Aiolos estava sentado na frente de Casa de Sagitário. Uma das coisas que ele mais gostava naquela altura era a vista. A sempre bela e ensolarada Grécia era vista praticamente em sua totalidade dali.
Com o calor e a leve brisa do ambiente, dava pra se sentar e relaxar como se só existisse ele e a costa da Grécia bem à sua frente.
- Você realmente gosta muito de olhar pra lá, não é, Aiolos? – uma voz calorosa e tranqüila corta o silêncio.
- É. Faz a gente pensar que não existe mais nada no mundo a não ser o tempo livre pra fazer qualquer coisa. Até ficar aqui, parado – respondeu o cavaleiro com um sorriso – Lá da casa de Áries não tem essa vista né? Uma pena.
- Não. Mas pelo menos se esqueço alguma coisa quando saio não preciso subir nove lances de escada! Hahaha – Mu dá uma risada despreocupada. – Se bem que, no meu caso, eu não subiria de qualquer jeito. :)
- É, nesse ponto sou obrigado a concordar com você, Mu.
Faz-se um breve silêncio.
- Aiolos, como vai aquela sacerdotisa que encontramos semana passada? – O cavaleiro de Áries olha de soslaio para o amigo, jogando verde pra colher maduro...
- Ah..., "que" que tem? – Bingo! Mu já estava acostumado; toda vez que o amigo respondia assim estava mesmo era tentando ganhar tempo; Aiolos tinha o raciocínio rápido demais pra não responder logo de uma vez uma perguntinha tão inocente.
- Nada. Só pensei que tivessem ficado amigos... – Aiolos prende a respiração com essas palavras. Recobra a calma e faz menção de responder, mas é interrompido por Mu que continua, dando uma de desintendido – é que como ela se dispôs a dar algumas aulas de astronomia pro seu irmãozinho...
Mu, está morrendo de vontade de rir. Percebe a falta de jeito de Aiolos e se diverte com isso. Ele tem uma aparência quase séria, com um olhar nobre, independente, mas no fundo, esconde um lado criança-sem-medo-de-ser-feliz que não gosta muito de mostrar a qualquer um.
- Pois é, mas eu disse ao Aiolia que se quisesse, eu o levaria até aquele Santuário para visitá-la. Eu poderia ensinar isso a ele aqui mesmo, mas sabe como é... Ele é uma criança e mais do que treino, também precisa de alguma distração. Conhecer outros ambientes fará bem a ele.
Inocente...
- Mmmm... – Mu resmungou com um aceno de cabeça.
- Por quê a pergunta? – sorria o sagitariano.
- Por nada. Achei interessante ela ser uma sacerdotisa de Athena, uma das deusas virgens da Grécia, e não ter votos de castidade.
- Nem todo templo de Atena é reservado para Atena como virgem. Claro, as sacerdotisas desses cultos jamais a representam perante a sociedade, mas apenas servem a Deusa no propósito que ela lhe designar. Seja lá como for.
- Acho isso de certa forma muito parecido com os cavaleiros. – Mu fixa os olhos no nada enquanto reflete sobre o que disse.
- Nós? – Aiolos se espanta, franzindo o cenho. Tenta se lembrar da moça (sem muito esforço, é verdade; não tirou sequer o perfume dela da cabeça, o que dirá o rosto!): um vestido simples, branco, de linhas gregas, cabelos louros e levemente ondulados presos num rabo de cavalo frouxo. Entre o aço e as margaridas obviamente a moça estava mais para essas últimas; simples, delicada e alegre...
- Aiolos, essas moças estão à mercê da vontade de Athena assim como nós. Se preciso for, morrem por ela. Não creio que sejam tão indefesas e delicadas, criaturinhas simples como parecem... – Oooooops! "Mu!" Pensou o cavaleiro consigo mesmo. Captou o brilho no olhar do amigo e inconscientemente tratou de responder algo que ele sequer havia dito.
Talvez ele não se desse conta. Aiolos sempre achava que as pessoas eram cheias das melhores intenções, e no entanto, o ingênuo costumava ser ele.
- Ééé... – disse por fim longamente, raciocinando um pouco. – Tem razão. Sacerdotes e guerreiros, em alguns casos, tão distantes, estão sempre preparados para atender a decisão dos Deuses. Algo nos aproxima.
- O quê?
- Anh? Nada! – Atordoado. Pensou alto.
