enquanto estivermos aqui.

Linali – Por quê?

Allen – Meu pai pode até entrar nas confusões do seu irmão, o que é de se esperar na verdade, mas ele vai protegê-lo.

Linali – Será que a afinidade deles está sendo como a nossa?

Allen – Provavelmente. Como eu disse, eu acho que ambos procuravam um pelo outro.

Linali – Por que acha isso?

Allen – Não sei… acho que vocês chamam de intuição ou pressentimento.

Linali – Então posso mesmo ficar tranqüila ao deixar meu irmão com o seu pai?

Allen – Sim, pode. E vamos torcer para que eles se tornem bons amigos também!

Linali – Sim, é claro!

Allen – Quem sabe assim… a gente não precise se separar…

Linali – É… deve ser bom ter uma família. Vamos fazer o seguinte: enquanto estivermos todos juntos, não importa quanto tempo seja, faremos de tudo para sermos como uma família!

Allen – Isso seria perfeito! – Então o garoto vampiro sorriu alegremente. Ele sempre quisera uma família, afinal. Linali sorriu de volta e se lembrou de seu sonho: "Você nunca mais vai ficar sozinha… não tenha medo… sempre estarei com você."

(…)

Komui aguardou enquanto o vampiro trancava a porta de seu quarto. Fitou brevemente os aposentos do outro, não havia nada de incomum – uma cama, cortinas, uma pequena mesa redonda com duas cadeiras, uma garrafa e duas taças sobre.

Cross – Sente-se, por favor. – O ruivo apontou uma das cadeiras. Komui, ainda relutante, se sentou. Cross tirou o casaco, deixando-o descuidadamente sobre a cama e se sentou diante do outro. – Bem, aqui estamos. Sozinhos e à vontade… quero dizer, você não parece muito à vontade, senhor Lee…

Komui – É a primeira vez que encontro algo não-humano que não tenta me atacar… além do mais, não sei se você o faz de propósito, embora eu creia que não, a sua presença é tão imponente que me intimida. – Confessou.

Cross – Eu sinto muito, realmente não o faço de propósito. É que você é sensível demais para ficar alheio a uma presença vampírica. Você já havia me notado muito antes de eu me aproximar.

Komui – É verdade. Por que você se deixou conhecer a mim tão facilmente?

Cross – Porque preciso de um favor seu.

Komui – Favor? – Se surpreendeu com as palavras do vampiro. – O que eu poderia fazer por você?

Cross – Pare de falar sobre o "vampiro original". - Foi direto.

Komui – O quê? Como assim? – Ajeitou os óculos nervosamente.

Cross – Escute bem, senhor Lee: meu filho e eu estamos muito bem sem que o mundo saiba que criaturas como nós existem. Se você começar a levantar questões relevantes sobre os vampiros originais, pessoas vão começar a se interessar e procurar por nós. Será um "inferno" ter que viver me escondendo. Além do mais, se isso se descontrolar, vai haver muitas mortes. E eu não quero que isso aconteça.

Komui ficou algum tempo apenas fitando o ruivo. Compreendia perfeitamente o que ele estava lhe dizendo. Além do que, não era egoísta ao ponto de colocar seus estudos acima do bem estar de alguém… "Mesmo esse alguém sendo um vampiro?…"

Komui – Existem outras pessoas que vão levantar essas questões…

Cross – Não tão cedo, eu espero. Eu sei que você é um homem curioso, não ambicioso. Eu lhe proponho uma troca.

Komui – Que tipo de troca?

Cross – Eu lhe digo absolutamente tudo o que você quiser saber. E você nunca mais fala sobre vampiros originais. – Novamente, Komui permaneceu olhando para o rosto do vampiro, ponderando o que acabara de ouvir. Mas pensar começara a se tornar difícil, como se estivesse ficando inebriado. E a garrafa do que supunha ser vinho sobre a mesa sequer fora aberta.

Komui – Você… está forçando alguma coisa… eu estou me sentindo como se estivesse bêbado… - Passou a mão pelos cabelos e respirou fundo, tentando voltar ao "normal".

Cross – Perdão, acho que estou tão tenso que acabei sugando um pouco da sua energia involuntariamente.

Komui – Sugando minha energia? – "Vampiro psíquico?…"

Cross – Eu não preciso sugar sangue para obter forças, eu sequer preciso encostar em minhas presas… mas você não é uma presa, é um convidado. Estou sendo descortês por não me controlar na sua presença.

Komui – Posso mesmo lhe perguntar o que quiser? – "A meu ver, esse é o tipo de criatura que supõe ser a mais perigosa… ele não precisa tocar em mim para me manipular como bem entender… e não há nada que possa pará-lo, não há proteção contra o que ele pode fazer…"

Cross – Se concordar com o que eu propus…

Komui – Sim, eu concordo. No entanto, acho que deveríamos ter uma conversa séria quando eu estiver em condições…

Cross – Tudo bem. Suponho que você vá ficar algum tempo hospedado aqui.

Komui – Vou, sim. Posso até ficar um pouco mais se tiver a sua companhia… - "O que é que eu estou dizendo?"

Cross – Fico lisonjeado… Acho que também posso ficar um pouco mais…

Komui – Você está me fazendo ficar muito confuso…

Cross – O que quer dizer com isso?

Komui – Não sei… esses seus olhos… apesar de toda a sua obscuridade… me atraem… - Foi a vez de Cross ficar surpreso.

Cross – Eu não esperava uma recíproca assim tão cedo… - Sorriu, deixando-se revelar as presas longas e pontiagudas. O oriental sentiu-se incomodar mais. Não era medo. Era o fato de o sorriso atraí-lo também.

Komui – Recíproca?

Cross – Algo em você também me atrai…

Komui – Oh!… - Poderia imaginar que certamente seria a possibilidade de ter seu sangue e sua vida. Mas havia uma luxúria no olhar do vampiro que não parecia algo como alguém que lhe quisesse… devorar? – O que te atrai em mim? – Arriscou, já que o máximo que poderia perder para aquele ser era a sua própria vida.

Cross – Tudo, eu diria…

Komui – Por Deus, eu sou tão sem graça! – Quase riu-se.

Cross – Os sentidos de um vampiro são muito mais aguçados do que os de um ser humano. O seu cheiro me atrai, o brilho nos seus cabelos, o seu olhar tão facilmente emocional… Aos meus olhos, você é belo. E eu desejo você.

Komui sentiu suas faces esquentarem, mas o calor de repente pareceu tomar todo o resto de seu corpo. Tudo aquilo era repentino demais. Sedutor e incompreensível demais…

Continua…

oOo

Notas: Finalmente essa fica saiu do caderno…

Dedicada especialmente para os meus amigos que agüentam meu mundo Yaoi: Luciano e Acauã; para o Paulo, pela parte (vampírica) que lhe toca e para o Alison, porque dessa fic ele gosta e não diz "Ch…"

Também para meu samurai, Babi Kamimura (o/)

Priscila – dedico especialmente o Cross – (você é a única com quem divido ele!)

Bárbara-chan – também pelos vampiros e pelo yaoi.

Aizawa Chan Yatta – sua dedicatória é no próximo, OK?

(Mais dedicatórias no próximo capítulo.)

Música:

"Shadowman" - Tristania

Referências bibliográficas:

-Vampiros, Um guia sobre as criaturas que espreitam a noite – Dr. Bob Curran – Editora Madras, 2008.

-Vampiros, A verdade oculta – Konstantinos – Editora Madras, 2007

Para os realmente interessados ou simplesmente curiosos, aconselho a leitura dos dois livros, são interessantes e nos mostram as lendas vampíricas ao redor do mundo, levantando questões do que pode ou não ser real.

PS: Eu não tenho beta. Não achei ninguém capaz de betar minhas fics.

Sobre a fic: muitas águas (ou sangue) vão rolar!

No próximo capítulo teremos Lavi, Kanda, e um pouco mais de pimenta nos acontecimentos… aguardem…

(Agora, clique na caixinha "Review")

Vampiros se alimentam de sangue, autores, de review. Seja bonzinho como a Linali e o Komui…