Olá, bem vindos a minha nova história.

Dessa vez, eu peguei o enredo do livro 'Quando você chegou", da autora Lisa Kleypas. Espero que gostem

Impulsiva e selvagem, a bela Isabella Swan se delicia em chocar a afetada sociedade de Londres, — E irá quebrar qualquer regra para expor sua independência. E agora ela está determinada a resgatar sua indefesa irmã de um indesejado casamento que está por vir com Lorde Edward Cullen, o arrogante Conde de Masen. Através de honrados e ilegais meios, a teimosa e criadora de problemas tem um escandaloso sucesso. — Mas seu belo adversário, não está acabado. Um hábil apostador, o Lorde Edward contra ataca o desprezo de Bella com carinho, e se defende de suas furiosas farpas com palavras gentis e um suave, sensual toque. Ele decidiu fazer a impetuosa moça pagar um preço alto por sua interferência. — Com seu corpo, sua alma... E seu teimoso, resistente coração.


Capítulo Um

Londres, 1820

— Maldita seja, maldita seja! Aí vai esse traste!

Cada rajada de vento arrastava uma corrente de palavras más que escandalizavam os convidados da festa, reunidos na cobertura do navio. O iate se achava ancorado no meio do Támesis, e o ato se celebrava em honra do Rei Jorge. Até esse momento a festa tinha estado um tanto opaca, embora elegante, já que correspondia a todo mundo que tinha gabado as excelências do magnífico iate de Sua Majestade.

O iate, com sedas, madeira de mogno de primeira qualidade, matizadas com lustre de vidro, esfinges douradas e leões esculpidos em cada esquina era um autêntico palácio flutuante ideal para o tempo livre. Os convidados tinham bebido muito para manter esse estado de ligeira euforia capaz de substituir um sentimento de alegria real.

Provavelmente a multidão ali reunida teria sido melhor se não estivesse tão fraca a saúde do Rei. A recente morte de seu pai, junto a um penoso ataque de gota, estava passando por um estado de desânimo que não era habitual. O Rei procurava rodear-se de gente capaz de proporcionar a alegria e diversão necessárias para aliviar sua sensação de solidão. Por esse motivo, conforme diziam, queria expressamente a presença da senhorita Bella Swan naquela festa em seu navio. Tal como tinha dito, uma jovem lânguida, viscondessa, era só questão de tempo para a senhorita Swan começasse a causar alvoroço. E como de costume não despojou absolutamente.

— Que alguém o agarre maldita seja! — Ouviu Bella gritar por cima do rumor das risadas. — O fluxo está afastando do navio! — Os cavalheiros, vendo-se livre por fim do tédio, precipitaram-se para o lugar de onde provinha o alvoroço. As damas protestaram ao ver seus cônjuges correrem em direção à proa, onde Bella, pendurada no corrimão, contemplava um objeto que flutuava na água.

— Meu chapéu favorito — Explicava Bella em resposta à sucessão de perguntas, assinalando o chapéu com um ligeiro movimento de sua delicada mão. O vento o levou! — Voltou-se então para a multidão de admiradores, dispostos a consolá-la. Mas ela não desejava amostras de simpatia, mas sim que recuperassem o chapéu.

Olhou os rostos um a um, sorrindo com picardia.

— Quem irá se comportar como um autêntico cavalheiro e me trazer o chapéu. — Tinha atirado o chapéu pela murada de propósito, e via que os cavalheiros, suspeitavam que aquilo não fosse mais que um estratagema, mas não interrompia seus galantes oferecimentos.

— Me permita — Gritava um.

— Não — Dizia outro ao mesmo tempo em que despojava teatralmente do chapéu e do casaco. — Insisto em ser eu quem tenha o privilégio.

Imediatamente iniciou uma discussão, já que ambos estavam decididos a satisfazer os desejos de Bella. Mas, precisamente nesse dia as águas estavam agitadas, e bastante frias para pegar um bom resfriado. E, ainda mais importante, a imersão significaria estragar um traje muito caro.

Bella contemplava a rivalidade que tinha provocado com um sorriso.

Os homens seguiam gesticulando e proferindo frases cavalheirescas. Alguns deles disposto a recuperar o chapéu.

— Vá — Murmurou ela e olhou fixamente aos cavalheiros. Teria merecido todo seu respeito, qualquer que os tivesse mandado ao inferno, argumentando que o ridículo chapéu rosa não justificava semelhante alvoroço, mas nenhum se atreveria a fazer. Se estivesse ali Jacob Black teria rido ou teria dado um audacioso olhar que ela não tinha mais remédio que a rir como uma tola. Ambos compartilhavam o mesmo desdém por esses esnobes indolentes e perfumados.

Bella suspirou e olhou o rio, que aparecia com uma tonalidade cinza escura e agitada sob o céu nublado. Na primavera as águas do Támesis eram muito frias. Deixou que a brisa acariciasse seu rosto, e fechou os olhos. O vento alisou durante um momento seu cabelo, mas logo os brilhantes cachos escuros recuperaram sua habitual e volumosa desordem. Pensativa, Bella tirou o diadema. Seu olhar seguia as ondas rompendo contra o lado do iate.

Mamãe... — Sussurrou uma vozinha em sua cabeça. Bella estremeceu ao recordar, não podia evitar.

De repente percebeu, como se fosse real, os bracinhos agarrando seu pescoço, um delicado cabelo acariciando o rosto e o peso de uma menina no colo. O sol da Itália esquentava a nuca e os grasnidos de uma procissão de patos se derramavam sobre a superfície cristalina do lago. — Olhe, carinho — Murmurou Bella. — Olhe os patos. Vêm ver!

A menina se agitou excitada. Levantou sua mãozinha gorda e estendeu um minúsculo dedo assinalando os presunçosos patos. Logo seus olhos escuros olharam para Bella e o sorriso revelou dois dentinhos.

P — Exclamou e Bella pôs-se a rir.

Patos, carinho. Muito bonitos. Onde colocamos o pão que trouxemos para dar a eles? — Meu Deus, acredito que me sentei em cima... Uma nova rajada de vento levou aquela imagem tão agradável. Bella tinha os olhos úmidos e uma dolorosa pontada no coração.

— Oh, Nicole — Murmurou. Respirou fundo para tirar aquela opressão, mas se negava a desaparecer. O pânico fez presa dela. Às vezes agüentava com um gole ou distraindo-se com o jogo, mexericos ou com as caçadas, mas não eram mais que alívios temporários. Necessitava de sua menina.

"Minha pequena... Onde estas...? Encontrar-te... Já vem mamãe, não chore, não chore..." O desespero a afligiu. Tinha que fazer algo imediatamente ou ficaria louca.

Olhou os homens que tinha ao seu redor e rindo as gargalhadas descaradamente se desfez de seus sapatos de salto alto. A pluma rosa do chapéu seguia sendo visível em meio das águas.

— Meu pobre chapéu está a ponto de afundar. — Gritou ao tempo que passava as pernas por cima do corrimão. — Vá cavalheiros. Terei que recuperá-lo eu mesma! — E antes que alguém pudesse detê-la se lançou à água.

O rio se fechou sobre ela com uma onda. Algumas mulheres começaram a gritar. Os homens examinavam com nervosismo as águas agitadas.

— Meu Deus — Exclamou um deles. O resto ficou sem fala. Inclusive o Rei, informado dos acontecimentos por sua governanta, aproximou-se para olhar, andando como um pato, recostou seu enorme corpo sobre o corrimão. Lady Conyngham, uma formosa mulher de cinqüenta e quatro anos que se converteu em sua última amante, chegou junto a ele e exclamou:

— Já havia dito isso: essa mulher está louca! Que Deus nos ajude.

Bella permaneceu sob a água mais tempo do que o necessário. O frio paralisava seus membros e o peso do vestido a arrastava para uma misteriosa escuridão. Pensou que seria fácil deixar-se levar... Afundar, deixar que a escuridão se apoderasse dela... Mas um brilho de pânico fez com que seus braços entrassem em ação e a impulsionassem para a fraca luz que havia acima. Subiu agarrando o chapéu, e quando saiu à superfície pestanejou e aspirou baforada de ar. A sensação de frio era tão intensa que provocava pontadas de dor. Os dentes batiam, mas conseguiu esboçar um sorriso trêmulo. E olhou o surpreso público reunido na cobertura do iate.—

Peguei! — Gritou, mantendo o chapéu no alto em sinal de vitória. Minutos mais tarde vários pares de mãos ansiosos tiraram Bella do rio. O vestido grudado em seu corpo revelava uma figura esbelta e deliciosa. Um suspiro percorreu a multidão reunida no iate. As mulheres a observavam com inveja e desaprovação, já que não havia mulher em Londres que os homens admirassem mais. Estavam acostumados a sentir pena e desprezo pelas que se comportavam como ela, mas Bella...

Faça o que fizer, não importa a atrocidade que seja, os homens a adoram! — Queixou-se Lady Conyngham. — Leva com ela o escândalo. Se tratasse de qualquer outra mulher, já teria sucumbido. Nem meu querido Jorge se atreve a censurá-la.

— É que se comporta como se fosse um homem — Replicou Lady Wilton com amargura. — Joga, caça, amaldiçoa e fala de política. Adoram a novidade de uma mulher com ares tão masculinos.

— A verdade é que sua aparência não tem nada de masculino — Protestou Lady Conyngham, observando as formas delicadas que as roupas encharcadas punham em evidência.

Uma vez convencidos de que Bella estava sã e salva, os homens reunidos ao seu redor estouraram em gargalhadas e aplausos louvando sua valentia. Bella separou os cachos molhados dos olhos, sorriu e fez uma reverência.

Bom, era meu chapéu favorito. — Disse olhando o maltratado objeto que levava na mão.

— Caramba! — Exclamou com admiração um dos homens. — Você não tem medo de nada, verdade?

— De nada — Respondeu ela, provocando mais risadas. A água escorria pelo pescoço e costas abaixo. Bella se virou e sacudiu energicamente sua cabeça ensopada.

— Seria algum de vocês tão amável de me aproximar uma toalha, ou, melhor, de me trazer algo quente antes de morra de...? — Sua voz foi desvanecendo ao observar através da cortina de seus molhados cachos uma figura que permanecia imóvel.

A agitação ao seu redor era inverossímil. Homens em busca de toalhas, bebidas quentes, com tanto que se sentisse a gosto. Mas aquele, a uns metros dela, seguia quieto. Bella se endireitou muito devagar, devolveu o cabelo a seu lugar e voltou a olhá-lo. Era um desconhecido. Não tinha nem idéia de por que estava observando a daquele modo. Estava acostumada a olhares de admiração dos homens... Mas aquele tinha na boca um ar de desaprovação. Bella seguiu examinando-o, sem deixar de tremer.

Jamais em sua vida tinha visto um cabelo tão dourado. A brisa agitava suas mechas revelando feições aristocráticas e tremendamente duras. A frieza de seus olhos, tão claros e luminosos, era tal que Bella pressentiu que podia cegar. Somente quem sofreu o mais amargo desespero é capaz de reconhecê-la.

Bella, profundamente consternada pelo olhar do homem, deu as costas e sorriu alegremente para os admiradores que se aproximavam carregado de toalhas, capas e bebidas quentes. Separou de sua cabeça qualquer pensamento relacionado com o desconhecido. A quem demônios importava a opinião que esse afetado aristocrata tivesse dela?

— Senhorita Swan — Comentou Lorde Bennington com expressão preocupada, temo-me que vai pegar um resfriado. Se acontecer, ofereço-me a levá-la a terra em um bote.

Bella fez um gesto de assentimento, agradecida, já que batiam tanto os dentes que era impossível beber. Agarrou pelo braço Lorde Bennington com sua mão azulada e o puxou para que baixasse a cabeça. Aproximou seus lábios frios ao ouvido.

— Dê pressa, por favor. C-creio que fui que i-impulsiva. Mas não recomendo, ninguém a fazer.

Edward Cullen, com reputação de homem tremendamente disciplinado e distante, achava-se naqueles momentos lutando por reprimir a inexplicável cólera que sentia. Mulher ridícula... Arriscando sua saúde, sua vida inclusive, com intuito de montar um espetáculo. Deve ser uma cortesã, das conhecidas tão somente em círculos muito restritos. Não teria se comportado desse modo se gozasse de uma mínima reputação a cuidar. Edward separou as mãos e as esfregou contra seu casaco. Sentia uma pressão no peito. A alegre risada, o vivo olhar, o cabelo escuro... Deus, recordava Tanya.

— Conhecia-a? — Perguntou uma voz áspera, com certo tom de ironia. A seu lado estava Sir Evelyn Downshire, um agradável ancião cavalheiro conhecido de seu pai. — Todos os homens que a vêem pela primeira vez mostram a mesma expressão. Recorda-me à marquesa de Salisbury em seus bons tempos. Uma mulher magnífica.

Edward apartou a vista da extravagante criatura.

— Eu não vejo nada de admirável — Respondeu friamente.

Downshire pôs-se a rir mostrando sua cuidada dentadura postiça de marfim.

— Se fosse jovem, tentaria seduzi-la. — Disse. — Faria inclusive agora. É o último exemplar de sua espécie, já sabe.

— Que espécie é essa?

— Em meus tempos havia montões delas, — Afirmou Downshire, com um perito sorriso. Para domesticá-las é necessário ser muito hábil e inteligente...

Edward voltou a olhar à mulher. Seu rosto era delicado, pálido e perfeito, seus olhos escuros, apaixonados.

— Quem é? — Perguntou como em um sonho. Vendo que não obtinha resposta, voltou-se e advertiu que Downshire tinha desaparecido.

Bella saltou da carruagem e se dirigiu para a porta principal de sua casa, em Grosvenor Square. Jamais havia se sentido tão incômoda.

— Está bem empregado — Recriminou-se enquanto subia as escadas. Burton, o mordomo, a observava da porta. — Cometi uma autêntica idiotice. O Támesis era o lugar ao qual foram parar todos os pervertidos de Londres, e, portanto lugar pouco recomendável para um banho. Suas roupas estavam impregnadas de um aroma desagradável, e os sapatos molhados rangiam. Burton franziu a testa ao ver seu aspecto. E aquilo não era normal em Burton, que normalmente tolerava suas desgraças sem que a expressão de seu rosto variasse o mínimo.

Nos últimos dois anos Burton tinha sido a figura dominante da casa, quem estabelecia as regras do jogo, tanto para os criados como para os convidados. Quando recebiam visitas, as maneiras engomadas de Burton, convenciam de que Bella era uma personalidade relevante. Passava por cima suas extravagâncias e suas aventuras, como se não existissem, e a tinha por uma dama, apesar de que ela estranha vez se comportava como tal. Bella era consciente de que nem seus próprios criados a respeitariam se não fosse pela imponente presença de Burton. Era alto, robusto e com o rosto emoldurado por uma barba cinza como o aço. Não existia mordomo em toda a Inglaterra que superasse a perfeita combinação de arrogância e atenção que ele possuía.

— Senhorita, foi boa a festa?

— Estupenda — Respondeu Bella, tentando parecer alegre. Entregou um chapéu de veludo molhado, adornado por uma pluma rosa um tanto maltratada. Ele contemplou aquilo sem pestanejar. — Meu chapéu — Explicou Bella, e entrou na casa deixando a suas costas um rastro de água.

— Senhorita Swan, tem um convidado esperando no salão. Lorde Stamford.

— Emmet está aqui? — Bella parecia encantada.

Emmet Stamford era um jovem inteligente e sensível, seu amigo há muito tempo. Estava apaixonado por sua irmã mais nova, Rosalie. Por desgraça não era mais que o terceiro filho do marquês de Hertford, e isso significava que nunca conseguiria os títulos suficientes nem a riqueza necessária para satisfazer os ambiciosos planos dos Swan. E como estava bastante claro que Bella não se casaria, os sonhos de ascensão social de seus pais se achavam centrados em Rosalie.

Bella mal sabia que sua irmã, estava comprometida com Lorde Cullen, conde de Masen... Um homem ao qual Rosalie não conhecia muito bem. Emmet devia estar sofrendo por isso.

— Quanto tempo Emmet está aqui? — Bella perguntou a Burton.

— Umas três horas, senhorita. Afirmou que se tratava de um assunto urgente, e que esperaria o tempo que fosse para vê-la.

A curiosidade despertou em Bella. Olhou para a porta fechada do salão.

— Urgente? Verei em seguida. Vá até a minha sala do andar superior. Agora tenho que tirar esta roupa molhada.

Burton assentiu com a cabeça sem que a expressão de seu rosto se alterasse. A sala era ao lado do quarto de Bella, e se comunicava com ele mediante uma pequena sala de espera, estava reservada unicamente aos conhecidos mais íntimos. Escassos eram aqueles aos quais era permitido subir, apesar de ser incontável o número de quem pretendia.

— Sim, senhorita Swan.

Para Emmet não foi pesado ter que esperar por Bella. Apesar do nervoso que estava, viu-se obrigado a admitir que havia algo especial no 38 de Grosvenor Square, que fazia com que qualquer homem se sentisse bem ali. Possivelmente o motivo fora o jogo de cores.

As mulheres estavam acostumadas a decorar suas casas com o que estava na moda, com a cor azul pálido, rosa ou amarelo, complementando com frisos brancos e colunas. A moda impunha incômodas douradas com assento escorregadio e sofás com pés tão frágeis que davam a sensação de não poderem resistir ao peso de uma pessoa. Mas a casa de Bella trazia cores quentes e agradáveis e tinha uma mobília sólida que convidava a qualquer homem a pôr os pés em cima. Penduravam nas paredes cenas de caçada, gravados e alguns retratos de um deleitoso gosto. Em sua casa, apesar das reservas de álcool que pudesse ter Bella, eram imprevisíveis (às vezes abundantes e outras escassas), estavam acostumados a celebrar reuniões de escritores, excêntricos, cavalheiros e políticos.

À primeira vista, já que uma das criadas tinha trazido a Emmet uma jarra de conhaque de primeira qualidade em uma bandeja de prata, parecia que naquele mês Bella estava bem sortida. A criada trouxe também um exemplar do Times encadernado e um pires de bolachas. Emmet, completamente acomodado, solicitou, além disso, um bule e se entregou a leitura. Burton abriu a porta no instante em que acabava com a última das bolachas.

— Já chegou? — Perguntou Emmet, levantando-se.

Burton lançou um olhar implacável.

— A senhorita Swan o receberá lá em cima. Se me permite, Lorde Stamford, mostrarei o caminho...

Emmet seguiu pela escada com um corrimão sofisticado e reluzente. Entrou na sala iluminada pelo vivo fogo que ardia em uma pequena lareira de mármore e projetava seu resplendor para as tapeçarias de seda de cor verde, bronze e azul que penduravam nas paredes. Bella fez sua aparição na porta que dava a seu quarto, transcorrido dois minutos.

— Emmet ! — Exclamou, e correu para agarrar suas mãos. Emmet deu um beijo no rosto e seu sorriso se gelou ao dar-se conta de que Bella levava um penhoar e seus pés nus apareciam por baixo do objeto. Era um penhoar do mais modesto, grosso e confortável, com gola de cisne, mas nem por isso deixava de ser um objeto que podia qualificar-se como "Íntimo". Retrocedeu surpreso, não sem antes precaver-se de que Bella levava o cabelo solto e tinha um aroma... Peculiar.

Apesar de tudo Bella estava incrivelmente bela. Seus olhos eram tão escuros como o centro de um girassol, emoldurados por um leque de pestanas largas e cheia. Sua pele era pálida e transparente, e a linha de seu pescoço, pura e delicada. E quando sorria, como naquele momento, seus lábios se curvavam com uma doçura extrema, como se fosse de uma menina angelical. Mas sua aparência inocente era enganosa. Emmet a tinha visto intercambiar os insultos mais sutis com cavalheiros de duvidosa reputação, proferindo inclusive vulgaridades diante de um ladrão de carteiras, que em uma ocasião tentou roubá-la.

— Bella? — Enrugou o nariz ao sentir seu aroma.

Ela se pôs a rir e abanou com a mão.

— Deveria ter tomado um banho, mas disse que te trazia um assunto urgente. Peço-te desculpas... Hoje o Támesis cheirava a pescado. — E ao ver sua perplexidade, acrescentou, — Uma rajada de vento levou meu chapéu na água.

— E você caiu com ele? — Perguntou Emmet, confuso. Bella sorriu.

— Não precisamente. Mas deixemos isso. Quero saber o que é que o trouxe para a cidade. Incômoda, assinalou sua vestimenta.

— Prefere que antes me vista?

Bella ofereceu o mais carinhoso de seus sorrisos. Emmet não mudaria nunca. Seus olhos quentes e castanhos, a sensibilidade de suas feições, seu cabelo tão liso... Sempre recordaria a um menino preparado para ir à igreja.

— Oh, não te ruborize. Não esperava que te mostrasse tão recatado, Emmet. Afinal houve um tempo em que queria se casar comigo.

— Oh, sim, bem... — Emmet franziu o sobrecenho. — Harry foi meu melhor amigo até aquele dia. E quando te abandonou daquela forma tão ruim pensei que fosse atuar como um cavalheiro e pela segunda vez te fazendo aquela proposta.

Essa resposta provocou nela uma gargalhada.

— Segunda? Caramba, Emmet, era um compromisso, não um duelo!— E recusou minha proposta — Recordou ele.

— Menino, você teria se convertido em um infeliz, como Harry. Esse foi o motivo pelo qual me abandonou.

— Mas não desculpa o suficiente para que se comportasse de um modo tão pouco honorável — Argumentou Emmet, muito sério.

— Me alegro de que fizesse. Desde não ter sido assim, não teria tido a oportunidade de viajar por todo o mundo com minha excêntrica tia Sally. E ela não me teria deixado sua fortuna, e estaria... — Bella se interrompeu, suspirou delicadamente e concluiu: — Casada.

Sorriu e se sentou frente à lareira, indicando com um gesto que Bella fizesse o mesmo.

— Naquela época só pensava que me tinham partido o coração. Mas a lembrança de sua proposta é como uma das melhores coisas que me ocorreram. Uma das contadas ocasiões em que um homem se comportou comigo com altruísmo. Na realidade, foi a única. Estava disposto a te sacrificar para salvar meu orgulho ferido.

— É esse o motivo pelo qual seguiste sendo minha amiga durante todos estes anos? — Perguntou Emmet, surpreso. — Sempre me perguntei por que se preocupava comigo, conhecendo tanta gente elegante e experimentada como conhece.

— Oh, sim — Respondeu ela secamente. — Esbanjadores, perdidos e ladrões. Tenho uma boa variedade de amizades. Não excluo, evidentemente, nem à realeza nem aos políticos. — Sorriu. — É, o único homem decente que conheci.

— A decência não me tem feito chegar muito longe, verdade? — Disse ele, tristonho.

Bella olhou surpreendida, perguntando-se qual seria o motivo pelo qual Emmet, um idealista rebelde, mostrava-se tão desconsolado. Algo ia mal.

— Em, tem qualidades maravilhosas. É atraente...

— Mas não bonito — Replicou.

— Inteligente...— Mas não preparado.— O ser preparado vai geralmente unido à malícia e me alegra te dizer que disso não tem nada. E agora deixa já de me obrigar a que te suplique e me conte por que vieste. — Seu olhar se tornou mais afiado. — É por Rosalie, verdade?

Emmet deu um olhar fixo em seus olhos acesos. Franziu a testa e exalou um prolongado suspiro.

— Sua irmã e seus pais estão em Cullen Park com Masen, ocupados nos preparativos do casamento.

— Faltam poucas semanas — Murmurou Bella, esquentando seus pés nus diante do fogo crepitante. — Não fui convidada. A mamãe aterroriza pelo que possa montar uma cena. — Sua gargalhada estava impregnada de melancolia. — De onde tiraria tal idéia?

— Seu passado não é muito recomendável... — Assinalou Emmet, mas ela o interrompeu, impaciente e divertida.

— Sim, naturalmente, já sei.

Fazia tempo que não falava com sua família. Tinha sido ela quem provocara o rompimento fazia anos. Não sabia o que a tinha levado a rebelar-se contra as normas tão arraigadas de sua família, mas já não importava descobrir. Tinha cometido enganos pelos quais jamais a perdoariam. Os Swan disseram que nunca poderia retornar. Naquela época Bella riu em seus próprios narizes da tal proibição, mas agora conhecia o sabor do remorso. Sorriu a Emmet com tristeza.

— Jamais faria nada que pudesse pôr Rose em uma situação comprometedora, nem, que o céu me perdoe pôr em perigo a possibilidade de ter um rico conde na família. O sonho mais desejado de minha mãe.

— Bella, teve oportunidade de conhecer noivo de Rosalie?

— Humm... Não, a verdade. Vi ele em uma ocasião em Shropshire, quando levantaram a proibição. Alto e tristonho isso foi o que me pareceu.

— Se casar-se com Rosalie, a vida dela se converterá em um inferno. — Emmet fez aquela afirmação tão dramática e surpreendente com a esperança de que ela reagisse com viveza. Mas Bella não se alterou. Juntou suas escuras sobrancelhas e ficou observando analiticamente.

— Acima de tudo, Em, devo te dizer que não há nenhuma objeção que valha. Rose se casará com Masen. Jamais desobedeceria a meus pais. Em segundo lugar, não é nenhum segredo que está apaixonado por ela...

— E ela me ama!

— Portanto é provável que esteja exagerando. — Arqueou as sobrancelhas. — Humm?

— Sou incapaz de exagerar com respeito a isso! Masen se comportará com ela de um modo cruel. Não a quer, e eu morreria por ela. Era jovem e melodramático, mas sem dúvida, sincero.

— Oh, Em — Bella sentia compaixão por ele. Cedo ou tarde todos acabam amando alguém inalcançável. — Felizmente ela só necessitara de uma lição para aprender. — Recorda que te aconselhei faz tempo, que persuadisse a Rose para fugir com você. Ou isso ou desonrá-la com o fim de que meus pais autorizassem o casamento. Mas agora já é muito tarde. Encontraram um pombo mais gordo que você para depenar.

— Edward Cullen não é nenhum pombo — Afirmou Emmet pesaroso. — Mas bem parece um leão... Uma besta fria e selvagem que fará infeliz sua irmã pelo resto de seus dias. É incapaz de amar. Rosalie está aterrorizada. Pergunta a qualquer um. Todo mundo vai contar a você a mesma história... Não tem coração. Um homem sem coração. Desses Bella conhecia muitos. Suspirou.

— Emmet, não posso te oferecer nenhum conselho — Disse causando pena. — Quero bem a minha irmã e naturalmente eu adoraria vê-la feliz. Mas não posso fazer nada por vocês dois.

— Poderia falar com sua família — Suplicou ele. — Poderia advogar por minha causa.

— Emmet, sabe que sou uma ingrata. Minhas palavras carecem de peso em minha família. Faz anos que estou mal com eles.

— Por favor. É minha última esperança. Por favor.

Bella observou a expressão de angústia de Emmet e sacudiu a cabeça, impotente. Não gostava da idéia de ser a última esperança de alguém. As suas, fazia tempo que tinham expirado. Incapaz de permanecer sentada por mais tempo, levantou-se de um salto e começou a perambular pela sala. Ele permaneceu sentado, imóvel como um morto.

Depois de um momento de silêncio Emmet disse, com a sensação de que uma palavra mal escolhida representaria sua ruína:

— Bella, pensa em como deve sentir sua irmã. Tenta imaginar o que isto significa para uma mulher que não tem nem sua força nem sua liberdade. Assustada, dependente, impotente... Oh, sei perfeitamente que esses sentimentos parecem estranhos para alguém como você, mas...

Uma cáustica gargalhada o interrompeu. Bella tinha deixado de dar voltas e estava junto à janela coberta de entupidos cortinados. Tinha a cabeça apoiada na parede e uma perna flexionada de tal maneira que o joelho aparecia por entre as dobras de cor marfim do grosso penhoar. Seu olhar era brilhante e zombador e sorriu com ironia.

— Estranhos — Repetiu.

— Rosalie e eu estamos perdidos... Necessitamos da ajuda de alguém para seguir juntos nossos caminhos.

— Querido, que poético é.

— Oh, Deus, Bella, sabe o que é amar? Acredita nisso? Bella deu meia volta e puxou as mechas de seu cabelo curto e emaranhado. Arranhou a frente, irritada.

— Não, não esse tipo de amor — Respondeu distraidamente. Sua pergunta a preocupava. De repente tinha vontades de que partisse, levando seu olhar de desespero.

— Acredito no amor que uma mãe sente por seu filho. E no amor entre irmãos. Acredito na amizade. Mas em minha vida nunca vi um romance que tivesse um bom final. Todos estão destinados a acabar com ciúmes, aborrecimentos, indiferença... — Armou-se de coragem e o olhou com frieza. — Te comporta como faria qualquer outro homem, querido. Faz um casamento de conveniência e logo consegue uma amante que te proporcione o amor que necessite durante todo o tempo que queira mantê-la.

Emmet se encolheu como se acabasse de receber um bofetão. Ficou observando como nunca o tinha feito, acusando-a com olhar aceso.

— Não — Respondia ele, confuso. — Não, é...

— Sou. Mas vou ajudar-te, Emmet. Sou das que sempre pagam suas dívidas e temos uma pendente há muito tempo. — Apartou-se de repente e pôs-se a andar pela sala com renovada energia, lambendo os dedos como se fosse um gato polindo-se. — Deixa que pense... Deixa que pense... Emmet, aturdido diante daquela mudança de atitude, permanecia sentado e a contemplava sem abrir a boca.

— Tenho que ver o Masen — Disse ela friamente. — Quero avaliar a situação pessoalmente.

— Já te expliquei que classe de homem é.

— Preciso formar minha própria opinião. Se descobrir que Masen não é nem tão cruel nem tão horrível como o pinta, abandono o assunto. — Enlaçou seus delicados dedos e os flexionou, como se dispusera a agarrar as rédeas de seu cavalo para iniciar uma caçada.

— Volta para casa, Em. Assim que tenha tomado uma decisão te falarei sobre isso.

E se averiguar que tenho razão? Então o que ocorrerá?— Farei tudo o que esteja em minha mão para te ajudar a recuperar Rose.


Olá !

I`M BACK !

Mas estou entediada com as outras histórias, tenho lido muitas de época, e elas encaixam perfeitamente com nosso casalzinho, entãão, espero que vocês estejam tão animadas quanto eu !

Quem puder, dá um alô pela review !

Beijos, Déboraa