Título: Dangerous

Autoria: Clara dos Anjos & Doom Potter

Shipper: Harry Potter e Draco Malfoy

Classificação: Slash

Gênero: Romance

Spoilers: seis

Sumário: Elas não sabiam que partilhavam a mesma dor.

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Notas iniciais de las hermanas:

Doom:Me esforcei o máximo para seguir a estrutura dos livros da tia J.K., mas como não tive tempo de revisar os livros OoP e HBP antes de criar as cenas que "poderiam ter acontecido por debaixo das páginas", decidi deixar a critério do leitor considerar o POV da Pansy como parte-AU ou não.

Clara:Apenas que, para alguns leitores – se não a maioria – a fic pode parecer um pouco confusa no início – mas só no início, prometemos! – então, queremos deixar claro que os POVs da Ginny e da Pansy se passam em épocas diferentes: o da primeira, depois de HBP (o sexto livro), e o da segunda, durante. Agora sim, declaramos o fim das burocracias inicias, e o começo de um ótimo divertimento ;D

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Dangerous

por Clara e Doom

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Capítulo I

Ginny POV

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Era uma segunda-feira de manhã – de madrugada, na verdade – quando fui acordada pelo inoportuno Ronald Billius Weasley. Dormia há pouco tempo, depois de uma noite insone cuja razão eu nem lembrava, e estava tão apagada que mal ouvi a voz dele me chamando. Dei-me conta de sua presença apenas quando senti seus chacoalhões no meu ombro.

"Ginny!", ele dizia.

Entreabri os olhos com dificuldade, apesar de o quarto estar completamente escuro.

"Que é?", grunhi, virando-me para o outro lado da cama. Mas Ron me impediu a tempo, segurando-me pelos braços.

"Ginny acorda, anda".

"Por quê?".

"Porque temos que sair".

"Hmm" fiz em minha sonolência semi-consciente.

"Ginny?".

"Quê?".

"Você me ouviu?".

"Hm".

"Hm, o quê?".

Abri os olhos. Diabos. É, eu não estava sonhando. Ron estava mesmo debruçado sobre mim.

"Ai", gemi, esfregando os olhos. "Que é que você quer?".

"Que você levante daí agora", disse meu tão doce irmão, levantando-se bruscamente da minha cama, de maneira tão repentina que eu senti arrepios de frio com a distância dele.

"Saco", praguejei, quase não resistindo ao peso de minhas pálpebras. "Pra onde vamos?".

"Pra Ordem".

Foi como se tivessem injetado água gelada na minha corrente sangüínea.

"Quê?", exclamei, totalmente acordada. "Pra Ordem?".

"É, criatura, mas não grite".

"Nossos pais sabem?".

Ron se aproximou de mim. Remexeu em seus cabelos e se sentou na minha cama.

"Não. Mas deixei uma carta para eles. Eu disse que estava tudo bem, e que só iríamos visitar o Harry".

"'Tá, mas...", sentei-me, "assim, sem motivo? Você não disse para que era?".

"Para eles?".

"Para eles e para mim", comentei. "Por que temos que visitar o Harry?".

Ron suspirou.

"Ele me escreveu ontem. E para Hermione também. Não esclareceu bem o motivo da visita, mas, claro, ele vai nos contar lá. E disse também que era para eu chamar você".

Não se percebe uma pessoa corar num lugar escuro, percebe?

"É?". Engraçado, reparei que a unha do dedo indicador da minha mão esquerda estava precisando de uma lixa. "Por quê?".

"E eu vou saber? Tenho até medo de pensar o que se passa na cabeça do Harry ultimamente. Contanto que não tenha nada a ver com sonhos proféticos...".

Eu ri. "Pois é. E de preferência que não envolvam cobras e o Ministério da Magia, certo?".

Ron sorriu. "Sim".

"Mas...", apanhei minha varinha do criado-mudo, iluminei-a e a apontei para o relógio de parede do quarto, "caramba", reclamei, bocejando. "ainda são seis da manhã!".

"É, são seis da manhã, mas quanto mais cedo a gente chegar lá, mais cedo poderemos voltar. E além do mais, você esqueceu a que horas mamãe acorda?".

"Pensei que ela sempre acordasse no meio da madrugada".

Ron sorriu de novo.

"Levanta logo daí. Bom, eu vou até a cozinha apanhar alguma coisa para comer. Estou te esperando lá".

"Ok", respondi, afastando as cobertas para o lado com certa relutância. "Ron?".

"Quê?".

"Separe umas maçãs para mim, também".

"Está bem. Mas a gente pode comer na Ordem, você sabe".

"É, eu sei. Mas meu estômago não".

Ele girou os olhos nas órbitas e abriu a porta para sair.

"Ron?".

"Que foi?", ele respondeu arrastado.

"O que você disse na carta para os nossos pais?".

"Que Harry nos convidou para passar o dia com ele. Simples assim".

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Ron tinha separado duas maçãs quando eu apareci na cozinha, serviu-me um copo de leite igual ao que ele tomava e me mostrou a Chave de Portal – dada "de presente" pelo Harry – que usaríamos para chegar até Grimmauld Place. Claro, porque já que eu mal pude concluir o meu quinto ano em Hogwarts – a escola ainda se encontra fechada atualmente – tive que dar adeus ao sonho dourado que eu tinha de aprender a aparatar.

Ron já sabia, mas ainda ficava um pouco inseguro quanto a longas distâncias. Por isso preferiu usar a Chave desta vez, principalmente porque, claro, ele seria o responsável por mim caso acontecesse algo de errado.

Ele olhou para os lados, dos casebres vizinhos à casa invisível na qual entraríamos. O largo estava praticamente vazio àquela hora da manhã, o sol acabando de nascer por detrás das montanhas. Naquele momento, enquanto eu fitava a escuridão do céu se decompondo lentamente, compreendi melhor o porquê do horário de visita proposto pelo nosso amigo.

Ron pigarreou e se concentrou, olhando fixamente para o vão entre as casas de número onze e treze, e apontou sua varinha.

Até que a de número doze se materializou.

O olhar dele procurou o meu. "Qual é a senha mesmo?".

A senha? Hmm.

Lembrei-me e disse a ele. Ron, então, tornou a apontar a varinha para a porta sem fechadura, e ela, rangendo, se abriu para nós.

No momento em que cruzamos a soleira da porta, passos apressados soaram em nossa direção.

"Que bom que vocês vieram".

Foi a primeira vez que vi Harry Potter desde o casamento de meu irmão, Bill. Estava mais alto, menos magro e menos pálido, mas continuava o mesmo no modo de se vestir: calça jeans alguns números maiores que o adequado, camisa de algodão preta (suspeito que ele tenha um estoque de gêmeas daquelas) e meias azuis sob os chinelos caseiros mais do que velhos.

Ah, sim, e uma cara de sono tão evidente que eu estava me perguntando se, afinal, ele teria ido dormir ainda mais tarde do que eu fui.

Era estranho vê-lo tão à vontade naquele lugar. Mas era uma visão adorável, acima de tudo.

Adorável demais.

Controle-se, Ginevra!

"Olá, Harry", eu sorri para ele.

"Oi, Ginny", respondeu, forçando um sorrisinho. Eram quase sete horas da manhã. Eu não podia culpá-lo.

"E aí, cara?", Ron cumprimentou.

"Oi, Ron. Deu tudo certo pra vocês?".

"Deu sim, relaxa. Mamãe estava dormindo, e papai fazendo turno no Ministério".

"Ron deixou uma carta para eles antes de sairmos", completei.

"Ah, que bom!" Harry forçou outro sorriso, tocando de leve no ombro de Ron. "Que bom, mas me desculpem mesmo assim, acontece que eu precisava ver vocês logo".

"Tudo bem, a gente sabe disso", Ron sorriu estranhamente para mim. "Viver aqui não deve ser muito divertido".

"Não é mesmo. Mas não é só por isso, eu também...".

"Aconteceu alguma coisa, Harry?", perguntei subitamente preocupada. Nunca se sabe, afinal.

"Não! Todos aqui estão bem", respondeu se voltando para mim. "O que eu queria era conversar com vocês, colocá-los a par dos planos".

"Planos?", estranhou Ron, franzindo o cenho.

"Depois eu explico direito. Vamos lá para a cozinha, vocês ainda não tomaram café, não é?".

"Hm". Ron deu de ombros. Eu sorri e balancei a cabeça quando eles me deram as costas.

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"E a Hermione?", perguntou Ron assim que chegamos à cozinha.

"Não chegou ainda", respondeu Harry displicentemente, contornando a mesa.

"Mas ela vai vir, não é? Quero dizer, você me disse que escreveu para ela–".

"Claro, claro. Cadê o Monstro... Monstro!".

Puxei uma cadeira e me sentei, observando Ron olhando para Harry ainda de forma meio ansiosa. Ele acabou se sentando na minha frente.

Naquele mesmo instante, Monstro aparatou na cozinha bem ao lado da bancada da pia.

Deus. A visão daquele elfo antipático e... bem, andrajoso não era bem uma coisa que eu recomendaria logo de manhã.

Pobre Harry.

"Meu senhor chamou o velho Monstro?", apresentou-se o elfo.

"Já preparou chá?".

"Não, senhor".

"Então prepare".

"Monstro tem outros afazeres agora, meu senhor, e ainda falta...".

"Prepare chá agora" A voz subitamente seca de Harry me pegou de surpresa. Não que eu nunca tivesse visto ele sendo grosseiro com Monstro, mas... "É uma ordem".

Monstro resmungou audivelmente. Virou-se de costas e começou a trabalhar na bancada da pia.

Harry suspirou.

"Sirvam-se aí, pessoal", disse, sentando-se conosco e apanhando um pedaço de pão.

"Você toma café sozinho todos os dias?", questionou Ron.

"Na maioria deles. Mas às vezes Lupin aparece e me faz companhia. E para almoçar também, embora ele nunca faça as duas coisas num mesmo dia".

"Ih, cara". Ron fez uma careta, voltando-se a tarefa de encher seu copo de suco.

"Mas eu não estou me queixando, não", Harry se defendeu.

"Sim, mas você tem que ficar agüentando esse...".

"Por que não apareceu lá em casa, Harry?". Achei melhor interromper meu irmão. "Mamãe ia adorar te receber para o almoço. Ainda mais agora que estamos somente Ron e eu".

Ele sorriu de leve, balançando a cabeça.

"Não, não, Ginny. Por bem ou por mal eu preciso me acostumar com isso aqui. É minha casa, não é? E eu não estou tão sozinho. Sempre tem alguém aparecendo e... bem, eu preciso conversar com essas pessoas. Elas sempre me trazem informações".

"É. Pode ser, mas–", eu comecei.

"E, além disso, só faz uma semana que eu estou morando oficialmente aqui".

A conversa se estendeu tranqüilamente depois disso. Digo tranqüilamente porque por um tempo não falamos nada sério demais. Nada, até que eu flagrasse Ron se auto-interrompendo quando dizia:

"É, mas o Lupin certamente vai ter uma opinião diferente. Principalmente se você falar dessas Horc...".

O copo de suco que eu ia trazendo até a boca parou no meio do caminho. Olhei para Ron. E depois para Harry.

Ron pigarreou.

"Er..." começou Harry. "Bom, acho que acabamos de chegar no ponto certo".

Continuei encarando Harry. E depois Ron. Sem palavras para descrever como estaria minha cara de besta.

"Você vai contar para ela?", eu ouvi Ron sussurrar para Harry.

"Contar o quê?", exclamei, um pouquinho mais alto além do pretendido.

"O motivo para que eu te chamasse aqui também", respondeu-me Harry, a expressão neutra. "Há uma coisa que eu gostaria que você soubesse".

Ron arregalou os olhos para ele. Mas depois os desviou de mim como se visse a Murta-Que-Geme.

"O que é?".

Merlin, o que seria?

E então ele começou a me contar. Eu o ouvi, ouvi e ouvi. Ouvi a argumentação de Ron – que finalmente resolvera participar do monólogo do outro –, e depois a de Harry novamente, para concluir que cada vez que eles pronunciavam a palavra Horcrux os arrepios que percorriam minha espinha ficavam cada vez mais gelados.

Céus. Que doentio.

Eu não imaginava que a demência absoluta doVocê-Sabe-Quem fosse tamanha.

"Quem mais está sabendo disso?", perguntei, percebendo minha voz um tanto instável.

"Algumas pessoas da Ordem...", Harry crispou os lábios, mantendo o olhar distante. "Na verdade, Ron e Hermione. E agora você, claro", ele fez uma pausa como se lembrasse de algo. "Ah! Esqueci de contar. Neville me escreveu uma carta".

"Neville?", surpreendeu-se Ron. E eu também.

"É. Ele ofereceu ajuda, sabe? Disse que gostaria de ser informado caso eu resolvesse voltar com a AD, ou com qualquer coisa do tipo". Ele trocou um olhar prolongado com Ron, e eu observei os dois com interesse.

"E você está pensando...?".

"O que você acha?".

"De chamá-lo para a Ordem?".

"Como é que é?", intrometi-me.

"É. Ele valeria a pena", respondeu Harry.

Eu e Ron nos entreolhamos. Ele sorriu.

"É. Talvez sim".

"Você vai chamar mais pessoas também?", perguntei.

"Não!" Harry se indignou. "Nem pensar. Neville, tudo bem, ele lutou conosco no quinto ano e tudo mais – e eu entendo o desejo que ele teria de participar – mas seria estúpido envolver mais gente nisso. Ainda mais porque, na verdade, essa guerra toda deveria ser apenas entre mim e o Voldemort".

Argh! Que diabo, eu já odiava quando ele falava o nome daquele coisa-ruim antes, e agora com essa história das Horcruxes...

"Ok, cara", Ron afastou seu copo de suco pela mesa, fazendo uma careta desgostosa para Harry. "Agora, suponho que você não precise fazer tanto drama em cima disso, né?".

Por um segundo, achei que Harry retrucaria alguma coisa para ele. Mas, logo no segundo seguinte, ele começou a rir.

"Que bom encontrar vocês tão bem humorados!".

Ainda sorrindo, Ron desviou o olhar para a entrada da cozinha.

Eu sorri também.

Hermione tinha acabado de chegar.

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Ela não comera quase nada quando se juntou conosco à mesa. Estava especialmente sorridente e animada, o que era uma surpresa para mim – e para os outros também, provavelmente. Comentou que já esperava por um convite desse tipo vindo de Harry, e não demorou muito para ele lhe contar que agora eu também estava sabendo das tais Horcruxes.

Ela não reagira como Ron – óbvio – mas se ficou surpresa realmente, soube disfarçar bem. Disse, na verdade, que achava bom Harry ter contado pra mim. Ela me retribuiu quando eu lhe sorri agradecida.

Depois, Ron lhe contou a história do Neville.

"Ah é?" Hermione exclamou. "E você já respondeu pra ele, Harry?".

"Ainda não", Harry disse depois de uma breve hesitação. Tive a impressão de que ele sequer havia pensando na hipótese.

"Engraçado" ela comentou vagamente, e depois dirigiu o olhar para mim, "Recebi uma carta deste tipo também".

"Oferecendo ajuda?", espantou-se Ron.

"É".

"De quem?", perguntou Harry, um ar meio descrente e confuso.

"Luna Lovegood".

"Quê?"

Todos olharam para mim.

Luna Lovegood? Para Hermione? Como assim?

Hermione me sorriu. "Sim, ela mesma".

"Mas...".

Agora que me passara o espanto, me ocorreu que as duas se tornaram um tanto próximas um pouco antes que Hogwarts fechasse.

"Mas ela disse o quê, especificamente?".

Hermione contou. Explicou em poucas palavras que Luna lhe ofereceu amizade, e que ela podia visitá-la quando quisesse. E também que, se caso Hermione soubesse que Harry quisesse voltar com a AD, gostaria de ser avisada.

O ambiente ganhou um silêncio pensativo depois disso. Eu pensava com os meus botões que os meninos estavam cogitando a possibilidade de incluir mais um membro em nossa "Ordem Juvenil". Mas eu podia apostar que, pela expressão de contragosto do Harry, ele não engoliria mais essa tão fácil.

Fomos para a sala de visitas depois, sem maiores comentários sobre a carta de Luna. Os garotos sentaram-se lado a lado num dos sofás, e Hermione e eu fizemos a mesma coisa, só que cada uma em uma poltrona.

Assim que me sentei, vi que o olhar de Hermione se demorou na figura de meu irmão quando ele recomeçou a falar com Harry, e depois se voltou para baixo. Ela assumira aquela feição pensativa e distante que abateu a todos nós desde que saímos da cozinha, deixando aquele ar risonho de lado, e agora eu me perguntava, afinal, por que ela estivera com aquele bom humor todo no início. O motivo seria o fato de que ia rever Ron? Mas fazia poucas semanas que não nos víamos... – desde o casamento. E, além disso, oficialmente os dois não eram namorados, não tinham um casoou ultrapassavam de alguma forma a linha da amizade – embora eu fosse perfeitamente ciente da natureza dos sentimentos daqueles dois, e que isso fosse apenas uma questão de tempo.

De qualquer forma, aquela cena, o olhar de Hermione, o ambiente, nós quatro reunidos como nos "velhos tempos", tudo aquilo me remeteu à época em que eu era a namoradinha de Harry Potter. É triste, eu sei. E confesso que não gosto de ficar pensando nisso. Aquilo era uma lembrança, uma lembrança boa que infelizmente não vai passar de uma lembrança. Por mais que a idéia não me agradasse.

Percebi que Hermione disse alguma coisa, olhei para ela e começamos a conversar também. Eu a agradeci intimamente. Tudo o que eu mais queria e precisava era quebrar a linha daqueles pensamentos.

Parte de mim, no entanto, não acompanhou a conversa. Por mais que meu rosto estivesse inteiramente voltado para Hermione, era como se Harry não saísse do meu campo de visão, como se eu não conseguisse deixar de sentir a presença dele. E eu nada podia fazer para evitar isso.

Mesmo que fosse pretensão minha, eu gostava de me perguntar se ele sentia a mesma coisa. Certo. Para falar a verdade, não, eu não gostava tanto. Não ultimamente. A verdade é que eu tinha cada vez mais certeza de que Harry não gostava mais de mim.

E eu me perguntava se isso já vinha desde o dia em que ele pediu para terminar comigo.

Quer saber? Pare já com isso, Ginevra Weasley! Esqueceu-se de quem ele é? De que não é um garoto normal? De que é Harry Potter, onascido para salvar o mundo bruxo?

E de que você sempre soube disso, garota estúpida, e que, portanto, esse papelzinho ridículo de masoquista titubeante não combina com você.

Um pouco antes da hora do almoço, Harry nos levou para um dos quartos e nos mostrou alguns pergaminhos velhos. Eram estratégias de investigação, descrições e fichas de Comensais da Morte que a Ordem havia conseguido capturar no passado, mapas, fotos, dentre outras coisas. Contou-nos que já haviam explicado um mundaréu de coisas para ele, e que agora, naturalmente, ele era um membro oficial da Ordem.

Tudo bem até aí. O problema começou quando Ron lembrou que ele falara dos tais planos, e que até o momento não comentou a respeito. Era verdade.

Hermione questionou-o também, e Harry não teve escolhas. Fechou a porta do quarto – exagerado! – e despejou a bomba.

O plano era a respeito das Horcruxes. Basicamente, uma forma de começar a caçá-las. Harry nos contou sua idéia de como começar isso, e também que não comunicou a ninguém ainda; nós seríamos os primeiros a saber.

Ele queria ir a Little Hangleton. Investigar a casa de uma tal Família Gaunt.

"Como é que é?", foi a reação direta de Hermione.

Eu não fazia idéia de quem eram esses Gaunt. Hermione, no entanto, olhava para Harry como se tivessem nascido orelhas de elfo-doméstico em sua cabeça. E Ron parecia ter perdido a cor.

Harry replicou que achava muito importante visitar aquele lugar, que queria, pela primeira vez, ir pessoalmente e lembrou-os que só o tinha visto através de uma penseira.

"Mas, cara, tem certeza?", Ron balbuciou, a voz bizarramente aguda.

"O que você vai conseguir com isso, Harry? Você obviamente não está pensando em ir sozinho, está?", criticou Hermione.

Será que esse lugar era tão terrível assim?

"Não estou pensando em fazer um comunicado geral para a Ordem, Hermione, se é isso que você está sugerindo. Não. Vocês podem me acompanhar, certo?".

Ninguém respondeu.

"Pelo menos Lupin deveria saber disso", disse Hermione, buscando o olhar de Ron afim de que ele lhe apoiasse.

"Eu vou contar para ele, é claro", respondeu Harry. "Só não contei antes porque nem tenho certeza direito desse plano. Preciso da ajuda de vocês".

Silêncio de novo.

"Por mim... ok, nada contra, cara", começou Ron. "Esse seu plano até que tem alguma coerência, se a gente for pensar".

Os dois olharam para Hermione.

"Bem", ela trocou um olhar nervoso comigo. "Eu acho apenas que aquele lugar deve ser perigoso".

"A casa está abandonada agora", disse Harry. "E a vizinhança provavelmente também".

"Olha, Hermione", começou Ron, "Harry só está querendo tentar", este confirmou com um gesto de cabeça. "Ele precisa começar de algum jeito, não é?".

Os dois rapazes trocaram um sorrisinho cúmplice.

"E você, Ginny?", Harry perguntou depois, sem jeito.

"Eu? Ah, eu nem conheço esse lugar aí", dei de ombros. "Mas de qualquer jeito, eu topo sim, se isso foi um convite".

Eles riram – aliviados – e Hermione suspirou.

Por fim, a decisão final e preestabelecida era que a Casa dos Gaunt aguardaria a nossa visita assim que se encerrasse o horário de almoço.

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Enquanto almoçávamos, Hermione disse que achava melhor algum de nós ficarmos na casa, enquanto os outros três iam a Little Hangleton.

"Mas por quê?", contestei sem pensar. Assim, de primeira, aquela idéia me pareceu meio desnecessária e estúpida, por estar excluindo alguém.

"Porque eu acho melhor um de nós ficar para explicar o que aconteceu, caso alguém chegue", ela me explicou com a voz determinada, mas gentil. "As pessoas vão estranhar a ausência repentina do Harry".

"Ora", meu irmão debochou. "Para isso temos o Monstro, certo?".

"Não será a mesma coisa". Aquilo me surpreendeu. Hermione Granger desmerecendo um elfo-doméstico? "E, além disso", ela baixou o tom de voz até sussurrar. "Monstro não sabe do plano, não é?".

"Não. Não é necessário que ele saiba", respondeu-lhe Harry.

"Ok, mas", eu comecei, "quem vai ficar?".

"Eu me candidato, sem problemas", disse Hermione. "E se você quiser, Harry, eu mesma posso contar seu plano para Lupin".

"Não sei, Hermione", respondeu ele. "Olha, nem todo mundo por aqui vai gostar de saber o que eu fui fazer. Moody, por exemplo. Acho melhor você não contar a verdade por enquanto. Depois eu converso com eles".

"O quê – mas...".

"Eles não iriam gostar de saber", continuou Harry, "que eu ando tomando decisões sem o consentimento deles. Por mais que eu seja o Garoto-Escolhido, o Eleito, haja uma profecia ou o diabo que for".

A expressão de Hermione continuava contrariada.

"É verdade, Mione", Ron se intrometeu. "Já pensou no que aconteceria depois que você contasse a eles? Um bando de aurores invadindo Little Hangleton atrás da gente e adeus 'busca de Harry Potter'".

Silêncio.

"Querem saber?", explodiu Hermione, finalmente. "Teria sido mesmo melhor você não começar essa busca agindo assim, Harry. Isso é um assunto muito sério".

Ah, não. Vai começar de novo.

"Eu nunca disse que não era", retrucou Harry, interrompendo seu gole de suco.

"Não, não disse", ironizou Hermione. "Mas agindo assim parece que você está iniciando uma divertida caça ao tesouro com seus amigos! Por Deus, Harry, não vê que a única coisa que vai fazer é se expor demais?".

"Hermione!", exclamou Ron, olhando para ela duramente. "Não começa, ok? Esse assunto já foi decidido".

Harry bufou. "Tudo bem, então conte pra quem você quiser, Hermione! Pronto, faça isso. E para sua informação, não tem essa de 'me expor'. Se for assim, não poderei ir até a esquina imaginado que aquele psicopata vá me atacar".

Hermione fez que não com a cabeça, desviando o olhar de Harry. Depois encontrou o olhar de Ron e ambos os estreitaram mutuamente, chispando faíscas.

Merlin.

"Isso que eu vou fazer hoje não é nada demais", continuou Harry. "É apenas um teste. Eu só preciso começar de alguma maneira, estudar um jeito de iniciar essa busca para alcançar algum êxito no futuro".

Ninguém falou.

"E não pretendo me demorar também. Por isso, Hermione Granger, não é para tanto", finalizou, esboçando um mínimo sorriso sarcástico para a amiga.

Após o almoço – e os cochichos de indignação de Hermione na minha orelha – nós atravessamos a cozinha em direção a sala. Eu retrucava para minha amiga que tudo sairia bem. E que não deixaria os garotos fazerem nenhuma besteira.

Ela não pareceu se convencer muito – pelo contrário, me dirigiu um sorriso sarcasticamente descrente – mas sua expressão se suavizou quando eu transformei essa minha afirmação em uma promessa.

"E como iremos até lá?", perguntei para os meninos, assim que acabei de falar com Hermione.

"Nôitibus, é claro", respondeu Ron, para minha surpresa.

"Nôitubus?", questionou Harry.

"Claro!", Ron riu da cara do amigo. "Alguém aqui é expert em aparatação por acaso? E para todos os efeitos, Hermione não vai".

Eu ri.

"Tem razão", Harry admitiu, sorrindo vagamente. "Eu nem tinha parado para pensar nisso".

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De fato, eu já havia desistido de contar a quanto tempo estávamos dentro daquele enorme e barulhento ônibus, chacoalhando naquele ritmo maluco. Eu observava as pessoas chegarem a seus destinos, tonta de inveja. Que diabo, hein? Que lugarzinho é esse que o Harry foi inventar? No quinto dos infernos?

E quando finalmente Harry nos disse "vamos descer aqui" percebi que, afinal, o lugar não era muito diferente do que eu imaginava ser o quinto dos infernos.

Era uma espécie de vale abandonado. Estávamos sobre uma estradinha rochosa de areia, vasta de montanhas e relevos ao redor, e de alguns arbustos afastados.

"Você se lembra onde fica?", perguntou Ron, parecendo preocupado.

O sol brilhava forte no vivíssimo céu azul. Começando a suar, eu senti saudades do ar constantemente frio da Mui Antiga e Nobre Casa dos Black...

"Sim", Harry respondeu. "Tem uma placa por aqui, disso eu me lembro. Vamos procurá-la".

Por sorte, Harry a achou logo. Tudo o que havíamos feito era seguir em frente pela estrada, e agora, de acordo com a tal placa, tínhamos que virar à direita.

É. Andávamos e andávamos e nem sinal de vivalma por ali. Apenas um casebre aqui, outro acolá, mas todos fechados, silenciosos, alguns até sem janelas. E Harry não reconhecia nenhum deles.

"É ali!".

Ron e eu paramos de andar.

"Ali onde?", perguntei.

"Ali" ele apontou para um conjunto de arbustos. "Atrás daquelas árvores. É, é ali mesmo, me lembrei".

"Mas eu não estou vendo casa nenhuma!", disse Ron.

"Nem eu!", concordei. "Você não está confundindo não, Harry?".

"Claro que não!", ele abriu um sorriso sonhador. "Venham comigo".

Que jeito...

"Coisa estranha", eu ouvi Ron cochichar, enquanto atravessávamos uma estradinha íngreme e ainda mais rochosa, entre as árvores. "Uma casa ali?".

"Quê?".

"Como é que pode haver uma casa ali?", ele me perguntou. "Essas árvores parecem tão juntas".

"Pois é. Ei, Ron, acabei de pensar numa coisa".

"Hm".

"Harry viu essa casa numa penseira, não foi?". Ele confirmou com a cabeça. "E se já não estiver mais aí? E se foi demolida?".

Ron ergueu as sobrancelhas, e não disse nada.

Mesmo meio descrente, eu desejei que Harry estivesse certo, que estivesse fazendo a coisa certa. E não apenas perdendo tempo e arriscando seu – nosso – pescoço naquele lugar tão suspeito.

À nossa frente, Harry parou. Ron e eu nos colocamos ao seu lado...

...E partilhamos da visão que fez nosso amigo abrir um grande sorriso.

E não é que a tal casa estava lá mesmo?

"Isso é a casa dos Gaunt?", Ron expressou em voz alta o meu pensamento.

"Exatamente", confirmou-lhe o sorridente Harry Potter. "E está do mesmo jeito que eu a vi na penseira de Dumbledore".

"Harry", comecei, enquanto contemplava as árvores que escondiam a casinha quase completamente. "Tem certeza que uma família vivia dentro disso?".

"Também pensei a mesma coisa quando Dumbledore me trouxe", ele respondeu, ainda sorrindo. "Mas eram só três pessoas".

Nos aproximamos. Ao meu lado, vi Ron retirar lentamente a varinha do bolso. Pensou bem, o Roniquinho. Imitei-o.

Harry apontou sua varinha para a porta. "Alohomora!".

A porta era estreita, por isso entramos um de cada vez. Eu fui a segunda, logo atrás de Harry. Mas então, inesperadamente, ele estacou, e eu topei contra suas costas. Um segundo depois, Ron, quase ao meu lado e passando por mim, fez a mesma coisa.

Até que eu olhei por cima do ombro de Harry e...

Pelas barbas de Merlim!

Bem ali, no canto daquela sala imunda e mal cheirosa, um rapaz vestido de Comensal da Morte e desmascarado nos encarava com a mesma expressão embasbacada que era encarado por nós.

Um rapaz que estava sumido desde antes de Hogwarts ser oficialmente fechada.

Um rapaz criminoso que Harry, no ano passado, fez das tripas coração para que todos nós acreditássemos que ele estava aprontando das suas...

Um rapaz louro, alto, e desagradável que atendia pelo nome de Draco Malfoy.

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Próximo capítulo: Pansy POV...

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Nota final de las hermanas:

A fic já está pronta, mas sem rewiews, sem postagem, certo? Ou você não quer ver as acctions fresquinhas e dangerísticas dos próximos capítulos?