Disclaimer: CCS não me pertence e qualquer outra referência também não é de minha autoria.

Escrito por: Maghotta (Lis J.B.)

Revisão: Naure, Bruno Naure (007)

Dedicatória: Essa fanfic é dedicada a duas pessoinhas muito especiais. Hana Himura e Mayra, pessoas que me ajudam a enfrentar meus bloqueios e sempre tem uma maneira ou idéia divertida à compartilhar. Obrigada, meninas!

Capítulo oferecido: Esse capítulo é para todas as pessoas que acompanham minhas fics, como meu sincero pedido de desculpas.

~ Espero que tenham uma boa leitura! ~


Capítulo 1

Tomoeda

Tomoeda era uma cidade pequena e litorânea. Sakura havia a pesquisado no Google por meses inteiros quando seu papai disse que se mudariam. Ele até mesmo chegara a mostrar uma fotografia da casa onde iriam morar. Um sobrado amarelo sem jardim, longe do mar e quinze minutos de ônibus até a escola.

Mas ela não estava feliz com a decisão, muito menos seu irmão. Na verdade, ele foi o que reagiu da pior maneira. Simplesmente vestiu o casaco e saiu de casa por quatro dias. Não que Touya tenha fugido, ele só precisava de um tempo para administrar a imposição do pai. A família Kinomoto sempre agia como uma família democrática, onde cada um podia manifestar opinião. Só que dessa vez estava sendo diferente. Fujitaka já havia decidido e não dava para contra-argumentar.

Sakura soltou um longo suspiro. Olhou-se no reflexo do computador e odiou aquela visão. Seu nariz parecia maior e os olhos por trás da lente dos óculos de leitura estavam injetados. Piscou para evitar o lacrimejar.

Calçou as luvas e jogou os livros dentro da mochila vermelha de lona. O ruído da cadeira foi o único barulho no ambiente. Seu irmão e pai já deveriam estar à mesa, se não andasse logo ficaria sem café. Todos em sua família eram viciados em cafeína. Sakura não lembrava um único desjejum sem o líquido.

Fechou o zíper do casaco de frio e pegou suas chaves de casa. Apertou com força o chaveiro, fora presente de seus amigos da antiga escola. Na antiga cidade. Em uma outra vida, que agora parecia distante e deturpada.

Esse foi o verdadeiro motivo de sua insatisfação. Ela tinha amigos e tudo lhe era familiar na antiga cidade. Lá onde esfolou os joelhos inúmeras vezes praticando esportes, cortou as sobrancelhas porque seu irmão tirava barba e ela não tinha pêlos do tipo no rosto. Participou da primeira festa do pijama e ficou em segundo lugar na competição 'quem come mais' no antigo colégio.

Ela não sentiria falta de comer em excesso, mas de todo o resto, com certeza.

O que lhe era irônico nisso tudo é que havia nascido em Tomoeda e esta era a cidade onde sua mãe vivera toda a vida, onde ela ficou doente. E onde pouco tempo depois, Nadeshiko faleceu. Sakura não entendia muito bem o que isso significava na época, até chegou a pensar que fosse algo do qual devesse ter muito medo graças às pegadinhas maldosas de Touya. Ele a torturava falando sobre assombração e coisas do tipo no meio da noite.

-Deveria vestir-se de punk – Touya sugeriu ao ver a irmã descendo os últimos degraus da escada – Ninguém mexe com punks.

Sakura o fitou com desprezo e cogitou voltar para seu quarto até que ele fosse embora. Começava a aceitar o risco de ficar sem café por uma manhã inteira, desde que isso a poupasse dos comentários matinais do irmão. Touya sabia ser bastante intragável quando possuía tempo de sobra. E, para azar de Sakura, era o que ele mais tinha.

Como ela odiava Tomoeda. Nessa mínima cidade ela tinha um irmão sem emprego e que estudaria na faculdade onde seu pai lecionava.

-Já estou pronta – grunhiu apanhando uma torrada e dando longas goladas no café de Touya, que apenas a observava despreocupado – Por um acaso você cuspiu aqui?

-Não – disse em risinhos.

-Então qual é a da cara feliz? Sei que está me sacaneando de alguma forma.

-Você é esperta – ironizou.

-É, sou sim. Aprendi com o melhor – Sakura devolveu a caneca ao lugar e se sentou na cadeira em frente a Fujitaka – Bom dia, papai.

-Bom dia, Sakura – ele balbuciou por trás do jornal.

Sakura e Touya trocaram um olhar significativo.

Fujitaka estava distraído demais para alguém prestes a dar sua primeira aula em uma nova universidade. Isso não devia significar boa coisa. Ele geralmente era um homem bastante entusiasmado com o começo de algo "grandioso".

-Já vamos indo, pai – Touya arriscou.

-Tenham uma boa aula – Fujitaka abaixou o jornal brevemente e lançou um sorriso a seus filhos.

-Certo – Sakura interveio – Algum problema?

-… - Fujitaka balançou a cabeça e tomou um gole de café – Tem dinheiro para o lanche, Sakura?

-Sim.

-Então acho melhor se apressar, já está atrasada.

-Pra variar – Touya batucou na mesa – Quer carona?

-Quero sim – Sakura se ofereceu, mesmo sabendo que o irmão falava com o pai.

-Ótima idéia, Touya. Talvez sua irmã não passe uma impressão ruim no primeiro dia se conseguirem chegar a tempo.

Os irmãos trocaram outro olhar significativo e se levantaram. Seja lá o que estivesse perturbando o pai, cedo ou tarde ele acabaria entregando.

-Você deveria, de verdade, se vestir de punk – Touya sugeriu ao volante – Ninguém banca o espertinho para cima de um punk mal encarado.

-Ou talvez eu devesse me vestir de serial killer. Tenho certeza que eles também não tiveram problemas no colégio – Sakura retrucou.

-Está de brincadeira, não é? Esses caras foram os mais perseguidos por se vestirem como panacas e pentearem o cabelo.

-Nunca entendi seu problema com pentes, sabia?

-Se você fosse um garoto e deixasse os pêlos da sua axila crescer, parasse de depilar as pernas e resolvesse raspar a cabeça na máquina três… - um sorriso de deboche grudou nos lábios de Touya, como se imaginasse a cena – Talvez pudéssemos ter uma conversa desse tipo novamente.

-Eca! – Sakura torceu o nariz.

-É, eu sei. Uma imagem repulsiva – Touya alfinetou dando seta para entrar no estacionamento.

O carro morreu na curva. Certamente pela brisa gelada e esquisita do litoral, que estava deixando o cabelo de Sakura pavoroso. A franja ficava mais cheia e todo o resto apontava para direções indefinidas. Esse foi o motivo de prendê-lo em um rabo de cavalo e ter escolhido uma blusa com capuz.

-Porcaria – Touya xingou girando a chave na ignição – Como se você já não estivesse atrasada o suficiente.

-Que nada! Você é um péssimo motorista, isso sim. Se me deixasse dirigir ao menos uma vezinha e…

-Sem-chan-ce! – ele praticamente cuspiu as palavras – Acha que fiquei maluco pela quantidade de ar salgado que estou respirando?

-Ar salgado? É assim que chamam os entorpecentes de Tomoeda? – ela soltou um risinho maldoso.

-Muito engraçado.

Touya se virou e acenou irritado. O carro atrás deles buzinava e jogava sinal de luz. Parecia pouco solidário ao problema do motor. Sakura deduzia que se tratava de um aluno cdf que se atrasara para a primeira aula. Ela já ouvira dizer que eles poderiam ficar realmente paranóicos com isso.

-QUAL É A SUA? PASSA POR CIMA!!! – Touya abaixou o vidro e gritou.

-Estamos em uma cidade pequena. Não diga ou faça nada que poderá se arrepender depois.

-Hmm… - ele resmungou, fechou o vidro e conseguiu dar partida, o motor roncou alto – Se está preocupada com isso, acho melhor se manter longe dos pompons e se juntar a turma que come no banheiro.

-Por quê?

-Viu o carro atrás do nosso? – ele arqueou a sobrancelha – Antes era pura implicância, mas agora é sério. Se pretende sobreviver no meio desse pessoal, aconselho a se jogar nos arbustos quando abrir a porta, talvez consiga se livrar de ser o alvo deles pelas próximas duas semanas.

-Ei! – Sakura deu-lhe um soco no braço antes de sair – Sei me defender.

Touya riu de lado e deu de ombros.

-Só estou tentando livrar sua pele, monstrenga.

-Ah, certo. Sei – pegou a mochila no banco de trás – Como se algum dia eu fosse lhe dar ouvidos.

Sakura esperou até que Touya sumisse do seu campo de visão. O conversível roxo que vinha logo atrás fez uma breve pausa e então acelerou. Estava com a capota levantada e os vidros fumês fechados.

Isso não representou nenhuma diferença substancial a garota, apesar de ter procurado um arbusto em volta, caso precisasse se esconder. Virou em direção ao colégio e seu material chacoalhou na bolsa. De repente, sentiu o sangue correndo nas veias e fazendo as mãos gelarem. Seu coração martelando em uma tentativa inútil de sair do peito. Estava exatamente com aquele tipo de sensação que se tem ao entrar na sala de espera de um hospital. O tipo de ansiedade pré-notícia. Você torce para que tudo fique bem, mas sabe que existe a possibilidade de não acontecer assim.

Atravessou o corredor e entrou na sala com a plaquinha onde se lia 'Diretoria' sobre o vidro chamuscado.

-Kinomoto Sakura – gaguejou para a mulher do outro lado do mesa – Vou fazer o segundo ano, acabei de ser transferida da província de Osaka.

A mulher ergueu os olhos para Sakura. Ela devia ter por volta dos trinta e poucos anos. Seu cabelo ondulava em volta do rosto miúdo e a pele bronzeada parecia finalmente começar a perder a coloração dourada do verão.

-Kinomoto… Kinomoto – a mulher procurou em uma lista – Kinomoto… Kinomoto Sakura – bateu com as unhas pink sobre o que deveria ser o nome – O diretor irá recebê-la em um instante – apontou uma cadeira no canto – Sente-se e aguarde.

Ela a acompanhou com o olhar até que Sakura obedecesse. Depois se voltou para a tela do computador e tomou um longo gole em uma caneca com desenhos de origamis. Parecia entretida com a leitura que fazia, vez ou outra seu semblante se transformava em pura surpresa ou divertimento.

Sakura abriu a mochila e colocou os fones de ouvido. Pegou "A Divina Comédia" e abriu no local marcado. Touya implicava com ela quando entrava nesse mundinho. Dizia que era o mesmo de estar conversando com uma parede. Ela tentou prender o riso imaginando se o irmão estaria se saindo bem na faculdade. Sabia que ele andava com o humor de um leão faminto. Certamente teria muito que contar quando se encontrassem no jantar.

-Kinomoto Sakura? – um senhor baixo e sorridente parou diante dela – Sou o diretor Sato. Sato Eichiro.

-Oh, sim… - ela ergueu a mão para ele, sem saber como reagir.

-Adoraria apresentar-lhe nossa escola, mas infelizmente estamos sem tempo – seus olhos se apertaram em um sorriso forçado enquanto imitava o gesto da menina – Tive problemas com o atraso de um aluno. Espero que compreenda.

-Perfeitamente diretor Sato – Sakura engoliu a seco.

-Como forma de penitencia, já que estamos apenas no começo do ano letivo – ele pigarreou – Essa gentil aluna irá acompanhá-la até sua sala – ele estendeu a mão em direção a porta.

Uma garota alta e magra surgiu com os olhos ardendo em raiva. Sua atenção voltada para a estranha à sua frente. Ela transparecia sua completa aversão em ter de servir de guia para a novata.

Os joelhos de Sakura bambearam, talvez por ela relacionar o sobretudo roxo ao conversível que vira pouco antes de entrar no colégio.

Uma das metas que traçara para si era passar despercebida. Tirar boas notas. Ninguém precisava saber seu nome. Nem ao menos exigia amigos e não teria problema algum fazer trabalhos de grupo, sozinha.

-Faremos o seguinte – ele caminhou até a mulher em sua mesa e pegou uma caderneta – Aqui estão seus horários de aula e um pequeno guia das instalações do colégio. Tenho certeza que não encontrará problema algum para se situar. A Srta. Meilin irá acompanhá-la – entregou a caderneta.

Sakura assentiu guardando o livro e o i-pod dentro da bolsa, depois deu uma rápida conferida no conteúdo da caderneta. O diretor Sato guiou-as até a porta e deu suas boas vindas, deixando-as sozinhas no corredor. Por um instante, Sakura chegara a conclusão que Sato Eichiro era um homem tenso e arredio apesar de sempre apresentar um sorriso nos lábios.

A garota com longos cabelos negros presos em dois coques apertados, começou uma caminhada apressada. Ela andou alguns metros e parou diante de uma porta.

-Esse é o senhor Terada Yoshiyuki, professor de matemática – apontou para o homem que escrevia no quadro.

Sakura concordou, imaginando se deveria simplesmente agradecer e entrar ou se fariam uma excussão por toda a instituição. Adoraria matar uns tempinhos da primeira aula. Não era a maior fã da matéria, mas a menina a sua frente parecia não ser sua maior fã também.

-O que está esperando? Balões e doces? – Meilin cruzou os braços – É sua primeira aula, garota.

-Eu sei.

-Então entra – ela girou, fazendo menção de deixar Sakura – Só para constar, não estou sendo gentil, prestativa ou seja lá o que for – ela olhou por sobre o ombro – Temos conta a acertar por essa manhã.

-Como é?

-Você ouviu, sei que não é idiota – Meilin sorriu – Roubei sua ficha, menina do Land Rover.

Uma pedra de gelo caiu no estômago de Sakura. Seus olhos se fecharam e uma onda de náusea subiu até sua boca. Quando finalmente encontrou estabilidade em meio as suas reações, Meilin já havia sumido.

Sakura balançou a cabeça e entrou na sala. Analisou os rostos de seus colegas procurando por qualquer sinal de que pretendiam organizar um motim para destruir a novata. Mas eles pareciam apenas… curiosos. Ela era a atração principal no picadeiro, não devia esperar por menos.

-Gostaria de se apresentar para a turma? – o professor Terada perguntou quando ela aproximou de sua mesa.

Negou com um movimento discreto de cabeça. Seu rosto começando a esquentar. A conversa com a menina a deixara em estado deplorável. O professor Terada abaixou-se e sussurrou-lhe:

-Façamos assim. Digo seu nome e você se senta ali – ele olhou em direção a uma carteira vaga no fundo, próximo a janela.

-Obrigada – grunhiu nervosa, mas extremamente agradecida por ele lhe poupar daquele papelão.

Ela não tinha talento com pessoas. Jamais soube lidar com qualquer um fora do seu convívio social. E demorou mais do que a grande maioria das meninas a entender que bonecas eram melhores do que brincadeiras que prejudicassem o cabelo. Como bolinhas de papel mastigadas cuspidas de canetas e o trote do chiclete.

-Classe – o professor Terada chamou a atenção da turma para si, o que foi totalmente irrelevante já que ninguém fez mais do que dar uma espiada rápida – Essa é a senhorita Kinomoto Sakura – uma menina ao fundo ergueu a mão – Sim?

-Kinomoto Sakura? – a menina franziu a testa cheia de dúvidas.

-Sim. Kinomoto, certo? – ele conferiu a caderneta e depois esperou a confirmação de Sakura.

Houve um momento de completo silêncio, dava-se quase para ouvir as gaivotas sobrevoando o meio do oceano há quilômetros dali, mas então tudo se tornou um enorme murmurinho.

"Certo! Eu devia mesmo estar parecendo uma punk esquisitona. Talvez devesse ter colocado o casaco azul celeste em vez do preto." Sakura concluiu esforçando-se ao máximo para parecer neutra.

-Turma! – o professor chamou – Turma!

Suas sobrancelhas se juntaram e a imagem de um homem perdendo a paciência se revelou. O professor Terada era o tipo de pessoa tranqüila, apesar de dar aulas de matemática.

-Posso me sentar? – Sakura perguntou, aproveitando que ninguém parecia se interessar em saber mais alguma coisa a seu respeito.

-Claro – ele sorriu amistoso e inquieto.

Puxando a manga sobre as mãos, ela lutou para evitar contato visual com qualquer pessoa ali. À medida que ia seguindo pelo corredor, os pescoços se torciam a acompanhando.

"Deus! Essa manhã prometia ser longa.", concluiu.

Fixou o olhar no quadro depois de chegar à carteira. Queria mesmo se perder na paisagem, só que desconfiava que se fizesse o papel de avoada no primeiro dia não pegaria bem. Todos ali já pareciam ter impressões demais a seu respeito. Passou o tempo inteiro fazendo anotações e ignorando as insinuações nos risinhos dos colegas. Quando parecia que não seria o ponto mais interessante da aula e os vizinhos de carteira começavam a se habituar a nova aquisição da classe, o sinal tocou.

A tortura recomeçaria.


N/A: Sei que não estou terminando nada, mas tenho meus motivos. Peço mil e uma desculpas a todos vocês. A grande maioria vai estar em prova e não conseguirá ler essa fic, o que é bem triste, mas tudo bem. Vou me esforçar ao máximo para concluir, já que as outras estão 'fechadas'. Mais comentários, no capítulo seguinte (que, felizmente, já está prontinho, liberado para revisão).

N/R: Surpresa!! Parece que nossa autora finalmente teve um surto de inspiração e por isso temos mais uma fic.
Bom "A irmandade" é uma fic divertida que eu acho que vocês vão gostar bastante.
Como revisor esse capítulo me agradou apesar de detalhista ele está bem leve.
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(Sejam criaturinhas caridosas, onegai)