Um rapaz corre por um longo corredor escuro, os seus passos ecoando por todo o negrume. Pequenas tochas de chamas prateadas repousavam intervaladamente nas duas paredes, iluminando o espaço em seu redor. O rapaz arfava de cansaço, lutando por se manter a correr o mais depressa que podia. Não se podia deixar apanhar. A Escuridão aproximava-se.
O corredor virou para a direita. O rapaz seguiu. Dez segundos depois da viragem, o rapaz olhou para trás. As duas primeiras tochas depois da curva tinham-se apagado. E as outras duas a seguir às primeiras. E ainda as duas seguintes.
O rapaz acelerou a corrida, mal podendo respirar, com dores nas pernas. Atrás dele, as tochas iam-se privando da sua chama prateada cada vez mais depressa, e cada vez mais perto do rapaz.
De repente, o rapaz notou à sua frente que as tochas também se iam apagando na sua direcção.
- Merda!
Continuou a correr até chegar à tocha mais próxima. Arrancou-a da parede e dirigiu-se à outra tocha que repousava na parede oposta, arrancando-a também da parede. Encostou-se à parede, agarrando uma tocha em cada mão. As chamas prateadas fraquejavam, como que troçando da sua fraqueza física.
A Escuridão aproximava-se da sua esquerda e da sua direita. O rapaz fechou os olhos.
- Ignis!
Atirou as duas tochas para o chão. O fogo prateado rapidamente se espalhou por toda a largura do chão. O rapaz não sentiu qualquer dor, as chamas lambendo a sua roupa e o seu corpo. Avançou para o meio da fogueira, pisando o fogo à sua frente. Parou, abrindo os braços para o corredor. Fechando os olhos, deixou que o fogo o inundasse.
- Ignis divine, eleison.
A Escuridão estava a apenas três metros dele quando o seu corpo brilhou. O fogo começou a ser absorvido na sua direcção, como um tornado que suga tudo na sua direcção. Quando o fogo desapareceu, o chão tremeu. Uma explosão de fogo prateado encheu o corredor. A Escuridão não parou, investindo com força contra o fogo prateado.
Um vórtice de Escuridão criou-se com o fogo, e desapareceu logo de seguida, sem deixar rasto da sua presença no corredor agora completamente escuro como breu.
Algures no chão, sem brilho, como uma pedra que perdeu o seu valor, repousava metade de um coração puro.
