PRÓLOGO

A tempestade dispersava-se suavemente acima do mar escuro, como uma cortina se abrindo para os eventos catastróficos que não tardariam a acontecer ali perto, na Ilha do Coração (que, mais tarde, ficaria conhecida como a Ilha do Coração Partido).

A Ilha do Coração recebeu esse nome por motivos geralmente óbvios, devido ao formato em que o lugar paradisíaco havia sido esculpido: um coração. Diferente de qualquer maravilha da natureza, a ilha assim se fizera graças à ambição e megalomania, grandeza exagerada, de um já falecido empresário do ramo de automóveis (e do qual o nome de nada acrescentará a esta narrativa). O fato é que o bilionário imaginara comprar uma ilha para a esposa certa vez, contudo, não satisfeito com as proporções e formas (as quais considerara "toscas") de uma ilha natural, decidiu que criaria a sua própria ilha, com tudo o mais que desejasse.

Para tal, não poupou esforços e obviamente o próprio bolso, esbanjando com o uso de tecnologias de ponta. Mas o tempo não fora tão generoso com o empresário: morrera antes de ver a obra de sua vida terminada.

Sua promessa, no entanto, se fez valer. A esposa chegou a viver alguns meses na Ilha do Coração, onde apreciou os seus últimos suspiros antes de morrer de solidão. A ilha, bem como todo o patrimônio de seus pais ficou de herança para o único filho do casal. Um gastador drogado e viciado em jogos, que perdeu tudo o que ganhara em menos de dois anos. A ilha foi tomada como dívida por um nome desconhecido.

Desde então, o lugar tornou-se digno de lendas. A ponto de ser difícil determinar onde começa e termina a veracidade dos fatos. Uma coisa, no entanto, é certa: a ilha existe, está lá, onde sempre esteve, com o seu formato peculiar e, há quem diga, à espera de um desavisado qualquer.