I'm on a roll
I'm on a roll
This time
I feel my luck could change
Kill me sarah
Kill me again
With love
It's gonna be a glorious day

Pull me out of the aircrash
Pull me out of the lake
Cause I'm your superhero
We are standing on the edge

( Radiohead; Lucky )

Um terno.

Logan olhou pros pedaços de tecido negro pendurados num cabide na porta do armário e relutante se dirigiu até lá; e começou a vestir o terno que Piotr Rasputin tinha emprestado. O russo era o único ali com um físico aproximado, e ele nem por um segundo se sentiu patético por causa do tecido que sobrava, ou ainda, pelo fato de estar usando um terno caro em vez dos jeans e jaqueta de couro de sempre. "Nada" era a palavra que descrevia melhor o que ele estava sentindo agora. Reprimindo as emoções, vazio de desejos, ele era um autômato, um robô. Não tinha mais sentimentos, vontades, nada nada. Ele viu seus próprios dedos abotoando a camisa, viu seus próprios dedos fazendo um nó frouxo na gravata, calçando o sapato como se não fossem os dedos dele. Como se ele estivesse vivendo de repente dentro de outra pessoa. Ele olhou apavorado em volta do quarto com os olhos dessa outra pessoa... até eles finalmente se pregarem pro buquê de rosas brancas em cima da cama, como se as flores fossem um ímã. Finalmente ia haver um buquê de rosas. Mas... não, não... não era esse o jeito certo, não era... não assim... ele devia rosas pra ela, sim. Muitas, dúzias, toneladas de rosas... mas não assim. Não era pra ser assim. Logan forçou o corpo da outra pessoa que ele não conhecia a andar até lá, se forçou a pegar as flores, se forçou a sair do quarto e ir andando pelo corredor até que não conseguiu mais se forçar. Era o quarto dela. A porta entreaberta.

Ele entrou. Era como um santuário, um lugar sagrado. Vazio, sem a deusa que o habitava... "habita". Ela ainda estava viva. Ela tinha que estar. Mas Logan não conseguiu abafar a dor que subia pelo peito enquanto ele passava os olhos em volta do quarto da sua doce garota. Seus bichos, seus "filhos"; os livros, os vidrinhos e potes todos, "coisas de garotas", ele murmurou pra si mesmo à beira do desespero. As cortinas meio desbotadas, o pôster de algum ator de cinema que ele não conhecia, a porta do armário entreaberta. E tudo isso coroado com raios de sol que entravam pela fresta de dois dedos na persiana. a poeira acumulada há dias dançava na luz do sol, como os pensamentos dele. E Logan queria acreditar que isso era um sinal, que havia uma luz. Que ela ia voltar pra ele, pros seus braços, e que ele não ia mais ser covarde e não ia esperar mais nem um segundo nem ir pro Norte de novo nem fingir que não se importava nem sentir medo do tamanho e da intensidade dos seus sentimentos. Dessa vez ia se declarar pra ela de uma vez por todas. Contar tudo, abrir o coração. Se ajoelhar na frente dela se ela quisesse, se isso fosse o necessário pra que ela o perdoasse. Qualquer coisa. E ela ia perdoá-lo e eles iam ser felizes para sempre dançando alguma velha canção empoeirada no terraço banhado pela lua cheia.

Logan caminhou devagar como se estivesse submerso. Submerso em culpa. Em dúvidas. Em um pesadelo. Caminhou até o guarda-roupa e fechou a porta.

"Tudo tem que estar como ela deixou. pra quando ela voltar..."

Um som, misto de soluço e rosnado, ameaçou escapar da sua garganta.

A presença, o cheiro dela ali... era tão forte... ele podia jurar que ela estivesse estado ali há alguns minutos apenas e tinha saído pra treinar ou pra jogar com os outros guris lá embaixo na sala de jogos. Ou que ela ainda estava ali... sim! Ela estava ali. Debaixo da cama... brincando com ele... provocando... como ela sempre fazia.

"Marie..."

Ele foi até a cama dela, se ajoelhou e tinha tanta certeza de que ela ia estar ali embaixo... rindo da cara dele. De toda a preocupação. Desfazendo as rugas de horas na testa dele. Ele se ajoelhou e só tinha poeira e... espera. tinha alguma coisa brilhando ali embaixo. Ele usou uma garra pra trazer mais perto. Não!... A tag. Não, não... jogada na poeira... ela... ela não podia ter feito isso, ela carregava isso com tanto orgulho, era como o símbolo da ligação deles... que agora jazia ali, jogado debaixo da cama, no meio da poeira.

Logan ficou em estado de choque. Parado. Sem reação. Sem saber o que fazer, pra onde ir, sem saber se finalmente chorava, se corria, se fugia, se... a culpa se abateu com tudo em cima dele outra vez. E Logan se perguntou pela milésima vez: o que ele tinha feito com ela?

Mentido, enganado, se aproveitado. se divertido, apenas. Era isso que ele tinha feito. Agido como o babaca arrogante e auto-suficiente e insensível que todo mundo sempre soube que ele era. E quer saber? eles estavam certos. Ele era tudo isso e coisa muito pior. Aah se ele pudesse voltar no tempo... se ele não fosse tão covarde... se ele tivesse sido sincero com Marie... sincero consigo mesmo e com seu coração... esse pesadelo ia ser só uma piada de mau gosto... mas não. Talvez ele fizesse exatamente do mesmo jeito. Ele era incorrigível, um cretino egoísta incorrigível e nem ter encontrado um anjo tinha feito ele mudar.

Logan deitou os braços e a cabeça na cama dela amassando as rosas. Não conseguiu mais se conter e começou a soluçar forte.