Há vinte anos, na pequena cidade japonesa de Suna, nascia uma flor. Seu nome: Haruno Sakura.

Os jovens Yuhi e Saeko eram casados há dois anos e estavam muito felizes com a chegada da primeira filha. A garota havia puxado a mãe, principalmente nos seus belos cabelos cor de rosa que Yuhi apontava como a causa do amor que sentia pela mulher. Do pai mesmo, tinha os olhos verdes vívidos e iluminados.

A pequena Sakura crescia cercada das atenções de seus pais e outros familiares mais distantes. Saeko era uma dona de casa e Yuhi trabalhava em uma fábrica, de modo que mesmo sendo pessoas simples, nada faltava em sua mesa.

Quando a filha tinha quatro anos, descobriram que Saeko estava grávida pela segunda vez. Iago nasceu prematuro. Conforme o tempo passava mais os irmãos ficavam próximos, Sakura sentia-se responsável por ele que tinha feições muito parecidas com as suas, exceto os cabelos que eram castanhos como os do pai.

Iago tinha quatro e Sakura oito quando percebeu que algo errado estava acontecendo. O irmão começou a ter desmaios e sinais estranhos na pele. Ela não entendia muito o bem o que estava acontecendo, ouviu a mãe dizer que o caçula tinha uma coisa chamada... Tumor.

Sim, descobriram que ele tinha um câncer maligno na cabeça e na época, o único hospital que fazia a cirurgia era o de Tóquio. Yuhi juntou todas as suas economias e levou o filho até o hospital.

Quando estava prestes á entrar na sala cirúrgica, o pequeno estendeu a mãozinha chamando pela irmã:

– Oneesan amo você. –disse inocentemente com sua doce voz de criança fragilizada.

– Também te amo otouto. –respondeu sentindo as lágrimas quentes descerem por seu rosto e uma sensação de angústia, uma forte dor no peito e quando deu por si estava caindo no chão, seus olhos ficando embaçados enquanto levavam seu irmão na maca para o centro cirúrgico e seus pais gritavam seu nome.

Quando despertou a mãe estava ao seu lado numa cama de hospital, os olhos vermelhos de tanto chorar e cercados pelas olheiras. Mais tarde seu pai entrou com a mesma expressão em seu rosto:

– Sakura... –sua mãe começou, mas incapaz de dizer o resto.

– Seu otoutosan... Iago não resistiu á cirurgia. –o pai disse de uma vez sofrendo tanto quanto a mulher e a filha ao dizer aquele fato.

A garota começou a chorar novamente, mas não com a mesma intensidade de antes, sabia que àquela hora fora a despedida e isso a preparou para a confirmação.

Desde então a garota se decidira: seria uma grande médica para cuidar e salvar a vida de crianças como seu irmão.

E foi assim de fato, Sakura sempre estudou nas melhores escolas, pois ganhava bolsas por sua dedicação aos estudos.

O dia mais feliz e inesquecível de sua vida foi quando viu seu nome na lista dos aprovados na Universidade de Tóquio no curso de Medicina.

Os pais também depois de muito tempo puderam sorrir e ficar felizes de verdade. Ofereceram um jantar de despedida na véspera de sua partida e aí é que Sakura sentiu a dor de se separar das duas pessoas mais importantes de sua vida:

– Otousan, Okaasan não queria me separar de vocês. –abraçou-os chorando.

– Não fique assim querida, você lutou tanto por essa vaga. Agora tem de ir atrás de sua realização. –sua mãe lhe disse.

– Ficaremos bem e você também ficará. –seu pai completou lhe sorrindo.

Os dois sentiam muito também, mas sabiam que assim como na natureza, havia um momento em que os pássaros deixam seus ninhos e vão viver suas próprias vidas.

Sakura jamais esqueceria também a sensação de quando pisou em Tóquio pela primeira vez. A cidade toda iluminada e colorida, clubes de karaokê por toda parte e pessoas de diferentes e até duvidosos estilos em um único lugar.

Com o dinheiro que seu pai havia dado para que sobrevivesse durante um tempo, Sakura alugou um apartamento com uma garota que conhecera na internet.

Seu nome era Yanamaka Ino e era estudante de Direito, embora não tivesse nenhuma vocação para isso e só o fazia por pressão do pai que era dono de um grande poço de petróleo no Texas.

Mesmo não precisando dividir o apartamento, anunciou a vaga por não querer ficar sozinha. Se bem que encontrar companhia não era algo difícil para Ino. A loira de olhos azuis celestes e corpo bem curvilíneo ia sempre pra balada e muitas vezes só voltava na manhã do dia seguinte com um sorriso no rosto. Tinha um estilo bem chamativo, pois usava sempre roupas curtas, decotadas e justas.

Não tinha medo de dizer o que pensava, diferente de Sakura que guardava á si mesma para não magoar ou passar uma imagem ruim de si própria. Mesmo com suas diferenças, se tornaram melhores amigas.

Após os dois primeiros anos na faculdade, Sakura trabalhava no consultório de uma das principais médicas do país: Tsunade. A loira era sua professora na universidade e mesmo com seu jeito orgulhoso e durona de ser, tinha pegado uma grande afeição pela aluna que apesar de ser bolsista era a que mais se dedicava á aprender, e depois de saber o motivo pelo qual a garota queria tanto se tornar médica, decidiu contratá-la. Sakura então era encarregada pelos exames e aplicar medicamentos e anestesias.

Podemos dizer então que Sakura tinha uma boa vida em Tóquio, exceto pelo fato de ficar um semestre inteiro sem ver seus pais e uma ruiva chamada Karin, aluna da faculdade, ficar pegando no pé dela:

– Assim fica fácil tirar notas boas, bajulando os professores no próprio emprego. –provocava enquanto a rosada caminhava pelo campus ignorando a ruiva. – Vai ver que se acha tão importante que nem se dá ao trabalho de responder, sabe que estou certa.

– Como a inveja é algo perigoso! Há uma grande diferença entre ser puxa-saco como você e dedicada como a Sakura sua ruiva idiota. –Ino apareceu ao lado da amiga escutando as palavras da outra e não se conteve.

– Olha só quem está caindo de paraquedas! A mais vadia de todo o campus. –retrucou mudando o alvo de suas provocações.

– O que eu sou ou deixo de ser não lhe interessa, mas não posso fazer nada se você é mal-amada. –a loira declarou sorrindo e mudando de direção deixando uma Karin muito sem graça perto de seus amiguinhos.

– Sinceramente, eu não sei como você aguenta isso.

– Tenho a esperança de que um dia ela irá se cansar disso. Obrigada por deixá-la constrangida.

– De nada Cherry, amizade é para isso! –sorriu-lhe.

Na manhã seguinte, Sakura estava na cozinha preparando o café da manhã quando Ino entrou com o vestido desarrumado e os sapatos nas mãos se jogando no sofá.

– Como foi a noite?

– Melhor impossível. Devia me acompanhar Cherry, não sei como com esse corpão e esses olhos verdes não tem ninguém interessado ainda.

– Ino querida não estou á procura. Sem contar que encontrar alguém agora só atrapalharia meus estudos.

– Você é mesmo muito nerd! –exclamou indignada.

A garota sorriu e foi se arrumar para mais um dia de trabalho.

Pegava o metrô lotado e quando chegava ao consultório organizava os resultados dos exames e arrumava tudo.

Tsunade chegou vestida de branco e óculos escuros. Era vaidosa, não parecia ter a idade que tinha, pois já havia feito várias cirurgias plásticas.

– Ohayou Tsunade-sama.

A loira respondeu-lhe com um aceno.

– Hoje só há consultas agendadas, sem procedimentos cirúrgicos. –informou e diante do silêncio ia se retirar quando a loira lhe chamou.

– Sakura. Seu desenvolvimento aqui tem sido bem satisfatório. –disse com sua postura profissional.

– Arigatô. –agradeceu, sabia que no fundo a loira estava orgulhosa de si.

Ao fim do expediente, passou em um restaurante que havia por perto, depois foi para casa, tomou um banho e foi com Ino para a faculdade, no seu nada discreto conversível cor de rosa.

Após mais uma noite de indiretas de Karin e muitas teorias complicadas, encontrou-se novamente com a amiga que lhe implorou:

– Cherry, por Kami! Você tem que vir comigo no coquetel de amanhã.

– Mas porque sua presença é tão importante lá?

– Os maiores empresários do Japão irão e eu tenho que representar meu pai. Mas você sabe que não gosto desse tipo de coisa, é muito sem graça! Por favor, me acompanhe!

– Ino eu nunca fui á um evento desses. –argumentou.

– Não importa, você é educada e estará comigo não precisa se preocupar com figurino nem nada, providenciarei tudo.

– Está bem porquinha. –concordou.

– Eu sabia que podia contar com você Cherry! –gritou abraçando-a.