N/A 1: Série de one-shots (independentes umas das outras), retratando momentos especiais da vida de Finn e Rachel. Todas elas vão ser inspiradas numa música.
N/A 2: Spoilers pós-Goodbye. Título e inspiração pra essa one-shot vem da música Hiding My Heart, da versão da Adele.
Dropped you off at the train station
And put a kiss on top of your head
I watched you wave
I watched you wave
Then I went on home to my skyscrapers
Neon lights and waiting papers
That I call home
I call it home...
Acabou. Aquele ano perfeito acabou.
O trem já alcançava metade do caminho entre Ohio e Nova York, mas Rachel Berry continuava chorando. Precisava pensar e acalmar-se. As atendentes do trem já estavam cansadas de oferecer lenços e copos d'água para a jovem de olhos castanhos (àquele ponto, esbugalhados de tanto chorar).
O motivo do choro era o susto, a mudança de rumo repentina. Enquanto Rachel vestia o pijama na noite anterior, imaginava aquele dia como um dos ápices de sua vida: se casaria com o homem da sua vida, o homem que havia prometido fazê-la feliz pelo resto dos tempos. Dormiu estonteante, sonhando com a lua-de-mel, e agradecendo aos céus por aqueles quatro anos de ensino médio. Eles a construíram. Ela viveu e amou. Teve seus tropeços, é claro, mas até pelos tombos ela se sentia abençoada; o que não a matou, só a fez mais forte. E para uma garota que só tinha a Broadway e os palcos como paixão, o resultado final não poderia ser melhor; finalmente, ela tinha encontrado seus sensos. Finalmente, tinha descoberto que a vida não se baseava apenas em carreira e trabalho. Foi Finn quem a fez enxergar a vida de outro jeito. Se não fosse por ele, ela continuaria a mesquinha e egocêntrica Rachel Berry, que levava raspadinhas no rosto, reprimia o choro, e continuava vivendo no seu mundo particular.
O dia que era para ser recheado de lágrimas de alegria acabou transformando-se num balde de tristeza. Ao invés de segurar as mãos de Finn durante a viagem até a cidade dos sonhos, ela segurava sua fria maleta rosa (preparada para uma lua-de-mel que não iria acontecer). Sentia um aperto no coração, por estar longe do seu porto. Aquele grandão era o que a sustentava. Quando tudo desabava, lá estava ele. Quando era hora de comemorar, lá estava ele. Quando o dia passava devagar, lá estava ele. E mesmo quando ela queria estar sozinha, lá estava ele. Sentia que só ele a entendia. Só ele era capaz de compreender as loucuras e manias dela. Conhecia o manual de uso dela. Só esqueceu-se de um pequeno detalhe: Rachel preferia estar no fim do mundo, contanto que ele estivesse ao seu lado. Nova York era o seu grande sonho? Era, e sempre será. Porém, Finn passou a ser parte chave do seu mundo ideal. E agora que ele não estava ali... Tudo parecia tão assustador! Enfrentar aquela selva sozinha, sem ter ao menos Kurt ao seu lado... Insano.
Mas se Finn quer que ela enfrente aquilo sozinha, pois então ela enfrentará, custe o que custar. Secou as lágrimas e respirou fundo.
Observou a paisagem do norte americano. Já podia notar a diferença na brisa; mais úmida e fresca. Ela havia perdido a noção do tempo, e resolveu procurar pelo celular na maleta.
Cinco mensagens novas.
Desculpe. Mil desculpas. Finn fez o que era certo. Espero que você fique bem. Te amo. Avise quando chegar. Não me deixe aflito por notícias – kurt
Ela ignorou todas as outras notificações. Quinn, Tina, Sam, Mercedes... Provavelmente, todos desejavam boa viagem, ou sorte na vida nova. Ela não queria saber.
Os raios de sol que entraram pela janela refletiram em seu anel de noivado. Presente inesperado, símbolo da promessa feita por Finn. Ela fechou os olhos para não chorar.
Tudo era tão subjetivo! E agora? Quando seria a próxima vez que ela o veria, ou sentiria os braços dele ao redor dela? Quando ela ouviria a voz dele novamente? Quando?
No meio de tantas perguntas, de uma coisa Rachel Berry estava certa: aquele anel permaneceria em sua mão. Não importa se ele volta, quando ele volta, com quem ele volta, ou se ela nunca mais o verá. Não tinha dúvidas de que Finn era o homem da sua vida, e que assim seria eternamente. O coração dela já tem um dono.
Foi mais difícil do que ele pensava. Ele já tinha visto Rachel chorar centenas e centenas de vezes – ela era a rainha do drama! –, mas nunca a viu daquele jeito, tão devastada.
Quando ele a viu, sozinha no trem, o aperto aumentou. Ele tinha estragado tudo. O engenho começou a se mover, e ele foi junto. Precisava ir junto. Não tirou os olhos do rosto dela, até porque não sabia quando veria aqueles olhos castanhos novamente. E ele não podia chorar, porque ele tinha que mostra-la que tudo daria certo. Que as coisas se acertariam. Qual é... Eles são Finn e Rachel! O universo, uma hora ou outra, os uniriam de novo. Mas ela parecia não perceber isso. E isso cortava seu coração.
A situação é simples: se ele fosse pensar no que era melhor para ele, Rachel ficava. Rachel iria para onde quer que ele fosse. Mas ele não conseguia. Sentia-se culpado.
Ele não foi aceito em Pace. No fundo, ele sabia que era isso que ia acontecer. E mesmo não acreditando em Deus, Finn rezou todas as noites. Rezava até o sono vencê-lo. Não pedia a um "deus" específico. Ele apenas fechava os olhos, juntava suas mãos, e pedia aos céus. Pedia para ser aceito. Pedia que Rachel e Kurt também fossem, e assim ele seria feliz. Ele estava certo do que queria. Nova York também era a sua cidade dos sonhos. Só sentia-se culpado pelo pai. A única pedra em seu sapato era essa. O homem que lhe deu a vida não deve ser lembrado como um traidor. Ele não merecia, e não era verdade. Às vezes, a dúvida brotava em sua cabeça; pensava se seu pai ficaria orgulhoso ao ver seu filho se tornando um ator.
Mas o caminho estava traçado: se conseguisse a vaga na Pace, Finn daria um jeito de anular a carta de desonra do seu herói. Nem que precisasse acampar na Casa Branca, ou acabar com todas as suas economias. Faria o que pudesse.
A vaga não veio. E Rachel teve a ideia maluca de adiar sua ida para Nova York por um ano. Não podia deixar isso acontecer. O lugar dela não é naquela cidade de perdedores. Por isso, ele fez o que fez. Sabia que deveria esconder toda a história até o último segundo. Ele conhecia Rachel. Sabia que ela encontraria uma saída daquele plano. Por isso ele mentiu. Não se alistou no exército. Disse aquilo para ela não ter nenhuma escolha. E, aos trancos e barrancos, ele conseguiu. Ela estava dentro do trem que a levaria para os seus sonhos. E ela se tornaria uma grande estrela, e estaria em todos os outdoors daqui a alguns anos, e ganharia prêmios e mais prêmios.
Ele correu até o final da estação, e ficou observando o trem até ele sumir do seu campo de visão. E mesmo depois, ele não conseguia se mexer. A realidade o atingiu.
O casamento não aconteceu. Sua estrela-guia tinha ido embora. E agora, tudo estava escuro. Nada o guiava. Caiu de joelhos na beira do galpão de embarque, e levou as mãos ao rosto. Esqueceu das pessoas ao redor. Só conseguia pensar no que tinha acabado de acontecer. Sozinho. Sozinho. Sozinho.
Mr. Schuester o levantou do chão, e disse que o levaria para casa. Arrastou-se até o seu carro, e foi no banco do passageiro. Abriu a porta, e avistou o vestido de noiva esticado no banco de trás.
"Ela se foi, Mr. Schue. Ela se foi."
Ele levou as mãos ao rosto novamente. Will estava impotente. Virou a chave do carro, e partiu. A estação ficou para trás.
Naquela noite, antes de dormir, Finn rezou novamente. Pediu com todas as células do seu corpo.
Faça com que Rachel espere por mim. Faça com que ela seja feliz. Faça com que ela consiga tudo o que ela quer. Mostre para ela que essa foi a decisão certa. Faça com que ela espere por mim.
I wish I could lay down beside you
When the day is done
And wake up to your face against the morning sun
But like everything I've ever known
You'll disappear one day
So I'll spend my whole life hiding my heart away.
