Os anos passados em Hogwarts eram bons de recordar. Momentos inesquecíveis com os meus melhores amigos. As aulas que eu adorava. Os jardins, o lago, o castelo, a cabana do Hagrid, a biblioteca... Eu sempre soube que sentiria a falta de tudo aquilo. Mas já tinham passado dois anos desde o meu último ano em Hogwarts, o ano da Batalha Final, onde Harry triunfara. Tudo estava finalmente restabelecido.

Harry seguia uma carreira promissora numa equipa inglesa de quidditch de alta qualidade, segundo Ron. Ginny acabou o último ano em Hogwarts e lutou para se tornar a excelente Auror que era. Ron juntou-se ao seu irmão mais velho para estudar dragões, pois tinha descoberto essa sua paixão no sétimo ano. Foi uma inesperada notícia quando ele nos contou o que ia seguir. Principalmente para mim. Ron a estudar dragões? Dragões a sério? Acho que ainda hoje não me conformei.

Das pessoas com quem eu mantinha mais contacto era Ginny, pois aparecia várias vezes no Ministério, onde eu trabalhava. Eu tinha um trabalho duplo: por um lado era presidente de uma associação de defesa dos direitos elfos e outras criaturas mágicas e também exercia a função de secretária do ministro da magia, Mike Mayer.

O mundo tinha mudado tanto desde que a guerra terminara. Foram criadas associações de ajuda para os que sofreram com a guerra e Azkaban agora estava lotada com pessoas que serviam Voldemort. Graças a Merlin nenhum membro da ordem e que nos fosse próximo tinha sofrido nada de grave. Subitamente, lembrei-me dos rostos dos meus conhecidos durante a guerra: ódio, medo, desespero, raiva eram os sentimentos que estavam predominantemente expressos. Harry lutou com todas as suas forças e Ginny tinha raiva e os seus olhos eu podia jurar que os vi faiscar quando acabou com a vida de Bellatrix Lestrange. Nunca tinha visto Ron tão desesperado ao ver a sua família participar naquela guerra, tentava proteger a mãe, a irmã, os irmãos, o pai, todos que conseguisse. Lembro-me de que ele já nem se importava com feitiços que o acertavam, atordoando-o, desde que conseguisse protegê-los, proteger-nos a mim e ao Harry, proteger-nos a todos. Mas houve um rosto que não me saiu da memória durante estes anos, consigo me lembrar como se fosse hoje. Draco Malfoy tentava lutar para fugir com a mãe, o desespero estava no seu rosto pálido. Conseguia senti-lo gelado, mesmo sem lhe tocar. Por minutos durante essa guerra senti compaixão por aquele rapaz que me arruinara os anos em Hogwarts. Foi a última vez que vi o rosto dele. O pai dele foi acusado por servir Voldemort e levado para Azkaban, quanto ao Draco e à mãe dele nunca mais tive notícias.

Foi fácil conseguir o meu emprego. Assim que a guerra chegou ao fim, inesperadamente, Mike Mayer foi nomeado ministro da magia. Mike era um homem de quarenta anos de idade no máximo, não era um nome muito conhecido no mundo da magia, mesmo assim, com a pouca confiança que as pessoas ainda tinham naqueles que se candidatavam ao cargo de ministro, Mike conseguiu figura de destaque e tornou-se ministro. Bastou-me ir à entrevista assim que soube da vaga e Mike disse-me na hora que tinha ficado com o lugar. Sem qualquer explicação, apenas "Este lugar é teu, Granger", deu-me autorização para ir para o meu escritório no mesmo corredor do dele. Pensei que essa história de conseguir um emprego na hora era só em filmes, mas parece que acabou por acontecer comigo.

Mais tarde, mostrei que estava interessada em abrir uma associação.

Flashback

- Podes te sentar, Granger. – disse-me Mike simpaticamente, estendendo a mão para a cadeira livre à sua frente.

- Mayer eu tenho um projecto em mente… - comecei, mas Mike nunca me interrompia quando eu falava de novas ideias e sugestões, antes eu odiava que me interrompessem mas agora preferia que Mike me incentivasse a continuar ou algo do género. – É sobre uma Associação que já há muito tencionava abrir. Mas precisava da ajuda do ministério.

- Associação de quê? Mais uma para ajudar os carentes da guerra? – disse, irónico.

- Não, mas sim uma associação de defesa dos direitos dos elfos e outras criaturas mágicas. – disse, confiante. Mas a demorada resposta de Mike fez-me ficar impaciente. – Eu sei que pode soar um pouco estranho ao inicio, mas é só até se habituar à ideia.

- Não, Granger. Não soa estranho. Só nunca tinha pensado nisso. Mas acho que é um excelente projecto para seguir em frente. Por favor, concentra-te nesse projecto e quando estiver pronto vem falar comigo.

Sorri em resposta. Levantei-me daquela cadeira confortável e apertei a mão ao meu chefe.

Fim do flashback

Há semanas que eu não estava com o Harry e com o Ron. Eles agora andavam sempre fora do país, obviamente, principalmente o Ron. Vinha de vez em quando à Inglaterra mas passava o ano fora. Por vezes, as saudades de Hogwarts apertavam muito no peito…