Começando com o pé esquerdo...
É setembro. Mês em que as aulas começam. Para muitos isso é sinônimo de chatice, de ficar longe de suas vassouras e partidas de quadribol no quintal. Para mim, é totalmente o contrário. Minhas férias são as piores possíveis, minha família e eu somos muito diferentes. Pode até parecer que eu sou um adolescente rebelde, que se acha preterido, mas não. Eu sou a ovelha branca da família Black. Passo o máximo de tempo que consigo na casa do meu melhor amigo, Potter. Lá sempre fui bem tratado, apesar dos meus precedentes familiares, carinho e afeto reinavam naquela casa.
Neste exato momento em que estou devaneando, sento-me no terceiro vagão do trem com destino a Hogwarts, paro o meu Quinto ano. Agora, com 15 anos, nós podemos freqüentar os Bailes de Inverno, que mesmo sem o Torneio Tribruxo, ocorrem para os alunos internos que muito insistiram para que a festividade da estação ocorresse. O máximo de pessoas externas que temos são alguns convidados ilustres, membros do Ministério, ou grandes bruxas, como Hesper Starkey, que esteve aqui ano passado.
Falando em passado, ele é muito bom. Noto isso toda vez que ele já se passou. Tirando o fato de ter conhecido meus amigos Potter, Lupin e Pettigreew e conseguir passar a maior parte do ano longe da minha família, nada mais é relevante.
Lupin vai chegar mais tarde, provavelmente depois do jantar, já que essa semana a lua está cheia. Pettigreew está em outra cabine, com uns amigos dele da Sonserina, e o Potter deve estar tentando dividir a atenção de Lílian com o Ranhoso. Não sei como ela fala com aquele seboso. Tudo bem que ele não é a pior pessoa do mundo, mas pelo amor de Deus! Potter é mil vezes melhor! Mas o que posso eu falar, se nem namorada tenho. Alguns olhares e flertes, mas todas as garotas só me olham superficialmente, não deixo de me gabar por arrancar suspiros, mas gostaria de arrancar algo mais, algo como...
- Pára de ficar aí pensando no nada...vai trocar de roupa, estamos quase chegando.- Potter entrou na cabine, já vestido, dando essa ordem.
-Você me assustou... Já vou fazer falar com Lílian?
- Ahh, sim! O Ranhoso estava longe e ela só teve olhos para mim! Com certeza já deve estar apaixonada, mas não quer dizer, de tão TEIMOSA que é...
- Ela já te disse que você é muito convencido?
- Já...como você sabe?- E os dois riram como crianças.
Saltando do trem, notei que tudo estava do mesmo jeito, como desejava. Fomos encaminhados para o grande salão nas carruagens guiadas por testrálios. Nunca comentei nada com ninguém, pois seria tido como louco, e sei que só quem já viu a morte sabe da existência dessas criaturas.
O jantar estava ótimo, o clássico e cobiçado pudim com o mesmo sabor doce contrastando com a calda, que era ainda mais doce. Nunca se soube qual era o momento mais prazeroso: começar a comer o pudim, ou raspar a calda que sobra, depois que se come.
Já na torre, depois da típica confraternização da primeira noite, em que comemos 10 caixas de feijõezinhos de todos os sabores, todos os garotos foram dormir. Eu sempre fico mais um tempo acordado, ainda eufórico por estar ali, e me sentir tão plenamente feliz.
A vista das terras de Hogwarts da torre da Grifinória é impagável. A lua espelhada no grande lago e as estrelas contrastando com a escuridão da Floresta Proibida formavam um horizonte místico e hipnotizante.
Ainda embevecido com tal visão, notei um elemento muito estranho nessa paisagem. Há uma caravana vinda da Floresta que está adentrando o Castelo, a essa hora da noite. O que será isso? Eles estão em formação de escolta, tanto os cavaleiros quanto os arqueiros. Mas além de toda a cena, o ar parecia mais leve e uma voz suave como a de um rouxinol entoava um cântico em uma língua desconhecida, que ecoava no ambiente. Sem nem perceber, adormeci sentado no chão, perto da janela, embalado pela canção.
--x--x--
- Sirius!...Sirius, acorede!
- Hamn...O que houve? Que horas são?-ainda meio adormecido.
- Está na hora de levantar, inteligência. Você dormiu aí desse jeito, encostado na parede fria por quê?- Perguntou Potter meio sonolento também.
- Eu não me lembro direito...Estava aqui admirando tudo, e adormeci. Mais nada, que eu me lembre, mas tenho a sensação de...
- QUE ESTAMOS ATRSADOS PARA A AULA DA MCGONAGOAL!!
-Umm...AHHH!!- Depois que Sirius consegui processar aquela informação, ambos saíram disparados à procura de seus uniformes. Café da manhã estava fora de cogitação. Com os cabelos desgrenhados e as gravatas na mão, conseguiram entrar na sala antes da professora McGonagall começar a aula.
- Essa foi por pouco Pontas...Vou passar a usar o despertador agora.
- Tenta dormir no lugar certo também, porque você ficou falando durante a noite, alguma coisa parecida com "elda" e a palavra "voz" muitas vezes, mano.
- Verdade??
- Sim,...era algum pesade...
- Sr. Potter, poderia nos dar o prazer de não perturbar a minha aula, que por sinal já começou e o senhor por pouco não chegou atrasado?
- Desculpe Profª. McGonagall.
- Muito bem. Nós vamos começar esse ano estudando os animagos.
Houve um murmurinho na turma quando a professora falou sobre a matéria.
- Já temos idade para sermos um, não Professora?
- Sim Srta. Evans, vocês já tem a habilidade, mas não a permissão. Animagos devem se registrar no Ministério da Magia. Devo avisá-los que circular sobre as terras Hogwarts em sua forma animal é terminantemente proibido, e usar de tal artifício para burlar as regras da escola é um ato de alta gravidade e sua punição será rigorosa. Voltando a parte teórica, um animago é um bruxo que, por vontade própria transforma-se em um animal que geralmente reflete suas características psicológicas, como a pessoa realmente é, de fato. Logo, não há muito como se escolher em qual animal se transformar. Outro detalhe importante: um animago nunca perde seus poderes de bruxo, pois mesmo sendo um animal, ainda tem o cérebro de um bruxo, em proporções geralmente menores. O primeiro trabalho do ano de vocês é uma pesquisa sobre os animagos mais famosos da atualidade, as vantagens e desvantagens e como essa habilidade surgiu. Como estamos só começando, darei uma semana e meia para que o trabalho seja entregue. Agora, vocês devem fazer os exercícios da página 30 do livro de vocês até o final da aula. Em silêncio. - disse isso olhando diretamente para Black e Potter.
Os dois acabaram realmente ficando em silêncio até o fim da aula. No caminho para a próxima aula deles, de História da Magia, Potter veio comentando com Sirius:
- Agora podemos acompanha Lupin nas noitadas dele, hehe!!
- Estava tão distraído que nem pensei nisso! Tem toda a razão, no jantar vamos falar com o Rabicho, mas temos que fazer uma surpresa para o Lupin. E, além do mais, ele não nos deixaria fazer isso.
-Tem toda a razão, bico calado em relação a isso.
Por mais ansioso que eu estivesse para poder acompanhar meu amigo em fases que ele tem, que eram muito complicadas, temo uma parte dessa história. Em que animal eu vou me transformar? Por mais que meus amigos não fossem como sua família, e que eu esteja na Grifinória, a dúvida de quem eu realmente sou ainda paira em minha cabeça. Espero que na hora certa, eu tome a decisão certa.
--x--x--
Era quarta-feira, o último dia de lua cheia. Os marotos combinaram de se encontrar, às cinco e meia da tarde, perto da cabana de Hagrid. Estou andando em direção ao local, só imaginando a reação que Lupin vai ter quando souber.
- Sirius, sempre atrasado – disse Lupin, que estava com uma péssima aparência.
- Você sabe que eu tento chegar na hora.
- Ele ainda esnoba, todo mundo sabe que as garotas não o deixam em paz.- Rabicho afirmou isso com uma pontada de inveja, quase imperceptível.
- Ah, não comecem com isso...
- Você reclama, reclama, mas gosta dos elogios, principalmente os da Mirabella! E, ela já fez questão de espalhar para todos que vocês vão juntinhos para Hogsmead nesse fim de semana!
- Já chega disso e vamos ao que interessa e ao que viemos fazer aqui! - Odeio quando todos sabem de tudo antes de mim mesmo, mas é melhor ficar quieto para não prolongar isso.
- O que você quis dizer com isso? (Lupin já suspeitou).
- Nós nos tornaremos animagos, meu amigo! - Potter falou isso como se fosse a coisa mais natural do mundo, afinal, para ele quebrar regras realmente era natural.
- VOCÊS VÃO FAZER O QUÊ?
- Isso mesmo que você ouviu. Nós viraremos animagos e vamos fazer a nossa estréia hoje, acompanhando você.
- VOCÊS NÃO VÃO! Por mais que vocês façam tudo isso, eu não posso colocar em risco a vida de vocês, eu nunca me perdoaria se algo acontecesse.
- Tudo bem, nós sabemos nos cuidar, cada um sabe os seus limites. (os comentários de Pettigreew sempre me soam estranho.)
- Vamos ver rapazes, em que atrocidades vamos nos transformar?
- Vamos!
Pelo que soube sobre o assunto, a primeira transformação é um pouco complicada, por causa da a seleção de uma roupa, que seria a única que não nos deixariam nus quando nos transformássemos, e, principalmente pela seleção do animal.
A minha transformação, por incrível que pareça, não demorou muito tempo. Logo vi que tinha me tornado num cão negro. A visão era de um sinistro, mas entendi que, ainda assim, sou um cão leal ao meu dono, minha honra. Potter se tornou um veado, levando em conta o comportamento do animal, ele é um bom líder, sempre preocupado com o resto do grupo, sem nunca deixar ninguém sozinho. Rabicho é meu amigo, mas eu até hoje não entendo porque nada nele me surpreende. Transformou-se em um rato. O que isso significa? Ratos são covardes, mas ele não é. Ele estar aqui conosco é uma prova de que não é.
Ficamos brincando de ser animais. Agora eu entendo porquê os cachorros gostam de correr freneticamente enchendo a paciência de seus donos. O vento indo na direção contrária faz com que eu me sinta vivo. Nunca achei que tivesse tanto tato nas minhas orelhas!
Depois dessa experiência, sentamos de novo no gramado e ficamos conversando durante um bom tempo. Demos algumas gargalhadas, o Potter nos contou como foi a discussão dele com Lílian naquele dia, sorte que foi só uma. Depois de tanto tempo ouvindo as mesmas briguinhas começa a enjoar, porque são sempre os mesmos motivos: Ranhoso, notas e tocos.
De repente, Lupin começa a rolar no chão e gritar: (só aí me dei conta de quer já era noite, e a lua brilhava no céu)
- Vai começar, e eu quero vocês longe daqui! CORRAM!
- Nós não vamos embora! Controle-se, você continua a ser Lupin, nosso amigo!
Nunca o tinha visto se transformar, ou transformado. Suas roupas se rasgaram, pêlos nasceram e cresceram de forma repentina. Sua estrutura óssea, principalmente as costelas, dilataram. Seu rosto ficou desfigurado, dando lugar à face de um lobo, muito maior. Sua arcada era assustadora. Mas além de tudo isso, seus gritos, e depois uivos, de dor cortaram nossa mente, provocando uma tristeza enorme, maior até do que o medo da própria criatura.
Transformamo-nos rapidamente e corremos em direção a Floresta Proibida. Mesmo sendo um lugar perigoso, era o melhor para manter sigilo. Uma fera a mais ou a menos não iria fazer diferença. Era a impressionante a agilidade com que todos nós andávamos, especialmente Lupin.
Enquanto corríamos, me lembrei do que o Potter falou. Mirabella quer sair comigo? Ela realmente é muito bonita, loira, com cabelo perfeitamente liso, um sorriso largo, olhos cor de mel. Ela meio que faz o papel de líder da torcida da Lufa-Lufa. Todos os garotos querem sair com ela. Bem, vou ter que esperar até o fim de semana, ansioso. Pode ser que ela finalmente veja algo em mim que não seja minha aparência, quem sabe.
Potter tentou me avisar de algo, mas não entendi o que pensamentos ainda estavam em Mirabella. Segundos depois eu dou de cara com um centauro:
- Ora, ora, ora...Um cão por aqui? Hagrid não tem nenhum cão, por enquanto. E cães DE VERDADE são mais inteligentes, nunca entram na Floresta. – Disse essa frase enquanto pegava sua flecha e já mirava com o arco na minha direção. – Ou você revela quem é, ou vai morrer como um cachorro! Ande, revele-se!
Não tive escolha, tive que sair de minha forma animal. Do que adianta continuar com os poderes, se eu não consigo usar magia sem a minha varinha? Fiquei vulnerável como um cão. E não sou maluco de brigar com um centauro...
- Muito bem, um aluno! À essa hora da noite, e ainda por cima um aluno animago...Obviamente você não tem registro no Ministério da Magia não é mesmo?
- Não, não tenho.
- Você aqui, parado na minha frente...Poderia me vingar de todos esses alunos petulantes, que acham que sabem alguma coisa, em você. Forjar um acidente não é muito difícil por aqui – meu coração dava pulos de nervosismo, adrenalina já corria em minhas veias como se fosse o próprio sangue – é meu rapaz, acho que hoje não é seu dia de sorte... – o sorriso dele ao dizer essas palavras já me fez sentir que eu estava morto.
Nesse instante, o mais estranho aconteceu. A voz, que tinha ouvido no dia em que cheguei na escola, começou a ecoar pela floresta. Mas dessa vez, não fui o único a ouví-la. Não entendia nada do que ela falava, mas o centauro pareceu entender, e ficar admirado em ouvir tal idioma. Seu rosto ficou pálido. Foi largando a arma lentamente, e não sorriu mais.
- Vamos rapaz, vou levar você até a escola. Nunca mais volte aqui, sem no mínimo ter companhia – isso me indicou que Potter estava bem...Pettigreew nunca seria pego, e o centauro já devia "conhecer" de Lupin .
- De quem era aquela voz? – Perguntei de forma aparentemente calma.
- Você conseguiu ouví-la? – Seu espanto foi maior ainda dessa vez.
- Sim, consegui. E na verdade, não foi a primeira vez.
- Bem, não te interessa saber de quem é a voz. Não comente com ninguém sobre isso, nem mesmo aos seus melhores amigos, pais, irmãos, quem quer que seja. Nem ao menos com um professor ou Dumbledore. Não estou escondendo nada. Mas se você realmente escutou essa voz, sabe que ela é única. Se contar alguma coisa a eles, vão apagar essa memória de sua mente. Vá agora, você já é bem grande para assumir seus erros, não vou te acompanhar até a sala de McGonagall.
- Bem, obrigado. Mesmo que seja por não me matar.
- Por isso, você não deve agradecer a mim, e sim ao destino. – acabando de dizer isso o centauro olhou para o céu estrelado e saiu galopando em direção a floresta. Agora, só me resta receber a punição.
Já na sala de Transfiguração:
- O senhor, Sr. Black, está conseguindo bater os recorde de indisciplina desse colégio. Já na primeira semana de aula, uma saída de noite? Fora do horário permitido?
- Professora, não é só isso.
- Não é só isso? Tem mais o que? – a perplexidade de McGonagall era tanta, que chegava a ser cômica.
- Eu me transformei em um animago. Fui até a Floresta Proibida, para não chamar muita atenção, mas fui pego por um centauro...
- Meu Deus! Você poderia nem estar vivo nesse instante. Os centauros têm um humor muito ruim e não ligam para o que Dumbledore pede, se o instinto deles falar mais alto. E você já se transformou em um animago? Acha que só porque tem a capacidade de se transformar, consegue lidar com ela? Além da burocracia de registros e tudo o mais? Obviamente não vou levar o caso além da indisciplina escolar, mas vai cumprir uma punição severa. – chegou a parte que eu tanto esperava...- Você vai cumpri detenção durante um mês ajudando os elfos domésticos a arrumar os dormitórios, organizando a estufa. Vai me entregar um relatório de cada aula minha, com o máximo de informação que conseguir. E, além de tudo, seus finas de semana em Hogsmead foram cancelados.
- Um MÊS sem ir a Hogsmead??
- Não, dois. Um mês é para detenção. O castigo é mais demorado.
- Professora, por favor...
- Não insista Sr. Black. Por um acaso, você estava sozinho?
- Sim professora, não tem ninguém aqui, não é?
- Não seja tão debochado, rapaz. Por mais que eu saiba que você não estava sozinho, não tenho como provar nada. Vá para o seu dormitório, boa noite.
-Boa noite Profª McGonagall.
Há algumas coisas que me impressionam em McGonagall. Ela tem como provar que eu não estava sozinho, ela pode muito bem ver quem está indo dormir. Mas ela não o fez. Talvez porque eu realmente tenha dito toda a verdade, sem necessidade. Porém, foi o correto. Perturbei o sono de muitos quadros até chegar ao dormitório. Coloquei meu pijama e fui para a minha cama, silenciosamente para não acordar ninguém. Não vou esperar Potter e Lupin voltarem, vou ter que acordar cedo amanhã para a minha carga tripla de trabalho. Os planos de Mirabella em sair comigo vão ser adiados. Que droga! Queria muito sair com ela...vou ter que me conformar, não quero fazer mais besteiras, não nesse mês...quem sabe daqui umas duas semanas?
Já deitado, coberto, e pronto pra dormir, o sono ainda não chegou. E se chegou, ainda não consegui invadir a minha mente que estava centrada em algumas coisas: De quem é aquela voz? Até mesmo o centauro ouviu, mas acho que o estranho é eu ter ouvido, pelo que ele disse...não posso comentar com ninguém, essa é a pior parte. Como vou descobrir o que é, ou quem é, sozinho? Acho melhor o sono vir logo, não posso ficar imaginando tantas coisas, e nada vai adiantar fazer isso agora. Faço isso no fim de semana.
Comentários:
Nessa fic, posso adiantar que além do universo de Harry Potter, haverá outros Universos e Lendas que se unirão, de maneira harmônica (farei o máximo para tal coisa).
É feita na visão de Sirius Black, como deu pra notar, e se passa no período de escola dele. Mas isso não quer dizer que só os pensamentos dele é que vão formar a história, não. Outras pessoas vão ter voz e mente ativas nessa história (mini spoiler XD)
Créditos a DehBlackRose, que é a minha beta reader oficial e PARTICULAR, sacaram? XD
Realmente espero que gostem e, se quiserem, deixem sua recview! ;D
BJBJ!!
Dasvidania (adeus em russo)
