Magia Estranha e seus personagens não me pertencem.

Capítulo Um

Tudo começou há muitos anos, quando Bog, o terrível e cruel e desalmado Rei do Pântano não era assim tão terrível ou cruel ou desalmado. Na verdade, nessa época, ele era um sujeito bem bacana.

Porque nessa época tão, tão distante, Bog estava apaixonado.

Ele estava perdidamente apaixonado por Serena, a mais linda goblin que já habitara os limites da Floresta Sombria.

Então, um dia, tomado de coragem, Bog encontrou-se com Serena e, olhando bem nos olhos escuros da bela goblin, confessou a ela o seu amor. Serena, infelizmente, não sentia o mesmo pelo monarca e o rejeitou de imediato. Bog, contudo, não se deixou abater e não se deu por vencido. E resolveu achar um meio de fazer Serena se apaixonar por ele.

Por bem ou por mal.

Assim, foi ter com a Fada de Açúcar, uma poderosa entidade grande conhecedora da arte do amor, e a bela fada revelou a Bog que o único meio de se fazer alguém amar o outro à força era por meio da poção do amor. A Fada de Açúcar, que também era um pouquinho só arrogante e metida, acabou deixando escapar que era a única criatura mágica do mundo inteiro capaz de preparar uma poção desse tipo; Bog, então, não perdeu tempo e capturou a fada, prendendo-a na masmorra do seu castelo e prometendo-a que apenas a libertaria caso ela lhe preparasse uma poção do amor.

— Pétalas de prímula — Disse a fada, louca para se ver livre daquela prisão horrível e sombria. — Preciso de pétalas de prímula para a poção do amor. Traga-me as pétalas que lhe prepararei a poção.

Como era o Rei do Pântano e de toda Floresta Sombria, Bog conhecia bem cada centímetro do seu reino e sabia exatamente onde nasciam as raras flores prímulas. Assim, Bog colheu algumas pétalas da flor e correu de volta para o castelo.

A poção ficou pronta no mesmo dia.

— Basta uma única gota para fazer alguém se apaixonar por você — Explicou a fadinha ao entregar o frasco contendo um líquido rosado nas mãos compridas de Bog. — Agora, exijo minha liberdade.

Os olhos azuis do Rei do Pântano fitaram, fascinados, o frasco da poção.

— Se a poção funcionar, você estará livre.

A Fada de Açúcar bufou, ultrajada com a insinuação dele.

— É uma poção do amor! Claro que vai funcionar.

— Assim espero, fada. Assim espero.

Bog se reencontrou com Serena no dia seguinte e usou a poção, todavia, ela não funcionou. E o Rei do Pântano foi rejeitado uma segunda vez.

Enfurecido, retornou ao castelo e desceu as escadarias da masmorra para ter com a Fada de Açúcar.

— Majestade? O que me diz? A poção funcionou? — A criatura mágica perguntou, e Bog gritou cheio de amargura.

— Se funcionou? NÃO! Não funcionou! Pela humilhação que me fez passar, você nunca terá a sua liberdade! Você ficará presa para sempre nessa masmorra, Fada de Açúcar, assim como essa poção que você criou.

Ele gritou mil vezes e trancou o que sobrara da poção do amor dentro de um cofre, fora do alcance de todos.

— A partir de hoje, o cultivo de prímulas está proibido na Floresta Sombria — Anunciou o Rei, dominado pela fúria e pela dor de um coração partido. Encarando seus súditos, ordenou. — As flores serão destruídas imediatamente. Queimem tudo.

Foi assim que todas as plantações de prímulas foram destruídas.

Foi assim que a Fada de Açúcar virou prisioneira do Rei do Pântano.

Foi assim a única poção de amor do mundo ficou escondida no castelo da Floresta Sombria.

E foi assim que Bog, o Rei do Pântano, se tornou muito terrível, muito cruel e muito desalmado.

Porque, a partir desse dia, Bog prometeu a si mesmo não apenas que nunca mais iria amar alguém.

Mas também que iria destruir o amor.

E os dias se passaram... e passaram... e passaram... até que, um dia, muito tempo depois de todos os acontecimentos envolvendo a Fada de Açúcar e a poção do amor, Bog precisou se ausentar do castelo por um tempinho para resolver uns problemas aqui e outros acolá e, quando retornou, deparou-se com um verdadeiro pandemônio.

INVASÃO, FURTO, LADRÕES, ATENTADO, MELIANTES, gritavam as dezenas de súditos, todos ao mesmo tempo, e Bog bateu o seu cajado no chão algumas vezes e gritou, exigindo silêncio.

O salão calou-se.

— Ótimo! — Disse o Rei do Pântano. — Agora, falem. Um de cada vez. O que aconteceu aqui no meu castelo? Que confusão é essa?

— Invasão!

— Furto!

— Ladrões!

— O quê? — Bog pediu para parar ali mesmo. — O que foi roubado? — Perguntou, embora, no fundo, no fundo, já soubesse a resposta.

Um dos súditos, o mais valente deles, abaixou a cabeça ao responder.

— Sinto muito, majestade. A poção desapareceu.

— Vasculhem o castelo inteiro — Bog comandou. — Depois, vasculhem o reino inteiro! A poção deve ser encontrada, custe o que custar!

A poção, para desespero de Bog, não foi encontrada. Contudo, o ladrão deixou uma pista. Um fio de cabelo. Um fio de cabelo que não podia pertencer a nenhum goblin.

— É muito macio — Disse um dos criados do Rei.

— E cheiroso! — Concordou outro.

— Sim! E sedoso! Tão sedoso! — Os habitantes da Floresta Sombria assentiram.

— E vejam como brilha! Não pode pertencer a um goblin — Um outro súdito disse, e o Rei do Pântano, por fim, exclamou, seu vozeirão rouco ecoando pelas paredes lúgubres do castelo.

— Pertence a uma maldita fada! É isso! Vamos invadir o Reino das Fadas imediatamente e recuperar o que é meu por direito! Vamos recuperar a minha poção!

Furioso por ter sido roubado, Bog reuniu seus súditos e marchou durante dois dias seguidos até chegar a divisa com o Reino das Fadas.

Foi parado por um dos seus guardas da fronteira, que tinha novidades importantes.

— Majestade, o Reino das Fadas está em polvorosa — Avisou o soldado, e Bog franziu o cenho.

— Por quê? O que está acontecendo?

— Um casamento. Parece que a princesa Marianne, a herdeira do Rei das Fadas, depois de rejeitar sabe-se lá quantos pretendentes, finalmente aceitou se casar. A cerimônia foi marcada para daqui uma semana.

— Um casamento. Pois bem, já sei o que vou fazer — Disse o Rei do Pântano, rindo com frieza enquanto sua mente maquinava um plano cruel. — Tinha planos de invadir o Reino das Fadas hoje, mas mudei de ideia. No dia do casamento, vou invadir o castelo e sequestrar a princesa Marianne. As fadas roubaram algo que é muito valioso para mim... acho justo me apossar de algo que seja igualmente valioso para elas.