Ginevra,
Andei olhando o pôr-do-sol, do jeito que você me pediu. Me senti estúpido em meio a todos os trouxas naquela praia. Você vai gostar de saber que estou corado, inclusive. Sobre o pôr-do-sol, eu tenho alguns apontamentos que acho interessante fazer: O primeiro é que eu realmente quero que você pare de me pedir coisas estúpidas, como apreciar as flores, a lua ou pôr-do-sol. Eu sei dizer não, mas não sei fazernão (isso faz sentido?), e acabo fazendo essas coisas, mesmo tendo negado. O problema não é realmente fazê-las, porque não há nada de mal em olhar um pôr-do-sol, mas o jeito como me sinto: estúpido. Eu não sou um homem de determinadas delicadezas e receio dizer que nunca serei.
A segunda é que essas viagens estão realmente me desgastando e eu não vejo a hora de chegar em casa. Uma parte interessante é que, depois que deixamos as reuniões em Mumbai, os clientes nos levaram às instalações do hotel que a empresa acabou de adquirir (é tão longe, quase desisti). A Índia é um lugar realmente pobre, mas com uma cultura muito bonita e lugares ainda mais bonitos. Espero poder trazer você aqui, algum dia. Voltando ao pôr-do-sol, o hotel fica exatamente no fim da Índia, numa cidade cujo nome que não sei pronunciar, mas consigo escrever: Kanyakumari. Aqui estão localizadas as cinzas daquele homem que você adora, o Gandhi (o que me lembra que os trouxas tem essa mania horrível de guardar as cinzas mortais de ícones, isso é assustador! As cinzas de quem você guardaria?). E existe essa baía, onde o oceano índico e o oceano pacífico se encontram. Nessa baía, tanto o nascer quanto o se pôr, nascem do mar, e essa foi uma das visões mais deslumbrantes que eu tive o prazer de presenciar.
A terceira e ultima, mas não menos importante, é que esse pôr-do-sol me fez lembrar você. Correndo o risco de ser completamente piegas, é claro. Claro, você é ruiva, e tem todos esses traços vermelhos no seu corpo – que saudade deles – mas não é exatamente por isso que o pôr-do-sol me lembra você. Existe um ponto crucial, onde as estrelas já estão apontando no céu, o horizonte está completamente vermelho, e o mar está engolindo o sol, mas então, o sol brilha ainda mais, como se estivesse dando autorização para o mar abraçá-lo, como se dissesse "eu só estou me entregando aos seus braços porque eu quero", enfim, como se num dia qualquer, ele pudesse se invocar e não se pôr, fazendo da noite, o dia também. É aí que ele me lembra você. E bem, eu. É bem constrangedor pensar que às vezes você me toma e eu deixo de ser eu. De um jeito bom, claro.
Eu disse que me sentia estúpido fazendo esse tipo de coisa.
Com saudades e seu,
Draco Malfoy.
N/A: Confirmando meu amor por epístolas e minha saudade de escrever DG. Escrevi pro projeto "Queime depois de ler", da fire 'n ice, 6v.
