Título da fic: Golden Wings
Casal: MiloxCamus / ShakaxMu
Sinopse: Uma companhia aérea, dois pilotos competentes e experientes mas completamente incompatíveis... ou não? U.A./Yaoi/Lemon Camus/Milo, Shaka/Mu
Autora: Áries Sin e Athenas de Áries
Agradecimentos: A Nana Pizani pela betagem, a Kamui pelo apoio e a…Shyriuforever por… não sabemos bem o que…mas obrigada na mesma! XD
Golden Wings
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Dois minutos... verificava se estava tudo em ordem pela enésima vez. A enorme quantidade de botões no cokpit era um verdadeiro quebra-cabeças para qualquer pessoa que acabasse de entrar lá... mas para ele não.
Cinco minutos... recostava-se na cadeira do piloto, retirando o chapéu e alinhando o longo cabelo ruivo caprichosamente penteado. Não havia um fio fora do lugar.
Sete minutos... verificava no seu relógio de pulso as horas... respirou fundo fechando os olhos, rogando pragas constantes ao atrasado. Decididamente, pontualidade era o seu lema...sobretudo numa situação daquelas.
Dez minutos... demais! Uma aeromoça entrava no cokpit averiguando se estava tudo em ordem... se não fosse pela falta do co-piloto.
Quinze minutos... não tardaria e os passageiros seriam encaminhados para o interior do avião...
Mais uma olhadela no espelho. Perfeito. O uniforme de corte clássico caia perfeitamente em seu corpo digno dos deuses gregos. Modéstia era uma palavra que não estava em seu dicionário. Era belo e sabia disso. Os cachos louros, presos em uma trança para não atrapalhar, caiam pelos ombros metodicamente, a gravata arrumada. Pegou o paletó sem nenhuma pressa e saiu. Para variar estava atrasado mas não se importava. Sabia que tinha uma certa folga.
Caminhou calmamente pelo tão familiar saguão do aeroporto até a entrada de funcionários. Apresentou a documentação exigida e foi para o avião. Passos calmos e decididos, olhar afiado. Nova companhia aérea, novo avião, novo companheiro de voo, mas a mesma rotina de sempre. Cumprimentou alguns conhecidos no caminho com um aceno de cabeça e entrou na aeronave.
Avançava altivo, num andar cadenciado e felino lançando olhares venenosos à nova tripulação. Sorria. Um sorriso confiante, na fronteira do cínico. Retirou o quepe cumprimentando calorosamente a todos.
- Comandante? - perguntou uma aeromoça sorrindo para ele. - Seja bem-vindo a bordo.
- Obrigado senhorita - tomou a mão da jovem na sua, beijando-a levemente. - Acho que este voo será uma delicia de executar.
A jovem engoliu seco ao sentir as duas magnificas íris azuis fixarem-na... sentia como se a sua alma estivesse sendo sugada... hipnotizavam-na...
- O comandante Lenoir espera-o no cockpit... - conseguiu balbuciar por fim, após um longo tempo sem reacção.
Milo mandou um leve beijo para a aeromoça e sorriu, virando-se em direcção à cabine de comando. Sorriu para si próprio, adorava o efeito que tinha sobre as mulheres. Era uma pena que posteriormente era obrigado a decepcioná-las. Entrou calmamente na familiar cabine e pode perceber que o comandante Camus já estava posicionado em seu lugar. Sentou-se, ajustou o cinto como sempre fazia, e somente então dirigiu-se a seu novo companheiro de voo.
- Boa tarde. Sou Milo, mas creio que já sabe disso. Espero que seja um prazer voar com você.
Começou as checagens padrão sem ao menos se dignar a olhar para aquele que estava a seu lado, o silêncio que o outro manteve no fundo o enervava, mas estava ali para fazer seu trabalho.
Na cadeira do lado, o ruivo fixava o recém chegado companheiro de voo. Os olhos castanhos tomavam uma cor acobreada, o olhar gélido dilacerava a imagem de Milo ao seu lado.
- Sou Camus Phillipe Lenoir. E você está atrasado.
Algo na mente de Milo estalou. Aquelas duas frases... não colavam. O que é que o nome, tipicamente rócócó francês diga-se de passagem, tinha a ver com o facto de ele estar atrasado?
- Não estou atrasado! - comentou continuando sem se dignar a olhar o companheiro. - Apenas cheguei à hora pretendida.
- Está atrasado vinte minutos meu caro Milô! E o prazer de voar comigo apenas se mostrará certo se esta situação não voltar a acontecer.
Mas quem era aquele francês dos infernos para falar sobre atrasos? Os passageiros nem ao menos haviam embarcado ainda. Pela primeira vez desde que entrara na cabine tirou os olhos do painel e se dignou a olhar para o homem que estava a seu lado. Decididamente não devia ter feito isso. Aquele homem era simplesmente deslumbrante na falta de outro adjectivo melhor.
E agora? Toda a resposta mal-criada que estava na ponta da língua pegou os para quedas de emergência e abandonou o voo. Xingou-se mentalmente algumas dúzias de vezes antes de falar algo.
- Tudo bem. Vamos começar de novo. Eu sou Milo Miklos Kalomiris, novo co-piloto desta aeronave e seu companheiro de voo. Desculpe o atraso. Pude ver que já fez os ajustes necessários à descolagem, Obrigado. É um prazer conhecê-lo. - estende a mão em direcção a Camus.
Este desviou o olhar do painel de comando voltando a olhar para o companheiro. Seu olhar fora atraído pelas íris azuradas de Milo. Estranhamente, sentiu a própria mão elevar-se sozinha indo em encontro da outra. Era como se... não fosse ele a coordenar os próprios movimentos. Sentiu a pele quente do grego contrastando com a sua. Um breve aperto de mão foi trocado, tudo feito com extrema lentidão.
Caindo em si, soltou o aperto repentinamente, desviando o olhar de novo para o painel de comando.
- Como já disse, meu nome é Camus. E mantenho que o prazer de voar comigo depende da sua capacidade de chegar a horas nas próximas vezes.
Sem voltar a olhar para o companheiro, pegou nos headphones e micro colocando-o com cuidado sobre a cabeça. Estava pronto.
Camus pega o microfone de comunicação com a aeronave e cumprimenta os passageiros em seu francês límpido e frio, passando logo após o instrumento para Milo que se apresenta e repete as informações em inglês. Seria um voo relativamente curto, mas estava gostando de poder pisar novamente em sua terra natal, mesmo que fosse por poucos instantes.
Taxiaram o avião com maestria pela pista tendo uma descolagem suave. A descolagem e a aterragem eram sempre os momentos mais tensos do voo, quando a aeronave alcançou a altitude ideal de cruzeiro, segundo o plano de voo, Milo relaxou um pouco esticando os braços sobre a cabeça. Resolveu conhecer um pouco seu novo companheiro.
- Você voa a muito tempo nesta companhia?
Camus permitiu-se um pequeno sorriso quase imperceptível ao responder àquela pergunta.
- O tempo suficiente para saber que pontualidade é a chave do negócio.
Manteve os olhos no horizonte, cruzando os braços sobre o colo.
Milo, completamente desconcertado com a resposta, voltou a olhar para o francês ao seu lado.
Magnificamente... gélido.
Estupidamente... lindo.
Sorriu. Sim, daquela vez tinha-lhe saído a sorte grande. Agora era saber aproveitá-la.
- Já pedi desculpa pelo ocorrido. Prometo que não voltará a acontecer.
Chamou a atenção de Camus novamente, fazendo os olhares se cruzarem de novo numa luta renhida de medida de forças.
Decididamente, aquele voo Paris/Athenas prometia...
Camus foi novamente hipnotizado por aquele olhar magnético. Que homem era aquele que fora designado para seu companheiro de voo? Ele era irritante, folgado, arrogante, bonito, sedutor... Balançou a cabeça. Seus pensamentos o estavam traindo.
- O tempo dirá se conseguirá manter seus horários em dia. E você, é a primeira vez aqui pelo que soube, mas, e antes? - ser simpático nunca fora uma de suas qualidades mais aparentes, mas precisava se esforçar um mínimo possível. Afinal, passariam muito tempo juntos naquele espaço diminuto.
- Eu antes trabalhava na Sanctuary, mas a proposta da Golden me pareceu mais atraente. - Milo respondeu dando ênfase a palavra atraente.
- A Sanctuary Airlines tem tanto renome como a Golden, pelo que sei. - comentou o francês pensativo. Realmente não estava atingindo o duplo significado da palavra 'atraente'...
Milo abriu mais o sorriso ao perceber o ponto de vista do francês. Não podia deixar de colocar mais lenha na fogueira, podia?
- Digamos que a Golden... tem capacidade para voar mais alto...e, quem sabe levar ao sétimo céu.
Duas batidas na porta da cabine interromperam a conversa 'extremamente interessante' segundo Milo.
Um comissário de bordo. Milo ficou pasmo com o que seus olhos teimavam em ver. Como podia ter entrado naquele lugar sem ao menos ter reparado que além das duas aeromoças estava...
- Desculpem a interrupção... meu nome é Afrodite; comissário de bordo. Vim substituir Helena, devido a doença. Se necessitarem de algo, estou ao vosso dispor.
Afrodite... lembrou-se de ter visto aquele nome na lista da tripulação mas... era um HOMEM?
Este vôo estava ficando cada vez mais interessante. Então ele não era uma "aberração" ali como muitas vezes se sentira na Sanctuary.
- Fico feliz que esteja aqui, Afrodite. Espero que não tenha problemas com passageiros dessa vez. - Camus cumprimentou Afrodite. Já voara com o comissário algumas vezes e lembrava-se de uma vez que o mesmo tivera problemas com um passageiro alcoolizado que teimou em agarrar o belo comissário confundindo-o com uma mulher.
- Obrigado Camus, mas se tiver algum problema meu cruzado de direita continua afiado. - Afrodite riu - Vejo que tem carne nova no pedaço; por favor, não o congele até Athenas!
- Afrodite, dispenso seus comentários mordazes.
- Birrrr... O Comandante de Gelo e seus comentários congelantes! Amigo, não pense que todos são tão mal-humorados quanto esse aí que está a seu lado. De qualquer forma, seja bem-vindo e boa sorte! - Afrodite estende a mão a Milo em um cumprimento.
Milo gargalhou alto, retribuindo ao cumprimento do comissário. Definitivamente, aquele voo ia ser MUITO interessante.
- Não se preocupe... alguma solução tem de haver. - comentou sorrindo - gostava de ter um café; se não for pedir muito, claro!
Afrodite assentiu, sorrindo sugestivo.
- Será um 'prazer' servi-lo senhor. - e saiu da cabine, indo preparar o pedido.
No interior do cokpit, Milo mantinha o sorriso maroto nos lábios. E se...
- Concentre-se no voo, e deixe de flertar com o restante da tripulação durante a viagem...
A voz de Camus cortara qualquer pensamento além de decente que pudesse vir a ter no seguimento do comentário de Afrodite.
Pousou o cotovelo no braço do banco, apoiando o queixo sobre a mão. Não ia deixar em branco...
- Está com ciúme?
Camus exasperou-se. Quem ele pensava que era? Acabara de conhecê-lo, como poderia ter ciúmes?
- Coloque-se no seu lugar. Você é sub-comandante deste voo. A vida de todos eles, além da sua própria está em suas mãos!
- Ei, pra que tanto estresse? A aviação hoje é o meio de transporte mais seguro que tem. Olhe a sua volta. Tudo está em ordem, não tem nenhuma luzinha vermelha piscando onde não devia. Sorria. Sabia que faz bem para a musculatura do rosto?
Camus não se dignou a responder. Bufando, voltou sua atenção para os comandos no momento que Afrodite entrou trazendo o café pedido por Milo.
- Aqui está. - estendeu o copo para Milo, o mesmo sorriso de antes estampado nos lábios. - se precisar de mais alguma coisa, sabe onde me procurar!
Milo retribuiu ao sorriso da mesma forma, piscando o olho e rindo de leve.
- Sei sim. E pode ter a certeza que vou cobrar...
Camus ouvia tudo, não acreditando naquilo. Revirou os olhos, tentando achar algo de mais construtivo a fazer que ouvir aqueles comentários completamente inapropriados para o momento.
- Até logo então...
A porta fora de novo fechada, deixando apenas os dois pilotos no mais profundo silêncio.
Silêncio que fora cortado apenas pelo ligeiro cantarolar de uma melodia da parte de Milo enquanto bebericava calmamente o liquido amargo.
- Você é francês mesmo? - pergunta idiota, para momento idiota... riu internamente com aquela questão, tentando manter a maior seriedade possível fisicamente.
Camus mais uma vez perguntava aos deuses PORQUÊ... tinha de aturar tal criatura...
- Non é evidente? - perguntou enfastiado, tentando manter a calma.
- Nem tanto meu caro. Se bem que, com o nome que tem, realmente não poderia ter outra nacionalidade, mas franceses costumam ser mais agradáveis.
- Ser agradável não é uma questão de nacionalidade e sim se a pessoa em questão merece ou não amabilidades.
Milo riu. Seu riso cristalino enchendo toda a cabine. Camus se viu apreciando o som daquela risada e ao mesmo tempo repreendendo a falta de seriedade do companheiro de voo, entretanto pode observar que, apesar de suas brincadeiras, ele não tirava os olhos dos instrumentos de navegação.
- Quer dizer que em uma escala de 0 a 10 em merecimento de amabilidades em devo estar entre -20 a -15 pelo visto.
- Não, não... Creio que deve estar em 0, temperatura em que a água se congela, meu caro.
Sem que Camus se apercebesse, o clima na cabine tinha se tornado bem menos pesado que no inicio. Estava até... agradável. Talvez a sua primeira imagem do companheiro tivesse sido errada. Afinal, para ser aceite na 'Golden Airlines' não podia ser tão desprovido de sanidade mental assim.
Com o tempo, talvez entendesse o objectivo daquela conversa... mas por enquanto, não tinha outro remédio se não retribuir.
- E você? É de onde?
Milo sorriu respondendo orgulhoso.
- Pertenço à mais bela civilização que alguma vez existiu ao cimo da terra...
Camus entendeu do que ele estava falando, mas não se conteve para tirar igualmente sarro do companheiro.
- Mesmo? e eu que pensei que Atlântida era um mito...
Milo arregalou os olhos e novamente riu.
- Quer dizer que o Homem de Gelo tem senso de humor. Mas como você mesmo disse, Atlântida é um mito, aliás um dos muitos mitos da minha civilização.
Pela primeira vez em todo o voo Camus riu. Milo achou que estava sonhando, mas se fosse realmente um sonho não queria acordar tão cedo. Não tinha nada que pudesse classificar como minimamente errado em seu companheiro de voo.
- É lógico que eu tenho senso de humor, só não deturpado quanto o seu parece ser. Acho que preciso de um copo de água, será que você é capaz de controlar este avião sozinho sem nos derrubar por alguns instantes?
Camus sabia que não precisava levantar-se para conseguir a água que desejava, mas estava sentindo necessidade de esticar um pouco as pernas e sair por alguns instantes daquele ambiente. Desafivelou o cinto e levantou-se. Deu mais uma checada nos instrumentos e saiu da cabine. Logo encontrou Afrodite e pediu a ele a água.
No interior da cabine, o co-piloto mais descansado por ter conseguido desanuviar o clima, recostou-se na cadeira confortável, massajando o pescoço calmamente.
Quando algo chamou a sua atenção... sorriu travesso, carregando num botão entre os milhares do painel.
No corredor, Camus que tinha acabado de beber a água, agradeceu a Afrodite e preparava-se para voltar para o interior do cokpit.
Um barulhinho chamou a sua atenção... a voz de Milo podia agora ser ouvida claramente. O que seria? Aviso de turbulência? Algo errado? Apressou o passo instintivamente... mas logo travou ao assimilar as palavras.
-"Senhores passageiros, neste momento na passerela, Camus Phillipe Lenoir, com um conjunto do último grito, criação da fundação Golden Airlines. Uma salva de palmas para o nosso comandante por favor!"
Camus ficou vermelho, azul, verde, roxo... parecia um arco-íris de tanta vergonha. A medida que atravessava o avião podia ouvir as palmas e os assobios. Alguns mais engraçadinhos ainda faziam alguma alusão à beleza do uniforme e do modelo.
Entrou na cabine espumando. A vontade que tinha era de socar a cara daquele maluco ali, em pleno voo, mas esperaria que o avião aterrasse para dar vazão a toda sua fúria.
- Você ficou maluco? Não pergunta errada. Maluco eu já sei que você é, mas só pode estar tendo algum surto nesse exacto instante. Comigo, meu caro, você nunca mais voará, e no que depender de mim, não voará nem mais de asa-delta.
Milo ria de sair lágrimas dos olhos. Conseguira realmente enfurecer o francês e pelo visto ele tentaria levar suas ameaças a cabo, mas não seria assim tão fácil destruir sua carreira quanto ele pensava.
Viu Camus voltar a sentar-se no seu respectivo assento, com cara de poucos amigos. Só por aquela cena, tinha valido a pena fazer a brincadeira. O resto da viagem decorreu sem grandes turbulências, bastante calma. E silenciosa. Mas isso não importava minimamente a Milo. Pelo contrário, só facilitava nos ataques de riso repentinos que demonstrava ao longo do voo.
Finalmente acabados de aterrar, Camus dava as ultimas instruções aos passageiros, pedindo que se mantivessem sentados até a total imobilização do aparelho.
Avião estagnado, teriam de esperar que os passageiros saíssem antes de poder pisar de novo em terra firme. Dessa vez, Milo não deixou passar em branco.
- Já esteve em Athenas?
Ouviu um rosnar da parte de Camus, que lhe pareceu ser uma resposta afirmativa.
- Se isso foi um sim, você certamente não conhece Athenas. Esta cidade precisa ser apreciada com alguém da terra, alguém que realmente a conheça. Não gostaria de conhecer Athenas?
- Milo Miklos! Eu estou querendo arrancar as suas tripas com uma colher e você me convida para fazer um passeio turístico???? Você é alguma espécie de suicida?
Milo mais uma vez gargalhou, nunca se divertira tanto em sua vida. Tirar aquele francês empoado do sério estava se mostrando ser um esporte deveras agradável.
- Você sabia que fica lindo aborrecido? - Milo soltou a pergunta no ar.
Camus engoliu em seco. Ele o achava lindo ou era mais uma de suas brincadeiras sem graça? Estava confuso com aquele grego maluco e sedutor. Mas aquele jogo era para dois! Estava se cansando de ter seu humor manipulado a seu bel prazer… pelo que pudera perceber o grego rapidamente aprendera como fazer isso. Resolveu entrar naquela brincadeira.
Milo sorriu, pela primeira vez sem segundas intenções durante toda a viagem. Tinham acabado de se conhecer, mas aquele tempo todo fechados dentro da cabine tinha acabado por ajudar no "reconhecimento de terreno". Naquela cabine, 1 hora não é 1 hora… é muito mais… simplesmente porque não têm outra escolha se não aturar um ao outro.
- Em apenas algumas horas não vamos poder ver grande coisa... mas a proposta fica de pé para outra ocasião...
Umas horas para cativar aquele francês numa das mais belas cidades do mundo. Não seria complicado... a cidade em si ajudava... e já o guia turístico... valia por tudo. Daria um gostosinho de 'quero mais' de forma a incitá-lo a voltar com mais tempo. Sorriu mais uma vez, mas agora com as imagens que começavam a desenhar-se na sua cabeça.
Duas batidas na porta chamou a atenção de ambos. Afrodite.
- Passageiros em terra. Podem sair... isso claro, se não tiverem outras idéias em mente... - piscou antes de voltar para o corredor do avião.
Camus olhou para Afrodite com seu melhor olhar "congelante" antes de responder.
- Realmente eu tenho outras coisas em mente sim. Afrodite, você pode por gentileza me arrumar uma colher?
Afrodite olhou intrigado para Camus. Sabia que o francês era excêntrico, já voara várias vezes com ele, mas nunca pedira algo tão inusitado antes.
- Uma colher???? Para quê precisa de uma colher?
- Afrodite querido, você não é pago para perguntar! Arrume logo a bendita colher.
Milo estava tentando conter o riso, mas não conseguiu. Quando finalmente pôde se controlar, colocou a mão na testa em um gesto dramático.
- Ó, não! Afrodite! Não dê uma arma tão letal a este homem! Ele deseja arrancar as minhas tripas com uma colher! Eu não mereço tamanha crueldade. Não tive tempo de fazer meu testamento. Deixou a minha trança para o orfanato onde cresci e meu quepe para a simpática aeromoça que me recebeu quando cheguei. Estou pronto para o cadafalso.
Afrodite não acreditava no que acabava de ouvir. Foi apanhado repentinamente por uma crise de riso, sendo obrigado a se sentar, as lágrimas nos olhos.
- Afrodite? - perguntou Milo sem entender o que tinha acabado de acontecer.
O comissário apenas fez um gesto com a mão, logo saindo da cabine indo em direcção ao corredor do avião. No interior do cockpit, os dois pilotos entreolhavam-se interrogativos.
Milo acabou por dar de ombros, desafivelando o cinto.
- Proponho o seguinte: convido-o para um almoço de tréguas! Conheço um restaurante óptimo razoavelmente perto do aeroporto. Se ficar satisfeito, fico perdoado. O que me diz?
Camus acompanhou-o, avançando pelo corredor em direcção à saída da aeronave.
- E se eu não gostar?
Milo sorriu, olhando para o francês de esguelha.
- Se não gostar, é porque tem uma idéia de boa comida distorcida... também, para quem aprecia aquela 'nouvelle cuisine' francesa, que lhe trazem um prato apenas com 2 batatas minúsculas e um pequeníssimo pedaço de carne...
- Não vou tecer comentários. Não vale a pena discutir com um troglodita carnívoro. Mas vamos ao tal restaurante apreciar a "boa cozinha".
- Que boa imagem você tem de mim!!!!!!
Saíram do aeroporto em direcção ao restaurante completamente alheios aos olhares cobiçosos recebidos tanto de mulheres quanto de homens. Eram realmente duas figuras de chamar a atenção sob o sol mediterrâneo. Altos, belos e ainda por cima trajando um uniforme que por si só destacava-se.
O trajecto fora realmente curto e Milo aproveitou para falar sobre assuntos neutros como o porque da sua saída da Sanctury Airlines.
- Eu gostava de trabalhar lá. As pessoas eram legais, o clima óptimo, mas particularmente eu gosto dos voos longos e eles resolveram reduzi-los, não teria mais espaço para mim.
- Sim, ouvi dizer que para redução de custos, iam deixar de fazer tantos voos intercontinentais. - Camus comentou entre duas garfadas de moussaka.
- Exacto. Foi então que recebi o convite da Golden. Aí ofereciam um lugar para esse tipo de voos. - Esboçou um sorriso enorme, olhando fixamente para o francês.
A cabeça de Camus começou a trabalhar a mil. A Golden era uma nova companhia, já bastante reconhecida, e que iria abrir novos voos a nível intercontinental. Mas como pilotos, apenas ele tinha experiência desse tipo. Mas então... Milo... e ele...
- Je n'y crois pas! - deixou cair o garfo no prato. - Você é o meu novo co-piloto de voos de longa dura...
Milo sorriu abertamente. - Correcto! Prazer em conhecê-lo Camus!
Camus bebeu todo a água que estava no copo a sua frente em uma única golada. Ele só podia ter feito alguma coisa muito séria e ofendido a todos os deuses.
- Isso é algum tipo de brincadeira sua, não é?
- Claro que não. Não brincaria com isso. Sou a sua adorável companhia para voos intercontinentais.
Camus olhou desolado ao seu redor, a mente ágil e analítica pensando em alguma saída para aquela situação mas nenhuma idéia lhe parecera suficientemente eficaz.
- Não adianta ficar com essa cara de "eu preciso dar um jeito para me livrar dele" que não tem jeito. Veja pelo lado bom, ao menos não ficará entediado.
- Eu preferiria mil vezes uma crise de tédio a uma temporada no sanatório.
Milo riu. Seu riso cristalino e franco tomando todo o recinto. Olhos curiosos se viraram para eles. Camus mais uma vez naquele dia gostaria de ter um buraco para se enfiar. Seu novo companheiro de viagem tinha o dom de constrangê-lo com uma facilidade incrível.
Continua…
