Certos sentimentos não poderiam ser suprimidos.
Ele sabia disso. E também conhecia as implicações de fugir dessa regra.
"Eu quero!"
Querer. A vontade não aceitava ordens. Era como uma criança mimada que acha que o mundo lhe pertencia. E, para ele, a emoção era a mesma.
Detestava ver o mais velho escolher suas roupas, dizer como deveria se portar e como agir. Estava cansado de tantas regras que não pareciam ter sentido.
Não que fosse ingrato. De início, ele era seu ídolo. Tudo o que almejara ser.
Mas... Sua natureza era a mesma que uma águia. Selvagem e livre, ansioso para conquistar novos horizontes.
E, nisso, entrava as restrições de seu irmão.
Doía ter que dizer "não". Ele sofria ainda mais por ter que planejar tamanha traição.
Todavia, ele não queria trair. Apenas...
Não havia outra maneira.
Naquela noite chuvosa, poderia ter feito qualquer discurso, pois não adiantaria.
E, limpando seu porão, finalmente disse o que deveria ter dito naquela época.

- Você não notou, mas eu cresci. Eu precisava de espaço ou jamais... Jamais superaria você.

Olhou para as mãos, com um sorriso triste a adornar suas feições.

- Eu nunca poderia te alcançar...

"E, com aquele sorriso que me dava sempre... Eu nunca poderia dizer o quanto suas limitações me irritavam... E..." - estremeceu ao lembrar. – "A sua comida era..."

- América-san...?

A voz ansiosa reprimiu suas lembranças.

- Ah, Lituânia. – Quando seu hospede serviu o café, fez a pergunta que tanto o angustiava. – Você acha... Acha errado eu ter me tornado um país independente...?

O outro pensou por alguns instantes antes de responder.

- Não, acho que é sinal que amadureceu, América-san. É preciso coragem para admitir que sabe cuidar de si mesmo... E acho que um dia, Inglaterra-san irá entender...

América olhou para sua xícara e sorriu. Por enquanto, era a única resposta que ansiava ouvir.

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- Ei, Lituânia... Vamos dormir juntos hoje?

- Eh? Qual o problema?

- Hn... Bem... – América fechou os olhos, tentando não demonstrar o que o estava deixando tão assustado. – U-Um filme...

- Ah... Entendo... – Lituânia concordou sorrindo, achando graça do fato de, apesar de ser uma potência e parecer tão maduro à tarde, América também tinha um lado bastante sensível.
O loiro por sua vez, estava feliz por conseguir companhia. Passou a ouvir a história de Lituânia, esquecendo parte do filme que havia visto. Pelo menos, era melhor que Inglaterra que costumava deixá-lo sozinho ao adormecer...
"Agora, terei alguém para me fazer companhia" – pensou, feliz. "Quanto tempo será que ficaremos acordados? Será que ele vai me esperar adormecer? Lituânia é bem gentil, acho que fará isso por mim... Principalmente porque EU disse que iria apoiá-lo... E... O mais podemos fazer para passar o tempo? Acho melhor perguntar..."

Aos poucos, porém, ouviu a voz do outro sonolenta, morrendo aos poucos...

- Ah! Lituânia, não durma!! Eu fico assustado sozinho!!! Ei, Lituânia!!!

- Lituânia!! – Segurou o ombro dele e sacudiu, mas Lituânia respondeu apenas com alguns murmúrios desconexos.

... E assim, América aprendeu que nem todas as respostas de Lituânia serviam para aliviar seus temores.

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Observações: Adaptei parte do episódio 20 e a parte extra do mangá.